13 de março de 2015

A Decepção de Marianne ..



Marianne Dashwood não conhece o ditado:

Nem todo homem simpático é cafajeste.
Mas todo cafajeste é simpático.

Se tivesse esse conhecimento prévio, talvez ela tivesse sido mais prudente ao receber os sorrisos e elogios de John Willoughby. Pobre, Marianne!

A paixão deste personagem começou quando, ao voltar de uma caminhada, ela torceu o pé e... :
Um cavalheiro que carregava uma espingarda, com dois pointeres saltando ao seu redor, passava pela colina a poucos metros de Marianne quando o incidente ocorreu. Ele largou a arma no chão e correu para socorrê-la. Ela já se erguera, mas torcera um tornozelo na queda e mal conseguia ficar de pé. O cavalheiro ofereceu-lhe seus préstimos e, percebendo que a modéstia dela a faria recusar o que a situação exigia, nada perguntou e a ergueu nos braços sem demora, carregando-a colina abaixo.

Pronto! Bastou isso para que nosso personagem estivesse "doidinha" por John Willoughby! Que romântico! (?)
A espontaneidade que  Marianne pregava foi aquilo que Willoughby conseguiu expressar no cuidado que teve com ela: sem cerimônias ou desculpa cortês, ele fez o que deveria ser feito: socorreu - com seus braços -  uma dama em apuros.
Eu não condeno Marianne! Não há coisa mais "romântica" do que ser carregada nos braços de um homem - e, segundo Austen, Willoughy tinha uma bela expressão máscula para tornar a cena digna de uma paixão arrebatadora. Nem uma convicta balzaquiana tiraria o mérito desta empresa!

Como já mencionado em post anterior (clique aqui) a paixão foi arrebatadora. Simpatizavam com as mesma coisas e pessoas e, antipatizavam de maneira semelhante. Tudo parecia bom demais! Marianne estava "entregue a sua primeira paixão".

Talvez, eu não tenha comentado no primeiro post, mas a diferença de status social era diferente entre eles. Enquanto ela era uma mocinha com poucas posses e um dote "pobrinho"; ele vinha de uma linhagem nobre e blá blá blá... morava em um castelo e tudo mais. Ainda assim, quem visse os dois juntos, diria que o casamento era inevitável. Eu plagiarei a própria senhorita Austen com os "dizeres" de seu livro, Persuação:

Nunca houve dois corações mais abertos, nem gostos mais semelhantes, ou sentimentos mais em sintonia!
Não preciso dizer que Elinor reprovara toda essa efusão de sentimentos, pois nem conheciam o caráter de Willoughby de maneira suficiente para que ele fosse acolhido de forma tão calorosa pelas irmãs e a mãe. Ao ouvir esta opinião, Marianne exclamou de indignação:

Está enganada, Elinor - replicou Marianne com arrebatamento -, em pensar que conheço pouco a Willoughby. Não o conheço há muito tempo, é verdade, mas me entendo muito melhor com ele do que com qualquer outra criatura no mundo, com exceção de você e mamãe. Não é o tempo nem a ocasião que determina a intimidade, mas sim e apenas a disposição. Sete anos podem ser insuficientes para fazer algumas pessoas se entenderem, no entanto sete dias podem ser o bastante para outras.

Irremediavelmente apaixonada!

Então, o dia da revelação chegou.
Depois de algumas longas semanas que Willoughby deixou Barton Park e foi para Londres, Marianne tem a oportunidade de, também, ir à capital da Inglaterra passar o inverno na casa da senhora Jennings junto com sua irmã mais velha.
A felicidade transbordava no coração desta jovem apaixonada! Logo que chegou, escreveu para Willoughby.

Berkeley Street, janeiro.
Sei que ficará surpreso, Willoughby, ao receber esta carta e creio que irá sentir algo mais do que surpresa quando souber que me encontro na capital. A oportunidade de vir, proporcionada pela sra. Jennings, foi uma tentação à qual não pude resistir. Espero que receba esta a tempo de vir aqui esta noite, mas não confio nisto. Prefiro esperá-lo amanhã. Sem mais, adieu.
M. D.
   Porém, a brevidade que esperava em receber a visita do amado não aconteceu. Dias se passaram sem que J.W. retornasse a comunicação com a apaixonada Marianne.
E, como uma mulher cega de paixão, Marianne lhe deu todas as desculpas para a ausência prolongada: o tempo era ótimo para caça (e Willoughby adorava caçar), ora o tempo ruim para voltar da região de caça ... Tantas e tantas desculpas que é triste ler a ansiedade e a prévia tristeza no coração dela.

O encontro, finalmente, aconteceu. Da maneira que aconteceu não estava nos planos dela - e, arrisco escrever - que nem Willoughby esperava este encontro.

Ambos em uma mesma festa. Ele reconheceu Elinor não quis se aproximar. Demorou um pouco para Marianne descobrir a presença dele mas, quando tomou ciência dele naquele mesmo lugar que ela estava, seu coração transbordou de felicidade e, para desespero de Elinor, Marianne exalava alegria e imprudência.
Seja no filme de 1995 ou na minissérie de 2008, esta cena me causa "vergonha alheia". Pobre Marianne! Sua felicidade e satisfação em reencontrar Willoughby são desdenhadas pelo jovem. A moça quase desmaia nos braços da irmã e é levada a sentar em cadeiras próximas.

Logo após esta cena, as irmãs voltam para casa, as pressas, pois Marianne não está em condições psicológicas de permanecer na festa, mesmo tendo Willoughby se retirado antes dela. Aos prantos, ela escreve uma carta à ele.

Ansiosa por uma resposta que desmentisse todo o episódio daquela noite, Marianne esperava - e esta espera lhe era uma eterna tortura. E, quando a carta chegou, em nada aliviou o espírito da moça:


Bond Street, janeiro.

CARA MADAME

Acabo de ter a honra de receber sua carta, pela qual sou solicitado a prestar sinceros esclarecimentos. Fiquei muito preocupado por saber que houve alguma coisa em meu comportamento de ontem à noite que não mereceu sua aprovação. Apesar de me sentir incapaz de descobrir em que a ofendi tão infortunadamente, rogo-lhe seu perdão pelo que, posso afirmar, não foi absolutamente intencional. Eu jamais poderia pensar no meu relacionamento com a sua família, em Devonshire, sem sentir o maior prazer e me orgulharia se ele não fosse interrompido por algum engano ou má interpretação de minhas ações. Minha estima por sua família toda é muito sincera, mas se fui tão infeliz a ponto de dar a impressão de existir mais do que eu sinto, ou do que pretendi expressar, devo censurar-me por não ter sabido professar essa minha elevada estima da maneira correta. A senhorita irá compreender que seria impossível eu querer demonstrar mais do que a realidade quando souber que minha afeição acha-se comprometida há muito tempo com outra pessoa e não se passarão muitas semanas, acredito, até que este compromisso seja cumprido. É com grande tristeza que obedeço à ordem que me deu para que devolvesse as cartas que tive a honra de receber da senhorita e o cacho de seus cabelos, que tão gentilmente me confiou.

Eu sou, cara Madame, seu mais obediente e humilde Servo,
JOHN WILLOUGHBY.

Acreditem: Willoughby não é um mau caráter. Ele é fanfarrão. Adora gastar o dinheiro além do que pode arrecadar, por isso, estando à beira da falência, a matriarca da família de Allenham obriga o moçoilo a casar com uma mulher que possui uma fortuna de cinquenta mil libras. Adeus, Marianne.

Cinqüenta mil libras! Pelo que comentam por aí, esse dinheiro chega na hora certa, porque o sr. Willoughby está quebrado. Não é de admirar! Ele vive para cima e para baixo com seu coche e com caçadores! Bem, não é que eu queira falar, mas quando um homem jovem, seja ele quem for, demonstra amor a uma moça linda e lhe faz promessas de casamento, não tem o direito de fugir à palavra dada apenas porque nasceu pobre e uma moça rica está disposta a ficar com ele. 

Ele gostava de Marianne, não duvido. Os dias que passou ao lado da família Dashwood em Barton Park foram os mais felizes e sinceros que ele pode viver. Ele apreciava a companhia de Marianne, sua vivacidade e juventude. Ele poderia passar o dia inteiro em companhia das mulheres Dashwood, naquele chalé que pouca riqueza tinha, exceto por suas moradoras. Seus sentimentos foram verdadeiros, não há dúvida. E, Marianne sabia disso:
Mas ele sentiu a mesma coisa, Elinor! Sentiu, sim, durante semanas. Seja o que for que o tenha feito mudar (e nada a não ser a mais negra magia lançada contra mim poderia provocar isso), Willoughby me queria tanto quanto minha alma poderia desejar. Este cacho de cabelos, que tão depressa voltou-me às mãos, foi-me implorado entre as mais emocionantes súplicas. Se você tivesse visto o olhar dele, seu jeito; se tivesse ouvido sua voz naqueles momentos!

Culpando tudo e todos, às vezes a Willoughby, outras vezes culpando a senhora Jennings: parecia a ela que todos conspiravam contra sua felicidade ao lado do homem que escolheu amar..


Marianne, minha querida, eu sempre preferi o coronel Brandon! ;)



Omnia Vanitas.

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