23 de abril de 2015

O Primeiro Namorado..

"Você foi a única que eu amei de verdade!"


Eu tinha quinze anos quando ele começou a estudar comigo. E eu detestava ele. Paulista metido que veio de Sampa pagar de moderno para catarina do interior. 
Ele adorava encher meu saco quando o meu time perdia e o dele, ganhava. E ficava todo faceiro quando eu pagava a promessa de usar a camisa do time dele quando o meu perdia. Que vergonha!
Sem contar quando fazia elogios que me deixavam com o rosto vermelho no meio da sala de aula.

Mas nem tudo era ruim. Éramos ainda adolescentes e cheios daquela alegria que só sabemos reconhecer algum tempo depois. E, eu não sei porque, ele se apaixonou por mim - uma garota temperamental, que torcia contra o time dele e que falava pelos cotovelos. 
E assim foi o primeiro ano do ensino médio, o segundo e o terceiro. Tivemos nossa formatura em 1997, e somente em 1998 ele pediu para namorar comigo. Eu aceitei. 

Namoramos pouco tempo. 
Era aquela época que ainda sentávamos no sofá lá da sala, na casa da minha mãe. Ainda existe esse sofá. Eu lembro que, aos sábados à tarde, depois que ele saia do trabalho, eu ficava sentada lá, naquele dito sofá, esperando ele buzinar para eu ir recebê-lo portão. 
Meu pai tinha uma colheita de milho, bem pequena, na frente da nossa casa. Toda as vezes que ele chegava, me dizia:

- Cheguei na Colheita Maldita! (filme baseado em um conto do Stephen King, chamado de As Crianças do Milharal).

Era divertido. Dias do único verão que passamos juntos, na frente de casa, deixando a brisa da noite nos refrescar. 
Também tínhamos o hábito de jogar general, à noite, na cozinha da minha casa e, também, fazer nossas compras "sagradas": amendoim com cobertura de chocolate e jujubas. Havia um vidro especialmente pronto para receber essas iguarias; mas o vidro esvaziava no mesmo dia - com ou sem sessão de cinema.
E quando ele entrava no meu quarto impecavelmente arrumado, ele dizia que parecia estar tudo bagunçado. Roubava meu diário, enquanto eu estava no banho,  para ler o que que escrevia sobre ele (rs).
Quando ele tomava café eu fazia ele chupar uma bala de fruta para tirar o gosto do café (porque detesto café). E ele fazia essa minha vontade.
E como esquecer dos longos beijos que dávamos escondidos dos meus pais ou, das longas despedidas quando ele trazia de volta da casa dele. 

Lembro da nossa viagem para Curitiba. Do meu mau humor durante o segundo dia de viagem (Deus! Como ele podia me aguentar?!)
Lembro, também, do dia que ele voltou de viagem de carnaval com a família dele. Eu fui recebê-lo, como toda boa namoradinha, no portão da minha casa. Ele saiu do carro e começou a reclamar que estava com uma dor nas costas. Preocupada, pedi para ele me mostrar onde doía. E, então, para minha grata surpresa, havia um enorme algodão doce escondido atrás dele - ele sabia que eu adoro algodão doce. E, de brinde, veio um balão para estourarmos depois. 

Ontem, relembrando o tempo de colégio com um amigo em comum, eu tive a  triste notícia de saber que meu primeiro namorado (e guerreiro rs), faleceu de câncer há, mais ou menos, dois anos. 

Ele já estava casado e com dois filhos; eu soube quando ele me ligou, quase oito anos atrás, para se desculpar pelo o modo como nosso namoro terminou. Claro que não havia motivos para desculpas, afinal, éramos dois jovens tolos que estavam brincando de amar. Mas, aceitei as desculpas e ofereci as minhas, também. E, uma coisa que ele me disse - e que não confessei na época por conta do estado civil dele - foi que ele sonhava comigo. E, todas as vezes ele acordava inquieto. Ele me disse, ao telefone, que se ele sonhasse comigo mais uma vez, ligaria para pedir desculpas à mim. Foi o que ele fez. Mas eu nunca confessei, pelo motivo que já expliquei, que eu também sonhava com ele. E, depois que nós tivemos aquela conversa, eu nunca mais sonhei com ele. Exceto, por essa noite. 

A notícia da morte dele foi um choque! Eu senti que uma parte da minha história se foi com ele. Ele não foi somente meu primeiro namorado, foi um amigo e "rival" que tive a alegria de ter por perto. 

Gostaria de contar mais sobre o significado daquele tempo, mas fica para outra publicação. Essa é só para ele e a dor que ausência dele, tão precoce, deixou em todos que o amam. 

In memorian de W.C.R.F. (Mor).


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