3 de agosto de 2016

Reinveções do Quixote..


Assim como a maioria dos clássicos, Dom Quixote de La Mancha foi reescrito em diversas adaptações e reinvenções, como escreveu o autor deste artigo Reynaldo Damazio.
O artigo é bem simples pois comenta as referências literárias que tiveram Cervantes como ponte para sua concepção. 
Eu acho cansativo fazer um resumo do resumo de cada uma, então, apenas deixarei algumas poucas palavras que podem ligar a obra do espanhol àquela que criada à partir dela.

Vamos lá, dinâmico leitor, àquelas obras que foram inspiradas pelo obra máxima de Miguel de Cervantes y Saavedra.

Damazio começa citando o escritor francês Gustave Flaubert e sua Madame Bovary: "mulher sonhadora e perturbada por uma visão livresca, idealizadora, do mundo". Além disso, um amante lhe sonda as saias já que percebe que seu casamento é monótono. Delirante leitor, imagine o "estrago" que este francês causou quando o livro foi publicado.

Próximo: Charles Dickens bebeu da fonte quixotesca e criou o seu clássico As Aventuras do Sr. Pickwick. Há muito tempo que quero ter esse livro na minha biblioteca, ansioso leitor, mas o que me impede de comprá-lo é o fato de encontrar somente as edições da Abril que são impressas com letras miseravelmente pequenas para uma leitura anciã. Veja só, preocupado leitor, quando eu for uma senhorinha de 80 anos, pretendo continuar sendo uma leitora ativa. Portanto, se hoje eu comprar livros com letras minúsculas, que trabalho enorme terei no futuro! Cautela, jovem leitor! 
Voltando ao senhor Pickwick, só o nome já dá sinais de divertimento - pelo menos à mim. Damazio liga o espanhol ao inglês com a seguinte explicação: "um grupo se reúne para realizar uma pretensa investivação científica dos costumes e das relações humanas na capital inglesa".

Se o assunto é reinvenção, o russo Dostka não pode ficar de fora da festa. Fiódor Dostoiévski retratou o Cavaleiro da Triste Figura através do seu O Idiota. Já fiz publicações aqui. Acrescento Damazio:

"Dostoiévski enfrentou com brilhantismo incomum temas cruciais que preparam a mentalidade do mundo contemporâneo, como o misticismo e  o materialismo, o nacionalismo e o universalismo, as paixões e a razão, a barbárie e o senso de humanidade no terreno movediço da literatura, fazendo do ficcional o instrumento de reflexão sobre as angústias mais profundas do homem".
Damazio ainda cita o livro de Nikolai Gógol Almas Mortas e o livro de Rudolf Erich Raspe com Gottfired August Bürger intitulado As Aventuras do Barão de Münchhausen. 
A minha ignorância não permite comentar sobre estas duas reinvenções. Perdoe-me, culto leitor.

O Brasil não deixou de beber desta fonte cervantina. E, não que me "gambar" - como diria uma amiga - mas antes de eu ler este artigo, eu já reconhecera Dom Quixote na obra de Machado de Assis Quincas Borba e na obra de Lima Barreto O Triste Fim de Policarpo Quaresma. Ai, sou tão inteligente! 

Rubião é o personagem de Machado de Assis que recebeu uma herança de seu amigo Quincas Borba. Eu achei hilário o fato de o dono ter colocado o próprio nome no cachorro. Fantástico. E, após a morte do filósofo (dono do cão), o bichano vai junto com a herança deixada à Rubião. O cômico é que muitas vezes Rubião olhava para o cachorro e não sabia se era animal que lhe olhava ou amigo falecido. E, do mesmo modo que Dom Quixote provocou em mim uma fúria pelo mau tratamento que recebia de seus amigos, Rubião também despertou esta carisma em mim. Coisa de leitor.

Na obra de Lima Barreto é muito fácil identificar Dom Quixote: o personagem promove a volta da língua materna do Brasil - antes que os portugueses viessem impor a cultura aos nativos das terras de cá. Sim, ele desejava a volta da língua indígena na cultura brasileira colonizada. E o fim de Policarpo Quaresmo, como título da obra já declara, é triste - assim como Dom Quixote. A realidade volta à razão do protagonista e o devora a sua tolice.

Segundo Damazio, outros escritores brasileiros beberam de Miguel de Cervantes: José de Alencar, Aluísio Azevedo, Coelho Neto, José Lins do Rego, Fernando Sabino. Os estrangeiros do nosso continente como  Jorge Luis Borges Pierre Menard, autor de Dom Quixote, e Italo Calvino O Cavaleiro Inexistente.

A primeira vez que li Dom Quixote foi na versão infantil que foi adaptada por Monteiro Lobato no seu Dom Quixote para Crianças - com a participação da turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo (saudades!). Emília encontra um exemplar nas coisas da Dona Benta e, ao final da história, ela clama em plenos pulmões o que eu também tenho em meu coração de leitora:

- Morreu, nada! - dizia ela. - Como morreu, se D. Quixote é imortal?


Omnia Vanitas.


DAMAZIO, Reynaldo. Reinvenções de Quixote; página 78 à 83. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.


Nenhum comentário:

O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...