27 de dezembro de 2014

Villette .. um pequeno complemento



"Eu sofria de novo a dor que corroía a alma, longamente, por causa de uma grande expectativa. Essa cruel agonia da ruptura final; essa angústia muda e mortal, que, de uma só vez, arranca a esperança e planta a dúvida, abala a vida, enquanto a mão que comete a violência não pode ser aplacada por carícias, pois a ausência interpõe sua barreira"

Agora, com o fim da reforma, tendo somente que organizar o escritório - isso acontecerá amanhã - estou mais "apta" à escrever sobre Villette. Logo, este post é um complemento do primeiro.

Este livro, conforme a crítica, é a obra mais autobiográfica de Charlotte Brontë. A figura de M. Heger - sua paixão avassaladora enquanto estudante na cidade de Bruxelas, na Bélgica - está retratada no personagem do professor Emanuel. 
O que me deixou "assustada" foi esse sentimento que a escritora teve por M. Heger pois a fez criar Mr. Rochester e William Crimsworth e, ainda, retratar a esposa de M. Heger como a louca do sótão em Jane Eyre. Se entendi direito, ela escrevia constantemente ao amado mestre, tanto, que chegou a incomodar a esposa deste que esta chegou a pedir que Charlotte não escrevesse mais para M. Heger. Loucura! A puritana Charlotte Brontë flertando com um homem casado! Hilário e Incrivel! 

Os temas de Jane Eyre permeiam Villette, também: a beleza x inteligência, dinheiro x honra etc. Porém, na minha opinião, eu achei o livro mais "sofrido" do que Jane Eyre; existe uma solidão muito bem marcada, um entendimento de que a vida, para ela, não era uma passagem de alegria ou comodidade. Charlotte Brontë teve consciência de que dependia somente de si e, se não batalhasse para sobreviver, viveria na amargura da pobreza e solidão - seu grande monstro.  Ela odiava a solidão e viver sem amigos. Toda a afeição que lhe foi dada foi armazena como pedra preciosa por ela - o que parece tão incomum nos dias atuais, quando faz-se amizade  de uma forma tão descuidada e sem afeição. Dá-se a impressão que, por ela não ser rica e bonita, tal coisa não lhe era possível adquirir, então, quando o professor lhe confia a amizade, ela sente-se extasiada e solícita à se apaixonar por ele. 
Algumas passagens, como já citei anteriormente, lembram muito Jane Eyre: como a louca do sótão, a doença etc... ao leitor que leu J.E. terá o prazer de revisitar alguns trechos em Villette.
Outra semelhança é a afeição à família. Pelo pouco que conheço da família Brontë, esta foi marcada por mortes precoces e alcoolismo. As irmãs, da trindade Brontë, faleceram muito cedo, juntamente com o irmão alcoólatra, e, anteriormente os pais. Logo, o retrato do apego de Jane e Lucy pela família e amigos é um apelo explícito da necessidade e a falta que fazia estes dois gêneros  na vida da escritora. A própria morte de Charlotte Brontë foi triste - não que haja alegria na morte de um ente querido; mas, ela faleceu grávida aos quarenta anos. Justo a maternidade, tão apreciada em suas obras, ela, também, nunca obteve.Extremamente triste!

Uma das coisas que gostei neste livro foram as citações em francês - está repleto de diálogos do idioma belga no meio da obra. Há alguns erros de escrita, principalmente no final, quando a grafia do português brasileiro se confunde com a semelhança da grafia em francês. Portanto, termino este post com uma frase ao idolatrado professor Emanuel, em francês:  

"Monsieur,  je veux l'impossible des choses inouïes"*


Omnia Vanitas.



 * Senhor, eu quero o impossível das coisas inauditas.




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