31 de julho de 2016

Novelas Exemplares de Cervantes..


Parte I: Cervantes e Seu Tempo
Parte II: Por que Ler o Clássico Dom Quixote
Parte III: O Retrato e a Escrita de Cervantes
Parte IV: A Obra prima de Cervantes
Parte V: Sentenças e Aforismos em Cervantes

Eu lembro do dia em que comprei o livro Novelas Exemplares. Estava animada em comprar mais um livro de Cervantes - contando que fiquei apaixonada por Dom Quixote de La Mancha.
E, na primeira vez que me propus a ler esta obra, não cheguei nem até a metade. Algo não estava pronto em mim para ler as doze novelas. 
Foi depois de um pouco mais de um ano que eu tive a segunda oportunidade de ler este livro incompreendido. E, mesmo assim, eu não atendi o significado que tem as novelas.

Agora, lendo o artigo de Adma Fadul Muhana foi uma boa explicação minha ignorância. 

Começo, com as palavras da dona do artigo, sobre a definição do termo "novela":

"A questão, na época, é importante. No século XVI, o termo 'novela' - cuja raiz é a mesmo de 'novo', 'nova' e 'notícia', ou em bom português, 'caso' - reporta-se apenas a historietas (...). Embora o uso do termo tenha se difundido rapidamente, até serem consideradas 'novelas', como hoje em dia, as picarescas, as sentimentais, as da cavalaria e as pastoris, ate então elas eram pensadas como sendo desprovidas de critérios que permitissem incluí-las entre os grandes gêneros poéticos da Antiguidade, nomeadamente a épica e a tragédia; esses critérios se referiam sobretudo ao caráter dos personagens, ao modo narrativo, à ação, ao estilo e à destinação. Isso fazia das novelas uma espécie menor, isto é, que só podia interessar a jovens, mulheres e semiletrados".

Sendo assim, era um livro "ao gosto do povo", sem muitos requintes que o tornavam tolerável à corte.
Um grande "inimigo" de Cervantes era o poeta Lope da Vega. Este poeta tinha um grande prazer de fazer dos escritos de seu conterrâneo diminutos aos olhos da corte - de onde ele participava com grande reconhecimento dos príncipes. E, mesmo sendo um grandessíssimo baba-ovo  fazia de Cervantes um enganado escritor. E, talvez, por ser Miguel de Cervantes um dos primeiros a escrever esse gênero literário - visto que antes eram traduções italianas que chegavam até o leitor espanhol. Lê-se o que o mal-amado Veja escreveu sobre as Novelas de Cervantes:

Lope da Vega, portanto, apesar de reconhecer alguma graça e estilo nas novelas de Cervantes, não partilha da opinião de que elas pudessem ser tidas por exemplares, pois seu autor, infere-se, nem era letrado, nem se remetia aos hábitos da corte - como o faz ele, Lope a propósito, que vivia com fausto principesco, cuja popularidade na corte nunca foi superada e que, além de eclesiástico, dispunha do grau de doutor em teologia outorgado pelo papa Urbano VIII, em agradecimento ao poema La corona trágica, que lhe enviara...".

Miguel de Cervantes, ao contrário do seu desafeto, nunca foi reconhecido por seus feitos em Lepanto - ou reconhecido suficientemente - para cair no gosto da corte. Somente após o sucesso da primeira parte de O Engenhoso Dom Quixote da La Mancha que experimentou viver sob os olhos da realeza nos seus últimos dez anos de vida. No ano de 1613, ele publica Novelas Exemplares, uma forma humorada e humanista de educar. Porém, como já foi escrito na opinião de Lope da Vega, as novelas não estavam situadas na vida da corte espanhola, mas no populacho. Desta forma, as novelas

"(...) exploram os lugares baixos da cidade, em que personagens de comédia se locomovem - e não fidalgos de alta estirpe, que já desconhecem os ideias heróicos. A ação decorre entre ciganos em A Ciganinha; entre ladrões, em Riconete e Cortadilho; entre mercadores, em A Espanhola Inglesa e em O Ciumento da Extremadura; entre alferes e licenciados que lutam por obter lugar na corte, em O Licenciado Vidraça e em O Casamento Enganoso; entre fidalgotes desonrados, em A Força do Sangue etc.".
A falta de caráter de alguns personagens servem de exemplo nas novelas de Cervantes, não o exemplo que deve ser seguido, mas algo que ao término da narrativa precisou ser alterada para terminar "bem". Outra característica é que os personagens inseridos nas tramas não estão distantes de uma descrição realista da vida cotidiana do leitor. Cervantes levou a sério utilizar-se de personagens comuns que inclusive na fala de suas personagens é própria da  classe social que representam.  

Em seu artigo, Muhana destaca personagens como Tomás Rueda {O Licenciado Vidraça} e Campuzano {O Colóquio dos Cães}. Confesso, lembro vagamente da primeira história - que é hilária, mas pouco lembro da segunda portanto, somente escreverei sobre aquela que lembro. Este fato me move a ler novamente esta obra de Cervantes.

O motivo de Muhana destacar em especial estas duas personagens é que a loucura de ambos parece salvar-lhes a vida de uma existência enfadonha. Explicarei: Tomás Rueda é um licenciado que foi enfeitiçado por uma mulher que foi desdenhada por ele. O poção dada à Rueda lhe causou loucura, achando que era feito de vidro. Seus costumes eram respeitados e seus conselhos e repreensões aceitos por todos - visto que era louco e a todos fazia rir sendo louco.

"Vidraça é um desses que abusa do modo sentencioso de falar proferindo seus impertinências com citações bíblicas, lugares-comuns, trocadilhos, versos, pensamentos, provérbios, anexins, agudezas, parêmias, máximas - cujas tantas denominações mostram a diversidade das formas breves, que significariam a autoridade moral daquele que as pronuncia se não significassem a parvoíce de quem as diz por tudo e por nada".

Mas ao ser curado, ele perde o seu encanto e torna-se apenas mais um comum licenciado entre todos - sem utilidade para o público que antes lhe acolhia.

Neste artigo, Muhana definiu o que era uma novela no século XVI e também porque este gênero literário foi classificado como "exemplar" - mesmo seguindo os rumos contrários, inicialmente, à moral que deveria ser seguida. Muhama também destacou o que o sucesso de Dom Quixote trouxe a Cervantes e o seu empreendimento em iniciar uma narrativa novelística fora dos padrões preexistentes de concepção deste gênero literário, dando ao seus personagens características singulares à classe social que estavam inseridos. 

Em suma, esta é a minha visão do que se tratou este artigo. Espero não ter sido confusa em todas as publicações que até o momento escrevi sobre Miguel de Cervantes Saavedra.

Omnia Vanitas.


MUHANA, Adma Fadul. Novelas Exemplares; página 54 à 65. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.


30 de julho de 2016

Sentenças e Aforismo em Cervantes..



Primeira Parte: Cervantes e Seu Tempo


Fim de mais uma etapa de leitura sobre a vida e a obra de Miguel de Cervantes. 
Este artigo foi escrito por Adolfo Mintejo Navas. O estudo de Navas será sobre  estilo de escrita que Cervantes utilizou em suas obras. 
Aforismo é uma maneira de escrever verdades morais a cerca de algo - como uma máxima ou um ditado; porém, o aforismo é uma maneira um pouco mais culta de expressão linguística. Conforme Navas, era um modelo de escrita muito comum

"(...) são muitas as seleções ou inventários de sentenças que circulam pelo século XVI, em latim ou romanço, como parte de uma herança clássica que estava vias de torna-se popular. Por seu caráter de antologia, eles permitiam reunir fragmentos literários e filosóficos de tempos clássicos (Grécia e Roma), assim como guia espiritual ou receituário de conduta ética".

Não pense, máximo leitor, que este uso caiu no esquecimento; na verdade está aprimorado. Explicarei a ideia pontuada: lembra que no artigo de Molina o próprio declarou que existe uma poluição de informações que não permite ao leitor descobrir a obra, apenas suas idéias e trechos fragmentados? Pois trata-se disso nos dias de hoje. Pegue uma frase de efeito em algum livro que esteja em uma prateleira e você terá seu aforismo - sem contextualizar o trecho, coloque-o em algum lugar de destaque e as curtidas e compartilhamentos serão instantâneos, mesmo que ninguém esteja interessado em saber do que se trata. Faz-se isso continuamente com várias obras, algumas distorcidas por filmes. A literatura saiu uma linha de livros que compilam frases de filósofos e comentam, rapidamente, a ideia destes em questão. Acho uma literatura crua pois não alcança a dimensão da totalidade da obra citada. Perde-se o valor verdadeiro do estudo.

Ça va, voltando à Navas

"(...) os aforismos procedentes da Grécia também orientam pelo conhecimento ou por um tipo de saber de caráter científico - mas neles o que se reforça é a necessidade de uma sabedoria contrastada pela práxis humana, certa validade universal, da qual bebem também, ainda que de outra forma, os provérbios populares".

E quando se menciona provérbios/ditados populares, Sancho Pança é o rei da categoria. Não existe um momento para este escudeiro que não precise ou seja necessário um bom ditado popular. E, acredite, até mesmo alguns ditados possuem uma história sobre si. 
Na minha família, minha irmã número cinco tem o hábito de dizer "Agora, Inês é morta!". Eu sempre acho engraçada essa frase e, de tanto cismar, procurei o significado. Clique aqui e saberá quem é Inês! ;)

Segundo Navas, o aforismo era tão apreciado por Cervantes que foi um desejo deste escrever apenas um livro com essas máximas filosóficas mas, pelo pouco - ou nenhum, talvez - patrocínio, Cervantes abandonou a ideia é buscou outros rumos. 
Mas repare bem, anônimo leitor, que quando uma ideia chega a cabeça, de uma maneir ou outra torna-se imperativo colaca- lá em prática - direta ou indiretamente ( no caso de Cervantes foi de !odo indireto). Seguindo com Navas

(...) há exemplos numerosos dessa escrita breve, concentrada (...) A Galatéia, Dom Quixote, Novelas Exemplares".

A maior parte estará em Dom Quixote, sem dúvida. Para exemplificar, le-se os seguintes aforismos quixotescos

"Procura descobrir a verdade entre as promessas e dádivas do rico entre os soluços e inoportunidade do pobre"; "Come pouco e janta ainda menos, que a saúde de todo o corpo se forja na cozinha do estômago"; "Não desejes e serás o mais rico homem do mundo".

O mais interessante nas obras de Cervantes é que o aforismo não estava fora do contexto que seus personagens a citavam, isso torna mais rico ainda a construção literária dos livros de Cervantes e, também é as mazelas da vida particular foram decisivas para a dedicação do espanhol na escolha de quais sentenças utilizar na sua produção textual.

Bom, leitor, não quero mais prolongar minhas palavras para este artigo; e, termino esta publicação com meu aforismo favorit em O Engenhoso Dom Quixote de La Mancha

"...aquele que não tenciona satisfazer não regateia condições no contratar"

Omnia Vanitas.

NAVAS, Adolfo Montejo. Sentenças e Aforismos; página 46 à 53. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.



28 de julho de 2016

A Obra-Prima de Cervantes..


Primeira Parte: Cervantes de Seu Tempo
Segunda Parte: Por que Ler o Clássico
Terceira Parte: O Retrato e a Escrita (nesta publicação há dois outros links - no final - que ajudam de complemento)
.
.
.
.
Depois de ler sobre o tempo, a vida e a escrita de Cervantes, chegou o momento de escrever sobre a obra deste espanhol.

A proposta de Sérgio Molina é de esquecer tudo o que já foi escrito sobre a obra. Sim, esforçado leitor, deixe de lado todas as referências já feitas para Cervantes e Dom Quixote é mire o alvo para a obra em si.
Em alguns pontos eu concordo com Molina: muito é dito sobre a obra e pouco dela é lida.  Vou lhe dar um dica, confuso leitor: quando ouve-se o nome próprio Quixote a primeira imagem que surge na cabeça na cabeça do ouvinte é um moinho de vento; mas a obra de Cervantes vai além da alucinação do protagonista.

O autor deste artigo apresenta um conselho já debatido - uma quimera muito semelhante ao Quixote: "aconselha ao leitor despojar-se de toda a ideia preconcebida e aproximar-se da obra com a mente limpa e o coração puro".

Sabendo que esta sugestão é impossível de ser aplicada e que a visão imposta por mecanismos de comunicação não é fácil de suplantar, Molina apresenta suas impressões sobre a obra de Cervantes:

"(...) compartilhar impressões nascidas de minha experiência de leitura e reescritura, situado num lugar que não é nem o do leitor acadêmico, nem o do leigo, nem o do escritor, mas onde chegam as três vozes".

E lá se vai Molina, tirando de Cervantes as construções literárias que já foram escritas através do tempo - conclua você, letrado leitor, se isso é bom ou não.

Uma das pontuações de Molina é visto já no título do livro do espanhol: "O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha". Se você notou, culto leitor, parabéns! À mim passou sem percepção o dualismo de títulos sociais que Alonso Quijana (Quesada, Quijada  ou Quijano) atribui à sim. Para ser sincera, fidalgo ele já era, mas o título de Dom não é algo que se deva utilizar à mesma pessoa e, Molina esclarece a nossa razão:

"(...) O que interessa observar aqui, em primeiro lugar, é a contradição entre don e fidalgo. Este, situado no nível mais baixo da hierarquia nobiliárquica, a rigor nunca poderia ostentar essa marca de status, reservada às altas-rodas dos caballeros e grandes de Espanha. Uma apropriação indébita que já não era incomum na época, mas ainda vista, quando menos, como um censurável desatino".
Mas a investida não pára: 

"(...) se o fidalguete pode tomar para si tal don porque estava doido, como se explica o qualificativo de 'engenhosos', que lhe atribui uma excelência intelectual? (...) Uma faculdade (...) caracterizada sobretudo pela elegância e inteligência no falar: o discreto".

Bom, desocupado leitor, isso é tudo o que tenho a escrever sobre o artigo de Sérgio Molina. O estudo que ele propôs foi uma leitura sem vínculos viciosos, mas nada pode acrescentar daquilo que já se sabe sobre a narrativa louca e racional de Quixote ou da malícia e parvorice de Sancho Pança. As pontuações que li, para mim, nada mais são do que citações da obra e observações comuns do texto, por exemplo:

"(...) personagens entram voluntária e alegremente no faz-de-conta do maníaco*. (...) É para livrar-se do hóspede problemático que um estalajadeiro se finge cavaleiro castelão (...); é para despachar um barbeiro impertinente que se inventa um judiciosa tribunal dedicado a dirimir dúvidas absurdas quanto à aparência de dois objetos banais; é para reconduzir Dom Quixote à aldeia que seus amigos montam a farsa de uma princesa destronada e a pantomima dos feiticeiros-profetas".
Veja só o que ele fez: referiu-se às cenas sem acrescentar nada do que o leitor menos interessado consegue observar. 

Por isso, limito minha publicação nesta altura, sem mais nada acrescentar.  E, para justificar o (*) na citação acima, não concordo com o termo usado por Molina para descrever Dom Quixote.

Omnia Vanitas.
MOLINA, Sérgio. A obra-prima; página 33 à 45. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.

27 de julho de 2016

O Retrato e a Escrita de Cervantes


Sabe as corriqueiras fotos de Miguel de Cervantes que encontramos na internet? Falsas. Sim, enganado leitor.

Nenhum retrato de Cervantes que foi apresentado ao público é uma representação fiel dos traços da fisionomia deste espanhol. Veja, iludido leitor, no que Viera nos elucida: ela escreve que nenhum retrato fidedigno deste espanhol, exceto aquele que ele mesmo descreve em seu prólogo de Novelas Exemplares. Como sou boa moça, tenho esta citação caricatura em uma publicação feita na época que li a obra em menção; então, clique aqui e saberás sobre o que ela escreveu.

Não há quem escreva sobre o escritor, por esse motivo, ele introduz um "amigo" que lhe descreve - porém, este amigo é o próprio Cervantes escrevendo sobre si. Vieira escreve o seguinte:

"A presença do 'amigo' não se dá apenas no prólogo das Novelas Exemplares. Trata-se de um recurso recorrente nos prólogos cervantinos, usando a primeira pessoas num discurso supostamente referencial, multiplica as vozes, desdobrando-se em um 'ele' que emite opiniões, confunde-se e se contrapõe à voz da primeira pessoa, fazendo com que o próprio autor se converta em uma terceira pessoa, provocando afetos e opiniões divergentes".

Anônimo leitor, você consegue imaginar que um escritor como Cervantes não tenha ninguém para lhe ajudar em um mísero prólogo, tornando-se ele mesmo o enunciador de seu caráter? É muita solidão! Eu mesma fiquei  triste ao descobrir o descaso que cobria este escritor na sua contemporaneidade.

Escrevendo Ocho Comedias y Ocho Entremeses, "o autor simula um diálogo com um livreiro que o acaba convencendo a publicar suas peças teatrais, já que elas não produziram interesse entre os diretores de companhias e corriam, assim, o risco de se perderem entre velhos papéis".  E, no dias finais que lhe vinham, ele se despede dos leitores com a seguinte frase:

"Adeus, graças; adeus, donaires, adeus jubilosos amigos; pois me vou morrendo, e desejando logo vos ver contentes na outra vida!"

...mas no prólogo desta obra, ele se depara com um "estudante" que é grande admirados do "Manco de Lepanto", e esta fantasiosa pessoa cita as qualidades do espanhol. Segundo Vieira o encômio do estudante se contrapõe à modéstia do autor e, e cita Jean Canavaggio ao acrescentar esta atitude "como a voz do reconhecimento que o próprio escritor planejava para si mesmo em suas derradeiras horas de vida".

Não é apenas o retrato que não conhecido do escritor, é o próprio escritor desconhecido para todos. 

Mas Cervantes não era desprovido de referências literárias, conforme escreve Vieira:

"É muito provável que Cervantes tenha tido contato com os teóricos italianos, sobretudo no período italianos, sobretudo no período em que viveu na Itália, mas também com as perspectivas espanholas (...). Além de orientações teóricas, Cervantes leu profundamente obras literárias e estabeleceu intenso diálogo com várias formas, não apenas com as novelas de cavalaria, mas também com os demais gêneros e conceitos. Desse modo, é plenamente possível ler as andanças do cavaleiro manchego como uma obra sobre a própria literatura, em toda sua complexidade". 

Cervantes tem uma preocupação ao escrever suas histórias: torná-las acessíveis tanto para leigos como para instruídos; ou "vulgares" e "discretos". Viera faz a descrição destas duas categorias, lê-se:

"Os leitores discretos seriam os leitores cultos e com discernimento, enquanto os vulgares seriam os incultos e néscios, mostrando completa incapacidade para discriminar. O discreto seria aquele leitor capaz de observar nuances no modo de contar, estando atendo aos percursos engenhosos do narrador, enquanto o vulgar ficaria limitado ao aspecto anedótico da narrativa, sem notar a gama de artifícios que ela contém. (...) Cada uma das espécies de leitores teria seu lugar garantido na obra, de maneira que ela pudesse agradar tanto o mais refinado, preocupado com a construção engenhosa, quanto ao que se limita ao aspecto puramente anedótico da narração".

E não era apenas essa característica que tornou as obras de Cervantes a dulcineia* de muitos leitores, o escritor mantinha-se fiel ao requisito principal para escrever uma obra no seu tempo: ser verossímil. Escreveu Vieira:

"Outro princípio fundamental no século XVI era o da verossimilhança. A narrativa que não a respeitasse corria o risco de ser classificada como totalmente  disparatada, equiparada às fábulas milésias, que buscavam apenas o deleite e não o ensinamento. (...) Como dizia Pinciano, o critério da literatura criativa era o de fingir de forma plausível, provocando admiração no leitor e ainda respeitando o princípio do utile dulce de fazer coincidir o ensinamento com o deleite".

E, para finalizar este artigo composto por Maria Augusta da Costa Vieira, escreve-se o seguinte, nas palavras de Cervantes em Novelas Exemplares, citada pela autora:
"Minha tentativa foi colocar na praça de nossa república uma mesa de bilha, onde cada um pode chegar e entreter-se sem danos alheios, digo, sem dano da alma nem do corpo, porque os exercícios honestos e agradáveis antes favorecem que prejudicam".

Omnias Vanitas.

*querida, namorada, amada

VIEIRA, Maria Augusta da Costa. Por que Ler o Clássico; página 25 à 31. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.



Primeira Parte: Cervantes e Seu Tempo
Segunda Parte: Por que Ler o Clássico
Leitura Complementar: entrevista feita pela Folha com a BNE em abril/2016.
Entrevista de Maria Augusta da Costa Vieira: Literatura Fundamental.


Por que Ler o Clássico Dom Quixote..


Caro leitor, eu achei a publicação anterior um pouco longa; então, para deixar um pouco menos longa, eu resolvi dividir este artigo de Maria Augusta da Costa Vieira em duas partes - talvez três. A dona Maria tem este artigo intitulado como "Por que Ler o Clássico". E, ainda falando um pouco do autor, eu vou pegar a escrita dela para acrescentar o que não foi escrito pelo Lopes. Sigamos, honorável leitor.

Viera se utiliza do mesmo argumento de Lopes ( e de qualquer pesquisador de Miguel de Cervantes) afirmando que o pouco material deixado pelos contemporâneos de Miguelito - e pelo próprio - não permite que a vida do espanhol seja explorada e entendida por aqueles que  sucederam sua época. Sendo assim, Viera acrescenta:

"(Cervantes) não deixou escritos que pudessem definir suas idéias acerca da poética e da literatura em geral (...). Cervantes não deu margem a esse tipo de especulação, que, sem dúvida, poderia permitir e estimular suspeitos cruzamentos entre aspectos biográficos e produção artística. Assim, não há registro de cartas, debates ou polêmicas travados com outros escritores e com a intelectualidade da época e, menos ainda, manifestos sobre seu !ido de entender a arte da composição literária. Cervantes foi !muito mais habilidoso: deixou uma obra em prosa e em poesia repleta de discussões e controvérsias sobre a literatura".

Um ponto que eu não havia lido sobre a biografia do espanhol é que sua origem pudesse ser judaica. Segundo Vieira, a profissão do pai, Rodrigo, que hoje corresponde a atividade sanitária (cirurgião) e as várias mudanças de local - tão comum entre os judeus que mudam-se constantemente em busca de lugares mais rentáveis financeiramente - conotam um caráter judaico aos pais de Cervantes.
Maria Augusta também descreverá a fuga da Justiça pela condenação que o aguardava por haver agredido um homem e, também, registrará a marcante participação de Cervantes na Guerra de Lepanto  que ocasionou o ferimento que inutilizou permanentemente a mão esquerda do espanhol.

Como já escreveu Lopes, em 1585 houve a publicação do A Galatéia; mas Viera acrescenta que a boa receptividade desta primeira publicação desencadeia, após cinco anos, a segunda edição. E, assim como Lopes, apresenta um leitor estrangeiro mais ávido para ler os escritos de Cervantes do que a pátria que o pariu.
O interesse neste patrício escritor desconhecido é motivo de conversa entre seus personagens dentro de Dom Quixote:

"Muitos anos há que é grande amigo meu esse Cervantes, e sei que é versado em desventuras que em versos. Seu livro tem algo de boa invenção; propoe algo e concluí nada: é mister esperar a segunda parte que promete" {Dom Quixote  I, VI}.

Depois de A Galatéia, Cervantes escreveu peças de teatro (a coqueluche daquela época) e listo A Destruição de Numancia como uma das obras rejeitadas por espanhóis e acolhida por alemães.

Segundo Vieira, Cervantes fica sem registro algum de 1598 e 1604 quando está prestes a lançar Dom Quixote. Sobre este período, ela escreve:

"Entre 1598 e 1604, pouco se sabe sobre Cervantes e de sua família. No entanto, às vésperas da publicação da primeira parte do Dom Quixote, sabe-se que reside em Valhadoli, ao lado da esposa, de duas irmãs, de uma sobrinha e da filha". 

Conforme um estudo de Roger Chartier em 2005, entre 1605 e 1615 ( ano de publicação da segunda parte de Dom Quixote)

"calcula-se que tenham sido publicados 13.500 exemplares da primeira parte da obra, divididos em nove edições (três em Madri, duas em Milão, duas em Lisboa, uma em Valência, uma em Milão e duas em Bruxelas), cifra surpreendente para uma época em que o número de leitores ainda era bastante reduzido".

A corte real tem consigo uma vasta fila de seguidores, então, quando está se instala em Madri, Cervantes encontra a possibilidade de se fazer valorizar ingressando na Irmandade do Santíssimo Sacramento em 1606 e, poucos dias antes da sua morte em 1616, faz votos e encomenda dez missas para sua alma através da Ordem Terceira de São Francisco onde inicou três anos antes.

Quero fechar esta publicação com algo que deixa os atuais pesquisadores sobre a vida de Miguelito com pulga na cama:

"Deixou encomendadas dez missas pela intenção de sua alma e foi enterrado com o hábito dos franciscanos, no convento dos trinitários, em Madri: uma vida dedicada às armas e às letras. Sua filha, Isabel, morre em 1652 sem deixar herdeiros, quando os demais membros da família já haviam falecido, encerrando assim a história da família Cervantes y Saavedra".

VIEIRA, Maria Augusta da Costa. Por que Ler o Clássico; página 18 à 25.. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.

Primeira publicação: Cervantes e Seu Tempo



26 de julho de 2016

Cervantes e seu Tempo..


Fim da primeira parte da leitura sobre a biografia de Cervantes.
Este artigo foi escrito por Marcos Antônio Lopes* e contempla momento histórico  contemporâneo do espanhol. Como meu conhecimento de história é pequeno, não tenho muito o que a acrescentar como nota.

Agora, segue alguns apontamentos que considerei interessantes:

Inicialmente, Lopes declara que ler Dom Quixote é estar em uma aula de história "de valores culturais e de mitologia clássica. Há uma saraivada infernal de erudição greco-romano nesse longo livro. E as referências à cultura árabe fazem coro". E logo você saberá, inquieto leitor, o motivo da cultura árabe fazer parte da narrativa cervantina.

É de sabedoria popular que Cervantes faz uma sátira à Cavalaria Andante, mas é útil saber o mínimo sobre o que realmente era esse título para entender o que estava sendo satirizado. Lopes explica da seguinte maneira:

"(...) O romance cavaleiresco fundia elementos sagrados e profanos: guerras, milagres, amor e aventura eram os principais ingredientes. Durante a Idade Média, o cavaleiro era um servo de Cristo e, a partir dos séculos XII e XIII, as guerras que travava tinham as suas normas estabelecidas pela igreja. A Cavalaria tornou-se um estilo de vida marcado por regras de civilidade definidas pelas autoridades eclesiásticas (...)".

O cavaleiro perdeu o aspecto secular e incorporou uma conotação religiosa que incluía combater os vícios morais e perseguir os malfeitores.

Lopes ainda acrescenta:

" (...) Os romances de Cavalaria descrevem as sociedades aristocráticas, muito ocupadas com os torneios, que substituíam as guerras privadas e as pilhagens das épocas anteriores. O romance de Cavalaria foi o primeiro gênero literário de alcance continental escrito nas línguas vernáculas emergentes. Essa literatura foi bem além da Europa. No século XVI, livros de Cavalaria chegaram as Índias de Castela, pelas mãos dos comandos de Cortez e Pizarro (...)".

Ao escrever Dom Quixote, Cervantes faz uma analogia saudosa e irônica das façanhas de personagens literários como Amadis de Gaula e Ivanhoe; torna cômico os feitos honrosos destes personagens que, antes, compunham o ideal romanesco de uma época.  Até mesmo a repentina cura corporal de Quixote depois das lutas é um modo irônico de apresentar a outrora figura heroica; a bravura do Cavaleiro da Triste Figura pode ser vista como uma zombaria e a recuperação sobrenatural que o acompanha após cada valente luta segue o mesmo viés: como se esses seres extraordinários possuíssem poderes miraculosos em sua constituição humana.

Por não pertencer ao seu tempo, Quixote torna-se um louco para aqueles com quem socializar, por esse motivo, muitos se aproveitam da sua " loucura". Mas até mesmo essa loucura é questionável - mas isso fica para depois.
Os maus agouros do personagem são um reflexo da vida pobre e malfadada do escritor. Preso inúmeras vezes e sem o reconhecimento merecido, Cervantes viu seu livro Dom Quixote de La Mancha circular na sociedade espanhola e mesmo assim não ter um tostão nos bolsos. Mas deixe-me voltar um pouco na história.

Nascido em 29 de setembro de 1547 - sendo esta a data mais aceita pela maioria dos historiadores, Cervantes foi filho de Rodrigo de Cervantes e Leonor de Cortinas. A profissão do pai era de cirurgião (sangrias) e as dívidas que este contraiu o fez ir para a prisão - lugar que o filho conheceria de maneira particular ao longo da vida. 
Lopes escreve:

"Aos 22 anos, em 1569, Cervantes seguiu para a Itália. É provável que estivesse fugindo das sanções que teriam recaído sobre ele sobre ele por ter ferido um adversário em duelo. Em Roma, tornou-se camareiro do cardeal Acquaviva, cargo que ocupou por alguns meses. Pouco tempo depois, alistou-se como soldado nos exércitos da Santa Liga, para combater a expansão dos turcos otomanos pela Europa Central. (...) Em seus anos italianos, pode, pela primeira vez na vida, comer com regularidade. (...) À procura de prêmios e distinções, nos finais de 1571, Miguel de Cervantes estava no norte da Grécia, a bordo de um dos navios da esquadra comandada por D. João da Áustria (...). E foi exatamente em Lepanto, no norte da Grécia, que se deu o choque entre a Cristandade e o Islã. Doente no porão de um navio, o jovem soldado quis tomar parte na batalha. (...) Recebeu três ferimentos de arcabuz, um dois quais lhe inutilizou os movimentos da mão esquerda pelo resto da sua vida. (...) Em sua tentativa de regresso à Espanha, em 1575, ilusões de distinção e honrarias levaram-no a crer que estava com a vida ganha (...). Mas, entre o prenúncio desses tempos róseos e a efetiva realização das conquistas literárias idealizadas por Cervantes, estavam os piratas berberes do Mediterrâneo (...). As altas expectativas do valente soldado foram resfriadas por cinco anos de cativeiro entre os mouros do norte da África".

E, ao voltar do cativeiro, encontrou seu país em declínio e, em consequência, seus patronos detronados; mesmo assim, A Galatéia é lançada em 1585 e casou-se nesta mesma época com Catarina de Salazar - vinte anos mais jovem que ele.
Tentando a carreira de escritor teatral, viu seu sonho ruir através da crítica. Procurou emprego fora dos vinhedos e olivais que compunham a herança matrimonial da esposa, e foi ser cobrador de impostos - o que o levou a experimentar à contra gosto a prisão. 

Quando Dom Quixote foi lançado no início do século XVII, "já são característicos da agonia da Espanha (...). O momento de criação da obra é o da acentuação da crise econômica do império espanhol".
O motivo desse declínio se dá porque os sucessores de Felipe II  já estavam mortos e o reino foi para a mão de pessoas da corte que não tinham bom caráter para administrar o trono. Muito dinheiro foi gasto sem que nada do que foi feito deu ao perdido trono uma recuperação nacional da crise.

Ao terminar a primeira parte de Dom Quixote de La Mancha, Cervantes contava a idade de 58 anos - e a sua situação econômica não estava diferente daquela que levava antes da miserável fama.

Desocupado leitor, este foi o fim da primeira parte sobre a vida de Cervantes e, como anuncia o título, fala do tempo histórico o espanhol vivenciou. 

Omnia Vanitas.

*LOPES, Marcos Antônio. Cervantes e seu tempo; página 6 à 17. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.

Cervantismo..


Olá, leitor!

A partir de ontem, estou fazendo uma leitura da biografia (ou o que se pode encontrar) de Miguel de Cervantes Saavedra! 
Esta revista (aí da foto) é minha primeira meta. A próxima leitura será de um livro intitulado "Dor e Glória de Cervantes" de Braulio Sanchez Saez e, talvez, eu releia o livro de Fernando Arrabal "Um Escravo Chamado Cervantes". 

Tudo está indo bem, obrigada! Agora é separar os artigos da revistas em partes para postar. 

Vamos lá! 

Omnia Vanitas.

20 de julho de 2016

A Transformação..


Quantas vezes por dia, vaidoso leitor, você procura seu reflexo em objetos.
Há pessoas, eu tento não me classificar nesta categoria, que passam em frente a uma vitrine de loja somente para olhar seu reflexo e verificar sua aparência. 
Mesmo que você não se enquadre neste grupo de pessoas, sua aparência  - direta ou indiretamente - é uma preocupação. 

E, se você ficasse catorze anos sem ver sua aparência em nenhum objeto. Catorze anos sem olhar sua aparência nem em um pedaço de vidro quebrado. 

Foi assim que Edmond Dantès permaneceu durante seu "temporada" na fortaleza de If. Este personagem não sabia como estava sua aparência enquanto permaneceu encarcerado {injustamente} no calabouço de If. Catorze anos.

Porém, depois da fuga insana, do desespero em se esconder e de se fazer encontrar por um grupo de marinheiros de reputação suspeita, Dantès tem a oportunidade de olhar para si mesmo {não da maneira filosófica}.

Ao entrar em uma barbearia, a transformação começa: 


(¹) Sa figure ovale s’était allongée, sa bouche rieuse avait pris ces lignes fermes et arrêtées qui indiquent la résolution ; ses sourcils s’étaient arqués sous une ride unique, pensive ; ses yeux s’étaient empreints d’une profonde tristesse, du fond de laquelle jaillissaient de temps en temps les sombres éclairs de la misanthropie et de la haine ; son teint, éloigné si longtemps de la lumière du jour et des rayons du soleil, avait pris cette couleur mate qui fait, quand leur visage est encadré dans des cheveux noirs, la beauté aristocratique des hommes du Nord ; (²) cette science profonde qu’il avait acquise avait en outre reflété sur tout son visage une auréole d’intelligente sécurité ; en outre, il avait, quoique naturellement d’une taille assez haute, acquis cette vigueur trapue d’un corps toujours concentrant ses forces en lui.
(¹)À l’élégance des formes nerveuses et grêles avait succédé la solidité des formes arrondies et musculeuses. Quant à sa voix, les prières, les sanglots et les imprécations l’avaient changée, tantôt en un timbre d’une douceur étrange, tantôt en une accentuation rude et presque rauque.
En outre, sans cesse dans un demi-jour et dans l’obscurité, ses yeux avaient acquis cette singulière faculté de distinguer les objets pendant la nuit, comme font ceux de l’hyène et du loup.
(³)Edmond sourit en se voyant : il était impossible que son meilleur ami, si toutefois il lui restait un ami, le reconnût ; il ne se reconnaissait même pas lui-même.


Esta é a chave para o reencontro de Dantès com seus inimigos {e mesmo com Mercédès}. Sua figura estava com uma mudança externa que a ausência de um disfarce não comprometeria sua vingança. O jovem e sonhador Dantès que foi encerrado em um calabouço úmido, sujo e despojado de vida transformou o homem que de lá fugiu em um desconhecido para todos aqueles que foram os agentes desta metamorfose.
Eu separei o trecho acima em três pontos que achei interessantes:

(¹) - As linhas físicas mudaram. O rosto sofreu uma mutação não somente pelas rugas que o tempo distingue no ser humano - havia tristeza, raiva e sofrimento na face de Edmond.
A voz de Dantès também mudou devido choro e soluços que ele emitiu durante sua estada no calabouço. Muitas vezes, antes da presença do abade Faria, Dantès se assustou com o som da sua própria voz. Não havia nenhum outro preso, antes do italiano, com quem o protagonista desta história pudesse conversar, pois até seu carcereiro era mudo.

(²) Ao descobrir por acaso seu amigo, o abade Faria, Dantès teve a oportunidade de aprender. E esse aprendizado também mudou sua aparência. Conforme escrito, uma "auréola de inteligência" cobria a face de Dantès - e foi esta visão que fez Jacopo {sobre quem escreverei em outro momento} doar sua afeição ao fingido náufrago de Tiboulen.

(³) E, por fim, sua aparência lhe agradou. Saberia que ninguém o poderia reconhecer: não era apenas um homem morto para seus inimigos; era a Vingança ressuscitada das profundezas do calabouço.

O injustiçado rapaz de 19 anos foi abandonado na fortaleza de If; catorze anos se passaram, e o anjo vingador surgiu...e ninguém sabia qual era sua aparência.

Omnia Vanitas.

11 de julho de 2016

O Domo..


Pensa em um seriado chato! vixi !

Tem spoiler !

Decidi e convenci meu marido a assistir Under the Dome, um seriado baseado no livro de Stephen King. Meu conforto era saber que o seriado estava muito longe de ser semelhante ao livro. Quando o seriado chegou ao público, devotos do senhor King já anunciaram que a atração televisiva era uma blasfêmia contra o livro - mesmo tendo Stephen King como produtor executivo do projeto {até a metade da segunda temporada, pelo que notei}.

Chato! Muito mimimi de adolescente e gente tola! E, também, o personagem Big Jim mata metade da cidade, todos ficam sabendo e continuam pedindo o conselho dele sobre o que fazer debaixo do Domo. "Domo"... eita palavra que me irritou. Assistimos na versão dublada e eu tive que suportar essa palavra durante três longas temporadas.
Meu personagem preferido morreu no final. Estávamos torcendo por ele, meu marido e eu! Gostamos do menino! E toda vez que ele aparecia nós gritávamos: JÚÚÚÚÚNIOR!!! hahahaha. Tadinho. James, o Júnior, era um menino que não tinha independência: mandado pela namorada, pelo pai, pela morta, pela abelha rainha .. tadinho! Nós torcemos mas um bom final para ele! .. RIP JÚÚÚÚÚNIOR!!

O seriado {e o livro} conta a história de uma cidade que foi isolada por uma REDOMA invisível. É um Big Brother sobrenatural no estilo Stephen King {o livro, não o seriado}.

Mas tinha algo legal? Não! Duas cenas se destacaram:

- Primeira cena. No ínicio da segunda temporada, a ex-namorada do JÚÚÚÚÚNIOR está servindo café na lanchonete quando um homem lhe pede café. 
Emocionante, né!
Mas não é um homem qualquer, ele é STEPHEN KING FOR GOD SAKE!!!! Eu gritei, histérico leitor! Gritei! Meu marido ria e tentava me conter, mas eu apenas sabia gritar: 
- É STEPÃN! É ESTEPÃN!  Vou servir café para ele .. Olha, amor!!! É ele !!! ... 
Pareci, leitor, que eu estava vendo o homem em pessoa na minha frente! Coisa de leitor histérico!

- Segunda cena. Essa foi engraçada! Big Jim, o pai do JÚÚÚÚÚNIOR, encontrou um cachorro {ou o cachorro encontrou Big Jim, não sei}. E, na terceira temporada, ele e Julia estão em uma casa que servia de laboratório quando Big Jim ouve o cachorro latir e sai pela porta para ir ao encontro do animal. Euforia de ambos..ninguém teve o senso de editar esta cena que aparece o cachorro excitado.
hahahaha .. paciência ! 

Antes da segunda temporada terminar, a gente já estava cansado de ver o seriado; mas, por ter apenas três temporadas no total, resolvemos ir até o fim pois eu queria dizer aqui que:
             nada se salva nesse seriado. leia o livro.
Omnia Vanitas.

A Cabana..

"Talvez a sua ideia de Deus esteja errada" - A Cabana

Terminei a leitura de A Cabana

Sábado de manhã, eu fui até a estante onde estava um dos exemplares deste livro e comecei a lê-lo. Tantas pessoas me recomendaram a leitura, que pensei que um final-de-semana resolveria o caso. Bom, na verdade, estiquei até hoje à tarde. 

A leitura é tranquila. Eu fiquei bem interessada no início e fui lendo com atenção até a página 142... depois, a leitura foi bem lenta. Não sei o que houve, apenas perdi aquele interesse inicial. 
Antes de chegar na página 200, eu pensei em desistir. Empurrei até o final e..voilà! Terminei.

A história é boa, me lembrou muito outro livro que li chamado As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu, de Mitch Albom.

O texto tem frases "de impacto" e desmistifica a religiosidade barata: como Deus sendo uma mulher {muito boa cozinheira, diga-se de passagem}, por exemplo. Outro fato que achei interessante e muito válido é quando o assunto da fé de outras religiões é comentada:

"Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer instituição religiosa. Tenho seguidores que foram assassinos e muito que eram hipócritas. Há banqueiros, jogadores, americanos e iraquianos, judeus e palestino. Não tenho desejo de torná-los cristãos, mas que me juntar a eles em seu processo para se transformarem em filhos e filhas do Papai, em irmãos e irmãs, em meus amados".
E aí eu lhe pergunto, devoto leitor: podemos "deixar prá lá" a religião e conversar sem querer converter o ouvinte?
E, nesse ponto, lembro de outro capítulo que gostei "Na Barriga das Feras". Este parte trata sobre as instituições religiosas formadas para gerenciar a vida alheia. E, pense, leitor: adoramos uma regra. 

Outro capítulo que gostei muito foi "Olha o Juiz aí, Gente". Muito bom! Mais uma coisinha que adoramos fazer com os outros: julgar
Ôh dedinho em riste que aponta para o amiguinho! 
Ah! Como eu sou boa e justa! Até Deus deveria se espelhar em mim!  
Todos nós somos assim. Precisamos lutar muito para querer tirar o dedo indicador do rosto de coleguinha! Eu mesma estou vivendo uma situação semelhante que preciso lutar contra esse meu Juiz Autoritário que quer ser dono da verdade. Quem é o seu réu?, justo leitor?

Terminei e concluí: de tudo o que eu penso e conheço sobre Deus só 1% se aproveita. Não que o livro seja uma verdade nua e crua do Criador, mas você se acha capaz de definir Deus? Quantas ideias e conceitos temos sobre Papai que mudam conforme A NOSSA VISÃO. Nós mudamos de conceito, Deus não. Se definirmos Deus, como disseram meus professores de teologia, Deus deixa de ser Deus. 

No mais, fiz minhas anotações corriqueiras, refleti sobre algumas coisas ..e por aí vai!

É um livro simples, como a fé deve ser.

Omnia Vanitas.

7 de julho de 2016

Je me rappelle..



Desde que eu decidi parar minhas aulas de francês, tomei outra decisão: não esquecer minha aulas de francês.
Foi no final do ano passado que eu tomei a decisão de parar {não por muito tempo, espero} as aulas de francês. Comentei com meu marido a decisão e ele concordou comigo. 

Eu amo muito estudar a língua francesa e, parar, não foi uma decisão fácil. Portanto, eu queria continuar em contato com a língua materna de Alexandre Dumas. 
Um pouco mais de dez anos atrás, eu conheci uma forma de aprender francês sob minha tutela: o método assimil. 
Trata-se de um livro com 140 lições de língua francesa: pronúncia, gramática e audição. Infelizmente, eu não tenho o vinil que acompanha o livro {minha edição é de 1958}. 
Por alguns meses, daqueles anos passados, eu tirava xerox deste livro; depois de aprender os capítulos fotocopiados, eu adquiria novos capítulos. 
No último mês do ano passado, resolvi comprar minha própria edição para continuar em contato com a língua francesa. E, ei-lo na foto acima! :)

E não é muito complicado aprender francês nessa didática assimil. Confira comigo {conforme a foto acima}:

- há um texto básico Aimez-vous les livres? {texto da foto}
- há a pronunciação do texto èmêvu lè livrre?
- há a tradução do texto Gosta de (amai-vos) livros?

Como eu já disse, falta o disco de vinil para completar a aula. E, na foto, não aparece o estudo de gramática e não está também o capítulo de Revisão e Notas. 

Para toda mal há a cura. Minhas audições eu faço durante a leitura da literatura que adquiri. O próprio Comte de Monte-Cristo eu tenho o livro em áudio para corrigir minha pronúncia - recado a parte, tenho medo de falar em francês rs.

A única coisa que eu sinto muito falta é de criar textos em língua francesa. Como não tenho quem corrija as redações, fico sem esse trabalho importante. 

Claro, tudo o que estou fazendo no momento não substitui minha aulas presenciais de francês; mas, pelo menos, as aulas passadas não ficam perdidas no tempo.

Omnia Vanitas.

6 de julho de 2016

Leafar..


Leafar! Esse é o nome desse lindo ursinho de pelúcia! 

Ganhei o Leafar quando eu tinha 13 anos, do meu padrinho de batismo; e somente aos 15 anos ele começou a ter uma real importância na minha vida. E, desde lá, é meu fiel escudeiro por onde quer que eu vá {dormir}. Nenhum lugar é improvável para ele ir, ele simplesmente vai!

Quando me mudei da casa dos meus pais, entre as caixas de mudança ele estava. Minha mãe, aquela senhora linda que é minha mãe, olhou para minha mudança e disse:

- Não acredito que você vai levar esse bicho!

Fato é que estou casada, mas não consigo dormir sem o Leafar nos meu braços. Meu marido não reclama pois ele não tem o hábito de dormir abraçado comigo porque não consegue pegar no sono. Já o Leafar ... 

E, depois do casamento ele deixou de ter um nome, agora é, simplesmente, o Bicho.

- Cadê o bicho? -  é a frase mais usada entre meu marido e eu. Quando eu viro as costas, ele está com o Leafar nas mãos para fazer alguma traquinagem. O Leafar já vestiu a camisa de Portugal, já usou meus óculos, tocas de lã, fones de ouvido.. já foi parar em cima, do lado e dentro do guarda roupas; já ficou sentado no selim da minha bicicleta, na cozinha, na janela dos quartos .. e, quando peço explicação sobre o assunto, o que ouço é:

- Esse Bicho só apronta, amor!

E ele está muito velhinho. Descobrimos três furinhos na pelúcia dele :( . Isso me deixa triste pois ele é um "amiguinho" há muito tempo. 
Domingos passados, assistimos Toy Story 3 na televisão. Juro que eu chorei lembrando do meu querido Leafar! Meu marido riu, claro! 

Mas, enquanto a pelúcia puder ser costurada, Leafar será meu fiel escudeiro nas noites, sessões de cinema/desenho/série/futebol em casa.

Vida longa ao Bicho!

Omnia Vanitas

O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...