Nesta tarde de sábado, enquanto me permitia a fotossíntese, li um trecho de Villette, de Charlotte Bronte, que me chamou a atenção. O livro é uma graça! Um pouco pessimista, talvez, mas uma obra brilhante e rica em detalhes. As irmãs Brontë, assim como Jane Austen, conseguem perscrutar o caráter humano em seus mínimos detalhes e nos fazem olhar para nós mesmos, leitor, e pensar "que tipo de ser humano sou eu?". Certa vez, conversando com a minha mãe, eu comentei que geralmente os personagens (sejam eles de Jane Austen ou das Brontë) que mais odiamos são aqueles que tem uma personalidade muito próxima da nossa: são fofoqueiros, ignorantes, hipócritas, arrogantes etc. As heroínas destas escritoras são seres quase sobrenaturais e, logicamente, dotadas de uma visão muito mais apurada sobre o que é verdadeiro e notável.
Mas deixo o blá-blá-blá de lado e registro, abaixo, o trecho que gostei; segue:
Esta escola era um estranho mundo pequeno, travesso e barulhento. Faziam-se os maiores esforços para esconder correntes com flores. Uma essência sutil de romantismo se infiltrava em todo o arranjo, uma larga indulgência sensual (se assim posso expressar) era autorizada para contrabalançar a severa opressão espiritual. Cada mente era criada na escravidão, mas, para evitar que a reflexão habitasse sobre este fato, aproveitavam-se e tirava-se partido de todos os pretextos para a recreação física. Ali, como em toda a parte, a Igreja se esforçava para criar os filhos robustos no corpo, débeis em almas, irracionais e longe de quererem questionar: "Comer, beber e viver!". Dizia ela, "Olhai pelos vossos corpos e deixai suas almas comigo. eu as curo e as guio; garanto o seu destino final". Uma pechincha, em que cada verdadeiro católico considera-se um vencedor. Lúcifer oferece as mesmas condições...Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares.
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