15 de janeiro de 2015

Prólogo..



Eu não entendo nada sobre carros. Sou um zero à esquerda. E estou falando de um modo geral: seja uma marca ou sua mecânica; nada!

Mas estou lendo Christine do Stephen King. Eu não gosto de carros, mas amo Stephen King :) .

Porém, há um carro que eu quero registrar meu gosto. Chama-se Baby. É o Chevy Impala 67 de Dean Winchester, herdado de seu pai, o u-lá-lá John Winchester. Eu até arrisquei fazer um post sobre isso tempos atrás: leia aqui.

Ok. mas este post não é sobre carros. É sobre o livro.

Há dois tipos de leitores, na minha opinião. Há aqueles que lêem a história e há aquele que lêem todas as informações que o livro trás: orelhas, capa, contra-capa e prólogo.

Eu caracterizo o prólogo como um "deixe-me convencê-lo a ler este livro". Há prólogos muito bem escritos, como os das obras de Miguel de Cervantes (escrito por ele), clique aqui. Cervantes é irônico! Quem já leu Dom Quixote de La Mancha (e leu o prólogo da segunda parte) riu litros com o humor do escritor em seu prólogo.

E, da minha leitura atual, eu adorei o "deixe-me convencê-lo a ler este livro". Talvez, porque eu gosto de livros com "Vingança Nerd" e Stephen King é rei neste quesito, nota-se isso em "Carrie, A Estranha". Então, vou deixar de meias palavras, e postar o prólogo de Christine. Talvez, leitor anônimo, você não goste tanto como eu gostei, mas eu estou adorando o livro tanto quanto gostei desta nota introdutória.

PRÓLOGO

Esta é a história de um triângulo amoroso — suponho que este seria o nome — formado por Arnie Cunningham, Leigh Cabot e, naturalmente, Christine. Quero que compreendam, no entanto, que Christine chegou primeiro. Ela foi o primeiro amor de Arnie e, embora eu não tenha a presunção de garantir (de qualquer modo, não após os altos níveis de sabedoria que alcancei, em meus 22 anos), creio que ela foi seu único e verdadeiro amor. Portanto, chamo de tragédia ao que aconteceu.
Eu e Arnie crescemos no mesmo quarteirão, freqüentamos juntos a Escola Primária Owen Andrews e o Ginásio Darby. Também juntos, fomos para o Ginásio de Libertyville. Penso que fui o principal motivo de Arnie não haver sido devorado no ginásio. Eu era um cara importante — sei que isso não quer dizer grande coisa; cinco anos após o diploma, não se consegue nem mesmo uma cerveja grátis, por termos sido o capitão dos times de futebol e beisebol, e um nadador da Associação de Escolas—, mas, como fui tudo isso, pelo menos Arnie nunca foi liquidado. Abusaram dele um bocado, mas nunca o destruíram.
Ele era um perdedor, compreendam. Todo ginásio tem dois, pelo menos; é como uma lei nacional. Um homem, uma mulher. Sacos-de-pancada de todos. Seu dia foi ruim? Falhou em uma prova importante? Discutiu com seus velhos e ficou o fim de semana a pé? Não há problema. Encontre um daqueles pobres coitados que se esgueiram pelos corredores como criminosos, antes do sinal para as aulas, e vá direto ao infeliz. Sabiam que, algumas vezes, eles são abatidos em todos os sentidos, exceto no físico; em outras, acham alguém a quem agarrar-se e sobrevivem. Arnie tinha a mim. Depois teve Cristine. Leigh apareceu mais tarde.
Eu só queria que vocês compreendessem isso.
Arnie era um deslocado natural. Estava fora do atletismo por ser magricela — um e setenta e cinco, com cerca de setenta quilos, tragado por todas as suas roupas, mais um par de botas Desert Drive. Estava por fora também para os intelectuais do ginásio (eles próprios, um grupo inteiramente “desajustado” em uma cidadezinha como Libertyville), porque não tinha nenhuma especialização. Arnie era esperto, mas seus miolos não se fixavam naturalmente em coisa alguma, a menos que fosse mecânica automotora.
Era grande nisso. Em se tratando de carros, o garoto era uma espécie de alucinado nato. Seus pais. no entanto (os dois lecionavam na Universidade, em Horlicks), não podiam ver seu filho — que tinha marcado o máximo de cinco por cento no teste de inteligência Stanford-Binet — matricular-se nos cursos profissionalizantes. Andy teve muita sorte, quando lhe permitiram cursar Mecânica de Motores I. II e III.
Precisou batalhar muito para conseguir a permissão. Estava ainda deslocado com os que se drogavam, porque não era disso. E também não se ligava com o grupo machão calças-jeans-e-Lucky-Strikes, porque não era de beber e chorava, se atingido com força.
Oh, sim, era um desajustado também com as garotas. Seu mecanismo glandular degringolara inteiramente. Quero dizer, Arnie era um tapete de espinhas. Acho que lavava o rosto umas cinco vezes por dia, tomava umas duas dúzias de duchas por semana e experimentava cada creme ou panacéia conhecidos pela ciência moderna. Nada funcionava. O rosto de Arnie parecia uma pizza e ele ia ficar com uma daquelas caras furadas e marcadas para sempre.
Eu gostava dele assim mesmo. Arnie tinha um sutil senso de humor e uma mente que não se cansava de fazer perguntas, inventar jogos e pequenas, divertidas brincadeiras. Foi Arnie quem me mostrou como construir uma fazenda de formigas quando eu tinha sete anos, e passamos todo um verão espiando aqueles animaizinhos, fascinados por sua diligência e total seriedade. Quando tínhamos dez anos, foi por sugestão de Arnie que nos esgueiramos de casa certa noite e colocamos um monte de bostaseca de cavalo, tirada dos Estábulos da Rota 17, debaixo do enorme cavalo de plástico sobre o gramado do Libertyville Motel, do outro lado da linha do trem, em Monroeville. Arnie aprendeu xadrez primeiro.
Aprendeu pôquer primeiro. Ensinou-me a aumentar meu escore em Scrabble. Nos dias chuvosos, bem até a época em que me apaixonei (ora, foi mais ou menos isso — ela era chefe de torcida, com um corpo espetacular; achei que me apaixonara pelo corpo, embora, quando Amie avisou que a mente da garota tinha toda a profundidade e ressonância de um Chaun Cassidy 45, eu não pudesse responder que ele estava mentindo, porque não estava mesmo), era nele que eu pensava primeiro, porque Arnie sabia como engrandecer os dias de chuva, da mesma forma como sabia aumentar os escores no Scrabble. Talvez seja esta uma das maneiras de identificarmos as pessoas realmente solitárias… elas sempre podem imaginar algo legal para se fazer em um dia de chuva. A gente sempre pode contar com ela. Estão sempre em casa. Sempre na pior.
De minha parte, ensinei Arnie a nadar. Chateei-o até convencê-lo a comer verduras, para que pudesse melhorar um pouco a sua magreza. Consegui trabalho para ele em uma estrada, um ano antes de nosso último ano no Ginásio de Libertyville — e para isso nos empenhamos a fundo com os pais dele, que se viam como grandes amigos dos trabalhadores nas fazendas da Califórnia e dos metalúrgicos daquela cidadezinha cretina, mas que ficavam horrorizados à idéia de seu talentoso filho (com um máximo de cinco por cento em seu teste Stanford-Binet, lembrem-se) ficando com os pulsos sujos de terra e o pescoço vermelho.
Então, perto do fim daquelas férias de verão, Arnie viu Christine pela primeira vez e se apaixonou por ela. Eu estava com ele nesse dia — íamos para casa, voltando do trabalho — e testemunharia a respeito diante do Trono de Deus Todo-Poderoso, se para isso me convocassem.
Irmão, ele gamou e gamou de fato. Até que podia ter sido gozado, se não fosse tão triste, se aquilo não ficasse assustador tão depressa como ficou. Podia ter sido divertido, se não houvesse sido tão ruim.
Ruim — a que ponto?
Foi ruim desde o começo. E se tornou rapidamente pior.

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