Fim da prova de língua francesa, pude voltar a ler meu livro Villette.
Enquanto lia, na ida ao trabalho, encontrei um trecho interessante, segue:
"O homem é demasiado romântico e dedicado e espera de mim mais alguma coisa do que eu acho conveniente. Ele acha que sou perfeita: provida de todas as espécies de boas qualidades e sólidas virtudes, que eu nunca tive, nem pretendo ter. Mas, na sua presença tenho que ser tudo aquilo que ele espera para justificar a sua opinião sobre mim. E, isso tanto uma pessoa! Ser ingênua e falar sensatamente, porque ele julga, realmente, que eu sou sensata. Estou muito mais à vontade contigo, velhota....Com você, querida crosspatch, rabugenta...que me toma pelo pior lado e sabe que sou coquette, ignorante, namoradeira, volúvel, tola, egoísta e todas as coisas doces que ambas concordamos fazerem parte do meu caráter" (p.124/125).
Essa é a declaração de Ginevra Fanshawe sobre seu admirador Isidore - que julga amá-la.
A afirmativa da aluna de Lucy Snowe fez-me lembrar de outro post em outro blog sobre a Noiva Frankenstein. Escolhemos o modelo ideal para amar e tiramos um pouco dali outro pouco de lá e construimos a "pessoa perfeita". Costuramos o próximo para que ele seja da forma que queremos e, se a obra não sai conforme queremos, imitamos o gesto do Dr. Victor Frankenstein e fugimos da nossa criação, deixando-a à deriva, em busca de explicações.
Lembro-me de outro personagem literário, Kitty Fane, esposa do Dr. Walter Fane em "O Véu Pintado" de William Somerset Maugham. Como foi angustiante para Kitty viver a vida que Walter decidiu que ela deveria ter. Ele nunca a amou, apenas criou em seu mundo uma Kitty que ela nunca desejou ser. Falhou miseravelmente em amá-la como ela é. Ambos infelizes até o último momento juntos.
Pessoas possuem erros. Pessoas decepcionam. Ou encaramos essa verdade universal ou seremos frustrados e enganaremos outras pessoas. Amar não é moldar conforme "eu quero" mas aceitar o outro "como ele é" - esse é o desafio de "amar ao próximo".
Então, sinto muito por você Isidore pois sua Miss Fanshawe irá frustrá-lo no seu pseu-amar.
Omnia Vanitas.
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