21 de abril de 2015

Anne Elliot e Seu Capitão ..


Ontem, enquanto esperava minha irmã para irmos para a aula de natação, li um capítulo do livro "Persuasão" de Jane Austen. É o terceiro livro dos seis (publicações completas da senhorita Austen) que me propus a ler neste ano. 

E, em se tratando de uma releitura, é muito melhor para ler. O conhecimento dos fatos torna melhor a análise de outros pontos que ficaram para trás, ou aqueles que passaram sem serem percebidos tem a sua vez na leitura. A ansiedade pelo final não é mais o foco - o desenvolver até o ponto é que torna mais agradável a leitura - pelo menos no meu ponto de vista.

Ao contrário das outras obras que conheço da senhorita Austen, esta não começa com dois jovens que se conhecem, mas dois adultos que se reencontram. "Persuasão" será uma segunda change para um casal que se separou por circunstâncias - aparentemente sensatas - adversas ao desejo de ambos. 

Anne Elliot foi persuadida a desfazer o compromisso de noivado com o Capitão Wentworth. O pai da moça não o aceitaria por ele não vir de um berço nobre - o que ofenderia seu baronato. Anne estava disposta a sofrer a indisposição do pai para ficar com seu querido Capitão, porém, o desejo da madrinha (melhor amiga dela e da falecida mãe) pesaram quando esta manifestou-se contra o enlace matrimonial. Anne cedeu!

E, talvez, leitor, você possa pensar que Anne foi fraca ao deixar o homem que ama em favor de alguns conselhos de uma senhora viúva. Mas, na minha análise - quem sabe eu esteja sendo cruel - eu concordaria com lady Russel (a madrinha). Lê-se, a seguir, a situação dos jovens apaixonados:

"Anne Elliot, com todas as suas qualidades de berço, beleza e inteligência, desperdiçar sua própria vida aos dezenove anos; envolver-se aos dezenove anos num noivado com um rapaz que nada tinha além de si mesmo para recomendar-se, e sem esperanças de obter nenhum dinheiro, senão nos acasos de uma profissão mais do que incerta, e sem relações até para garantir seu avanço profissional, seria, de fato, um desperdício, em que lhe era doloroso pensar! Anne Elliot, tão jovem; conhecida de tão pouca gente, deixar-se agarrar por um estranho sem alianças ou riqueza; ou. antes, deixar-se afundar por ele num estado de dependência desgastante e angustiante, fatal à sua juventude! (...)"
Eu sei que soa cruel, mas, querido leitor, acompanhe meu pensamento em mais um trecho sobre o assunto:

"O capitão Wentworth não tinha posses. Fora feliz na profissão; mas, gastando mais em abundância o que ganhara em abundância, nada poupara. Estava confiante, porém, de que logo se tornaria rico: cheio de vida e entusiasmo, sabia que logo teria um navio e logo estaria em condições de obter tudo o que queria. Sempre tivera boa sorte; sabia que ainda o acompanharia. (...) O temperamento sanguíneo e a mente destemida do capitão tiveram nela [lady Russel] um efeito muito adverso. Viu naquilo só um agravante do mal. Aquilo só acrescentava a ele mais uma qualidade perigosa. Ele era brilhante, era obstinado (...)".

Estas duas citações fazem parte da opinião de lady Russel sobre o noivado de Anne com Frederick Wentworth.  Em alguns pontos, como na citação de status social tão diferente entre ambos (ela vindo da nobreza e ele ascendendo através da guerra) é dispensável, porém, o que não pensar sobre o restante. Parece pura maldade separar um casal tão apaixonado, como Anne mesmo cita a relação de ambos:

"(...) não poderia haver dois corações mais abertos, gostos tão parecidos, sentimentos tão uníssonos, rostos tão bem amados".
E, infelizmente, lady Russel não erra quanto ao caráter do noivo da afilhada. Mesmo quando retorna, depois de oito anos, ele volta com mágoa e disposto a esnobar Anne, e o confessa em carta a ela:

"(...) Posso ter sido injusto, fui fraco e ressentido, mas nunca inconstante".

Eu acho muito interessante, nesta obra de Jane Austen, a composição do caráter de Frederick. Ele não o ideal romântico, e, ouso dizer que nem Mr. Darcy o é por todo o seu preconceito; nem Edmund o é em Mansfield Park, ou Edward Ferrars em Razão e Sensibilidade e, no mesmo caminho destes segue Henry Tilney em A Abadia de Northanger. Então, o único que pode ser "catalogado" como "perfeito" é o querido Mr. Knightley, de Emma. Todos eles, salvo a exceção em Emma, seguem o ritmo de caráter de Frederick Wentworth - não que todos sejam sanguíneo como este, mas lhes falta o caráter firme de "herói" que há em Mr. Knightley.

Então, anônimo leitor, eu também não daria crédito ao bom futuro deste relacionamento. Portanto, apesar do preconceito que consta na observação de lady Russel, ouso dizer que ela não estava cem por cento errada ao afastar Anne de seu capitão. 

Para finalizar, deixo a carta, em francês (já que minha tarde será em trabalhos desta língua) do Capitão Wentworth à sua amada Anne.

Au Revoir! ;)



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