11 de fevereiro de 2015

A Carta de Mr. Collins..



Para aqueles que conhecem um pouco da literatura de Jane Austen, não é novidade que seus clérigos sejam pessoas estúpidas. Estranho é pensar que o pai dela era um pastor anglicano e, mesmo assim, ela brincou muito com o caráter dos seus personagens eclesiásticos.

Mr. Collins é o clérigo em Orgulho e Preconceito. Ele representa uma das vergonhas de Elizabeth Bennet em relação a sua família. De forma trágica, para Elizabeth, ele foi o primeiro homem a lhe pedir em casamento: podre coitada. Claro, ela negou e depois fez troça da situação.

Porém, de todas as vergonhas que todo leitor sente ao conhecer este puxa-saco que é Mr. Collins, ontem, ao ler a carta que ele enviou à Mr. Bennet, pelo motivo da fuga da filha mais nova, Lidia; eu não pude deixar de dar razão a este personagem. Em sua missiva, o clérigo exprimiu, pelo menos assim senti ao ler, toda a indignação que o leitor sente quando se trata da educação leviana que o casal Bennet dispôs às suas filhas. Por mais que tenha sido uma verdade nua e crua (permeada com a idiotice que é característica do personagem), é a verdade em seu real sentido de como a indulgência paterna e materna guiaram suas filhas - salvo duas delas - à completa ignorância e estupidez. 

Segue a missiva do primo:

"Meu caro senhor: sinto-me obrigado pelo nosso parentesco e pela minha situação na vida a apresentar-lhe as minhas condolências pela grande aflição que agora está sofrendo e da qual fomos informados ontem por uma carta do Hertfordshire. Fique certo, meu caro senhor, de que Mrs. Collins e eu próprio nos solidarizamos sinceramente com o senhor e toda a sua res-peitável família no seu atual sofrimento, que deve ser dos mais agudos, porque provém de uma causa que, o tempo não pode remover. Para lhe aliviar tão grande infelicidade, não faltarão argumentos da minha parte. Desejo consolá-lo nesse transe, que deve ser, de todos, o mais duro para o coração de um pai. A morte da sua filha seria uma bênção em comparação com o que sucede agora. E isto ainda é de se lamentar quando sabemos que existem razões de supor, como a minha cara Charlotte me informou, que essa licenciosidade de conduta da parte de sua filha foi devida a uma excessiva e culposa indulgência; ao mesmo tempo, para o seu próprio consolo e o de Mrs. Bennet, estou inclinado a acreditar que as tendências da sua filha devem ser naturalmente perversas. Sem o que, ela jamais seria capaz de cometer tão grande crime com tão pouca idade. Seja como for, o senhor nos merece a maior compaixão, e nisto sou acompanhado não só por Mrs. Collins, como igualmente por Lady Catherine e sua filha, a quem contei a história e que são da mesma opinião. Elas concordam comigo quanto às apreensões que sinto, que este mau passo de uma das suas filhas será prejudicial para o futuro de todas as outras; na verdade, quem, como Lady Catherine pessoalmente condescende em dizer, quem quererá se relacionar com tal família? E esta consideração me conduz além disso a refletir com a maior satisfação num certo acontecimento do mês de novembro passado, pois de outro modo eu estaria envolvido em todas estas tristezas e desgraças. Permita que o aconselhe, pois, meu caro senhor, a se consolar a si próprio o mais que puder, a expulsar para sempre a sua filha indigna da sua afeição, e deixá-la colher os frutos do seu odioso crime. Seu, caro senhor, etc."

Omnia Vanitas.

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