Fim de outra leitura. Desta vez o escolhido foi meu querido Alexandre Dumas.
O título merece um pouco de atenção. O Filho do Forçado? Eu conheci este termo nas leituras que fiz de Cervantes e Dumas. É uma expressão quase corriqueira. "Forçado" é uma expressão para "Galé" e "Galeras". Isso designa uma punição para os fora-da-lei: estes eram obrigados a trabalhar em galeras, ou seja, como remadores em navios. Esse serviço era comumente chamado de "forçado". Logo, o filho do "Forçado" é o filho de um fora-da-lei, bandido, criminoso etc.
Essa edição que eu tenho foi publicada em treze de outubro de mil novecentos e trinta e sete. E, como mostra a imagem, tratava-se de uma revista chamada "A Novela". Segundo as propagandas que estão no exemplar, esta revista tinha publicações integrais ou por volume em seu conteúdo. No meu número além de "O Filho do Forçado" também há outras duas histórias: "Honolulu" do meu amado W. Somerset Maugham (que eu li em Histórias dos Mares do Sul) e "Falk" de Joseph Conrad (que não li).
O interessante nesta simpática revista é que há várias piadas em forma de charges durante a história - algumas vezes há ilustrações de meia página.
Outro fator interessante é que a impressão do texto está dividido: há duas colunas (estilo bíblia sagrada) em cada página. Eu achei isso muito ruim, mas deveria ser bom para os impressores, pois poupa folha na hora da publicação. Ah! A letra! Eita "miserê"! Pequeninha que só! Eu tinha quase uma hora para ler uma página com duas colunas (rs) - exagero meu!
E a história?
Millette, uma sonhadora moça, casou com Pierre Manas - um vagabundo de primeira. Logo após o casamento, o dedicado marido mostrou o caráter preguiçoso e mandrião que lhe caracterizava. Além de vagabundo, ele batia na pobre Millette - que aprendeu a suportar tudo calada. Após o casamento, o senhor Manas resolveu mudar-se com a infeliz esposa para Marselha - jurando à ela que nesta cidade poderia encontrar um emprego que lhe pagasse o justo que merecia. Claro que isso não aconteceu.
Outro personagem - que me arrancou muitos risos durante a leitura - foi o pitoresco e mercenário senhor Paul Coumbes. Este ignorante senhor não media esforços para realizar seus sonhos - quase todos quimeras. Comprou uma casa em um lugar onde só havia rochas e cascalhos. E, jurou para si que lá nasceria a melhor horta de toda a França. Pobre senhor Coumbes. O vento lhe varreu o sonho durante muitas estações.
Mas, antes do senhor Coumbes mudar-se para a tão sonhada cabana, ele conhece o casal Manas e seu pequeno filho, Marius.
É em Marius que toda a trama se enreda.
Na época que o casal Manas se separou, o protagonista estava na tenra idade e nada se lembrara do pai. A mãe, depois de ser acolhida como empregada/amante do mesquinho senhor Coumbes, tratou de fazer o filho ser agradecido ao seu patrão pela benevolência que este mostrou a ambos. O pobre Marius, rapaz honesto e trabalhador - tão oposto ao pai - cresceu achando que era filho do patrão/amante de sua mãe.
Com o passar do tempo, o senhor Coumbes adquiri, contra sua vontade, vizinhos. Este vizinho é um jovem abusado que passa às noites a atormentar a paz do primevo morador com bebedeiras, jogatinas e pregando peças ao vizinho exasperado.
A paz é promovida por Marius - que se dispõe a levar um recado para o vizinho. Mas, ao invés de encontrar Jean, o vizinho; encontra Madelleine, a irmã deste. Paixão a primeira vista, claro!
Toda a trama ficará rebuscada com a descoberta de Marius não ser filho do senhor Coumbes e, também com a volta de Pierre Manas.
E o que aprendi com essa leitura? Que quando você tenta ajudar uma pessoa, outra acaba em desgraça.
Marius tentou acobertar o pai - na tentativa de honrar o nome paterno que nada tinha de orgulho a dar à família - em detrimento ao sofrimento da pobre mãe.
Claro, que ao final, ele casa com a mocinha, sua condição hereditária é perdoada pelo irmão da moça e quase todos ficam felizes.
E o senhor Coumbes continua a ser o ganancioso e mesquinho ex-estivador.
Dumas é assim, ele desenvolve uma trama onde a honra e os princípios morais e religiosos são sempre o alicerce para as decisões de seus protagonistas - em algumas histórias. Em O Filho do Forçado ele não agiu diferente.
É uma história muito agradável para ler - e mesmo o senhor Coumbes dar aflições aos nervos pela sua mesquinharia - é possível dar algumas risadas as custas do ex-estivador sempre atrapalhado.
Omnia Vanitas.