16 de novembro de 2013

Vanitatum


Há coisas que não se explicam. Sentimentos muito menos. 

Estou em reforma em casa. Tudo fora do lugar. Cama na sala, sala em outro lugar. E, nesta loucura de mexer aqui e ali, compras são necessárias. Depois de passar o feriado, lixando, varrendo, pintando, subindo e descendo de escada, foi hora de colocar a lista de compras em prática. Focos, capas, telas - coisas necessárias para deixar tudo menos bagunçado. Lá fui eu rumo às compras. Mas eu não tenho culpa do que fiz. 

O amor e sentimentos adjacentes do amor são incontroláveis. Não há como explicar. 
Como uma pessoa adulta e responsável, fui até uma lotérica pagar minhas contas, sacar dinheiro, e por último procurar um presente para minha irmã - mas não achei. Fui até um botica de produtos comprar o que faltava em casa, atravessei a rua novamente e fui colocar a primeira parte das compras em dia. Comprei quase tudo, exceto aquilo que minha mãe havia pedido.
Estava em busca desta compra quando entrei em um estabelecimento que vende livros de segunda mão e comprei dois livros para minha mãe. Ela está sem estoque - o que não acontece comigo que estou com 68 livros na lista (infinita) de não livros. Comprei dois (para ela): - Pássaros Feridos (Colleen McCullough) - li na minha adolescência e adorei. O segundo é Almoço no Restaurante da Saudade (Anne Tyler). Confesso que achei o título brega, mas minha mãe curte leituras doces, portanto, tenho certeza que não errei na escolha.

Ainda na busca de compras para minha mãe, fui atrás do ela colocou na lista. Porém, antes, vejam só o que é o destino. Estava eu a passar na frente de outro estabelecimento que vende livros de segunda mão quando decidi, para surpresa de todos - creio, eu entrar. Entrei para SOMENTE olhar. Entrei porque o estabelecimento estava na direção que eu seguia. Só cheguei até a primeira sessão e vi alguns títulos que, provavelmente, comprarei para minha mãe no Natal.  Ainda a procurar, olhar e pensar "Putz! Quem lê isso?", meus olhos verdes (rs) deram com um livro na estante. Estavam lá: a trilogia de O Senhor do Anéis em três lindos exemplares e ele - a razão da minha ruína. Olhei, folheei e, ah! páginas em papel chamois! E o mapa!!!! Nossa! Um delírio! Olhei o preço. Pensei! Censurei-me por já possuir um exemplar! Coloquei-o novamente a prateleira e virei para ir embora. Praguejei contra mim mesmo, voltei, peguei o livro, olhei-o, pensei o quanto era lindo e seria bom tê-lo comigo. Olhei o custo da edição nova. Re-pensei e tentei ser sensata...SENSATA hahahaha como se houvesse sensatez em mim quando se trata de obras que eu amo! 
Condenei meu ato, peguei o livro e fui até o caixa e disse: - Crédito, por favor! 
Trouxe para casa a quinta edição de O Hobbit, com a capa do filme. Estava, a pouco, folheando a edição que tenho e pensei em vendê-la. Só que não! Ela precisa ficar comigo, pelo menos por enquanto. 

4 de novembro de 2013

Um ideia..Um sonho..Parte II


Há quem diga que os livros são artigos tão caros quanto comprar computadores, entretanto, tão necessários que precisam mesmo de uma forcinha na hora da compra e daí a criação do sebo ser uma boa alternativa para empreendimento. Por mais que digam que os livros estão caindo em desuso, ainda há pessoas que preferem folhear as obras e nichos do mercado relacionados a eles, como estudantes, ao menos por enquanto.
Apesar de o mercado andar meio abalado, a venda de livros ainda continua em alta. Houve tempos de crise, mas há compradores fiéis que buscam sempre produtos em papel e ainda os que são obrigados a usar o material para pesquisa. Neste caso, podem recorrer a um sebo.
É preciso saber que os empreendedores atuantes neste determinado seguimento precisam ter um perfil diferenciado. Geralmente, são pessoas que gostam de literatura e outras formas de cultura, possuindo certo conhecimento sobre o que oferecem aos clientes e precisam saber avaliar o que há em mãos. Além disso, os proprietários têm muita vontade de atuar neste segmento, trabalham com paixão.
O que é um sebo?
Sebos são lojas que vendem livros usados, mas podem também vender CDs, DVDs, revistas, gibis e outros produtos ligados à cultura, que não estão novos, mas não necessariamente em estado crítico. Alguns são vendidos ainda na capa por alguém que comprou e não usou e podem ser uma boa opção para conseguir livros por custos mais baixos.
O sebo é comum em algumas cidades. Em Recife, capital do estado de Pernambuco, por exemplo, existe mais de trinta lojas em um mesmo bairro que formam uma praça, conhecida como Praça do Sebo e bem popular pela quantidade de opções que há no mercado. Em outras cidades brasileiras há points de venda de livros usados de diversas categorias.
Eles podem vender livros recém lançados usados, mas também obras raras, por isso, tais espaços são bem procurados. Dá ainda para comercializar edições raras e já não mais a venda no mercado tradicional e por este motivo o local é bem quisto como ponto comercial para visita pelos amantes da leitura.
Há aqueles que preferem sempre visitar o sebo para posteriormente visitar as demais livrarias da cidade. Alguns deles são especializados apenas em obras raras e antigas, como revistas em sua primeira edição e demais itens que apenas colecionadores costumam comprar.
Clientes em potencial de um sebo
Na teoria, todo mundo pode ser cliente de um sebo, basta precisar comprar um livro. Entretanto, podemos ver em uma visita eventual que os sebos são lotados por pesquisadores, professores e acadêmicos, pois estes costumam recorrer não apenas a livros antigos que não são mais vendidos em livrarias, como também a procura de preços mais em conta, já que os usados são, às vezes, 50% mais baratos em relação aos vendidos em livrarias.
O sebo é uma boa alternativa também para jovens que estudam para o vestibular e precisam de mais livros que os indicados pelo colégio. Muitos concurseiros procuram os espaços, bem como professores e leitores de obras que querem economizar, uma vez que dá para encontrar livro semi novo ou até novo em tais lojas.
São clientes também de um sebo, as pessoas que precisam de um conhecimento específico, mas que nem sempre são encontrados nas grandes livrarias. O baixo custo de uma obra no sebo é o principal atraente de jovens e adultos, em sua maioria adultos que não se importam em ter um livro novo. Podem ainda ser seus clientes pais em busca de livros de segunda mão para estudantes que querem abdicar de livros novos no ano letivo.
Localização ideal para montar um sebo
A localização do sebo é um fator a ser muito considerado, assim como em toda a montagem de um empreendimento. O mais indicado é que seu negócio esteja próximo dos seus possíveis clientes, ou seja, próximo de escolas ou universidades ou ainda de feiras de final de semana e de locais de venda de artesanato.
Esteja próximo a pontos de ônibus, e se seu espaço for numa avenida movimentada é melhor ainda. Tente divulgar o sebo com a fachada da loja em letreiro claro e limpo e deixe livros à mostra para as pessoas entenderem que aquela é uma boa livraria e vale a pena ser visto.
Estrutura necessária para montar um sebo
Para montar um sebo é preciso ter ao menos um imóvel de 50 m², comprar os computadores e uma impressora para notas fiscais. Para a infraestrutura de comunicação é preciso ter telefone e internet e fax, apesar de este estar sendo cada vez menos usado.
O mais indicado é ter diversas gôndolas ou prateleiras para fazer a decoração interna de acordo com uma livraria, organizando os livros por temas ou áreas em prateleiras específicas. Ter um computador que contenha todas as informações das obras também é importante para deixar o processo de venda mais rápido e organizado, um catálogo virtual que deve ser feito quando o livro entra na livraria para ser vendido.
Uma dica na sua organização de estrutura é oferecer um espaço para que o cliente possa sentar e observar os livros escolhidos, verificando se as obras atendem as suas necessidades com mesa e cadeiras, como algumas grandes livrarias o fazem, ou simplesmente bancos nos corredores, se estes forem largos. Algumas vantagens como oferecer o pagamento com cartão de crédito e débito deixa o sebo mais interessante e atende um público maior de pessoas.
O grande problema dos sebos é quanto ao cheiro, uma vez que pode guardar livros usados por muitos anos sem serem procurados. Por isso, procure criar um bom sistema de ventilação e boas prateleiras visíveis que possam ser limpas com facilidade. Caso tenha mais de um livro na loja da mesma edição, monte um estoque e guarde os demais para serem repostos assim que as edições mais velhas forem vendidas.
Documentação necessária para montar um sebo
Para este empreendimento, que nada mais é que um simples ponto comercial, é preciso ter alvará de funcionamento compatível com seu seguimento comercial que deve ser conseguido junto à Prefeitura, registro na Junta Comercial e na Receita Federal para assim obter um CNPJ, cadastro na Secretaria de Estado da Fazenda, registro no sistema de conectividade social da Caixa Econômica Federal (para INSS e FGTS) e liberação dos bombeiros locais, com taxa anual a ser paga. O ideal é que se tenha a ajuda de um contador para ajudar no processo, por ser mais qualificado e já conhecer os órgãos.
Um ponto importante a ser verificado em um sebo é ligado à legislação. A venda de livros usados não está enquadrada da mesma forma como a comercialização de obras novas, o que significa que é considerada uma empresa comum que está sujeita à incidência de impostos.
Porém, se o item legislação não é dos melhores, o investimento com a estrutura é positivo. O local do sebo não requer muitas adaptações e reformas. O indicado é que ele seja organizado, mostrando aos clientes que eles estão sendo respeitados.
Funcionários de um sebo
Neste modelo de empreendimento é comum encontrar o dono do sebo trabalhando na loja, mas isso vai depender muito do tamanho do empreendimento e da quantidade de livros oferecidos, além do movimento na cidade. No entanto, se houver a necessidade de empregar mais funcionários, é indicado fazer um treinamento específico para que os empregados tenham conhecimento sobre o que vendem e possam atender aos clientes da melhor forma possível.
É mais do que necessário que estes vendedores consigam entender às necessidades dos clientes do sebo, que é de pagar pouco por uma informação preciosa.
Como comprar livros para um sebo
A maioria das lojas de sebo vende e compra livros usados ao mesmo espaço. Por isso, o ideal é que se conheça sobre as obras e assim se saiba negociar um bom valor ou simplesmente saiba que o livro é raro e saiba dar bons preços.
É preciso, portanto, que se saiba o preço do mercado, consiga oferecer um preço bom para o vendedor e consiga lucrar com a revenda, que deve ser abaixo do preço das livrarias. Exemplo: um livro custa R$100,00 em uma livraria tradicional. Pode-se comprar a edição usada avaliando seu estado de conservação, que quanto mais danificada mais barata é, por R$40,00, vender por R$70,00 e ainda estar abaixo do mercado tradicional de livros novos.
Capital inicial necessário para investimento em um sebo
Os custos para manter um sebo são consideráveis, mas compensam. Estima-se que para este modelo de novo negócio é preciso ter um capital inicial necessário em torno de R$15.000,00, estando incluídos gastos com estoque, montagem da loja, divulgação, documentos necessários e também funcionários. O retorno pode acontecer em menos de 36 meses ou um pouco mais, caso o sebo esteja em uma localização não privilegiada e conseguir uma boa clientela.

ESCLARECIMENTO: este é um post antigo que está na minha caixa de rascunho. Infelizmente, perdi a fonte dele.

14 de outubro de 2013

Leitura de Domingo



Desde que a minha lista de "Livros não Lidos" somou uma quantidade considerável (com aparência de um trabalho de Sísifo conseguir zerar a lista), eu decidi fazer leituras relâmpagos em algumas obras possíveis de aplicar esta teoria.

Faz tempo que eu não tirava um domingo para isso, portanto, neste domingo que passou, eu decidi que era hora de por em prática esta ideia. O livro escolhido foi "O Médico e o Monstro" de Robert Louis Stevenson.

Como não amar Stevenson?

A vida dele é uma maravilhosa história. Fadado a morrer ainda jovem por conta de um problema pulmonar, Stevenson fez várias viagens ao longo da vida à procura de lugares com temperaturas favoráveis a sua saúde. Quando não podia escrever em seu escritório, a cama era a solução. Ainda criança, em algumas crises que o acamaram, sua babá lhe fazia o favor de ler histórias folclóricas dentre outras.
Aos vinte e seis anos, decidiu casar com uma mulher fora dos padrões aceitos pelos pais - calvinistas fevorosos. Fanny era onze anos mais velha que Stevenson, abandonada por um marido e em processo de divórcio quando conheceu o escritor; era americana.
Contrariando a vontade dos pais, casou-se com Fanny e, entre outros lugares, foram morar em um lugar muito exótico: Samoa - onde viveram durante 6 anos.
Adendo: a obra "A Ilha do Tesouro" foi escrita para seu enteado de onze anos.

Em Samoa, Stevenson lutou contra a industrialização da cidade e, em consequência, uniu-se aos nativos e lutou pelos seus direitos.

Stevenson faleceu aos quarenta e quatro anos, não decorrente de sua doença pulmonar mas de hemorragia cerebral, depois de ir até a adega pegar um vinho para compartilhar com a esposa que redigia a história que ele lhe contava.

Sobre o livro que li, eu prefiro o título da obra em inglês "O Estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde". O título em PTBR é oposto àquilo que a história conta - pelo menos ao meu ver.

A história é narrada na Londres gótica de 18.. .Henry Jekyll é um conhecido e estimado médico de Londres que decidiu isolar duas partículas (do caráter) humanas. Em seu laboratório, Henry (às vezes, chamado de Harry) elaborou uma fórmula capaz de separar o lado bom e o lado mau do ser humano. E, como bom médico, decidiu aplicar em si a descoberta.
Apesar da trama toda ser muito bem elaborada, as considerações do capítulo dez é que tornam toda a aventura significativa.

Em sua experiência, Dr. Jekyll extraiu de si uma das duas partículas. Para seu deleite, a partícula que criou "vida própria" foi a má.
Uma das descrições feitas de Mr. Hyde é interessante:

Não é fácil descrevê-lo. No seu aspecto, há algo de estranho, algo de desagradável, de francamente detestável. Nunca vi um homem a quem considerasse tão antipático e, apesar disso, não sei bem explicar a razão da minha atitude. Deve possuir
alguma deformidade. Essa é a sensação que dá, embora não possa especificá-la com exatidão. É um homem de aparência extraordinária e, apesar disso, não podemos indicar nele nenhum sinal fora do normal. Não, senhor, não posso fazê-lo, não consigo descrevê-lo. E não é por um lapso de memória, porque neste preciso momento estou a recordar-me
perfeitamente dele.

Por mais que o cinema queira mostrar um MONSTRO, Mr. Hyde - o lado negro da força - é um homem de pequena estatura, sem expressões amistosas e uma vida agitada. Jekyll, em sua consideração, disse que, a princípio, divertiu-se muito com Mr. Hyde pois, ao contrário de Henry, não precisava manipular a si mesmo para ter uma vida satisfatória. Em Henry, a vida social era feita de limites sociais e psicológicos: precisava ponderar sobre o certo e errado; não possuía a "liberdade" de Hyde para viver.
Em Hyde, o proibido e a falta de escrúpulo era permitida; e melhor, a consciência de Mr. Hyde não atingia o nobre Henry Jekyll.

Mr. Hyde circulou por algum tempo dentro da sociedade de Henry Jekyll sem levantar suspeitas - visto que o próprio médico habilitou meios para que isso fosse permitido.

Porém, a fórmula começou a falhar e Jekyll já não tinha controle sobre Hyde. O último tomava a própria forma sem a permissão do médico e, como resultado, tornou a vida de Henry uma bagunça.

Fato curioso é que quanto mais Hyde vivia livre, sua estatura crescia.
Eu parto da opinião que Hyde tinha esse nanismo por não ser, dia a dia, moderado por Jekyll. Porém, a partir do momento que o médico não anula mais a sua força má, ela cresce e torna-se forte o suficiente para ter sua própria vontade.

Ok, o fim de Mr, Hyde eu não pretendo contar, mas recomendo a leitura desta maravilhosa obra do gênio Robert L. Stevenson.

23 de agosto de 2013

Ben Hascom..dois



Mais um momento "Ben Hanscom".


Levou seus livros para uma das mesas longe do Canto de Pooh, onde o Grande Bode Zangado estava dando uma dose dupla de trabalho ao gigante debaixo da ponte. Ben leu Carro envenenado por algum tempo, e decidiu que não era tão ruim. De maneira alguma. Era sobre um garoto, realmente um barato ao volante, mas havia aquele tira chato, sempre atrás dele, tentando fazê-lo ir devagar. Ben descobriu que não havia limite de velocidade no Iowa, onde se passava a história do livro. Isso era mesmo notável. Ergueu os olhos após ler três capítulos, e então reparou que havia um anúncio novo em folha. O pôster no alto (a biblioteca era um lugar muito adequado para posters, sem dúvida) mostrava um sorridente carteiro entregando uma carta a um sorridente garoto, TAMBÉM SE PODE ESCREVER EM BIBLIOTECAS, dizia o pôster, POR QUE NÃO ESCREVE HOJE PARA UM AMIGO? OS SORRISOS SÃO GARANTIDOS!

Abaixo do pôster havia fendas cheias de cartões-postais já selados, envelopes já selados e papel de cartas com um desenho mostrando a Biblioteca Pública de Derry na parte de cima, em tinta azul. Os envelopes já selados custavam um níquel cada, os cartões-postais três centavos. O papel de carta, com duas folhas, ficava por um penny. Ben apalpou o bolso. Os quatro centavos restantes do dinheiro ganho com as garrafas continuavam lá. Marcou o lugar em que interrompera a leitura de Carro envenenado e voltou à mesa da bibliotecária.
— Por favor, eu queria um daqueles cartões-postais.
— Claro, Ben.
Como sempre, a Sra. Starrett ficava encantada com sua séria polidez e algo penalizada com seu volume. Alguém devia dizer à mãe dele que o menino estava cavando a própria sepultura com um garfo e uma faca. Entregou-lhe o cartão e o viu voltar para seu lugar. Era uma mesa para seis pessoas, porém ele era o único a ocupá-la. A bibliotecária nunca vira Ben com nenhum dos outros garotos. Isso era muito ruim, porque ela acreditava que aquele garoto tinha tesouros sepultados dentro de si. Ele os revelaria a um explorador gentil e paciente... se acaso tal explorador um dia aparecesse.
Ben pegou sua esferográfica, fez a ponta baixar e escreveu o endereço no cartão:
Srta. Beverly Marsh, Rua Main, Setor de Baixo, Derry, Mai-ne, Zona postal 2.
Não sabia o número exato da casa dela, mas sua mãe lhe dissera que a maioria dos carteiros tinha uma noção bastante boa sobre a residência das pessoas, após terem feito entrega de correspondência por algum tempo. Se o carteiro designado para o Setor de Baixo da Rua Main pudesse entregar aquele cartão, seria ótimo. Caso contrário, seria o mesmo que jogar fora três centavos, porque a destinatária jamais veria a cor do cartão. Evidentemente, o cartão não seria devolvido a ele, porque Ben não tinha a menor intenção de colocar o nome e endereço do remetente.Levando o cartão com o endereço voltado para baixo (ele não queria arriscar-se, embora não tivesse visto ninguém que conhecesse), Ben apanhou algumas tiras quadradas de papel na caixa de madeira, junto ao fichário de cartões. Levou-as de volta à mesa e começou a escrever, riscar palavras e reescrevê-las.
Durante a última semana de aulas antes das provas, eles tinham estado lendo e escrevendo haicais, na classe de inglês. Haicais era o nome de uma forma de poesia japonesa, curta e disciplinada. Conforme havia dito a Sra. Douglas, um haicai só podia ter dezessete sílabas de comprimento — nem mais e nem menos. Em geral, era concentrado em uma clara imagem, relacionada a uma emoção específica: tristeza, alegria, saudade, felicidade... amor.
Ben ficara profundamente fascinado pelo conceito. Apreciava as aulas de inglês, embora sua satisfação geralmente diminuísse, à medida que ela prosseguia. Fazia os deveres, mas estes não costumavam ter muita coisa que lhe prendesse a atenção. No entanto, havia algo no conceito do haicai que lhe incendiara a imaginação. A idéia o deixava feliz, da mesma forma como a explicação da Sra. Starrett sobre o efeito de estufa
o fizera feliz. Ben sentia que o haicai era boa poesia, porque era uma poesia estruturada. Não havia regras secretas. Dezessete sílabas, uma imagem unida a uma emoção, e pronto.
Bingo! Era uma poesia clara, utilitária e continha em si tudo quanto sua própria regra determinava. Ele até gostava da palavra, um jato de ar deslizando interrompido, como que sobre uma linha pontilhada, a sílaba “cai” soando bem no fundo da boca: haicai.
Os cabelos dela, pensou, e a viu descendo a escada da escola novamente, com a cabeleira oscilando sobre os ombros. O sol não apenas se refletia naquelas madeixas, como parecia queimá-las por dentro.
Escrevendo cuidadosamente por um período de vinte minutos (com uma interrupção para apanhar mais tiras de rascunho), eliminando as palavras muito compridas, modificando e suprimindo, Ben conseguiu isto:
Your hair is winter fire,
January embers.
My heart burns there, too.
(Seu cabelo é fogo do inverno, / Brasas de janeiro. / Meu coração também se queima nele. - N.da T.)

Ben Hanscom



Ontem, enquanto eu fazia um lanche na padaria, li este trecho de "A Coisa" (Stephen King) e achei muito fofo! Primeiro, desde a apresentação dos personagens, escolhi Ben Hanscom como meu favorito! Segundo, esta descrição da biblioteca é maravilhosa. E, ver uma criança circular com prazer, como Ben, por ela é encantador. Infelizmente, a vida de Ben não fora tão linda e criativa quanto suas passagens pela biblioteca; mas, ainda sim, me encantou. Estou no início da leitura, mas desejo toda a sorte para este personagem tão querido e meigo!

Ben adorava a biblioteca.
Gostava da permanente frescura ali dentro, mesmo nos dias mais acalorados de um prolongado e quente verão; gostava da quietude murmu-rante, rompida apenas por ocasionais sussurros, pelo ruído surdo de um bibliotecário carimbando livros e cartões ou pelo folhear das páginas que eram viradas na Sala dos Jornais, onde se reuniam homens
de idade para ler jornais pregados a compridas hastes de madeira. Gostava da qualidade da luz que se infiltrava à tarde pelas altas janelas estreitas ou brilhava suave em poças preguiçosas, atiradas no inverno pelos globos pendurados em correntes, enquanto o vento uivava lá fora. Gostava do cheiro dos livros — um cheiro condimentado, vagamente fabuloso. Às vezes caminhava por entre as prateleiras de livros destinados aos adultos, olhando para os milhares de volumes e imaginando um mundo de vidas no interior de cada um, da maneira como às vezes caminhava ao longo de sua rua, no crepúsculo ardente e enfumaçado de uma tarde em fins de outubro, com o sol apenas uma linha acre e alaranjada no horizonte, enquanto ia imaginando as vidas que pululavam atrás de todas as janelas — pessoas rindo, discutindo, arranjando flores, alimentando crianças ou animais de estimação, ou suas próprias faces, enquanto viam televisão. Bem gostava da maneira como o corredor envidraçado ligando o prédio velho à Biblioteca Infantil era sempre quente, mesmo no inverno, a menos que tivesse havido uns dois dias nublados; a Sra. Starrett, bibliotecária-chefe do setor infantil, lhe contara que isso era causado por algo que tinha o nome de “efeito de estufa”. Ben ficara encantado com a idéia. Anos mais tarde ele construiria o ardorosamente debatido centro de comunicações da BBC, em Londres; os debates poderiam durar mil anos e, ainda assim, ninguém saberia (exceto o próprio Ben) que, afinal, o centro de comunicações nada mais era senão o corredor envidraçado da Biblioteca Pública de Derry.

18 de agosto de 2013

Suspeita ...


Suspeito que minha gata, Brenda, queira me matar.
Ela nunca gostou de mim - mesmo que eu nunca tenha feito nada à ela. Se ela está deitada na sala e eu chegar, ela sai. Assim é em qualquer parte da casa. Assim foi desde que eu a encontrei em uma construção e a trouxe para morar conosco.

Porém, há duas semanas, ela mudou de comportamento.
Se estou deitada, lendo, a Brenda quer deitar na minha barriga (fica melhor se eu estiver com meu cobertor azul). Se estou no computador, ela faz questão de subir na escrivaninha e depois deitar nas minhas pernas. Permite que eu lhe faça carinhos e procura por meu afago.
Neste momento, ela está deitada na minha cama - situação muito rara.

Existem momentos em que ela foge - como é normal da sua estirpe, creio que seja quando a consciência dela não quer cometer o crime e tenta se afastar da ideia maligna de pôr o crime em prática. Mas acredito que sejam raros esses momentos. Então, talvez, um dia, enquanto eu estiver distraída, ela pule na minha jugular e dê cabo a minha vida. Pois, sinceramente, não sei se ela está, realmente, simpatizando comigo.

13 de agosto de 2013

a dama dO Colar de Veludo..



Seja "A Dama do Colar de Veludo" ou "O Colar de Veludo", a história é a mesma. A minha publicação é de 1942 e é intitulada "A Dama ...".

Este livro possui duas partes distintas: a primeira tem a participação do próprio Dumas - inserido em seu meio social. Este contexto é um prelúdio de "A Dama..". Nesta parte, Dumas mostrará quem são seus amigos e de onde "surgiu" a narração - que é a segunda parte.

O contexto histórico está inserido na Revolução Francesa, logo depois da morte do rei Luiz e seus partidários. Quando já não havia mais ninguém para levar à guilhotina, os cidadãos parisienses escolhiam o que mais lhe apraziam para continuar a farra.

Antes de chegar à Paris, Hoffmann, o protagonista, mora na Alemanha com um amigo Zacarias Werner - ambos saíram do conforto do lar para viverem a vida como lhes convinha. Adoravam apostar. Ganharam dinheiro suficiente para fazer a desejada viagem à Cidade Luz, porém, Hoffmann apaixona-se por Antônia, a quem promete fidelidade e abandonar o vício do jogo enquanto estivesse em viagem.

Promessas quebradas.

Werner parte antes de Hoffmann e, quando o amigo chega à Paris, descobre que não possui o endereço de Zacarias. Logo no primeiro dia, o protagonista presencia a execução por guilhotina da amante do rei Luiz e fica chocado. Tamanho impacto, Hoffmann não consegue mais concentrar-se em nada, pois a brutalidade e os gritos de agonia da vítima tomam sua alma.

Hoffmann, então, tenta distrair-se com os pontos turísticos da cidade, mas chega em má hora. Paris está passando por revista e tudo o que lembra o antigo governo é dizimado pelos habitantes, agora, chamados de "cidadão e cidadã". Ruas têm seus nomes trocados, palácios e museus são destruídos na esperança de apagar da mente dos franceses o que a administração anterior havia construído e que lhes lembrava a opressão imposta aos "cidadãos".

A última esperança para o jovem Hoffmann é ir ao teatro. Lá acontece uma apresentação de balé. E, nesta apresentação que ele ironizou primeiramente, encontra a mais bela e sedutoras das mulheres - Arsène, a bailarina principal. Ela torna-se a fixação do jovem, que luta contra o sentimento por lembrar de sua noiva, Antônia - porém, Arsène é a vencedora.

Um médico, de aspecto sinistro (que durante muito tempo eu achei que era o imaginário de Hoffmann que havia o criado), chama o jovem para retratar - visto que Hoffmann é músico, poeta e pintor - Arsène. Êxtase sublime! Pintar a mulher desejada, que não se comparava a Antônia, mas a mistificação que havia ao redor dela, e claro, do colar de veludo que ela usava em seu pescoço.

A primeira promessa é quebrada. Eles não se entregam ao sexo, mas Hoffmann verte desejo pela bailarina que o ignora bruscamente. Claro, ela seria pintada nua, porém, quando o amante dela chega, Hoffmann é banido do aposento e jogado à rua.

Suspeitando que o coração de Arsène é conquistado pela fortuna do amante, Hoffmann quebra a segunda promessa: ele foi até a casa de jogos encontrar Werner - frequentador assíduo do local. Depois de perder as economias que lhe sobravam, penhora o colar que ganhara de Antônia para continuar no jogo. Ganha quase uma fortuna e vai procurar Arsène.

Nesse ponto percebe-se, mais uma vez, a loucura do poeta. Mas, se eu passar deste ponto, estarei contando o final do livro, que é muito bom!


Dumas é maravilhoso! A trama é sempre bem criada e conceituada, rica em detalhes e, principalmente, em história. Os personagens históricos inseridos no enredo são familiares à época de Dumas, o que, sem dúvida, trará uma dificuldade na compreensão da cena lida  Porém, querido leitor, não se assuste e abandone a leitura - busque informações! Esse tipo de situação não me aflige mais ao ler Dumas, porém, este livro trouxe algo que é completamente desconhecido por mim: música. Notas, tons, melodias...tudo isso é confuso e longe do meu vão conhecimento. Mas a trama estende-se para diante dessa parte e entra em um campo um pouco menos complicado. 

Espero que eu tenha instigado o gosto desta leitura em alguém.

Omnia Vanitas.

5 de julho de 2013

Essa mulher..


"Essa mulher não vive com o celular grudado ao ouvido e nem carrega o notebook para cima e para baixo como se estivesse duelando com o tempo. Essa mulher não tem idade definida e também não precisa malhar em academia para ter corpo escultural. Não lembra em nada uma mulher estressada. Fica longe da neurose para ostentar cabelo maravilhoso e pele sedosa. Não possui carro importado nem passaporte cheio de carimbo.
Não precisa circular em festas sofisticadas nem tem a imagem estampada quase todos os dias nas colunas sociais de jornal e TV. Aliás, ela chama a atenção apenas com o seu jeito elegante de caminhar no final da tarde, sentindo o vento no rosto. É educada quando recebe flores, emociona-se ao ouvir boa música ou quando lê um texto consistente.
Essa mulher é carinhosa com as crianças e com os animais. É dispensada de mestrado ou doutorado em alguma coisa. O poder de convencimento dessa mulher não tem nada a ver com a retórica. É exercido apenas com o olhar suave e o lindo sorriso a elogiar para os amigos a ousadia do seu amado na cozinha. 
Essa mulher não está apenas na minha imaginação. Ela é real, presente e resume os principais sentimentos nobres que brotam da natureza generosa de quem é fonte de luz. É sábia nas decisões e simples quando define soluções. Tem um sorriso para cada questionamento íntimo. Mas, acima de tudo, sabe que o silêncio tem o peso da verdade. Se contrariada, pratica a compreensão e faz a vida parecer fácil de viver.
A generosidade dessa mulher é a sua principal característica, a marca registrada, todos os dias, desde o amanhecer. Sabe desejar um bom dia sonolento com a cabeça ainda no travesseiro. Beija com os braços entrelaçados no pescoço de quem ama. Faz silêncio e se manifesta na hora certa. Gosta de dançar uma música romântica ao ritmo das batidas dos corações. É carinhosa, companheira, cúmplice e permite ser amada. Mas, acima de tudo, é movida pela paixão".
Texto de Léo Saballa para o jornal Notícias do Dia, em 05/07/2013.

Fiquei feliz quando li o texto do Saballa. Pensei com meus botões: os homens também "viajam" ao imaginar que exista uma mulher "perfeita". Queridos, essa mulher não existe - a não ser em uma imaginação fértil. Possuímos algumas das características descritas pelo escritor, mas não somos completas e santas. Algumas possuem um gênio mais apurado (presente!) e não conseguem equilibrar todos os sentidos para agradar o seu amado (pai, mãe, irmãs, amigos...). Somos falhas! Não esperem de nós a beatitude fantasiosa. 

Porém, é possível ser uma excelente companheira quando, ao lado, há um homem que possua um caráter que seja análogo ao desta mulher. Não somos "superpoderosas"! Conseguimos "carregar" um mundo em nossas costas, se possível, mas gostamos de compartilhar nossos dissabores e alegrias com um homem que seja tão equilibrado como nós. Diferenças que unem = essa é minha visão de casal; onde eu falho, preciso de amparo. Vice e versa. 

Obrigada, Léo Saballa, mas a responsabilidade não é somente nossa!

29 de junho de 2013

O Herege ...


"O nome dele era Thomas. Às vezes, Thomas de Hookton. Outras vezes era Thomas, o Bastardo, e, se quisesse ser muito formal, podia chamar-se Thomas Vexille, embora raramente fizesse isso. Os Vexille eram uma família nobre gascã e Thomas de Hookton era filho ilegítimo de um Vexille fugitivo, que não o deixara nem nobre nem Vexille. E, sem dúvida alguma, nem gascão. Ele era um arqueiro inglês.
Thomas atraía olhares enquanto caminhava pelo acampamento. Ele era alto. Cabelos pretos apareciam sob a borda do elmo de ferro. Era jovem, mas seu rosto fora curtido pela guerra. Tinha faces cavadas, vigilantes olhos pretos e um nariz comprido que fora quebrado numa briga e posto no lugar de forma errada. A cota de malha perdera o brilho devido a viagens, e debaixo dela usava uma jaqueta de couro, calções pretos e bota de montaria de cano longo, sem esporas. Uma espada embainhada em couro preto pendia de seu flanco direito, um embornal estava pendurado nas costas e uma sacola branca de flechas no quadril direito. Ele mancava muito de leve, sugerindo que devia ter sido ferido em combate, embora na verdade a contusão tivesse sido provocada por um religioso, em nome de Deus. As cicatrizes daquela tortura estavam escondidas agora, exceto quanto ao dano às mãos, que tinham ficado tortas e encaroçadas, mas ele ainda podia disparar um arco. Ele tinha 23 anos e era um matador". (página 22/3)

Minha paixão por Thomas só sabe aumentar! rs. Comecei a ler O Herege, ontem.

22 de junho de 2013

Tristão e Isolda..


"Mas não era vinho: era paixão, era a cruel alegria e a angústia sem fim, era a morte"
(página 42)

Domingo, eu fiz a leitura relâmpago de "Tristão e Isolda: A Lenda Medieval Celta de Amor".

Durante a leitura, algumas referências literárias chamaram minha atenção pela semelhança em si. Cito-as, agora:

- a história de Jonas e sua aventura ao mar, relatado conforme a Bíblia Sagrada:
Mas o SENHOR mandou ao mar um grande vento, e fez-se no mar uma forte tempestade, e o navio estava a ponto de quebrar-se. Então temeram os marinheiros, e clamavam cada um ao seu deus, e lançaram ao mar as cargas, que estavam no navio, para o aliviarem do seu peso; Jonas, porém, desceu ao porão do navio, e, tendo-se deitado, dormia um profundo sono. E o mestre do navio chegou-se a ele, e disse-lhe: Que tens, dorminhoco? Levanta-te, clama ao teu Deus; talvez assim ele se lembre de nós para que não pereçamos.
E diziam cada um ao seu companheiro: Vinde, e lancemos sortes, para que saibamos por que causa nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas.
Jonas 1:4-7
E disseram-lhe: Que te faremos nós, para que o mar se nos acalme? Porque o mar ia se tornando cada vez mais tempestuoso.
E ele lhes disse: Levantai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se vos aquietará; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade.
Entretanto, os homens remavam, para fazer voltar o navio à terra, mas não podiam, porquanto o mar se ia embravecendo cada vez mais contra eles.
Então clamaram ao SENHOR, e disseram: Ah, SENHOR! Nós te rogamos, que não pereçamos por causa da alma deste homem, e que não ponhas sobre nós o sangue inocente; porque tu, SENHOR, fizeste como te aprouve.
E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria.
Jonas 1:11-15

Esta parte bíblica fica explícita nesta mesma superstição existente durante o rapto contra Tristão:
Mas é comprovada verdade (e sabem-na todos os marinheiros) que o mar sustenta de má vontade as naves traidoras e não dá ajuda a raptos e felonias. Dessa forma, levantou-se furioso o oceano, envolveu o navio de trevas, e por oito dias e oito noites o lançou ao léu. Por fim, os marinheiros perceberam, através da bruma, uma costa cercada de arrecifes e rochedos, onde o mar os queria jogar. Arrependeram-se, reconhecendo que a fúria do mar provinha de levarem a criança roubada, e fizeram promessa de a libertar, preparando um barquinho para a depositar em terra. Logo os ventos sossegaram, bem como as ondas, o céu brilhou, e, enquanto a nau dos noruegueses desaparecia ao longe, as ondas mansas e alegres levaram à areia da praia o barquinho de Tristão (página 17).

- em "Tristão e Isolda", o rei Marcos, tio de Tristão, quando sofria de tristeza, seu sobrinho tocava harpa para trazer tranquilidade ao rei. Semelhantemente, na Bíblia Sagrada, é conhecida a história entre Saul e Davi. Saul sofria de um "mau espírito" e, para acalmá-lo, seus súditos buscaram o melhor harpista de Belém: Davi, o jovem pastor de ovelha, filho de Jessé.

O Espírito do Senhor se retirou de Saul, e um espírito maligno, vindo da parte do Senhor, o atormentava. Os funcionários de Saul lhe disseram: "Há um espírito maligno mandado por Deus te atormentando. Que nosso soberano mande estes seus servos procurar um homem que saiba tocar a harpa. Quando o espírito maligno se apoderar de ti, o homem tocará a harpa e tu te sentirás melhor".
E Saul respondeu aos que o serviam: "Encontrem alguém que toque bem e o tragam até aqui". Um dos funcionários respondeu: "Conheço um dos filhos de Jessé, de Belém, que sabe tocar harpa. É um guerreiro valente, sabe falar bem, tem boa aparência e o Senhor está com ele". Então Saul mandou mensageiros a Jessé com a seguinte mensagem: "Envie-me seu filho Davi, que cuida das ovelhas". Jessé apanhou um jumento e o carregou de pães, uma vasilha de couro cheia de vinho e um cabrito e o enviou a Saul por meio de Davi, seu filho. Davi foi apresentar-se a Saul e passou a trabalhar para ele. Saul gostou muito dele, e Davi tornou-se seu escudeiro. Então Saul enviou a seguinte mensagem a Jessé: "Deixe que Davi continue trabalhando para mim, pois estou satisfeito com ele". E sempre que o espírito mandado por Deus se apoderava de Saul, Davi apanhava sua harpa e tocava. Então Saul sentia alívio e melhorava, e o espírito maligno o deixava. 1 Samuel 16:14-23

Em "Tristão e isolda":
Tristão acompanhava Marcos nas audiências ou caçadas, e à noite, como dormia na câmara real, entre os íntimos do rei, se este estava triste, tocava a harpa, para tranquilizar seu coração. (página 19)

Na página 23 e seguintes, a maioria das cenas de Morholt, habitante da Irlanda, inspira a referência de Golias, desde a descrição de seu tamanho "um gigante cavaleiro", quanto a ousadia e afronta perante ao reino de Marcos. Eis o ultraje de Morholt perante o país da Cornualha:

Entretanto, e eu excetuo somente a vós, Rei Marcos, como convém, se algum dos vossos barões quiser provar por duelo que o rei da Irlanda não tem razão, cobrando tal tributo, aceitarei o desafio. Qual dentre vós, senhores, quer se bater em duelo pela libertação desta terra?
Olharam-se os barões, entre si, os olhos baixos, curvando em seguida a cabeça. "Observa", dizia um consigo mesmo, "a estatura do Morholt da Irlanda: ele é mais forte que quatro homens robustos. Olha a espada: ignoras que sua espada por sortilégio faz voar a cabeça dos mais audazes campeões, desde que, há tantos anos, é enviado pelo rei da Irlanda aos seus desafios, pelas terras vassalas? Estás procurando a morte? Por que tentas a Deus?" (página 24).

E, da forma que Golias desafiou os israelitas no campo de batalha, Davi se surpreendeu com a covardia do seu povo e pediu licença à Saul para lutar com o gigante. Davi era jovem demais para a guerra, sua presença se dava naquele campo por levar alimento aos seus irmãos. Ouvindo as vergonhas proclamadas por Golias ao seu povo, o jovem pastor se alista para enfrentá-lo. Com Tristão, sucede semelhança cena:

Então, prosternando-se aos joelhos do rei, disse Tristão:
- Senhor rei, se vos apraz concederdes a mil tal honra, bater-me-ei em duelo.
Inutilmente tentou o Rei Marcos dissuadi-lo da empresa. Parecia-lhe muito jovem o cavalheiro; de que lhe serviria a ousadia? (página 25)

A batalha de Tristão:

Os barões choravam de pena do belo jovem corajoso e de vergonha por si mesmos. "Ah, Tristão", diziam, "ousado barão, bela mocidade, por que não empreendo eu, em vez de vós, tal batalha? Minha morte traria menos dor a esta terra!".
Os sinos tocaram, e todos os da baronia e os do povo, velhos, crianças, mulheres, orando e chorando, escoltaram Tristão até a praia. Eles ainda esperavam que algo acontecesse, pois de poucos recursos vive a esperança no coração dos homens.
Tristão subiu sozinho em uma barca e navegou para a Ilha de Saint-Samson. No mastro da sua barca, o Morholt içara uma rica vela de púrpura e, antes do outro, chegou à ilha. Já amarrava a barca na praia, quando Tristão, tocando a terra por sua vez, afastou a embarcação para o mar.
- Que fazes? - disse Morholt. - Porque não prendes tua barca a uma amarra?
- Para quê? - respondeu Tristão. - Só um de nós voltará vivo daqui: não lhe bastará apenas uma barca?
E os dois, foram para o duelo, incitando-se por palavras ultrajantes, penetrando na ilha.
Ninguém viu a luta, mas, por três vezes, o vento do mar trouxe, à terra firme, um clamor furioso. Então, em sinal de luto, as mulheres batiam palmas em coro, os companheiros do Morholt riam, agrupados à parte, diante de suas tendas. Enfim, a certa hora viu-se, ao longe a vela de púrpura; a barca do irlandês saía da ilha e a voz do desespero retumbou: "O Morholt! o Morholt!" Mas como a barca crescesse, aproximando-se, viram todos de repente, no cimo de uma vaga, de pé, à proa, um cavaleiro de cujo punho brandia uma espada. Era Tristão! (página 25 e 26).

A descrição bíblica para esta cena, é:

Um guerreiro chamado Golias, que era de Gate, veio do acampamento filisteu. Tinha dois metros e noventa centímetros de altura. Ele usava um capacete de bronze e vestia uma couraça de escamas de bronze que pesava sessenta quilos; nas pernas usava caneleiras de bronze e tinha um dardo de bronze pendurado nas costas. A haste de sua lança era parecida com uma lançadeira de tecelão, e sua ponta de ferro pesava sete quilos e duzentos gramas. Seu escudeiro ia à frente dele. Golias parou e gritou às tropas de Israel: "Por que vocês estão se posicionando para a batalha? Não sou eu um filisteu, e vocês os servos de Saul? Escolham um homem para lutar comigo.
Se ele puder lutar e matar-me, nós seremos seus escravos; todavia, se eu o vencer e o matar, vocês serão nossos escravos e nos servirão". E acrescentou: "Eu desafio hoje as tropas de Israel! Mandem-me um homem para lutar sozinho comigo".Ao ouvirem as palavras do filisteu, Saul e todos os israelitas ficaram atônitos e apavorados.
1 Samuel 17:4-11

E,..
Davi disse a Saul: "Ninguém deve ficar com o coração abatido por causa desse filisteu; teu servo irá e lutará com ele". Respondeu Saul: "Você não tem condições de lutar contra este filisteu; você é apenas um rapaz, e ele é um guerreiro desde a mocidade".
Davi, entretanto, disse a Saul: "Teu servo toma conta das ovelhas de seu pai. Quando aparece um leão ou um urso e leva uma ovelha do rebanho, eu vou atrás dele, atinjo-o com golpes e livro a ovelha de sua boca. Quando se vira contra mim, eu o pego pela juba, atinjo-o com golpes até matá-lo. Teu servo é capaz de matar tanto um leão quanto um urso; esse filisteu incircunciso será como um deles, pois desafiou os exércitos do Deus vivo. O Senhor que me livrou das garras do leão e das garras do urso me livrará das mãos desse filisteu". Diante disso Saul disse a Davi: "Vá, e que o Senhor esteja com você".
Então Saul vestiu Davi com sua própria túnica. Colocou-lhe uma armadura e um capacete de bronze na cabeça. Davi prendeu sua espada sobre a túnica e tentou andar, pois não estava acostumado àquilo. E disse a Saul: "Não consigo andar com isto, pois não estou acostumado". Assim tirou tudo aquilo, e em seguida pegou seu cajado, escolheu no riacho cinco pedras lisas, colocou-as na bolsa, isto é, no seu alforje de pastor e, com sua atiradeira na mão, aproximou-se do filisteu. Enquanto isso, o filisteu, com seu escudeiro à frente, vinha se aproximando de Davi. Olhou para Davi com desprezo, viu que era só um rapaz, ruivo e de boa aparência, e fez pouco caso dele. E disse a Davi: "Por acaso sou um cão para que você venha contra mim com pedaços de pau? "E o filisteu amaldiçoou Davi invocando seus deuses, e disse: "Venha aqui, e darei sua carne às aves do céu e aos animais do campo!"
E Davi disse ao filisteu: "Você vem contra mim com espada, com lança e com dardo, mas eu vou contra você em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem você desafiou. Hoje mesmo o Senhor o entregará nas minhas mãos, e eu o matarei e cortarei a sua cabeça. Hoje mesmo darei os cadáveres do exército filisteu às aves do céu e aos animais selvagens, e toda a terra saberá que há Deus em Israel.Todos que estão aqui saberão que não é por espada ou por lança que o Senhor concede vitória; pois a batalha é do Senhor, e ele entregará todos vocês em nossas mãos".
Quando o filisteu começou a vir na direção de Davi, este correu depressa na direção da linha de batalha para enfrentá-lo. Retirando uma pedra de seu alforje ele a arremessou com a atiradeira e atingiu o filisteu na testa, de tal modo que ela ficou encravada, e ele caiu com o rosto no chão. Assim Davi venceu o filisteu com uma atiradeira e uma pedra; sem espada na mão ele derrubou o filisteu e o matou. 1 Samuel 17:32-50

Ok, essas foram as visões similares que encontrei.

Mas, e a história? A leitura abrange um amor impossível, iniciado por uma bebida tomada por descuido; bebida esta que serviria para tornar a vida da bela Isolda feliz - pois era contra sua vontade que se uniria ao rei da Cornualha.
A bebida parece estar presente em romances tipicamente trágicos. Lembremos de "Romeu e Julieta" de Shakespeare. Ambos os levam à morte; porém, em "Tristão e Isolda" a bebida é a responsável por haver amor entre os protagonistas. Na obra de Shakespeare é o que promove a morte em si. Na lenda medieval, a existência de duas almas amantes que precisam se separar pelas conveniências sociais, torna a vida de ambos em um sepulcro aberto.
Eles tentaram viver separados, porém, definhavam com a ausência mútua. Admiro a obstinação em tentar viver separados para não magoar quem, para Tristão, deveria ser o único a usufruir do amor de Isolda: o rei Marcos.

Uma das marcas deste amor, também, é a imprudência. Como dois corações apaixonados podem ser precitado quando perto do amante!

A despeito do rei e dos vigias, os amantes gozaram sua felicidade e seus amores.
Aquela noite alucinou os amantes; quando a vontade quer, todos os perigos são desprezados (...) (página 94).

Este amor celta é muito racional. Ele não menospreza o outro, contrário, busca o bem-estar e a companhia do outro. Porém, este sentimentalismo exacerbado existente em "Romeu e Julieta" não é visto neste romance. Pode haver, talvez, vez ou outra, uma vaga presença deste tipo de "amor" - mas, em sua maioria, a história não se preocupa em apresentar este estilo de afeição.
Porém, ambos são amores puros. Mesmo casado com outra (também, chamada pela alcunha de "Isolda"), Tristão não manteve relações sexuais com ela. Manteve-se, até a morte, fiel a sua única e amada Isolda. Porém, Isolda não pode manter a mesma fidelidade sexual por estar casada com o rei Marcos, logo, precisou comparecer à sua "função" em alguns momentos.

Como em Romeu e Julieta, ambos morrem. E tal como a obra de Shakespeare, eles morrem juntos, porém, em tempos diferentes.
Em Shakespeare, Romeu encontra sua amada "morta" e decide morrer com ela. Depois, ela acorda, e morre, desta vez de verdade, com ele. Se não é assim, é por aí (riso).
Em "Tristão e Isolda", a esposa do cavalheiro se vinga de seu marido por nunca lhe haver amado e desejado como a primeira Isolda. Ao ver o barco do irmão se aproximar com a vela branca - significando que a amante do marido estava na nave), disse o contrário, que a vela era a negra - simbolizando a ausência da primeira Isolda.
De desgosto, Tristão se entrega à morte. Isolda, a esposa, se desespera e arrepende-se do mal feito. Porém, não se retrocede a morte. Morto estava o marido. A Isolda, amante, chega ao quarto e, percebendo seu amor morto, com ele morre.


Bom, acho que era isso o que tinha a dizer.
Gostei muito da leitura, e a recomendo.

Omnia Vanitas.

13 de junho de 2013

Lar doce Lar..


Estou em casa e, enquanto estava lavando a louça, eu conversava com minha mãe sobre uma ideia. Foi assim:

Se eu tivesse minha própria casa, teria uma árvore na frente dela. Em volta desta árvore haveria alguns bancos.

Na frente desta árvore, uma pequena sala iluminada, um sofá e uma mesa serviriam de mobília. Nos dias de verão, na mesa, haveria suco natural, gelado para servir quem desejasse se refrescar com ele. Nos dias de inverno, uma térmica com chá/café fresquinho para aquecer.

Nesta sala, as paredes seriam ornadas com a mais bela literatura. Livros disponíveis para empréstimo e troca sem custo algum. Leitores de todas as idades seriam bem-vindos para desfrutar do acervo gratuito. 

Seria somente uma sala com um mundo inteiro dentro dela.

Eu deixaria essa sala aberta todos os dias para poder atender o máximo de pessoas possíveis. Eu não interferiria - somente deixaria disponível um canto charmoso e inteligente de leitura. 

Essa seria a minha contribuição para tornar o planeta Terra um lugar mais elegante: com pessoas bonitas por dentro e por fora, capazes de pensar por si próprias e mudar, para melhor, este lar tão mal cuidado.



11 de junho de 2013

A Milha Verde..



Eu estava lendo essa reportagem na página do  Imagens Históricas  e, logo no início da leitura, lembrei de um livro de um escritor que gosto, Stephen King, A Milha Verde, ou "A Espera de Um Milagre".

Leia com atenção, anônimo leitor, e veja se a história não se assemelha com o assassinato que acontece no livro que foi e causa a prisão do gigante John Coffey (igual ao café mas sem um "e").

Além disso, a história real choca por seu racismo, que me lembrou outro livro: "Tempo de Matar" de John Grisham; a história fictícia absolve dois homens brancos pelo estupro e tortura de uma menina de 8 anos, negra. A pai da menina, que sobreviveu - porém, o trauma é latente -, foi até o tribunal e, na saída dos dois homens brancos, arranca uma arma da mão de um dos policiais e assassina os dois estupradores. E, então, a história começa, levando em consideração pontos como: a pena de morte e o racismo.

Ok, chega de "bla bla bla". Lá vai a história real:



 George Junius Stinney Jr. foi, aos 14 anos, a pessoa mais jovem a ser executada nos Estados Unidos, em 1944.
Entretanto, o processo judicial que levou à sua execução ainda permanece controverso. Stinney foi preso por suspeita de assassinar duas meninas, Betty June Binnicker, de 11 anos, e Maria Emma Thames, de 8 anos, na Carolina do Sul, em 23 de março de 1944. Ambas desapareceram quando andavam de bicicleta à procura de flores. Ao passarem pela casa Stinney, eles perguntaram ao jovem George Stinney e à sua irmã, Katherine, se eles sabiam onde encontrar "flores-da-paixão". Quando as meninas não retornaram, grupos de busca foram organizados, com centenas de voluntários. Os corpos das meninas foram encontrados na manhã seguinte em uma vala cheia de água lamacenta. Ambas sofreram ferimentos graves na cabeça.
Stinney foi preso algumas horas depois e foi interrogado por vários oficiais em uma sala trancada com nenhuma testemunha além dos oficiais. Após uma hora, foi anunciado que Stinney havia confessado o crime. De acordo com a confissão, Stinney tentou abusar sexualmente de Betty enquanto ela catava flores com a irmã mais nova. Após perder a paciência com a menor que tentava proteger a irmã, ele acabou por matar as duas com uma barra de ferro e atirou os corpos em um buraco lamacento. De acordo com os policias, Stinney aparentemente tinha sido bem sucedido em matar ambas ao mesmo tempo, causando trauma contuso em suas cabeças, quebrando os crânios de cada uma em pelo menos 4 pedaços. No dia seguinte, Stinney foi acusado de assassinato em primeiro grau. O pai de Stinney foi demitido de seu emprego na serraria local.
O julgamento ocorreu em 24 de abril no tribunal do condado de Clarendon. Após a seleção do júri, o julgamento começou, às 12h30 e terminou às 05:30. Depois de apenas 10 minutos de deliberação, o júri, que foi composto inteiramente de homens brancos, deu um veredicto de culpado.
Sob as leis da Carolina do Sul, todas as pessoas com idade superior a 14 anos eram tratados como um adulto. Stinney foi condenado à morte na cadeira elétrica.
A execução foi marcada para ser realizada na Prisão Estadual de Carolina do Sul, em Columbia , em 16 junho de 1944 , menos de três meses após o crime. Às 19:30, Stinney caminhou até a câmara de execução com a Bíblia debaixo do braço.
Mais tarde verificou-se que a barra com a qual as duas meninas foram mortas, pesava mais de vinte libras (9,07 kgs). Stinney foi decretado incapaz de levantar esse peso, e muito menos ser capaz de bater forte o suficiente para matar as duas.

10 de junho de 2013

A Ilha do Tesouro..



"Você não acredita nos homens?" - pergunta Trelawney 
 "Eu não conheço os homens" - responde o Capitão


No último sábado, eu assisti a adaptação para televisão de "A Ilha de Tesouro" de Robert Louis Stevenson. Adorei! A fotografia foi ótima! Colocaram um suspense e uma pitada de terror que deixou esta história Infanto-Junvenil perfeita!

Entre todos os personagens - alguns "recriados", como a sagaz avareza de Sir Trelawney - personagem de Rupet-Penry Jones - o que mais chamou minha atenção foi a atuação do ator que interpretou o jovem Jim Hawkins, Toby Regbo. Ele conseguiu passar uma inocência e audácia ao seu personagem que eu adorei! O sorriso dele, quando John Silver ou o Trelawney o interpelam é muito rico em significado!
Outra cena que adorei foi a cantoria dos piratas durante a execução do trabalho!
Esta é a letra da canção dos marinheiros/piratas, entoada por Long John Silver - que para mim é uma figura muito interessante, pois joga, constantemente, para os dois lados do barco. Ele parece ter uma conduta pirata em meio ao caos que ele mesmo instala. Tanto que o final dele, no livro, é tão fascinante quanto o personagem. Ok, fica agora a letra que custou-me tempo para encontrar na web.

O link abaico é para o trecho do filme que Silver comanda a cantoria:

I dreamed a dream the other night
Lowlands, lowlands away my John
I dreamed a dream the other night
Lowlands, my lowlands away.
2. My love came in all dressed in white
Lowlands, lowlands away my John
My love came in all dressed in white
Lowlands, my lowlands away.
3. No sound she made, no word she said
Lowlands, lowlands away my John
No sound she made, no word she said
Lowlands, my lowlands away.
4. Twas then I knew my love was dead
Lowlands, lowlands away my John
Twas then I knew my love was dead
Lowlands, my lowlands away.

Algumas curiosidades sobre esta obra de Stevenson são interessantes e significam muito na construção da ideia de "pirata" e "tesouro" que temos hoje. Ele foi o primeiro - ou o mais notório - a descrever um pirata com a perna de pau e papagaio nos ombros. Também com Stevenson "nasceu" a ideia de colocar um "X" para indicar no mapa o local onde o tesouro estaria enterrado.

Os links abaixo são sobre minha primeira leitura na época: as Jolly Rogers (bandeiras de Piratas).
Preciso buscar mais informações sobre Stevenson e sua obra, mas por hora, é isso.


Observação dois: este link  leva até o filme em si, dublado (bleck!). Aproveitem enquanto ele dura na rede! ;)

Omnia Vanitas!

Elogios à Heathcliff



Na primeira vez que li "O Morro dos Ventos Uivantes" (MVU) eu detestei Heathcliff!
Este ano eu fiz a segunda leitura. Quanta diferença!

Ninguém conhece Heathcliff. Ele, simplesmente, é apresentado para sua nova "família" e pronto. Não há antecedentes - somente o que o patriarca dos Earnshaw diz sobre ele. Ele é somente Heathcliff: nome e sobrenome definidos por essa alcunha.

É muito fácil julgar o protagonista pelos atos dele na trama. Ele odeia tudo o que está a sua volta. Faz sofrer todos que compartilham sua companhia; é avarento e cruel.
Porém, uma pessoa, somente uma pessoa é senhora absoluta no coração deste homem atroz, ela se chama Catarina Earnshaw.
Catarina foi companheira de infância de Heathcliff desde a sua chegada a O Morro dos Ventos Uivantes.

Uma curiosidade que eu notei no nome do lugar é que é uma localidade de aparente sofrimento e dores (alternando, pouquíssimas vezes, com narrativas felizes); porém, não há ar mais puro e saudável para a recuperação dos males do corpo do que no alto desta colina. É uma situação, ao meu ver, antagônica.

Voltando à Catarina, ela é o grande amor de Heathcliff. Todos à volta dele o tratam mal e com brutalidade; Catarina, não. Ela é sua companheira de aventuras e brincadeiras, sua companhia nas aulas de ensino religioso e na educação comum.Ela era sua flor selvagem.

Esse companherismo é abalado quando a protagonista declara que seu amor por Heathcliff não poderá ser levado adiante. Em seu pensamento, ela imagina que poderá ajudá-lo a tornar-se alguém importante, casando-se com outro homem - seu vizinho e futuro inimigo declarado de Heathcliff, Edgar Linton.

Sem mais expectativas, Heatchcliff foge de casa e retorna três anos depois, quando Catarina, há um ano, assinava como Catarina Linton.
Este é um outro período enigmático deste personagem: onde esteve durante estes três anos de ausência? Como conseguiu a fortuna que trouxe consigo? Onde foi ensinado a ter postura, educação e modos de um homem civilizado - para ser aceito em sociedade? O mistério sobre Heathcliff somente aumentou.

O amor dele por Cathy nunca mudou. Ele sempre a amou e o sentimento foi recíproco. Porém, entre eles, havia a convenção da sociedade e um histórico de brutalidade e indiferença de todos os membros da "família" Earnshaw - que nunca aceitou o bastardo introduzido em seu seio.

Eu não condeno Heathcliff pelos seus atos. Eles representam, exatamente, o que lhe foi ensinado no ambiente que foi adotado. Porém, ele tinha traços, em sua juventude, de carisma e boa educação, mas estes foram destruídos por todo o rancor e ódio que lhe eram imputados.

Heathcliff é, em curtas palavras, fruto do seu meio. Eu não aceito seus atos, mas não posso condená-lo por não tentar fazer diferente.

Estas são as impressões dos personagens sobre essa figura tão enigmática e pouco compreendida:

O que diz a mulher que o ama quando ouve que sua cunhada está "apaixonada" pelo cabra:

Diga-lhe o que Heathcliff é: uma criatura incorrigível, sem refinamento, sem cultura; um matagal de urze e pedra dura. Antes queria pôr aquele canarinho no parque, num dia de inverno, do que lhe recomendar que nutrisse qualquer sentimento por ele! Só uma deplorável ignorância do caráter de Heathcliff é que lhe pode meter esse sonho na cabeça. Por favor, não imagine que ele esconde um fundo de benevolência e afeto sob uma aparência severa! Ele não é um diamante bruto, uma ostra contendo, no seu interior, uma pérola. . . é um homem feroz e impiedoso. Eu nunca lhe digo: "Deixe este ou aquele inimigo em paz, porque seria pouco generoso ou cruel cau¬sar-lhe mal"; digo: "Deixe-o em paz, porque eu não quero vê-lo prejudicado"; ele a esmagaria como a um ovo de pardal, Isabella, se achasse a sua presença inconveniente. Sei que ele não seria capaz de amar uma Linton. No entanto, seria bem capaz de casar-se com você por causa da sua fortuna! A avareza está crescendo dentro dele, tornando-se um verdadeiro pecado. Acredite no que lhe digo; e eu sou amiga dele... a tal ponto que, se ele tivesse pensado, seriamente, em casar com você, eu talvez tivesse ficado calada e permitido que você caísse na armadilha.

O que diz a empregada sobre ele:

Ele é uma ave de mau agouro, não é marido para a senhorita. A Sra. Linton não usou meios termos, mas eu não posso contra-dizê-la. Ela o conhece melhor do que eu ou qualquer outra pessoa, e nunca o pintaria pior do que ele é. As pessoas honestas não escondem o que fazem. Como é que ele viveu, durante estes três anos? Como ficou rico? Por que está hospedado no Morro dos Ventos Uivantes, na casa de um homem que ele detesta? Dizem que o Sr. Earnshaw está cada vez pior desde que ele chegou. Ficam toda a noite jogando, e Hindley hipotecou as suas terras e não faz outra coisa senão jogar e beber. Faz uma semana, encontrei Joseph em Gimmerton, e ele me disse: "Nelly, lá em casa está mesmo um antro de perdição. Tem um que qualquer dia vai ter de cortar os dedos para poder pagar as dívidas. É o patrão, você sabe, que não pára de se afundar no jogo. Nunca teve medo do Juízo Final, nem seguiu os exemplos de Paulo, nem de Pedro, nem de João, nem de Mateus, nem de ninguém! Parece que está desejando se ver nas chamas do inferno! E o nosso velho Heathcliff parece mais um diabo! Ele não diz nada da boa vida que leva, quando vai lá na granja? É mais ou menos assim: levanta-se quando o sol se deita, e é dado, brandy, gelosia fechada e luz de vela até o meio-dia do dia seguinte. Depois sobe para o quarto dele, praguejando e gritando tanto que as pessoas decentes têm de tampar os ouvidos de vergonha; e ele conta o dinheiro que ganhou, come, dorme e vai embora pra casa do vizinho, para visitar a esposa dele. Será que ele conta pra Dona Catherine como o dinheiro do pai dela está passando para o bolso dele e como o irmão galopa para a perdição, com ele abrindo as porteiras?" Ora, Srta. Linton, Joseph pode ser tudo, mas não é mentiroso; e, se o que ele diz da conduta de Heathcliff for verdade, quem o desejaria para marido?

O que a moça pensou depois do casamento (sim, ela casou com ele):

O Sr. Heathcliff é um homem? Se é, estará louco? Se não, será um demônio? Não lhe direi as minhas razões para lhe fazer essas perguntas, mas peço-lhe que me explique, se puder, com quem me casei:

Heathcliff por Heathcliff:

Nelly, você se recorda de mim com a idade dele. . . não, alguns anos mais moço. Alguma vez eu pareci tão estúpido, tão "burro", como diz Joseph?
— Pior, até — respondi —, porque era mais recalcado.
— Sinto prazer em vê-lo (Hareton) — continuou ele, como se pensasse em voz alta. — Satisfez as minhas expectativas. Se tivesse nascido idiota, eu não gostaria tanto. Mas ele não é idiota e compreendo bem os seus sentimentos, pois já foram os meus. Sei o que ele está sofrendo agora, por exemplo: e sei que é apenas o começo do que há de sofrer; e que ele nunca será capaz de emergir da sua crosta de rudeza e ignorância. Consegui mantê-lo mais dependente do que o canalha do pai dele me mantinha, e mais inferiorizado, pois ele se orgulha da sua animalidade. Ensinei-o a desprezar tudo quanto não é animalesco como coisas bobas e fracas. Não acha que Hindley ficaria orgu-lhoso do filho se o pudesse ver? Quase tão orgulhoso quanto eu estou do meu. Mas há uma diferença: um é ouro empregado para revestir o chão, o outro é latão lustrado a fim de parecer prata. O meu não tem por onde se possa pegar nele, mas eu hei de ter o mérito de esporeá-lo até onde ele possa ir. O dele tinha qualidades de primeira, que se perderam: embotei-as completamente. Eu nada tenho a lastimar; ele teria muito. E o melhor da festa é que Hareton gosta tanto de mim! Você há de convir que nisso eu ganhei de Hindley. Se o patife se erguesse do túmulo para me censurar pelos prejuízos causados ao filho, eu teria o divertimento de ver o filho voltar-se contra ele, indignado por ousar atacar o seu único amigo neste mundo!
Heathcliff soltou uma risada diabólica ao pensar naquilo.


Apesar destas declarações, ele é um homem que ama:

— Você mostra, agora, como tem sido cruel!... cruel e falsa. Por que me desprezou? Por que traiu o seu cora¬ção, Cathy? Não tenho uma única palavra de consolo. Você merece isto. Você matou-se a si mesma. Sim, pode beijar-me e chorar; pode espremer os meus beijos e as minhas lágrimas, que eles a queimarão... a danarão. Vo¬cê me amava. . . então, que direito tinha você de me aban¬donar? Que direito, responda-me! Em troca do capricho que sentia por Linton? Porque nem miséria, nem degrada¬ção, nem morte, nem nada do que Deus ou Satã poderiam infligir-nos poderia separar-nos... só você, pela sua pró¬pria vontade. Eu não lhe parti o coração. . . você é que o partiu; e, ao parti-lo, partiu também o meu. Tanto pior para mim que sou forte. Se eu quero continuar vivendo? Que espécie de vida vai ser a minha quando você. . . oh, meus Deus! Você gostaria de continuar a viver, com a sua alma na sepultura?

Termino, aqui, este post em defesa do selvagem Heathcliff! Leitura recomendável!

Omnia Vanitas.



7 de junho de 2013

A tal da Virgindade..




Estava lendo algumas reportagens na internet, especificamente, na Globo.com. Eu não assisto, com afinco, as novelas. Acho que a última foi "Lado a Lado", porém, sem uma assiduidade marcada.
Bom, a nova novela das vinte de uma, na Rede Globo, chama-se "Amor à Vida". Esses dias, vi uma chamada no site desta novela, algo relacionado à virgindade de uma das personagens. A personagem se chama Perséfone (na mitologia ela casou com Hades, forçada porém, diz a lenda, que ela acabou aceitando-o como marido depois que Deméter -seu pai- quis resgatá-la).
Ela é uma enfermeira, beirando os 40 anos, que ainda não teve relação sexual com nenhum homem. Ao que parece, ela anseia por isso, mas possui "requisitos" - ou os possuía - para que se entregasse ao ato sexual.

O que me deixou indignada é como é tratada a virgindade de Perséfone:

Para quem vem acompanhando as peripécias de Perséfone (Fabiana Karla) para resolver o seu maior problema, a virgindade, aí vai uma pérola: todos já sabem que a enfermeira está atrás de Daniel (Rodrigo Andrade) para que ele a ajude com isso e parece que o fisioterapeuta está disposto a resolver tudo, isso depois de ela dizer que tem um montão de cerveja para ele no apê dela!
Oi? Desde quando "virgindade" é problema? Que cultura é essa que impõe à alguém a necessidade de se envolver sexualmente com outra pessoa para que seja tratada como "normal"?

Eu fui virgem até os meus 24 anos. E nunca vi problema nenhum em ser virgem! Eu achava até divertido "escandalizar" algumas pessoas com essa situação. Eu brincava com minha irmã número 5, dizendo que eu iria bater o recorde dela (que não teve relação sexual até 20 anos). Claro que há o desejo, o libido que, por vezes, parece gritar à plenos pulmões; porém, na minha criação - e não a condeno - eu fui levada por princípios que fizeram com que eu me relacionasse somente nessa idade. E, sem querer frustar meu parceiro, eu poderia ter esperado mais um tempo até ter a primeira relação. Minha visão mudou muito desde aquele dia até hoje.
Atualmente, é tão comum ver adolescentes se relacionando sexualmente, com naturalidade. Algo semelhante à: "um mês namorando, então DEVEMOS transar". Sexo vai além do contato físico. A falta de preparo psicológico para lidar com essa situação é grande. Quantos adolescentes ficam pais e, como consequência, poucos conseguem educar seus filhos com a dignidade necessária: alimentação diária de qualidade, moradia, saúde, escolaridade etc. São pais precoces que não estão preparados para essa função. Os adultos, atualmente, não estão, imaginem, então, os mais jovens e inexperientes.

Podem me chamar de careta e retrógrada, fiquem à vontade, mas, para mim, sexo vai muito além de um simples contato de pele. Há sentimentos envolvidos. São poucos os que possuem discernimento para sair de um relacionamento sem mágoas. Pouquíssimos. O problema não está no sexo, está em relacionar-se com o outro. Sexo é a melhor parte, concordo, mas não é o que garante bons frutos na relação.
Pense comigo, porque se entregar à alguém que não irá respeitar-lhe, cuidar e amar-lhe. Não, eu não li Jane Austen excessivamente. Porém, eu acredito que minha liberdade está em não escolher fazer sexo com outra pessoa porque meus princípios me guiam para isso.
Que liberdade opressora é essa que quer me obrigar a transar para ser "livre"!! Que ditadura é essa que me diz que eu preciso ter vários parceiros para ser vista como "livre"!! De onde tiraram esse absurdo??
Eu quero ser respeitada como mulher, mas não é por isso que vou me relacionar sexualmente a torto e a direito. Quem disse que só poderei ganhar respeito desta forma?
Sou cristã, livre para escolher as minhas atitudes. Eu sigo à Cristo - ninguém me impôs isso, eu escolhi aceitar o sacrifício vicário de Jesus. Eu vivo mediante essa fé. Podem me achar carola, medíocre, ignorante, o que for. São vocês, não sou eu que pensa isso sobre mim. Tenho formação acadêmica, leitura suficiente e fé para discernir o que é bom ou não para mim. Não venham com aquele papo tolo que todo crente é burro!
Sou mulher para escolher se quero ou não ter relação sexual. Assumo minhas atitudes, quer gostem ou não.  Aceito o sacrifício que cada escolha traz.

Omnia Vanitas.


O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...