2 de agosto de 2016

Persiles e Sigismunda: a grande aposta de Cervantes..




Eis um desafio: escrever sobre algo completamente desconhecido, para mim. 
Nunca chegou às minhas mãos ou ao meu interesse o livro Os Trabalhos de Persiles e Sigismunda, e nem sei explicar o motivo.  Na minha pequena biblioteca, encontra-se, das obras de Cervantes, apenas três volumes de O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha (volumes: 1, 2 e único), Novelas Exemplares, e A Galatéia - que ainda não li.
E, mesmo se eu quisesse obter esta obra póstuma de Miguel de Cervantes, eu teria que investir um valor monetário sublime para chamá-la de minha. O título não está disponível para vendas em sebos ou livrarias mortais - apenas sob encomenda. Talvez, se eu procurar em uma biblioteca pública eu poderia roubar.. digo, emprestar está joia tão valiosa à pena que a concebeu!

Depois desta introdução simplória e lamuriosa, eu espero que tenha paciência comigo, passageiro leitor, para ler meus possíveis enganos de interpretação do artigo de Adma Fadul Muhana - isto mesmo, a mesma autora do artigo Novelas Exemplares.

Para começar, quero lembrar que Cervantes concluiu e dedicou esta obra três dias antes de morrer, segundo relata no prólogo desta obra:

"Ontem me deram a extrema-unção e hoje escrevo está; o tempo é breve, as ânsias crescem, as esperanças minguam e, com tudo isso, levo a vida além do desejo que tenho de viver".

Eu não sei quanto a você, desocupado leitor, mas à mim tocou essa despedida de Miguel de Cervantes. E, talvez, tenha sido bom ele não ver superioridade que Dom Quixote ainda mantém desta publicação que foi aquela ns qual apostou que sobrepujaria ao cavaleiro.
Segundo Muhana

"Desde quando Cervantes começou a redigi-lo, não se sabe; mas, no todo, o livro oferece como que uma morada de ancião, cheia de memórias, lembranças e histórias, acumuladas durante uma longa e diversificada existência, cuja vida as justificava. Claro, é tempo em que ecoam a Contra-Reforma e seu esquisito estoicismo, o Seiscentos renascido e já cansado".

Tão certo quanto Quixote é uma alegoria para os cavaleiros andantes, Os Trabalhos de Persiles e Sigismunda tem sua base na epopeia grega de Heliodoro Teágenes e Caricléia. Muhana ainda acrescenta que Cervantes queria "atingir seus fins e agradar pela variedade, fazendo os protagonistas se envolverem em uma sucessão de episódios memoráveis".

E os coadjuvantes desta trama tinham suas características bem marcadas pela nacionalidade de cada personagem, conforme Muhana

"Aliás, em toda a ficção até o século XVIII, a tipificação dos caracteres pátrios é tão frequente quanto na Antiguidade. Aqui, portugueses sempre falecem de amor, espanhóis são presunçosos, judeus são médicos e avarentos, franceses, bonitos, italianos, afeitos às artes (IV,3); mouros, por sua vez, são tão corteses como traidores, do mesmo modo que, nas epopeias em prosa antigas, os de Lesbos são lascivos, os egípcios são supersticiosos, dos atenienses, amantes de fábulas e, na Pérsia, as !mulheres são luxuriosas e os homens, efeminados".

Os personagens secundários caminham pela trama sem ter a intenção de chegarem ao destino que espera os protagonistas. Saem de cena quando são dispensáveis para a próxima teia do enredo.
Os protagonistas, obviamente, mantêm-se firmes aos seus propósitos até o fim da trama, pois são os heróis que não caem em desagrado moral perante o leitor - sendo a exatidão do modelo a ser seguido, e deles só se espera que alcancem "aquilo que lhes é destinado como prêmio, a felicidade".

Termino está publicação com as palavras finais de Muhana para seu artigo:

"São tempos são diferentes, ou melhor, não há mais tempo. Seus livros estão escritos, sua vida está cumprida (...). Os tempos são mesmo diferentes, inclusive para Os Trabalhos de Persiles e Sigismunda. Não há hoje quem julgue ser o melhor livro que já se escreveu em língua castelhana, nem o melhor de Cervantes. Poucos são os que conhecem as histórias bizantinas e esses acham que elas já não tem mesmo muito lugar. São pomposas, eruditas, parecem estar sempre a ensinar. Sua graça luxuosa e aristocráticas, reside muito no conhecimento que se tem dos demais gêneros poéticos da Antiguidade".

Omnia Vanitas.

MUHANA, Adma Fadul. Persiles e Sigismunda; página 66 à 75. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.

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