9 de março de 2015

A Diplomacia de Elinor Dashwood - parte 3


Terceira e última postagem sobre “A Diplomacia de Elinor Dashwood”.

Um breve resumo: Elinor Dashwood descobre que o homem que ama (havendo reciprocidade no afeto) está noivo, há quatro anos de Lucy Steele. Quem conta a “novidadade” é a própria senhorita Steele – pois tem noção que Edward está “derretido” pela filha mais velha da senhora Dashwood. Mas Elinor, depois de uma breve reflexão, não se permite abater e resolve “confrontar” os sentimentos da rival para com Edward. Eu acho isso desgastante pois Edward Ferrars nunca será Mr. Darcy ou Mr. Thorton (este último pertence à obra de Elizabeth Gaskell, Norte e Sul). E, mesmo assim, conseguiu que duas mulheres se apaixonassem por ele. Paciência!

A arena está armada. Lucy e Elinor estão dividindo a mesma mesa de trabalho e iniciam o “duelo”. Elinor começa:
Em tom firme, no entanto cauteloso, Elinor começou:
- Eu não mereceria a confiança com que a senhorita me honrou se não sentisse desejo de falar ou se não tivesse alguma curiosidade a respeito do segredo que me contou. Portanto, não pretendo me desculpar por voltar a falar nele.
- Muito obrigada - agradeceu Lucy, emocionada por quebrar o gelo. Assim agindo, a senhorita aqueceu meu coração, porque fiquei com medo de tê-la ofendido com o que lhe disse na segunda-feira.
- Ofendido, a mim! Como pode supor uma coisa dessas? Acredite-me - e Elinor falava com verdadeira sinceridade -, nada poderia estar mais longe disso, não devia nem mesmo passar por seu pensamento. Tem por acaso algum motivo para pensar que sua atitude não seria honrosa e lisonjeira para comigo?
- No entanto, devo confessar-lhe - havia nos olhos de Lucy um brilho repleto de significado - que sua reação foi um tanto desagradável, fria, o que me causou desconforto. Tive certeza de que ficara zangada comigo e me penitenciei várias vezes desde então por ter tido o atrevimento de perturbá-la com meus problemas. Mas estou contente por saber que se tratou apenas de impressão minha, que a senhorita realmente não me censurou. Se soubesse como foi grande o consolo que encontrei ao dar alívio a meu coração contando-lhe o que eu vivia pensando a cada momento da minha vida, sua compaixão teria sobrepujado tudo o mais, tenho certeza.

Conversa vai e Elinor “planta” uma sementinha de dúvida na ignorante Lucy:

(...) Seria lamentável, sem dúvida, se essa força da recíproca dedicação falhasse, como costuma acontecer com muitas pessoas depois de permanecer firme durante quatro anos de compromisso sob várias circunstâncias.

Ao ouvir isso, Lucy ergueu o olhar para Elinor que, no entanto, permanecia exercendo cuidadoso controle para não deixar que algum tipo de expressão conferisse qualquer conotação suspeita as suas palavras.

Lucy retruca:

- Edward me ama - afirmou Lucy. - Ele pôde prová-lo pelo teste que foi a nossa longa separação, desde que ficamos noivos, e saiu-se tão bem dessa dolorosa provação que seria imperdoável se eu agora duvidasse de seu amor. Posso tranqüilamente dizer que ele jamais me deu motivo algum de alarme, desde o começo.

Elinor não sabia se devia sorrir ou suspirar diante daquela declaração.

E, depois de ouvir mais algumas insanidades de Lucy, a heroína declara para si:

- Tudo isso é muito bonito mas não pode enganar a qualquer uma de nós.

Depois de Lucy afirmar – e Elinor ter certeza – que a mãe de Edward nunca aceitaria a união dos noivos “secretos”, a senhorita Dashowood confronta a pobre senhorita Lucy:

- Qual é a sua perspectiva? Ou não tem nenhuma, a não ser esperar pela morte da sra. Ferrars, que é uma triste e chocante decisão? O filho dela está disposto a submeter-se a isso e ao assustador tédio de anos de espera, no qual a senhorita estará envolvida, em vez de correr o risco de desagradar à mãe, dizendo-lhe a verdade?

Lucy fica sem muita criatividade para responder, exceto especulações aqui e ali, pois vê-se que o “casal” não está em sintonia quanto ao “quando” a união acontecerá. A esperta Lucy não quer que seu “amado” perca os direitos como filho mais velho – ou seja, nada pior, para ela, do que viver com um homem que não lhe dará benefícios financeiros ajustados a sua vontade. Essa “vontade” fica clara para Elinor, que é sensível ao perceber que o “amor” de Lucy depende de algumas cifras.

Mas a apaixonada senhorita Steele não perde a oportunidade de alfinetar sua rival da seguinte forma:

- Creio que o mais acertado seria acabar com toda essa confusão rompendo o noivado. Estamos cercados de dificuldades por todos os lados e elas vêm nos tornando infelizes há muito tempo. Talvez venhamos a ser mais felizes se terminarmos... Não quer me aconselhar, srta. Dashwood?
- Não. - Elinor fez a recusa com um sorriso que ocultava sentimentos muito agitados. - Sobre esse assunto, com certeza não irei dar-lhe conselhos. Sabe perfeitamente que minha opinião nada irá significar para a senhorita, se não estiver de acordo com seus desejos.
- Está me julgando mal - declarou Lucy, com ar solene - Não conheço ninguém de quem eu respeite mais a opinião do que a senhorita e penso, de fato, que se me dissesse: “Eu creio que romper o noivado com Edward Ferrars será melhor para a felicidade de ambos", eu o faria imediatamente.

Corando diante da falta de sinceridade da futura esposa de Edward (...)

Parabéns, Edward Ferrars, você conquistou uma cobra como esposa!

Elinor descobriu com quem estava lidando, que tipo de índole esperava seu amado em sua sociedade conjugal. E, para finalizar este tema, eu concluo com a decisão de Elinor sobre o assunto “Lucy Steele e Edward Ferrars”:

Desse dia em diante, Elinor nunca mais tocou no assunto e toda vez que era mencionado por Lucy - que jamais perdia uma oportunidade de fazê-lo, preocupando-se de informar sua confidente sobre a felicidade de ter recebido uma carta de Edward -, era tratado com calma e prudência por Elinor, que o colocava de lado assim que a boa educação o permitia. Ela considerava essas conversas uma indulgência que Lucy não merecia e que era perigosa para si mesma.

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