11 de dezembro de 2016

Chamai-me Adelita..




Essa semana que passou eu corri meus olhos pelos títulos que a Netflix estava dispondo para meros mortais quando, para minha alegria, encontrei Moby Dick.

Rostos conhecidos compõem a lista de personagens para esta adaptação: Gillian Anderson, Donald Sutherland, Ethan Hawke, William Hurt..

A história foi bem contada - até a parte que eu me lembro da minha leitura (como faltou 100 páginas para o final, não sei como aconteceu o desfecho para compará-lo ao filme).

A adaptação foi produzida em duas partes. E, tenho que dizer, Moby Dick está muito assanhado* nesta adaptação. Ele aparece logo na partida do Pequod e na primeira caçada - lá pela 1h20 de filme. Foi interessante e bati palminhas para a cena que ela destroça três botes - acho que a inspiração foi nesta imagem antiga da internet: 
O meu personagem preferido é, ninguém mais, ninguém menos que o  querido canibal Queequeg. A cena da noite que ele encontra Ismael é bem sugestiva, mas ambos se entendem e tornam-se amigos próximos. E, infelizmente, a minha citação favorita não foi adicionada na película:
"Prefiro dormir com um canibal sóbrio do que com um cristão embriagado".

Claro que eu tive meu ataque histérico quando o personagem do Ismael se apresentou com a clássica saudação:

 - Chamai-me Ismael.

Como eu escrevi anteriormente, Moby Dick é presente na navegação do Pequod, mas na narrativa de Melville o leitor talvez se pergunte (eu questionei à mim sobre) onde está Moby Dick no livro. Seria a baleia mesmo uma delírio do capitão Acabe? E o que dizer de Acabe: um louco, mas um homem determinado.

Uma das cenas que chamou minha atenção no filme foi quando o vento parou de soprar. Minha primeira e inconcluída leitura tirava minha vontade de ler quando esses dias chegavam: eram lentos, ociosos e quentes - e minha leitura foi no verão; parecia que eu estava no Pequod suando e "morrendo" com os tripulantes.

Os efeitos especiais são toleráveis; mas no final ficoram péssimos.

Recomendo a película, mas não esqueçam de ler o livro - mesmo que ele tente derrubar seu ânimo.


*Moby Dick é uma baleia macho.


10 de dezembro de 2016

Fim de Leitura ..


Fim de leitura.

Maugham é encantador. Uma das características que me fascinam em suas histórias é o fato de ocorrem em lugares deslumbrantes:

"...eu já vagara por mais de uma terra estranha. Estivera em Bali, Java, Sumatra, estivera no Camboja e no Anam; e agora, com a impressão de me achar novamente em casa, sentei-me no jardim do van Dorth Hotel" 

Maugham narra em primeira pessoa, dando sempre a impressão de tudo aconteceu com ele: realmente alguns relatos são verídicos porém, outros, são apenas narrados em primeira pessoa do singular. Fantástico.

Estar longe de jornais (meio de comunicação único da época para notícias do mundo), é para mim maravilhoso. 
Pense você, conectado leitor, ficar sem seu celular, tablet, notebook ou qualquer sinal de vida social interligada por redes sociais e tals.
Simplesmente sentar um local desconhecido, com uma cultura completamente diferente da sua e aprender a socializar.

Sem contar que a narrativa de Maugham e simples; nada de rodeios ou máscaras: os seres humanos são complexos e primários.

O título original Cosmopolitans é perfeito. São 29 histórias escritas durante os anos de 1924 - 1929 - em primeira pessoa do singular - estes contos foram publicados na revista Cosmopolitan e, como exigência, tinha que ser dentro de um formato específico. As narrativas acontecem em vários cantos da Terra e com pessoas de perfis encantadores.

9 de dezembro de 2016

Pre-pa-ra..


Postagem do celular.
Da minha ultima visita aos meus pais, um pequeno acervo foi alocado para minha casa.
Mesmo não havendo um local adequado, eis um retrato da trupe!
O distinto senhor de lombada marrom é Moby Dick - o primeiro da lista.
Eu não me recordo de haver escrito o motivo de o romance de Melville ter sido escolhido como o primeiro: trata-se do fato de ele ter sido rejeitado nas 100 últimas páginas.
Espero não abandonar o navio desta vez (trocadilho besta)!!

Não sou muito boa em teclar no celular, por isso essa postagem será curta!!

Omnia Vanitas.

28 de novembro de 2016

Férias..


No próximo final de semana, eu estarei visitando meus pais. Além de matar a saudade da família e dos amigos, vou aproveitar para trazer alguns livros para meu projeto de releitura em 2017. E, como estarei levando alguns livros que estão em nossa casa, vou aproveitar e ler mais um Maugham para contar na bagagem.

Eu adotei o hábito de ler Maugham durante as minhas férias do  trabalho. Sendo que agora sou dona do próprio negócio, entrar em gozo de férias é algo fora da realidade atual. Então, para manter meu gosto, vou ler Maugham agora - já que a maioria das escolas estão em férias. 

O título original é Cosmopolitans, mas a tradução para o português é 29 Histórias.
Assim como em Ah King, são histórias que Maugham escreveu durante suas viagens, neste caso, para a China. Ele não quis mexer muito nos contos para não perder o valor do momento em que foram escritas. Estou ansiosa para ler. 
As histórias de Somerset Maugham tem uma simplicidade na forma que são criadas que me permitem voar até uma praia retirada nos mares do sul, cruzar uma ponte pensil com um equilíbrio vascilante e sentar em uma poltrona para ouvir a história de algum habitante de tal lugar perdido no tempo. 

E haverá mais Maugham em 2017 pois ele está na minha lista de releituras - o problema é escolher quais reler! ;)

17 de novembro de 2016

Nostalgia..


O que lhe traz nostalgia, saudoso leitor?

Eu visitei minha mãe no último final de semana e, mais uma vez, entrei no meu escritório e vi meus livros; todos lindos e, alguns, esperando por 2017.
Subi no braço do sofá para alcançar as prateleiras e peguei alguns para folhear. Tão lindos. Quanta saudade dos dias que eu os li. A maioria está significativamente cravado em minhas recordações:

- Misery, em um janeiro quente, na varanda da casa dos meus pais. Tantos chás gelados para aplacar o calor do verão insano. Noites e dias, dias úteis e finais de semanas, todos tão deliciosos. Ou quando li Desespero e chorei copiosas lágrimas no final da leitura (I João 4:8). As madrugadas lendo IT, A Coisa.

- Histórias dos Mares do Sul, do meu amado Maugham. Cada história enchendo meu coração de alegria e paz. Ah King durante uma virada de ano ao lado da minha cachorrinha, a Costelinha.

- O dezembro que reli O Hobbit e vim rindo no ônibus porque Bilbo chegou na casa de Beor. As noites de chuva de Setembro quando li O Senhor dos Anéis.

Essa é a magia dos livros sobre mim: ao primeiro toque ou no primeiro olhar, eu recordo o momento feliz que passei na (re)leitura dele.

Omnia Vanitas

16 de novembro de 2016

O tempo passa..



Olá, leitor anônimo!

Como você já sabe, estou relendo uma obra clássica de Alexandre Dumas (père) em francês integral. O crescimento não é o desejado, mas estou batalhando para chegar até o meu objetivo de leitura, ou seja, ler sem utilizar as "muletas" que utilizo atualmente. Tudo é questão de dedicação e tempo.
E é sobre a segunda questão que quero escrever hoje.

É comum ler livros onde o tempo é algo inerente para a solução da trama. Em O Conde de Monte Cristo não é diferente; o tempo é de maneira excepcional necessário.

Na primeira parte o protagonista Edmond Dantès é um jovem de 19 anos (1815), em pleno vigor de sonhos e saúde e completamente ignorante da maldade que o cerca. O jovem julga que ninguém pode lhe invejar nada pois ele não possuía algo que alguém pudesse desejar. Ledo engano; e quem mostrará as joias que Dantès dispunha e, também, desvendará a maldade da alma humana ao jovem injustiçado,  será o abade Faria - personagem real usado na trama de Dumas.

A segunda linha significativa de tempo é quando Edmond é "sepultado" no cemitério do Castelo de If, ou seja, jogado no mar. Após passar dias à deriva numa ilha deserta, ele encontra Jacopo - muito produtivo no filme de 2002 e pouco à dizer na narrativa, Dantès está no ano de 1829. Seja místico ou não, o fugitivo contava a idade de 33 anos. 

Não se passou muito meses até que Dantès se viu livre do antigo visual carcerário e vestiu algo mais contemporâneo para 1829. Depois disso, ele foi atrás de pessoas que foram significativas para rumar as decisões do jovem milionário. 
Caderousse, seu antigo senhorio, foi a primeira visita: buscou com ele informações sobre cada um que participou do complô contra si. A segunda pessoa foi seu antigo patrão, Monsieur Morrel - motivo de várias lágrimas durante os capítulos que discorrem sobre a vida atual do mercador.

A terceira passagem de tempo relevante é o ano de 1838. Este período é o mais interessante de todos pois é quando a vingança é posta andamento - literalmente. Durante o período entre 1829 e 1838, Dantès busca conhecer os passos dos seus inimigos, como agiram durante o período que o protagonista esteve na prisão. 
1838 começa na Itália, durante o Carnaval, com dois personagens completamente desconhecidos da trama, exceto pelo sobrenome de um deles.. 





11 de novembro de 2016

10 de novembro de 2016

Leitora procura..



Há muito tempo eu procuro uma parceria na leitura. 
As tentativas de ler e discutir um livro com pessoas que liam o mesmo que eu li no mesmo tempo/espaço não foram bem sucedidas!
A esperança ainda permanece!

Alguém, neste vasto mundo cibernético, que busque uma leitura séria e diálogos contundentes, por favor, entre em contato comigo através deste blog.

Omnia Vanitas.

Receita Literária ..


Chegou para mim, no sebo, um livro do Umberto Eco que foi minha primeira leitura do italiano: O Cemitério de Praga. Eu adorei ler este livro, cheio de tramas, traições e história. E, logo no início da leitura, há esta receita que eu sempre fico ensaiando em fazer. 
Já que este livro chegou em minhas mãos novamente, quero compartilhar a receita com você, glutão leitor!

Segue:
*(...) Por exemplo, umas Côtes de Veau Foyot:
carne com ao menos quatro centímetros de espessura, porção para dois, claro, duas cebolas de tamanho médio, 50 gramas de miolo de pão, 75 de gruyère ralado, 50 de manteiga; esfarela-se e torra-se o miolo até o transformar em farinha de rosca, que será misturada com o gruyère; depois se descascam e picam as cebolas, derretem-se 40 gramas de manteiga numa panelinha, enquanto em outra refogam-se suavemente as cebolas com a manteiga restante; cobre-se o fundo de um prato com metade das cebolas, tempera-se com sal e pimenta a carne, que é colocada no prato e guarnecida lateralmente com o restante das cebolas, envolve-se tudo com uma primeira camada de farinha de rosca e queijo, fazendo a carne aderir bem ao fundo do prato, deixando escorrer a manteiga derretida e esmagando levemente com a mão; coloca-se outra camada de farinha de rosca e queijo até formar uma espécie de cúpula e acrescentando manteiga derretida; borrifa-se tudo com vinho branco e caldo, sem ultrapassar a metade da altura da carne.
Coloca-se o prato no forno por cerca de meia hora, continuando a molhar com o vinho e o caldo. Acompanhar com couve-flor sautée.
 Exige um pouco de tempo, mas os prazeres da cozinha começam antes dos prazeres do palato, e preparar significa pregustar, como eu estava fazendo, ainda me espreguiçando na cama.

A receita não está completa, falta uma especificação aqui e outra ali, e eu não me darei o trabalho de buscar a receita integral, pois faria isso somente com os acessos de internet - que é algo muito volátil. Então, salivante leitor, busque a receita que mais lhe agradar deste prato e experimente esta joia da culinária literária.





*ECO, Umberto. O Cemitério de Praga. 5ªed. Record, 2011.

7 de novembro de 2016

Blá-blá-blá e afundou..


Deixe-me lhe contar uma coisa sobre minhas habilidades náuticas: inexistentes.

Eu não sei absolutamente nada sobre navegação. Meu senso de direção (sobre tudo) se limita a saber o que direto-esquerdo-frente-trás e só. Acaba aqui.

Por eu estar lendo um clássico que tem a navegação marítima como pano de fundo {Dantés era o imediato do Pharao}, é inevitável que surja narrativa sobre como o navio era conduzido. Seja em língua portuguesa ou em língua francesa, tudo o que eu me dou ao trabalho de entender é: blá-blá-blá e afundou. Simples assim. "Estibordo", "bombordo", proa, ... convés eu sei o que é. Então, hoje, enquanto lia meu querido romance de Alexandre Dumas, esta parte da narrativa foi totalmente ignorada por mim; segue:

— Range à prendre deux ris dans les huniers ! cria le capitaine ; largue les boulines, brasse au vent, amène les huniers, pèse les palanquins sur les vergues !
— Ce n’était pas assez dans ces parages-là, dit l’Anglais ; j’aurais pris quatre ris et je me serais débarrassé de la misaine.


Então, minha compreensão é que houve uma manobra náutica feita pelos empregados do senhor Morrel para salvar o navio: solte não sei o que, jogue sei lá onde, puxe o treco, baixe o troço .. e daí Edmond Dantés, o inglês na cena, diz que faria isso ou aquilo.
Totalmente inútil para mim buscar compreensão em palavras que, mesmo em português, são um assombro para minha mente sem rota.

Eu sei que quando minha leitura de Moby Dick chegar, muitas manobras marítimas serão mandarim para mim! Por mais que eu goste de ler e buscar conhecimento, ...tudo tem um limite! 

Omnia Vanitas.

6 de novembro de 2016

A Lista de Adelita


Voltei!

E estou com uma dúvida cruelíssima! Que livros ler em 2017?

No ano que vem, eu me comprometi a ler todos os livros que eu já li (e tenho); ou seja, 2017 será um ano de releituras. Será maravilhoso poder ler os livros que me encantaram .. mas, QUE LIVROS DEVO ESCOLHER??

Vou ler Maugham: mas que livros de Maugham devo ler? Amo todos que li: O Véu Pintado, O Fio da Navalha, Ah King, Histórias dos Mares do Sul ..nossa! Tudo de Maugham eu amo!

E Stephen King? Meu primeiro livro foi O Cemitério, adorei Desespero, Cujo, O Iluminado, A Coisa, Misery .. tudo!

E Tolkien? O Hobbit, Silmarillion ou a trilogia do Anel? Todos? E Contos Inacabados, Mestre Gil de Ham, Roverandom..??

E as irmãs Brontë? E Jane Austen?

E ainda tem Dostoièvski, Melville, e ainda tem a literatura brasileira: Machado de Assis, José de Alencar, Rachel de Queirós, Aluísio Azevedo e .. e.. tantos livros e apenas 365 dias. Que injusto! Que cruel!

Sem contar que não posso deixar minhas leituras em francês paradas para não retroceder .. então, ou releio tudo o que li em francês ou terei problemas em mantes o vocabulário que aprendi até agora!

A vida é cruel com leitores compulsivos e ansiosos!

Omnia Vanitas!

2 de outubro de 2016

Ausência..


Olá, leitor anônimo! 

Estou a passar por aqui para dar uma explicação:

a ausência de publicações se faz por eu estar escrevendo em meu blog físico. Escrever para mim é muito bom - não que eu ache que tenho muitos leitores virtuais, minha vaidade não é tamanha - mas deixo aqui a explicação para a não publicação sobre meus livros, filmes e devaneios pessoais. 

Talvez, eu volte em breve, mas no momento quero curtir meus escritos privados - claro que ao me encontrar, leitor, por esses caminhos que a vida nos faz percorrer, serei muito feliz se algum leitor ciente desta minha arte se interessar pela produção que fiz! 

Até lá, eu deixo meu abraço literário amigo à todos!

Omnia Vanitas.

26 de agosto de 2016

Fantasia e Realidade ..






Ás vezes eu imagino que meu marido supõe que eu ficarei louca de ler tanto sobre Cervantes, mas sabemos que isso pode ser verdade {rs}.

Deixo, em seguida, a última reportagem que encontrei no site da Folha sobre os quatrocentos anos da morte de Cervantes {e Shakespeare}.


Fantasia e realidade
Como Cervantes e Shakespeare redigiram o manual de regras literárias modernas; Juntos, desafiaram as fronteiras do tempo 
SALMAN RUSHDIE
Já se passaram 400 anos desde que Shakespeare e Cervantes morreram. Juntos, eles desafiam as fronteiras do tempo e das convenções que separam a vida cotidiana da fantasia. No momento em que comemoramos os aniversários de 400 anos da morte de William Shakespeare e Miguel de Cervantes Saavedra, vale observar que, embora seja geralmente aceito que os dois gigantes morreram na mesma data, 23 de abril de 1616, na verdade não foi no mesmo dia.
Em 1616, a Espanha já usava o calendário gregoriano, enquanto a Inglaterra ainda usava o juliano, de modo que estava atrasada em 10 dias. (A Inglaterra continuou com o sistema juliano antigo de datação até 1752, e, quando a mudança finalmente chegou, houve tumultos e turbas nas ruas gritando devolvam-nos nossos dias!) Desconfio que tanto a coincidência de datas quanto a diferença nos calendários teriam agradado e muito às sensibilidades eruditas e travessas dos dois pais da literatura moderna.
Não sabemos se eles tinham consciência um do outro, mas tinham muitas coisas em comum, a começar bem ali na área do não sabemos, porque ambos eram homens cercados de mistérios; há anos faltando no registro de suas vidas e, o que é ainda mais revelador, documentos que faltam.
Nenhum dos dois deixou muito material pessoal. Muito pouco ou nada em matéria de cartas, diários de trabalho, rascunhos abandonados apenas suas obras concluídas, colossais. O restante é silêncio. Consequentemente, ambos viraram vítimas do tipo de teoria idiota que procura contestar sua autoria.
Teorias malucas
Uma busca superficial na internet revela, por exemplo, que não apenas Francis Bacon escreveu as obras de Shakespeare como também escreveu Dom Quixote (minha teoria maluca favorita a respeito de Shakespeare reza que as peças de Shakespeare não foram escritas por ele, mas por outro de mesmo nome).
E é claro que Cervantes viu sua autoria ser contestada ainda em sua vida, quando um certo pseudonímico Alonso Fernández de Avellaneda, cuja identidade também é incerta, publicou sua falsa sequência de Dom Quixote, incitando
Cervantes a escrever a verdadeira parte dois, cujos personagens têm consciência do plagiário Avellaneda e nutrem grande desprezo por ele.
Ecos
É quase certo que Cervantes e Shakespeare nunca se conheceram pessoalmente, mas, quanto mais de perto você olhar as páginas que eles nos deixaram, mais ecos ouvirá.
A primeira ideia que eles compartilham, e, a meu ver, a mais valiosa, é a de que uma obra literária não precisa ser meramente cômica, trágica, romântica ou política/histórica: que, se for corretamente concebida, ela pode ser muitas coisas ao mesmo tempo.
Dê uma olhada nas primeiras cenas de Hamlet. Primeiro Ato, Cena Um, é uma história de fantasmas. Não é mais do que simples fantasia?, Bernardo pergunta a Horácio, e é claro que a peça é muito mais que isso.
O Primeiro Ato, Cena Dois, apresenta as intrigas na corte de Helsingor: o príncipe estudioso e revoltado, sua mãe que enviuvou recentemente e se casou com seu tio (Ó pressa iníqua de subir para o tálamo incestuoso!).
Primeiro Ato, Cena Três: aqui vemos Ofélia contando a seu pai cético, Polônio, o início daquela que será uma história de amor triste: Senhor, ultimamente fez-me muitas propostas de afeição. […] Mas sua insistência sempre foi de moral honrosa e digna.
Primeiro Ato, Cena Quatro, é uma história de fantasmas outra vez e há algo de podre no reino da Dinamarca.
À medida que a peça avança ela continua a se metamorfosear, tornando-se alternadamente uma história de suicídio, uma história de assassinato, uma conspiração política e uma tragédia sobre vingança. Ela tem momentos cômicos e uma peça no interior da peça. Contém alguns dos mais belos trechos de poesia já escritos em inglês e se encerra em meio a melodramáticas poças de sangue.
Nós, que viemos depois, herdamos do bardo a consciência de que uma obra pode ser tudo ao mesmo tempo.
A tradição francesa, mais severa, separa a tragédia (Racine) da comédia (Molière). Shakespeare mistura os dois gêneros, e assim, graças a ele, nós também podemos fazê-lo.
Em um ensaio famoso, Milan Kundera propôs que o romance tem dois progenitores: Clarissa, de Samuel Richardson, e A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy, de Laurence Sterne; mas essas duas obras de ficção enciclopédicas revelam a influência de Cervantes.
O tio Toby e o cabo Trim, de Sterne, se inspiram abertamente em Dom Quixote e Sancho Pança, enquanto o realismo de Richardson deve muito ao fato de Cervantes ter ridicularizado a tola tradição literária medieval cujas ilusões dominam Dom Quix ote.
Trôpegas emoções
Na obra-prima de Cervantes, assim como nas obras de Shakespeare, os tombos cômicos, como de palhaços, convivem com a altivez, o páthos e a emoção, com a libertinagem, culminando no momento infinitamente comovente em que o mundo real se afirma e o cavaleiro da triste figura reconhece que tem sido um velho tolo e louco, que procura as aves deste ano nos ninhos do ano passado.
Tanto Shakespeare quanto Cervantes são escritores autoconscientes, modernos de uma maneira que a maioria dos mestres modernos reconheceria um deles criando peças que têm alto grau de consciência de sua teatralidade, de serem encenadas, e outro criando ficção que tem consciência aguda de sua natureza fictícia, ao ponto de inventar um narrador imaginário, Cide Hamete Benengeli. Fato interessante, é um narrador que tem antecedentes árabes. E os dois gostam tanto do submundo quanto das ideias nobres, e são tão adeptos em retratar a ambos; suas galerias de pilantras, putas, batedores de carteiras e bêbados ficariam à vontade nas mesmas tavernas. Esse lado ordinário revela que ambos são realistas de modo grandioso, mesmo quando se fazem passar por fantasistas, e assim, mais uma vez, nós que viemos depois podemos aprender com eles que a magia não tem sentido exceto quando está a serviço do realismo alguma vez já houve um mago mais realista que Próspero? e que o realismo pode beneficiar-se de uma injeção de uma saudável dose fabulista.
Finalmente, embora ambos empreguem tropos que se originam em contos populares, mitos e fábulas, eles se recusam a apontar para conclusões morais, e nesse aspecto, sobretudo, são mais modernos do que muitos que os seguiram. Eles não nos dizem o que devemos pensar ou sentir, mas nos mostram como fazê-lo.
Dos dois, Cervantes foi o homem de ação, que combateu em batalhas, foi gravemente ferido, perdeu o uso da mão esquerda e passou cinco anos escravizado pelos corsários de Argel, até sua família levantar o dinheiro e pagar seu resgate. Shakespeare não tinha dramas comparáveis em sua experiência pessoal, mas, dos dois, parece ter sido ele o escritor mais interessado na guerra e no ofício militar.
Otelo, Macbeth e Rei Lear são todas histórias de homens em guerra (em guerra interior, sim, mas também no campo de batalha). Cervantes utilizou suas experiências dolorosas, por exemplo na História do Cativo, em Quixote, e em duas peças, mas a batalha na qual Dom Quixote se lança é, para usar palavras modernas, absurdista e existencial, mais que real.Estranhamente, o guerreiro espanhol escreveu sobre a inutilidade cômica de ir para a batalha e criou a grande figura icônica do guerreiro como tolo (pensamos em Ardil 22, de Heller, ou Matadouro Cinco, de Vonnegut, explorações mais recentes desse tema), enquanto a imaginação do poeta e dramaturgo inglês (como Tolstói, como Mailer) mergulhava diretamente na direção da guerra.
Em suas diferenças, Shakespeare e Cervantes encarnam opostos muito contemporâneos, assim como, em suas semelhanças, eles coincidem em relação a muito que ainda é útil para seus herdeiros.


25 de agosto de 2016

Um Viajante que teve o Sonho Frustrado..



Nobre leitor, eu acredito que você deva estar um pouco cansado de ouvir sobre um tal espanhol chamado Miguel de Cervantes y Saavedra.
Mas, permita-me aproveitar este momento histórico que contempla os quatrocentos anos da morte deste escritor e "roubar" tudo o que possa servir para acrescentar conhecimento sobre este ícone da literatura universal.
Encontrei no site da Folha alguns artigos interessantes que farei "Crl+C Crl+V" para nosso deleite, anônimo leitor!

Primeiro artigo é de Sylvia Colombo e intitula-se Um Viajante que Teve o Sonho Americano Frustrado.

Crl+V:

Não foi por falta de insistência. Entre 1582 e 1590, Miguel de Cervantes fez vários pedidos à Coroa espanhola para viajar para as Américas. Não se tratava de um desejo abstrato, o escritor-aventureiro esteve obcecado com a ideia. Postulara a cargos na Guatemala, no México e no que hoje seria a Colômbia.

Não teve jeito. A resposta que recebia era sempre a mesma: Peça algo por aqui. Chegou mesmo a ir a Lisboa, na tentativa de embarcar de qualquer jeito em algum navio para o Novo Mundo. Poderíamos ter um dos mais importantes escritores da história desembarcando em nossas praias. Porém, se isso de fato ocorresse, talvez jamais tivéssemos conhecido o Dom Quixote.

Afinal, biógrafos concordam que sua grande obra, que conta a história do fidalgo que enlouqueceu por ler muitos romances de cavalaria, é em parte fruto de sua frustração. Mas por que Cervantes queria deixar a Espanha?

Primeiro, porque se sentia desprestigiado. Achava que merecia uma recompensa por ter lutado corajosamente na batalha de Lepanto contra os turcos, em 1571, onde levou três tiros de arcabuz um deles praticamente destruiu sua mão esquerda. Iniciava-se, então, um período de andanças e dificuldades.

Após Lepanto, seguiu mais uns anos na Itália, onde já havia sido camareiro de um nobre. Após a guerra, como soldado inutilizado, entregou-se às noites nas tavernas e às bebedeiras em Nápoles.

Em 1575, ao tentar voltar à Espanha, teve o navio em que viajava abatido e ele, levado prisioneiro para a Argélia. Passaria ali cinco anos, tentando escapar quatro vezes, todas fracassadas.

Quando de fato conseguiu retornar à Espanha, teve dificuldades financeiras. Mesmo tentando diversos serviços, nada lhe garantia renda fixa.

Não se sabe quando, exatamente, começou a escrever regularmente. Em 1585, publica La Galatea e arrisca suas primeiras obras de teatro, mas não consegue emplacar.

Quando vê enterradas as expectativas de ir à América, consola-se com o posto que lhe é conferido de arrecadador de impostos e, depois, de víveres para a famosa Armada espanhola, conhecida como invencível até ser derrotada em 1588 pela Inglaterra.

Apesar de haver discrepâncias, a versão mais aceita é a de que Cervantes começou a escrever o Quixote quando esteve preso em Sevilha, a partir de 1597, acusado, supostamente, de ter desviado bens da própria Armada.

Quando o Quixote veio à público, em 1605, Cervantes já tinha 58 anos, um idoso para a época. Só então passou a conhecer algo de fama. Lançou outros livros importantes, como a coletânea Novelas Exemplares, em 1613. Dois anos depois, a segunda parte do Quixote.

Porém, em 22 de abril de 1616, fragilizado pela diabetes, morre não sem antes descrever como via o próprio fim, na dedicatória de Los Trabajos de Persiles y Sigismunda.

Paciente leitor, em seguida {porque eu não descanso nunca} farei a outra publicação que encontrei neste site.



Stranger Things..



Meua-migo, eu adorei Stranger Things. É uma série muito, mas muito nerd! Eu viajava nas citações literárias que faziam - muitas sobres os livros do Tolkien! ...Ça va, vou respirar um pouco e me concentrar! 

Lá vai! 

Stranger Things é uma série original da Netflix que está sendo a queridinha do momento. Todos a amam - principalmente aquela galera que ama os anos 80! Toda a ambientação {carros, móveis, gírias, maquiagem, vestuário ...tudo!} é uma deliciosa reverência aos anos 80. 
A caracterização é do século XX mas os efeitos especiais são do século XXI. Essa afirmação pode ser óbvia, mas acredite, leitor nerd, há filmes atuais que mais parecem encenados no século passado! 

Mas, vamos lá! 
Stranger Things conta  a história de quatro crianças nerds que adoram RPG. 
Nessa época, 1983, era uma maravilha (e não estou sendo irônica). Nada de celulares, mensagens de texto e essa tecnologias que idiotizam.. Tudo na base do bom e velho telefone de disco, walkie-talkies e ...bicicleta! Dá vontade de sair pedalando só de assistir esses meninos fugindo de camelo! 
Porém, nem tudo são flores. Um dos meninos desaparece e toda a cidade se movimenta para encontrá-los. 
Se eu escrevesse apenas isso, a série pareceria O Resgate de Jéssica, mas quando alguém meio perturbado mergulha na mente de Stephen King + monstros de Tolkien + anos 80 = boa coisa não sai disso! {Poderes paranormais é o mínimo que se pode esperar}.
Um universo paralelo se abre e Onze entra em cena. Uma menina (chamada de Onze) aparece na floresta (Floresta das Trevas) onde Will (o garoto nerd) sumiu. Ela é fruto de uma experiência do governo! Óbvio! Ainda bem que eu assisti muito a série Arquivo X  e sei que eles são capazes de tudo! Mulder me ensinou! Ainda falando em Arquivo X, o tema de abertura faz eu me lembrar da série de Chris Carter. 
Mais uma curiosidade são as teorias de conspiração = tudo e todos são monitorados pelos agentes federais.. The Big Brother is watching you, man! 
Mas calma.. tem romance também. 

Recomendo. Sem contar que são apenas oito episódios. 

Omnia Vanitas

20 de agosto de 2016

Novos Agregados! ..


Bom dia, leitor anônimo!!! Hoje minha ansiedade se foi {pelo menos sobre este assunto}.

Comprei esses dois lindos livros no mês passado - presente do maridão. Porém, está encomenda que chegaria em no máximo dez dias úteis demorou um pouco mais de um mês para chegar nas minhas mãos! Chegaram nesta manhã linda de céu nublado!!

Deixe-me apresentar meus novos amigos, ansioso leitor:

- Confissões, de William Somerset Maugham. Meu querido inglês relata neste livro os caminhos que seguiu para escrever suas histórias. Eu não pretendo ser uma escritora de sucesso como meus ídolos literários, mas é interessante conhecer a forma de criar deste mestre.

- Le Tour du Monde en 80 Jours, de Jules Verne. Fiz esta leitura em francês adaptado ao meu nível de leitura e, por ter gostado muito da história, eu quis comprar a obra integral.  Este exemplar é lindo: tem figuras e a capa dura vem com uma sobrecapa para cuidar melhor do exemplar!

Concluindo: estou muito satisfeita com a minha nova aquisição literária. Ao chegar em casa, essas belezuras irão para minha prateleira improvisada na sala de visitas!

Omnia Vanitas.

18 de agosto de 2016

Destino - Parcas

As Parcas, por Salviati
Olá, leitores anônimos!!! Estou bem longe das publicações nesta semana ! Depois de um "combo" de publicações sobre meu querido Miguel de Cervantes, eu "pisei no freio" por alguns motivos: tenho trabalhos no sebo (minha paixão) e tenho curtido alguns esportes olímpicos.  Mas..

Como eu havia prometido, deixe-me escrever sobre as místicas parcas.

As parcas {morias ou destino} são soberanas sobre deuses e homens. A trindade é composta por Cloto, Láquesis e Átropos. A função de cada uma no universo {conforme sequência} é dar a vida, tecer o curso da vida e, finalmente, dar um fim à existência humana. 
As pinturas sobre estas três figuras são sempre representadas por mulheres, geralmente velhas e de semblante sisudo! {Como se a vida fosse uma brincadeira, não é mesmo, fadado leitor}.

"Com seu olhar frio, as Moiras assistem à farsa* efêmera da vida no palco da terra. Não têm compaixão de ninguém. Nem dos fortes nem dos fracos. Nem dos homens nem dos deuses".
É isso mesmo, querido leitor, não adianta fazer drama e lamentar a falta de sorte; ou, não tente se gabar pela boa sorte que lhe acompanha, pois segundo a mitologia tudo já está tecido antes de você caminhar firme sobre suas próprias pernas. "As Moiras comandam. Os homens obedecem".

Os grandes escritores gregos e romanos já comentavam em suas obras sobre estas três mulheres implacáveis e vingativas. Sim, vingativas! 

Homero em sua Ilíada já as descreveu como irrevogáveis: o que está escrito determinado está. 

"Nem homens nem deuses podem ir além de suas próprias fronteiras, que são fronteiras dadas pela Moira". 

Destino, fadado leitor! Ninguém poderia interromper aquilo que estava destinado a acontecer. Mas...haviam dedos ágeis em mudar sua fortuna e quando isso acontecia, audacioso leitor, a irmã Vingança vinha ao encontro daquele que mudou seu destino. E  ela chegava! Vem na forma de culpa - castigo - expiação. A ordem era colocada no lugar. Neste ponto o Destino era confundido com a moral social. 
Quando eu fiz a promessa de escrever sobre estas senhorinhas, eu fui influenciada pela série Supernatural. Quando o anjo Baltasar muda o destino das vítimas do Titanic {não o fazendo naufragar}, a Vingança volta e busca os descendentes das almas que foram poupadas no naufrágio. Esta era a forma de manter a ordem cósmica - punir a prole que não deveria ter nascido. 
Equilíbrio - esta é a minha palavra para definir a representação destas três irmãs chamadas de Destino. 

Os filósofos também conversavam sobre a ideia de Destino.
Platão, no décimo livro de República, as chama de "filhas da Necessidade"; onde Láquesis canta o passado, Cloto canta o presente e Átropos canta o futuro. Plutarco define o Destino como a "alma do mundo". Cícero é enfático ao dizer que tudo o que está escrito acontecerá. 
Mas a filosofia se divide em duas escolas: aquela que aceita passivamente o Destino e aquela que a consciência e ação do homem podem transformar seu destino - e esta segunda escola surge no século V a.C. quando "o povo grego luta para livrar-se das opressões sociais e das injustiças políticas".

Reservado leitor, termino por aqui esta pequena publicação por aqui. As páginas que li são bem mais explicativas sobre o assunto, mas meu conhecimento é ínfimo e não permite que eu me alongue além daquilo que me fadado conhecer! ;)

Omnia Vanitas



significado da palavra farsa


9 de agosto de 2016

Mudança de Planos..



Olá, anônimo leitor!

Ontem, eu tive a oportunidade de receber orientações da professora Maria Augusta da Costa Viera.
Consegui entrar em contato com ela por email e, gentilmente, ela me respondeu a missiva eletrônica.

Da leitura que eu estava fazendo de Bráulio Sánchez-Sáez, ela não recomendou, assim como Fernando Arrabal e Andrés Trapiello.
Da lista que fiz de estudo, Jean Canaggio foi o único que permaneceu na lista, mas, este, eu não tenho no momento.
Portanto, estudioso leitor, estarei adiando meus estudos sobre Miguel de Cervantes. Logo que eu tiver em mãos uma leitura mais substancial, voltarei a publicar sobre este enigmático espanhol.

Omnia Vanitas.

8 de agosto de 2016

Alucinações sobre Cervantes..



Caro leitor, estou em estado de pasmo! A leitura de "Dor e Glória de Cervantes" começou e eu estou lendo algumas descrições tão ínfimas sobre as emoções do enigmático espanhol, que começo a duvidar do conhecimento de Bráulio Sánchez-Sáez. Vou-lhe citar duas passagens utópicas:

 "(...) A maior delícia de Miguel era quando saía a reboque de sua irmã mais velha, em virtude de alguma incumbência ou ordem da mãe, e detinham-se, abobalhados, pelas esquinas, onde algum mendigo ou jogral de pouca importância, esguelando-se, recitava os velhos romances tradicionais de mouros e cristãos (...)"

Eu concordo com a descrição de como uma multidão se comportava em feiras ou vendas de rua, mas a dar a Miguel de Cervantes uma atitude tão genuína (justo à ele que não deixou nada escrito sobre sua vida ou criações e influências literárias que o tornaram o escritor que foi...). Minha credulidade precisa de mais fé sobre os assunto que Sáez escreve com tanta convicção.

"Miguel vivia em estado de pleno exaltação. A estrada parecia-lhe maravilhosa e era mais o que andava de um lado para o outro, junto às cavalgaduras, taramelando com os arrieiros".

Detalhes demais para alguém tão indecifrável como Miguel de Cervantes.
A "Nota Explicativa" de Edgar Cavalheiro me sugeriu um escritor (Sáez) mais sóbrio ao escrever sobre o espanhol seiscentista.

"(...) Refiro-me como todos devem ter percebido, a Bráulio Sánchez-Sáez, que ainda há pouco tempo nos brindou com um curso sobre Cervantes, curso ora reunido num volume muito bem apresentado e que circula por aí sob os auspícios da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, da qual, ele faz parte, como professor  de Língua e Literatura Castelhanas e Hispano-Americana".

Vou continuar a leitura, ignorando alguns trechos de cunho demasiado criativo.

Omnia Vanitas.

7 de agosto de 2016

Biblioteca Cervantina..


Último artigo da revista Entre Livros na edição Entre Clássicos - Cervantes.

Confesso, eu precisaria escrever sobre os pintores que foram inspirados pela obra de Cervantes, mas não vou me prender a este artigo pois não sou interessada em obras de arte - sinto muito, leitor. É uma falha minha não escrever sobre cada artigo, como prometido.

Este último artigo Biblioteca Cervantina, também, é escrito por Reynaldo Damazio. 

O autor do artigo inicia a sua escrita trazendo à pauta a importância de um boa tradução. Uma tradução, escreve Damazio, não é apenas um tradução de palavras; a cultura e a história presente dentro da história também tem a sua importância. Segundo Damazio ao citar Miguel de Cervantes y Saavedra

"A riqueza da linguagem empregada por Miguel de Cervantes, que oscila do rebuscado ao popular, do poético ao prosaico, do trocadilho à referência erudita, do provérbio à parábola, intercalando gêneros e narrativas, fez do Quixote um texto paradigmático e, para muitos, fundador do romance moderno. Se a isso acrescentarmos o torneio das frases, seu ritmo, o uso de termos arcaicos, a variedade de tons discursivos, chegamos a uma obra de difícil tradução, poque que compreendê-la em sua grandeza semântica e sintática já demanda esforço considerável. Na maioria das vezes, a tradução de uma obra dessa natureza fica no meio do caminho entre a transposição literal - na medida do possível - e a adaptação, de acordo com o talento e os objetivos dos tradutores".

Quero acrescentar mais umas palavras de Damazio sobre a dificuldade em traduzir clássicos, como este de Cervantes:

"Com o passar do tempo e das mudanças no idioma, na cultura e no pensamento, traduzir é quase como reconstruir arqueologicamente certas estruturas linguísticas. Por outro lado, optar pela tradução dita 'literal' é quase uma falácia, pois há expressões que são típicas da época ou daquela língua e não fazem sentido se transportas ao pé da letra. Por outro lado, enveredar pela transcrição radical traz o risco de destruir a beleza e as peculiaridades  do original, que dizem respeito ao momento em que foram criadas".

Damazio faz observações sobre três traduções principais da obra D. Quixote de La Mancha: os portugueses Viscondes de Castilho e Azevedo, o argentino Sérgio Molina, e a dupla: o brasileiro Carlos Nougué com o espanhol José Luiz Sanchéz.

A primeira tradução feita para o Brasil, foi em 1794 - tarde, não é mesmo? Note, atrasado leitor, que na França a tradução ocorreu em 1614 e na Inglaterra em 1612. A explicação para a tardia tradução para nossa língua colonizada é que os portugueses que por cá estavam liam na língua original.

Foi no século XX que houve a primeira tradução integral da obra. Exemplar já não disponível em lojas do ramo, a tradução de Almir de Andrade e Milton Amado, pela José Olympio, foi feita em 1952. 

As editoras Nova Cultural e L&PM tem como tradutores os viscondes portugueses. E, sobre estes Damazio escreve

"Os viscondes 'formalizam' Cervantes e até o corrigem. Tiram-lhe, assim, a ousadia e a inventividade que estão justamente nos usos e abusos da linguagem, do coloquialismo e das imperfeições da fala cotidiana. Deram certa informalidade a uma narrativa cuja graça está propositalmente na irregularidade, na maleabilidade de focos narrativos e de vozes que se atritam no interior do discurso".

Para minha tristeza, leitor, a minha tradução dos dois volumes é destes nobres viscondes! :( Mesmo assim, nesta ignorância tradutória, ri às boas com Dom Quixote e Sancho Pancha; mas estou atenta para a tradução mais próxima que o argentino fez deste clássico. É assim que escreve Damazio sobre Molina:

"(...) Molina afirma que desde o início do trabalho esteve sempre preocupado em encontrar o 'tom', mas que não poderia ser um tom geral para toda a obra, que por sua vez não atendesse 'à diferenciação de vozes, à variedade de estilos e gêneros incorporados e retrabalhados por Cervantes'. (...) Molina realizou intensa pesquisa para chegar à tradução, que incluiu viagem à Espanha, e acrescenta notas importantes ao final dos capítulos, com referências históricas, literárias, idiomáticas etc. A edição traz ainda o texto original no rodapé a página, que permite um cotejo imediato, muito enriquecedor, a cada passo da leitura".

Este exemplar da Editora 34 com a tradução de Sérgio Molina custa, atualmente, R$ 98 mil réis! Sinto muito, rico leitor, meu pobre bolso não pode arcar com essa beleza no momento! Ficarei com os viscondes.

A última tradução que Damazio apresenta é da dupla Nougué e Sanches. Sobre eles, o autor do artigo escreve o seguinte:

"(...) Mudaram os epítetos formados por topônimos, como Quixote 'da' Mancha, Dulcinéia 'do' Toboso; mantiveram as inversões sintáticas e sintagmáticas, a voz passiva etc. Tiveram a preocupação excessivamente didática, aferrada à correção, e talvez por isso mesmo perderam um pouco a força, do humor e da musicalidade do original. Não que a leitura não flua, mas há momentos em que o texto parece simplificado, para facilitar a leitura; e noutros, volta-se a uma certa sobriedade, escorada numa dicção mais antiga".

Esta não foi a primeira que leio elogios à Editora 34. Logo que eu tiver a oportunidade financeira, estarei adquirindo esta edição de Dom Quixote e, também Crime e Castigo de Dostoiévski - de quem ouvi pela primeira vez elogios à tradução.

Para finalizar, Damazio escreveu sobre a tradução infantil do clássico cervantino por Monteiro Lobato. Eu quero adicionar este comentário pois se trata do meu primeiro contato com Miguel de Cervantes. Escreveu Damazio

"No episódio 'Dom Quixote das Crianças, o escritor Monteiro Lobato (1882 - 1948) fez Dona Benta contar as aventuras do Cavaleiro da Triste Figura para a turma do sítio do Pica-Pau Amarelo, depois que a boneca Emília encontrou o título de Cervantes numa estante alta da biblioteca. Em linhas gerais, a obra está ali, com sagacidade e o virtuosismo de Lobato".

Damazio detalha outras traduções, mas estou me prendendo apenas nestas que citei - aquelas que me interessam. 

E..fim. Minha próxima leitura será de Bráulio Sánchez-Sáez:  Dor e Glória de Cervantes.

Até lá! 

Omnia Vanitas.


DAMAZIO, Reynaldo. Biblioteca Cervantina; página 92 à 98. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.



Lazarillo de Tormes..


Ontem, para meu desespero, deixei a revista que estava lendo sobre Cervantes em casa. Para passar o dia, eu resolvi começar uma leitura alternativa.
A escolha não poderia ser outra: Lazarillo de Tormes.

La vida de Lazarillo de Tormes y de sus fortunas y adversidades é o título original deste livro, escrito no século XVI, época de Miguel de Cervantes - que recebeu influência desta obra - publicado em 1554. À princípio, a autoria desta novela picaresca é anônima, porém, na edição que li, o nome de Diego Hurtelo de Mendonza é apontado como um possível autor desta obra.

Lazarillo de Tormes é uma novela picaresca que, segundo a Wikipédia significa:

Romance picaresco (em espanhol: "picaresca", de "pícaro", "delinquente" ou "malandro") é um sub-gênero literário narrativo da ficção em prosa, geralmente satírico e que descreve, em detalhes realistas e muitas vezes humorísticos, as aventuras de um herói malandro da classe social baixa, que vive por sua inteligência em uma sociedade corrupta. Este estilo do romance foi originado na Espanha, nos anos de transição do Renascimento para o Barroco, durante o chamado Século de Ouro, possivelmente influenciado pela literatura árabe (especificamente o gênero maqamá), e floresceu na Europa nos séculos XVII e XVIII, e continua a influenciar a literatura moderna.

O momento que a Espanha vivia na época que Lazarillo foi escrito contava um momento bom para a país - porém a miséria era agravante mesmo em meio a sua fortuna. A explicação é simples: buscando descobrir o Novo Mundo, a coroa espanhola lançava ao mar sua tripulação - e com ela ia todo o dinheiro do reinado, deixando, então, um país pobre para trás. Toda a narrativa de Lazarillo demonstra essa pobreza na Espanha. 

E o personagem? Ele é carismático! É fácil se comover com a história dele e, quando possível, rir com ele. Escassos são os momentos de felicidade deste personagem, que se vê longe da mãe e da família desde a idade mais tenra. 
Lázaro, como se chama o menino, tem cinco patrões durante a primeira parte da sua vida - que é narrada até a vida adulta.
Seu primeiro patrão é um cego que se diz curandeiro, meteorologista e toda a sorte de mentiras que possam lhe trazer algum benefício financeiro (ou mesmo em troca de comida - moeda comum neste meio). O segundo patrão de Lázaro foi um padre - tão avarento quanto o cego. O terceiro patrão foi um escudeiro falido que tinha para si somente a honra, nada mais. 
Este trio deu à Lazarillo um banquete de nulidade. A fome foi próspera na vida deste menino, que se não foi a piedade de alguns, teria morrido de fome no segundo capítulo. 
Foi o quarto patrão foi um trambiqueiro maior que os outros - porém, não faltava comida para Lázaro. E, mesmo em meio ao banquete, os escrúpulos do pobre menino não puderam aguentar a mentira que o doutro Cura-Tudo aplicava ao povo pobre e ignorante. 

Foi o quinto capítulo que trouxe a alegria a Lázaro - e  também à mim, pois tenho a hábito de sofrer com os personagens que tenho simpatia. 

A miséria do protagonista e a maneira que Lazarillo utiliza para se manter em cada situação que lhe ocorre é um exemplo do caráter correto que ele possui, mesmo vindo da pobreza e ignorância do berço. Assim como em Novelas Exemplares de Miguel de Cervantes, o ensinamento vem da adversidade de vida do protagonista e não da sua boa sorte. E, assim como em Cervantes, o final culmina com o sacramento do matrimônio - que encerra todo o mal na vida do protagonista.

E esta foi minha leitura de sábado/domingo de manhã! Recomendo esta leitura, não somente instrutiva mas, muito agradável de ler! 
Omnia Vanitas.

3 de agosto de 2016

Reinveções do Quixote..


Assim como a maioria dos clássicos, Dom Quixote de La Mancha foi reescrito em diversas adaptações e reinvenções, como escreveu o autor deste artigo Reynaldo Damazio.
O artigo é bem simples pois comenta as referências literárias que tiveram Cervantes como ponte para sua concepção. 
Eu acho cansativo fazer um resumo do resumo de cada uma, então, apenas deixarei algumas poucas palavras que podem ligar a obra do espanhol àquela que criada à partir dela.

Vamos lá, dinâmico leitor, àquelas obras que foram inspiradas pelo obra máxima de Miguel de Cervantes y Saavedra.

Damazio começa citando o escritor francês Gustave Flaubert e sua Madame Bovary: "mulher sonhadora e perturbada por uma visão livresca, idealizadora, do mundo". Além disso, um amante lhe sonda as saias já que percebe que seu casamento é monótono. Delirante leitor, imagine o "estrago" que este francês causou quando o livro foi publicado.

Próximo: Charles Dickens bebeu da fonte quixotesca e criou o seu clássico As Aventuras do Sr. Pickwick. Há muito tempo que quero ter esse livro na minha biblioteca, ansioso leitor, mas o que me impede de comprá-lo é o fato de encontrar somente as edições da Abril que são impressas com letras miseravelmente pequenas para uma leitura anciã. Veja só, preocupado leitor, quando eu for uma senhorinha de 80 anos, pretendo continuar sendo uma leitora ativa. Portanto, se hoje eu comprar livros com letras minúsculas, que trabalho enorme terei no futuro! Cautela, jovem leitor! 
Voltando ao senhor Pickwick, só o nome já dá sinais de divertimento - pelo menos à mim. Damazio liga o espanhol ao inglês com a seguinte explicação: "um grupo se reúne para realizar uma pretensa investivação científica dos costumes e das relações humanas na capital inglesa".

Se o assunto é reinvenção, o russo Dostka não pode ficar de fora da festa. Fiódor Dostoiévski retratou o Cavaleiro da Triste Figura através do seu O Idiota. Já fiz publicações aqui. Acrescento Damazio:

"Dostoiévski enfrentou com brilhantismo incomum temas cruciais que preparam a mentalidade do mundo contemporâneo, como o misticismo e  o materialismo, o nacionalismo e o universalismo, as paixões e a razão, a barbárie e o senso de humanidade no terreno movediço da literatura, fazendo do ficcional o instrumento de reflexão sobre as angústias mais profundas do homem".
Damazio ainda cita o livro de Nikolai Gógol Almas Mortas e o livro de Rudolf Erich Raspe com Gottfired August Bürger intitulado As Aventuras do Barão de Münchhausen. 
A minha ignorância não permite comentar sobre estas duas reinvenções. Perdoe-me, culto leitor.

O Brasil não deixou de beber desta fonte cervantina. E, não que me "gambar" - como diria uma amiga - mas antes de eu ler este artigo, eu já reconhecera Dom Quixote na obra de Machado de Assis Quincas Borba e na obra de Lima Barreto O Triste Fim de Policarpo Quaresma. Ai, sou tão inteligente! 

Rubião é o personagem de Machado de Assis que recebeu uma herança de seu amigo Quincas Borba. Eu achei hilário o fato de o dono ter colocado o próprio nome no cachorro. Fantástico. E, após a morte do filósofo (dono do cão), o bichano vai junto com a herança deixada à Rubião. O cômico é que muitas vezes Rubião olhava para o cachorro e não sabia se era animal que lhe olhava ou amigo falecido. E, do mesmo modo que Dom Quixote provocou em mim uma fúria pelo mau tratamento que recebia de seus amigos, Rubião também despertou esta carisma em mim. Coisa de leitor.

Na obra de Lima Barreto é muito fácil identificar Dom Quixote: o personagem promove a volta da língua materna do Brasil - antes que os portugueses viessem impor a cultura aos nativos das terras de cá. Sim, ele desejava a volta da língua indígena na cultura brasileira colonizada. E o fim de Policarpo Quaresmo, como título da obra já declara, é triste - assim como Dom Quixote. A realidade volta à razão do protagonista e o devora a sua tolice.

Segundo Damazio, outros escritores brasileiros beberam de Miguel de Cervantes: José de Alencar, Aluísio Azevedo, Coelho Neto, José Lins do Rego, Fernando Sabino. Os estrangeiros do nosso continente como  Jorge Luis Borges Pierre Menard, autor de Dom Quixote, e Italo Calvino O Cavaleiro Inexistente.

A primeira vez que li Dom Quixote foi na versão infantil que foi adaptada por Monteiro Lobato no seu Dom Quixote para Crianças - com a participação da turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo (saudades!). Emília encontra um exemplar nas coisas da Dona Benta e, ao final da história, ela clama em plenos pulmões o que eu também tenho em meu coração de leitora:

- Morreu, nada! - dizia ela. - Como morreu, se D. Quixote é imortal?


Omnia Vanitas.


DAMAZIO, Reynaldo. Reinvenções de Quixote; página 78 à 83. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.


2 de agosto de 2016

Persiles e Sigismunda: a grande aposta de Cervantes..




Eis um desafio: escrever sobre algo completamente desconhecido, para mim. 
Nunca chegou às minhas mãos ou ao meu interesse o livro Os Trabalhos de Persiles e Sigismunda, e nem sei explicar o motivo.  Na minha pequena biblioteca, encontra-se, das obras de Cervantes, apenas três volumes de O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha (volumes: 1, 2 e único), Novelas Exemplares, e A Galatéia - que ainda não li.
E, mesmo se eu quisesse obter esta obra póstuma de Miguel de Cervantes, eu teria que investir um valor monetário sublime para chamá-la de minha. O título não está disponível para vendas em sebos ou livrarias mortais - apenas sob encomenda. Talvez, se eu procurar em uma biblioteca pública eu poderia roubar.. digo, emprestar está joia tão valiosa à pena que a concebeu!

Depois desta introdução simplória e lamuriosa, eu espero que tenha paciência comigo, passageiro leitor, para ler meus possíveis enganos de interpretação do artigo de Adma Fadul Muhana - isto mesmo, a mesma autora do artigo Novelas Exemplares.

Para começar, quero lembrar que Cervantes concluiu e dedicou esta obra três dias antes de morrer, segundo relata no prólogo desta obra:

"Ontem me deram a extrema-unção e hoje escrevo está; o tempo é breve, as ânsias crescem, as esperanças minguam e, com tudo isso, levo a vida além do desejo que tenho de viver".

Eu não sei quanto a você, desocupado leitor, mas à mim tocou essa despedida de Miguel de Cervantes. E, talvez, tenha sido bom ele não ver superioridade que Dom Quixote ainda mantém desta publicação que foi aquela ns qual apostou que sobrepujaria ao cavaleiro.
Segundo Muhana

"Desde quando Cervantes começou a redigi-lo, não se sabe; mas, no todo, o livro oferece como que uma morada de ancião, cheia de memórias, lembranças e histórias, acumuladas durante uma longa e diversificada existência, cuja vida as justificava. Claro, é tempo em que ecoam a Contra-Reforma e seu esquisito estoicismo, o Seiscentos renascido e já cansado".

Tão certo quanto Quixote é uma alegoria para os cavaleiros andantes, Os Trabalhos de Persiles e Sigismunda tem sua base na epopeia grega de Heliodoro Teágenes e Caricléia. Muhana ainda acrescenta que Cervantes queria "atingir seus fins e agradar pela variedade, fazendo os protagonistas se envolverem em uma sucessão de episódios memoráveis".

E os coadjuvantes desta trama tinham suas características bem marcadas pela nacionalidade de cada personagem, conforme Muhana

"Aliás, em toda a ficção até o século XVIII, a tipificação dos caracteres pátrios é tão frequente quanto na Antiguidade. Aqui, portugueses sempre falecem de amor, espanhóis são presunçosos, judeus são médicos e avarentos, franceses, bonitos, italianos, afeitos às artes (IV,3); mouros, por sua vez, são tão corteses como traidores, do mesmo modo que, nas epopeias em prosa antigas, os de Lesbos são lascivos, os egípcios são supersticiosos, dos atenienses, amantes de fábulas e, na Pérsia, as !mulheres são luxuriosas e os homens, efeminados".

Os personagens secundários caminham pela trama sem ter a intenção de chegarem ao destino que espera os protagonistas. Saem de cena quando são dispensáveis para a próxima teia do enredo.
Os protagonistas, obviamente, mantêm-se firmes aos seus propósitos até o fim da trama, pois são os heróis que não caem em desagrado moral perante o leitor - sendo a exatidão do modelo a ser seguido, e deles só se espera que alcancem "aquilo que lhes é destinado como prêmio, a felicidade".

Termino está publicação com as palavras finais de Muhana para seu artigo:

"São tempos são diferentes, ou melhor, não há mais tempo. Seus livros estão escritos, sua vida está cumprida (...). Os tempos são mesmo diferentes, inclusive para Os Trabalhos de Persiles e Sigismunda. Não há hoje quem julgue ser o melhor livro que já se escreveu em língua castelhana, nem o melhor de Cervantes. Poucos são os que conhecem as histórias bizantinas e esses acham que elas já não tem mesmo muito lugar. São pomposas, eruditas, parecem estar sempre a ensinar. Sua graça luxuosa e aristocráticas, reside muito no conhecimento que se tem dos demais gêneros poéticos da Antiguidade".

Omnia Vanitas.

MUHANA, Adma Fadul. Persiles e Sigismunda; página 66 à 75. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.

31 de julho de 2016

Novelas Exemplares de Cervantes..


Parte I: Cervantes e Seu Tempo
Parte II: Por que Ler o Clássico Dom Quixote
Parte III: O Retrato e a Escrita de Cervantes
Parte IV: A Obra prima de Cervantes
Parte V: Sentenças e Aforismos em Cervantes

Eu lembro do dia em que comprei o livro Novelas Exemplares. Estava animada em comprar mais um livro de Cervantes - contando que fiquei apaixonada por Dom Quixote de La Mancha.
E, na primeira vez que me propus a ler esta obra, não cheguei nem até a metade. Algo não estava pronto em mim para ler as doze novelas. 
Foi depois de um pouco mais de um ano que eu tive a segunda oportunidade de ler este livro incompreendido. E, mesmo assim, eu não atendi o significado que tem as novelas.

Agora, lendo o artigo de Adma Fadul Muhana foi uma boa explicação minha ignorância. 

Começo, com as palavras da dona do artigo, sobre a definição do termo "novela":

"A questão, na época, é importante. No século XVI, o termo 'novela' - cuja raiz é a mesmo de 'novo', 'nova' e 'notícia', ou em bom português, 'caso' - reporta-se apenas a historietas (...). Embora o uso do termo tenha se difundido rapidamente, até serem consideradas 'novelas', como hoje em dia, as picarescas, as sentimentais, as da cavalaria e as pastoris, ate então elas eram pensadas como sendo desprovidas de critérios que permitissem incluí-las entre os grandes gêneros poéticos da Antiguidade, nomeadamente a épica e a tragédia; esses critérios se referiam sobretudo ao caráter dos personagens, ao modo narrativo, à ação, ao estilo e à destinação. Isso fazia das novelas uma espécie menor, isto é, que só podia interessar a jovens, mulheres e semiletrados".

Sendo assim, era um livro "ao gosto do povo", sem muitos requintes que o tornavam tolerável à corte.
Um grande "inimigo" de Cervantes era o poeta Lope da Vega. Este poeta tinha um grande prazer de fazer dos escritos de seu conterrâneo diminutos aos olhos da corte - de onde ele participava com grande reconhecimento dos príncipes. E, mesmo sendo um grandessíssimo baba-ovo  fazia de Cervantes um enganado escritor. E, talvez, por ser Miguel de Cervantes um dos primeiros a escrever esse gênero literário - visto que antes eram traduções italianas que chegavam até o leitor espanhol. Lê-se o que o mal-amado Veja escreveu sobre as Novelas de Cervantes:

Lope da Vega, portanto, apesar de reconhecer alguma graça e estilo nas novelas de Cervantes, não partilha da opinião de que elas pudessem ser tidas por exemplares, pois seu autor, infere-se, nem era letrado, nem se remetia aos hábitos da corte - como o faz ele, Lope a propósito, que vivia com fausto principesco, cuja popularidade na corte nunca foi superada e que, além de eclesiástico, dispunha do grau de doutor em teologia outorgado pelo papa Urbano VIII, em agradecimento ao poema La corona trágica, que lhe enviara...".

Miguel de Cervantes, ao contrário do seu desafeto, nunca foi reconhecido por seus feitos em Lepanto - ou reconhecido suficientemente - para cair no gosto da corte. Somente após o sucesso da primeira parte de O Engenhoso Dom Quixote da La Mancha que experimentou viver sob os olhos da realeza nos seus últimos dez anos de vida. No ano de 1613, ele publica Novelas Exemplares, uma forma humorada e humanista de educar. Porém, como já foi escrito na opinião de Lope da Vega, as novelas não estavam situadas na vida da corte espanhola, mas no populacho. Desta forma, as novelas

"(...) exploram os lugares baixos da cidade, em que personagens de comédia se locomovem - e não fidalgos de alta estirpe, que já desconhecem os ideias heróicos. A ação decorre entre ciganos em A Ciganinha; entre ladrões, em Riconete e Cortadilho; entre mercadores, em A Espanhola Inglesa e em O Ciumento da Extremadura; entre alferes e licenciados que lutam por obter lugar na corte, em O Licenciado Vidraça e em O Casamento Enganoso; entre fidalgotes desonrados, em A Força do Sangue etc.".
A falta de caráter de alguns personagens servem de exemplo nas novelas de Cervantes, não o exemplo que deve ser seguido, mas algo que ao término da narrativa precisou ser alterada para terminar "bem". Outra característica é que os personagens inseridos nas tramas não estão distantes de uma descrição realista da vida cotidiana do leitor. Cervantes levou a sério utilizar-se de personagens comuns que inclusive na fala de suas personagens é própria da  classe social que representam.  

Em seu artigo, Muhana destaca personagens como Tomás Rueda {O Licenciado Vidraça} e Campuzano {O Colóquio dos Cães}. Confesso, lembro vagamente da primeira história - que é hilária, mas pouco lembro da segunda portanto, somente escreverei sobre aquela que lembro. Este fato me move a ler novamente esta obra de Cervantes.

O motivo de Muhana destacar em especial estas duas personagens é que a loucura de ambos parece salvar-lhes a vida de uma existência enfadonha. Explicarei: Tomás Rueda é um licenciado que foi enfeitiçado por uma mulher que foi desdenhada por ele. O poção dada à Rueda lhe causou loucura, achando que era feito de vidro. Seus costumes eram respeitados e seus conselhos e repreensões aceitos por todos - visto que era louco e a todos fazia rir sendo louco.

"Vidraça é um desses que abusa do modo sentencioso de falar proferindo seus impertinências com citações bíblicas, lugares-comuns, trocadilhos, versos, pensamentos, provérbios, anexins, agudezas, parêmias, máximas - cujas tantas denominações mostram a diversidade das formas breves, que significariam a autoridade moral daquele que as pronuncia se não significassem a parvoíce de quem as diz por tudo e por nada".

Mas ao ser curado, ele perde o seu encanto e torna-se apenas mais um comum licenciado entre todos - sem utilidade para o público que antes lhe acolhia.

Neste artigo, Muhana definiu o que era uma novela no século XVI e também porque este gênero literário foi classificado como "exemplar" - mesmo seguindo os rumos contrários, inicialmente, à moral que deveria ser seguida. Muhama também destacou o que o sucesso de Dom Quixote trouxe a Cervantes e o seu empreendimento em iniciar uma narrativa novelística fora dos padrões preexistentes de concepção deste gênero literário, dando ao seus personagens características singulares à classe social que estavam inseridos. 

Em suma, esta é a minha visão do que se tratou este artigo. Espero não ter sido confusa em todas as publicações que até o momento escrevi sobre Miguel de Cervantes Saavedra.

Omnia Vanitas.


MUHANA, Adma Fadul. Novelas Exemplares; página 54 à 65. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.


O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...