30 de julho de 2016

Sentenças e Aforismo em Cervantes..



Primeira Parte: Cervantes e Seu Tempo


Fim de mais uma etapa de leitura sobre a vida e a obra de Miguel de Cervantes. 
Este artigo foi escrito por Adolfo Mintejo Navas. O estudo de Navas será sobre  estilo de escrita que Cervantes utilizou em suas obras. 
Aforismo é uma maneira de escrever verdades morais a cerca de algo - como uma máxima ou um ditado; porém, o aforismo é uma maneira um pouco mais culta de expressão linguística. Conforme Navas, era um modelo de escrita muito comum

"(...) são muitas as seleções ou inventários de sentenças que circulam pelo século XVI, em latim ou romanço, como parte de uma herança clássica que estava vias de torna-se popular. Por seu caráter de antologia, eles permitiam reunir fragmentos literários e filosóficos de tempos clássicos (Grécia e Roma), assim como guia espiritual ou receituário de conduta ética".

Não pense, máximo leitor, que este uso caiu no esquecimento; na verdade está aprimorado. Explicarei a ideia pontuada: lembra que no artigo de Molina o próprio declarou que existe uma poluição de informações que não permite ao leitor descobrir a obra, apenas suas idéias e trechos fragmentados? Pois trata-se disso nos dias de hoje. Pegue uma frase de efeito em algum livro que esteja em uma prateleira e você terá seu aforismo - sem contextualizar o trecho, coloque-o em algum lugar de destaque e as curtidas e compartilhamentos serão instantâneos, mesmo que ninguém esteja interessado em saber do que se trata. Faz-se isso continuamente com várias obras, algumas distorcidas por filmes. A literatura saiu uma linha de livros que compilam frases de filósofos e comentam, rapidamente, a ideia destes em questão. Acho uma literatura crua pois não alcança a dimensão da totalidade da obra citada. Perde-se o valor verdadeiro do estudo.

Ça va, voltando à Navas

"(...) os aforismos procedentes da Grécia também orientam pelo conhecimento ou por um tipo de saber de caráter científico - mas neles o que se reforça é a necessidade de uma sabedoria contrastada pela práxis humana, certa validade universal, da qual bebem também, ainda que de outra forma, os provérbios populares".

E quando se menciona provérbios/ditados populares, Sancho Pança é o rei da categoria. Não existe um momento para este escudeiro que não precise ou seja necessário um bom ditado popular. E, acredite, até mesmo alguns ditados possuem uma história sobre si. 
Na minha família, minha irmã número cinco tem o hábito de dizer "Agora, Inês é morta!". Eu sempre acho engraçada essa frase e, de tanto cismar, procurei o significado. Clique aqui e saberá quem é Inês! ;)

Segundo Navas, o aforismo era tão apreciado por Cervantes que foi um desejo deste escrever apenas um livro com essas máximas filosóficas mas, pelo pouco - ou nenhum, talvez - patrocínio, Cervantes abandonou a ideia é buscou outros rumos. 
Mas repare bem, anônimo leitor, que quando uma ideia chega a cabeça, de uma maneir ou outra torna-se imperativo colaca- lá em prática - direta ou indiretamente ( no caso de Cervantes foi de !odo indireto). Seguindo com Navas

(...) há exemplos numerosos dessa escrita breve, concentrada (...) A Galatéia, Dom Quixote, Novelas Exemplares".

A maior parte estará em Dom Quixote, sem dúvida. Para exemplificar, le-se os seguintes aforismos quixotescos

"Procura descobrir a verdade entre as promessas e dádivas do rico entre os soluços e inoportunidade do pobre"; "Come pouco e janta ainda menos, que a saúde de todo o corpo se forja na cozinha do estômago"; "Não desejes e serás o mais rico homem do mundo".

O mais interessante nas obras de Cervantes é que o aforismo não estava fora do contexto que seus personagens a citavam, isso torna mais rico ainda a construção literária dos livros de Cervantes e, também é as mazelas da vida particular foram decisivas para a dedicação do espanhol na escolha de quais sentenças utilizar na sua produção textual.

Bom, leitor, não quero mais prolongar minhas palavras para este artigo; e, termino esta publicação com meu aforismo favorit em O Engenhoso Dom Quixote de La Mancha

"...aquele que não tenciona satisfazer não regateia condições no contratar"

Omnia Vanitas.

NAVAS, Adolfo Montejo. Sentenças e Aforismos; página 46 à 53. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.



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