Prometi a mim mesma, que tolice, não escrever neste blog enquanto meu escritório está em reforma! Que lástima, leitor! Sou fadada há não ser fiel à mim mesma! Aqui estou, em meio a brocas, parafusos, buchas, lixas e todos os materiais para esta reforma (que findará amanhã), escrevendo nesta página.
Terminei de ler Villette, de Charlotte Bronte.
Querido leitor, estou inquieta! Que leitura! Que obra! Que livro maravilhoso é este! Que mulher enigmática e triste é esta senhorita Brontë (creio que todas foram desta natureza).
É um erro crasso eu escrever neste momento, repleta de ansiedade e ouvindo Je t'aimais, Je t'aime, Je t'aimerai do Francis Cabrel (rs)... como se minha psicologia conseguisse organizar, neste momento, algo coerente.
Mas, permita-me, tentar algo, paciente leitor. Esqueça a sombria Jane Eyre, a sagaz Shirley ou qualquer outro personagem que você possa conhecer desta escritora (ou de suas irmãs Emily e Anne). Lucy Snowe é A Garota!
Esta obra findada é, sim, superior a qualquer obra da senhorita Charlotte Brontë. Há muitos traços de Jane Eyre nele, como a louca do sótão, a doença que a afasta da escola, a pequena Paulina, a figura de Mr. Rochester é presente em um dos personagens. Tudo é isso é um pouco da vida da escritora.
Logo nos primeiros capítulos, eu achei o livro muito pessimista e depressivo. Mas, como diz minha amiga GLN, tratando-se das irmãs Brontë, não poderia ser diferente.
Porém, quando eu descubro que três personagens são a mesma pessoa, o livro começa a ter seu encanto, a leitura fica prazerosa, as horas são curtas para lê-lo - tudo isso somente avivou ainda mais minha ânsia de ler. E, a temperatura nesses dias primeiros de férias tornaram o tempo disposto para ler mais agradável: chuva, chá quente e cobertor! Poucas horas para este momento, mas muito gostoso e desejado.
Voltando ao livro, é impossível não se emocionar com a vida da personagem Lucy Snowe. Que lutas! Que tristeza! Algumas vezes tive meu coração apertado ao ler um capítulo de suas resoluções. Que raiva senti de Paulina e do Dr. John pela sua felicidade fácil, enquanto Lucy tinha que matar um leão por dia para se manter Lucy. Sobre isso, eu gostei do tema proposto pelos "inquisidores" do professor Emanuel sobre a "Justiça Humana":
Inspirada, comecei a trabalhar. "A Justiça Humana" surgiu na minha frente na forma de romance original. Ela era como uma megera feia, rabicunda, com as mãos nos quadris. Eu a vi em sua casa, a caverna da confusão: as criadas lhe pediam ordens ou indicações e ela nada ordenava; mendigos esperavam à porta, morrendo de fome, sem que ela se desse pela existência deles; um enxame de filhos, doentes e turbulentos, rastejava aos seus pés, gritando aos ouvidos que lhes dessem atenção, simpatia, cura e remédio às suas feridas. A honesta mulher não se importava com nenhuma destas coisas. ela tinha o assento quente junto ao fogo, o seu próprio conforto consistia em um pequeno cachimbo negro e numa garrafa de xarope, ela fumava e bebia, saboreava assim o seu paraíso; e, sempre que algumas das almas que sofriam à sua volta feriam os seus ouvidos com um grito mais agudo, a minha bela dama pegava no atiçador ou na vassoura da lareira; se o agressor era fraco, alegre e violento, ela apenas ameaçava, mas mergulhava a mão até o fundo de sua bolsa e tirava dali, liberalmente, alguns doces de ameixa e os servia.
Uma das partes que, também, chamou minha atenção, foi quando ela disse - várias vezes - que as pessoas acham que nos conhecem. Ninguém conhecia Lucy de verdade: nem o dr. John, nem a senhora Beck. Segue um trecho deste capítulo sobre o tema:
Que atributos de caráter tão contraditórios nos são, por vezes, atribuído segundo os olhos dos que nos veem! Madame Beck considera-me culta e melancólica; Miss Fanshawe, cáustica, irônica e cínica. O senhor Home, uma professora modelo, a essência da calma e da discrição: um pouco convencional, talvez, muito rigorosa, demasiado escrupulosa, mas ainda assim a rosa padrão de modelo de preceptora; enquanto outra pessoa, o professor Emanuel, a saber, nunca perdia a oportunidade de insinuar sua opinião sobre mim; considerada de natureza ardente, arrebatada, ousada, aventureira, indócil e audaciosa. Eu ria de todos eles. Se alguém me conhecia um pouco, era Paulina Mary.
Eu gostaria de escrever mais, porém, temo contar detalhes que são essenciais ao desfecho e comprometer uma possível intenção de leitura. Portanto, termino por aqui este post e, deixo a menção de que começo, hoje, a leitura de "O Professor", desta mesma escritora.
Omnia Vanitas.
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