26 de janeiro de 2016

Outono da Inocência..

Cena do filme "Conta Comigo"

Se você, velho leitor, cresceu nos anos 80 conhece muito bem a cena deste filme "Conta Comigo". 
Quatro amigos saem em uma "aventura": ver o corpo morto de um menino da idade deles, Ray Brower, 12 anos.

Durante esta excursão nada convencional, eles passam por situações que colocam o caráter de cada um em "check": a coragem, as frustrações, medos.. e o destino que o enigmático Chris (personagem de River Phoenix) traça para cada um de seus colegas é conclusivo. 

Durante a leitura, eu encontrei as frases clássicas que qualquer página de internet joga quando você digita o nome do filme/livro; porém, eu quero registrar a passagem que mais gostei - sinto muito se você a achará macabra, aventureiro leitor. Segue:
"Aquilo finalmente me fez cair na realidade. O menino estava morto. O menino não estava doente, o menino não estava dormindo. O menino não ia mais levantar de manhã nem levar bronca por ter comido maçãs demais ou por ter pego uma planta venenosa ou usado caneta que apaga na prova de matemática. O menino estava morto, mortinho. O menino não ia mais sair com os amigos para passear na primavera, mochila nas costas, catar coisas que a neve deixava descobertas quando derretia. O menino não ia acordar às duas da manhã de primeiro de novembro desse ano, correr para o banheiro e vomitar o doce barato do Dia das Bruxas. O menino não ia puxar a trança de uma menina na sala de aula. O menino não ia dar nem receber um soco no nariz que fizesse sangrar. O menino era não pode, não, não vai, nunca, não deve, não deveria, não poderia. Era o lado negativo da pilha. O fusível queimado. A cesta de lixo da mesa da professora, que sempre cheira a lápis apontado e cascas de laranja do lanche. A casa mal-assombrada no campo de janelas quebradas, aviso de NÃO ULTRAPASSE nos campos, o sótão cheio de morcegos, o porão cheio de ratos. O menino estava morto, senhores, senhoras, jovens e senhoritas. Eu podia ficar o dia inteiro sem conseguir precisar a distância entre seus pés descalços no chão e os tênis sujos pendurados no arbusto. Eram mais de metros infinitos, zilhões de anos-luz. O menino estava desligado dos tênis sem nenhuma esperança de reconciliação. Estava morto".
Talvez seja isso, apenas a eminência da morte - aquilo por que buscaram estava na frente deles: a morte, nua e crua na figura de um menino igual a eles. E, ao longo da leitura, durante as aventuras, talvez eu tenha esquecido de Ray Brower por algumas páginas porque eu estava curtindo a aventura. Mas no fim havia a morte, a eminente e temida morte.

Chris Chambers foi um daqueles personagens que custo a esquecer  pois ele consegue ver através de um véu que poucos se dão ao trabalho de olhar: a vida. Algumas coisas estão bem claras a nossa frente, mas deixamos de observá-las para curtir a viagem ou apenas porque não acreditamos em nós mesmos.

Eu adorei a leitura deste conto.

Omnia Vanitas.



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