Primeira Parte: Cervantes de Seu Tempo
Segunda Parte: Por que Ler o Clássico
Terceira Parte: O Retrato e a Escrita (nesta publicação há dois outros links - no final - que ajudam de complemento)
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Depois de ler sobre o tempo, a vida e a escrita de Cervantes, chegou o momento de escrever sobre a obra deste espanhol.
A proposta de Sérgio Molina é de esquecer tudo o que já foi escrito sobre a obra. Sim, esforçado leitor, deixe de lado todas as referências já feitas para Cervantes e Dom Quixote é mire o alvo para a obra em si.
Em alguns pontos eu concordo com Molina: muito é dito sobre a obra e pouco dela é lida. Vou lhe dar um dica, confuso leitor: quando ouve-se o nome próprio Quixote a primeira imagem que surge na cabeça na cabeça do ouvinte é um moinho de vento; mas a obra de Cervantes vai além da alucinação do protagonista.
O autor deste artigo apresenta um conselho já debatido - uma quimera muito semelhante ao Quixote: "aconselha ao leitor despojar-se de toda a ideia preconcebida e aproximar-se da obra com a mente limpa e o coração puro".
Sabendo que esta sugestão é impossível de ser aplicada e que a visão imposta por mecanismos de comunicação não é fácil de suplantar, Molina apresenta suas impressões sobre a obra de Cervantes:
"(...) compartilhar impressões nascidas de minha experiência de leitura e reescritura, situado num lugar que não é nem o do leitor acadêmico, nem o do leigo, nem o do escritor, mas onde chegam as três vozes".
E lá se vai Molina, tirando de Cervantes as construções literárias que já foram escritas através do tempo - conclua você, letrado leitor, se isso é bom ou não.
Uma das pontuações de Molina é visto já no título do livro do espanhol: "O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha". Se você notou, culto leitor, parabéns! À mim passou sem percepção o dualismo de títulos sociais que Alonso Quijana (Quesada, Quijada ou Quijano) atribui à sim. Para ser sincera, fidalgo ele já era, mas o título de Dom não é algo que se deva utilizar à mesma pessoa e, Molina esclarece a nossa razão:
"(...) O que interessa observar aqui, em primeiro lugar, é a contradição entre don e fidalgo. Este, situado no nível mais baixo da hierarquia nobiliárquica, a rigor nunca poderia ostentar essa marca de status, reservada às altas-rodas dos caballeros e grandes de Espanha. Uma apropriação indébita que já não era incomum na época, mas ainda vista, quando menos, como um censurável desatino".
Mas a investida não pára:
"(...) se o fidalguete pode tomar para si tal don porque estava doido, como se explica o qualificativo de 'engenhosos', que lhe atribui uma excelência intelectual? (...) Uma faculdade (...) caracterizada sobretudo pela elegância e inteligência no falar: o discreto".
Bom, desocupado leitor, isso é tudo o que tenho a escrever sobre o artigo de Sérgio Molina. O estudo que ele propôs foi uma leitura sem vínculos viciosos, mas nada pode acrescentar daquilo que já se sabe sobre a narrativa louca e racional de Quixote ou da malícia e parvorice de Sancho Pança. As pontuações que li, para mim, nada mais são do que citações da obra e observações comuns do texto, por exemplo:
"(...) personagens entram voluntária e alegremente no faz-de-conta do maníaco*. (...) É para livrar-se do hóspede problemático que um estalajadeiro se finge cavaleiro castelão (...); é para despachar um barbeiro impertinente que se inventa um judiciosa tribunal dedicado a dirimir dúvidas absurdas quanto à aparência de dois objetos banais; é para reconduzir Dom Quixote à aldeia que seus amigos montam a farsa de uma princesa destronada e a pantomima dos feiticeiros-profetas".
Veja só o que ele fez: referiu-se às cenas sem acrescentar nada do que o leitor menos interessado consegue observar.
Por isso, limito minha publicação nesta altura, sem mais nada acrescentar. E, para justificar o (*) na citação acima, não concordo com o termo usado por Molina para descrever Dom Quixote.
Omnia Vanitas.
MOLINA, Sérgio. A obra-prima; página 33 à 45. Revista Entre Livros: EntreClássicos Cervantes nº 3: Ediouro.
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