Lendo Razão e Sensibilidade desde o segundo dia do mês de março, estou cada vez mais encantada com essas duas mulheres.
Já mencionei neste blog minha defesa à favor de Marianne Dashwood, agora, neste post eu quero declarar toda a minha admiração por Elinor Dashwood e a sua diplomacia.
Desde sábado, enquanto lia mais e mais, eu percebi que Elinor estava longe de ser um garota sem sal ou conformada. Elinor Dashwood é uma exímia diplomata. Ela não promove guerras ou discussões, mas promove a aquieção de ânimos exaltados e ações inadequadas ao momento.
No capítulo dezenove, ela se irrita com Edward Ferrars (seu amor). As atitudes dele com ela são incógnitas que Elinor não compreender. E, ao invés de procurar a autopiedade ou a condenação prévia à Edward. Lê-se:
Apesar de desapontada, aborrecida e às vezes desgostosa com o modo de agir instável que ele apresentava em relação a ela, sentia-se disposta a considerar o conjunto das atitudes de Edward com a cândida boa vontade e o generoso apreço que sua mãe demonstrara ter para com Willoughby, apesar desse cavalheiro ter feito com que ficasse triste e preocupada.
E, para que não pensem que Elinor era uma garota sem coração, a despedida de Edward não lhe deixou de ser sentida. Ela representa esse espírito moderno que não se permite abalar além do necessário. Elinor Dashwood jamais choraria suas mágoas em redes abertas de internet e páginas de relacionamento. Seus sentimentos lhe pertenciam e a ninguém – além daqueles que julgava necessário comunicar – declarava o estado que se encontrava sua alma. Este é o bom senso de Elinor. Assim que Edward partiu, ela reagiu de um forma muito moderna:
Elinor sentou-se a sua mesa de trabalho assim que Edward saiu do chalé e manteve-se ocupada o dia inteiro; não evitava ouvir ou falar no nome dele; mostrava-se mais interessada do que nunca nos problemas gerais da casa e da família. Se bem que não diminuísse seu sofrimento agindo dessa maneira, pelo menos evitava que sua mãe e as irmãs fossem inutilmente sobrecarregadas com mais uma preocupação provocada por ela.
Nada de comentários depressivos ou jargões românticos de baixo calão: Elinor prefere a privacidade.
Agora, permita-me, anônimo leitor, sair do capítulo dezenove e ir para o capítulo vinte e dois.
Neste capítulo, ainda amando o quieto, tímido e depressivo Edward Ferrars, Elinor conhece duas irmãs muito chatas! Sim, pelo amor de todas as coisas boas, as senhoritas Steele são duas garotas muito sem graça, ignorantes e hipócritas que se julgam “animadas”. Anne é o nome da mais velha e Lucy a mais nova. Entre as conversas que acontecem em Barton Park (ponto de encontro da pequena sociedade das mulheres Dashwood), Lucy descobre, através da tagarelice da senhora Jennings, que Elinor possui um admirador de sobrenome “Ferrars”. As antenas de vinil da jovem senhorita Steele se alarma e ela procura estar mais próxima de Elinor para “abrir seu coração” – garota sínica! E, neste capítulo em especial, a minha heroína descobre que a patética senhorita Lucy Steele está noiva de Edward Ferrars. Deixe-me descrever esta apática senhorita Steele nas palavras de Elinor:
Lucy era inteligente, esperta; em geral, seus comentários eram procedentes e divertidos. Tratava-se de uma companhia que Elinor considerava agradável por meia hora. Os dotes naturais de Lucy não haviam recebido o reforço de uma boa educação; ela era ignorante, iletrada e a deficiência de qualquer aperfeiçoamento mental, a falta de informação a respeito dos assuntos mais comuns, não podiam passar despercebidos da srta. Dashwood, a despeito da constante atitude da jovem Steele para demonstrar vantagens. Elinor percebia, e sentia pena dela por isso, o desperdício de habilidades que uma boa educação tornaria excelentes. Mas também via, com menos impulsos generosos, a falta de delicadeza, de retidão moral e de integridade de opiniões que era demonstrada pelas atenções, pela bajulação e dissimulação, enfim pelo modo que a moça agia o tempo todo que passava em Barton Park. E Elinor era incapaz de sentir satisfação na companhia de uma pessoa que unia absoluta dissimulação com ignorância, cuja falta de instrução impedia que conversassem em pé de igualdade e cuja conduta para com os outros demonstrava uma atenção e deferência que revelavam completa ausência de respeito por si mesma.
Elinor não é de ferro nem de pedra. Ficou abalada com a declaração da “amiga” e, conhecendo o caráter de Edward e de Lucy, conclui que seu amado estava em mãos lençóis. Mas, não se abateu mais do que necessário, pois precisava averiguar a veracidade da informação declarada por aquela barata morta da Lucy Steele. Deixou a garota falar tudo o que lhe convinha falar. Analisou suas frases, o olhar que lançada sobre ela [Elinor] após cada informação dada. Elinor, impassível, absorvia cada momento e sabia que Edward não poderia amar uma mulher como Lucy Steele. Ela, Elinor, era superior àquela que, nem de longe, poderia ser chamada de “rival”.
Mas era verídico, o estúpido Edward havia firmado noivado com Lucy Steele fazia quatro anos. E, no capítulo vinte e três, houve a revanche daquele encontro, pois Elinor não deixaria passar barato aquela situação.
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