30 de julho de 2015

A Escada ..


Aqui estou eu, curtindo uma visita à Abadia de Northanger com Catherine Morland quando, por acaso, me lembrei de um fato na minha época de criança que instigava a minha curiosidade (e do meu irmão também).

Meus pais são descendentes de alemães. Meus bisavós vieram da Alemanha e se instalaram por essas terras. Infelizmente, tive pouquíssimo contato com meus avós e, algum contato, até certa idade, com minhas tias e tios.

Dois tios se destacaram na minha infância e adolescência (ambos irmãos do meu pai): Tio Willy e Tia Olga.
O tio morava em um sítio. Uma maravilha de lugar. Plantações de arroz, milho, córregos em todos os cantos, um poço no meio do terreno, pão caseiro feito em forno de barro ... Tirando os gansos, tudo era ótimo naquele sítio: a criação de gado, porcos, galinhas, patos, marrecos ...e gansos. 

A tia mora "na cidade". Um jardim pequeno, uma varanda aconchegante com um balanço, um banco fixo, flores em um pequeno canteiro. Casa estilo enxaimel.
A cozinha, com o seu fogão à lenha, feito de tijolos, fica perto da perto que leva ao quintal, onde há a plantação de hortaliças, verduras, legumes etc..
Uma janela no canto esquerdo, a porta principal (que sai para rua) e uma porta que leva dentro de casa: onde ficam os quartos, a sala de estar, a sala principal e um banheiro. E, até hoje, ela conserva os móveis antigos. É muito linda a casa da minha tia Olga.
Mas, ainda na cozinha, havia algo que nos fascinava (à mim e ao meu irmão): a escada que vai em direção ao sótão.
Até hoje, não sei porque, escadas me fascinam. Mas somente aquelas que levam à um sótão ou à um porão. A minha tia tem uma escada que leva ao sótão.

Chegávamos na casa dela, meu pai, meu irmão e eu. Cumprimentávamos minha tia e meu tio com beijos e abraços tímidos e, então, meu pai sentava na cozinha com eles e se punha a conversar. Para meu irmão e eu, restava somente ouvir a conversa dos adultos. Minha tia não tem filhos da nossa idade, então, nada de brincar com os primos - pois eles já estavam crescidos e morando longe. 
Enquanto meu pai sentava em uma cadeira, "as crianças" sentavam nos primeiros degraus da escada. E só podia sentar nos primeiros degraus. Nada de ficar subindo até o sótão.

E, enquanto os adultos conversavam, nós, de maneira distraída, sentávamos um degrau acima. Mas, sempre ouvíamos a reprimenda de um deles, dizendo: "Voltem aqui para baixo!".

Certa vez, que glória foi esse dia, conseguimos ficar somente por cinco degraus de distância do fim da escadaria. Quase-quase! ... Então, uma voz adulta nos chamou de volta e, claro, voltamos com carinhas de anjo e nos sentamos nos primeiros degraus da escada.

Eu ainda não sei o que há naquele sótão. E, realmente, talvez eu não queira conhecer aquele lugar. Atualmente, visito pouco minha tia Olga (sempre que vou, estou na companhia do meu pai). Certa vez, ela mostrou algo muito mágico para mim: a banheira de imersão que ela tem no piso principal. Linda! Azul clara, como a primeira banheira que me banhei (aos 13 anos). E, sorridente, minha tia comentou - depois de notar meu entusiasmo: "Se sua tia sentar nessa banheira, ela não levanta mais". Minha  tia é uma senhora de 85 anos.

Não sei que mistérios guardam aquele sótão; e não quero perguntar à minha tia pois, meu instinto de sobrinha diz que, são lembranças de histórias tristes.

Fico com a magia do não descoberto, da fantasia e do mistério do sótão da casa da tia Olga.

Omnia Vanitas.

28 de julho de 2015

Mais uma Escolha..



Desde o mês de Fevereiro, eu venho lendo as seis obras (completas) publicadas de Jane Austen: Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade, Persuasão, Emma, Mansfield Park...e, agora, em Julho, a leitura é do livro A Abadia de Northanger.
E, durante esse período de releituras, eu pouco precisei escolher sobre o que ler, pois, tudo o que englobava a senhorita Austen eu li: Juvenília (Charlotte Brontë e Jane Austen); Orgulho e Preconceito e Zumbis (Jane Austen e Seth Grahame-Smith)e a releitura da paródia Cinquenta Tons do Sr. Darcy (Emma Thomas).

Agora, pouco mais de setenta páginas (que tenho certeza que termino essa semana) do final de A Abadia de Northanger, eu me vejo na dúvida: o que ler depois?

Pensei na sugestão do Skoob: A Ilha do Dia Anterior (Umberto Eco). Eu amei ler O Cemitério de Praga deste italiano, mas ... estou com saudade de ler Alexandre Dumas.. A dúvida nunca termina. Sem contar que Dostoièvsky está na lista com duas obras que ganhei no Natal: Irmãos Karamázov e Niétotchka Niezvânova.

Olha..não é fácil essa vida de leitor! Que angústia!


.
.
.
Meu deus, lembrei de Stephen King e Maugham...aaaff!! 

24 de julho de 2015

Folguinha ..

Hoje o dia está mais calmo aqui no trabalho; então, eu resolvi postar o primeiro capítulo de A Abadia de Northanger para você, desocupado leitor. Deixo aqui o link para a primeira postagem sobre esta leitura, caso lhe interesse, também.
Abraços fraternais.. (rs)

Omnia Vanitas.



Capítulo I


Quem tivesse visto Catarina Morland em criança, nunca poderia supor que nascera para heroína. A sua situação na vida, o carácter do pai e da mãe, a sua própria pessoa e temperamento, tudo parecia contra ela. O pai era padre; mas como nunca se mostrara desmazelado ou pobre, todos o respeitavam, embora se chamasse Ricardo e nunca tivesse sido bonito.
Possuía considerável independência que lhe vinha de duas boas freguesias. Nunca tivera por costume cercear a liberdade das filhas. A mãe era uma mulher de senso prático, de bom génio, e, o mais importante, de boa constituição física. Quando Catarina nasceu já ela tinha três filhos; em vez de morrer ao dar à luz o último, como qualquer pessoa esperaria, continuou a viver. Viveu para ter mais seis filhos, para os ver crescer à sua volta e gozar de excelente saúde.
Uma família de dez filhos será sempre considerada uma bela família, porque há cabeças, braços e pernas em número suficiente para a distinguir. Porém com os Morlands não se dava isso, porque, em geral, eram muito feios e Catarina durante muito tempo da sua vida fora tão feia como todos eles.
Era magra e malfeita, tinha a pele macilenta e pálida, o cabelo escuro e liso e as feições acentuadas de mais para a idade. O seu espírito não se inclinava para o heroísmo.
Gostava de todos os jogos de rapazes e preferia o cricket, não só às bonecas mas a todos os divertimentos próprios da infância - tratar de um arganaz, dar de comer a um canário ou regar uma roseira. Na verdade não tínha gosto pelo jardim e se colhia algumas flores era apenas pelo prazer de as estragar - pelo menos assim se deduzia do facto de preferir sempre as que lhe proibiam mexer.
Estas eram as suas inclinações; as suas habilidades igualmente extraordinárias. Nunca fora capaz de aprender ou compreender qualquer coisa a não ser ao fim de muito tempo; e por vezes nem assim, porque frequentemente estava distraída e às vezes estúpida. A mãe levou três meses a ensinar-lhe a «Súplica do Pobre» e, no fim de contas, a irmã a seguir, Sally, dizia-a melhor do que ela. Não que Catarina fosse sempre estúpida; de maneira alguma. Aprendeu a fábula «A lebre e muitos amigos», tão depressa como qualquer rapariga em Inglaterra. A mãe queria que ela aprendesse música e Catarina tinha a certeza de que havia de gostar, porque sentia muito prazer em tocar nas teclas do velho piano abandonado; por isso começou a aprender aos oito anos. Estudou durante um ano, mas contrariada; e a senhora Morland, como não insistia com as filhas para serem prendadas desde que não tivessem jeito nem gosto, deu licença a Catarina para pôr de parte a música. O dia em que despediram o professor, foi dos mais felizes para Catarina.
O gosto pelo desenho não era maior, mas, apesar disso, sempre que podia apanhar um sobrescrito da mãe ou outro qualquer bocado de papel, esforçava-se por desenhar casas e árvores, galinhas e pintinhos, saindo todos iguais uns aos outros. O pai ensinava-lhe a escrever e contar e a mãe o francês, mas o seu aproveitamento não era notável em qualquer deles e fugia às lições sempre que podia.
Que caracter tão estranho e inexplicável! Com todos estes sintomas de desregramento aos dez anos, não tinha, todavia, nem mau coração nem mau gênio; raras vezes se mostrava teimosa, quase nunca desordeira, era muito boa para os mais pequenos e só raras vezes despótica com eles; era essencialmente barulhenta e impulsiva, odiava a prisão e a limpeza, e de nada gostava mais do que rebolar-se pela verde encosta que havia atrás da casa.
Assim era Catarina naquela idade. Aos quinze, o aspecto começou a melhorar, frisava o cabelo e suspirava por bailes. Desenvolvera-se, as feições tinham-se suavizado e tomado cor, os olhos ganharam vida, e a sua figura produzia melhor impressão. A falta de asseio deu lugar à inclinação para o luxo e assim se tornou asseada à medida que se tornava elegante.
Muitas vezes era com alvoroço que ouvia falar ao pai e à mãe da sua transformação: Catarina está a fazer-se uma rapariga engraçada, quase bonita, eram palavras que ouvia de vez em quando (e que alegria lhe davam).
Ser quase bonita dá mais prazer a uma rapariga que foi feia durante os primeiros quinze anos da sua vida, do que a outra que já o seja desde o berço.
A senhora Morland era uma excelente senhora e queria que os seus filhos obtivessem os maiores êxitos, mas tinha o tempo tão ocupado com os partos e com o ensino dos mais pequenos, que as filhas mais velhas ficaram inevitàvelmente abandonadas a si próprias. Por isso não era para admirar que Catarina, que, por natureza, nada tinha de heróica, preferisse, aos catorze anos, o cricket e baseball, montar a cavalo e correr pelos campos, aos livros, pelo menos aos livros de estudo, porquanto, desde que deles se não tirasse nenhum conhecimento útil e que fossem de histórias e não de erudição, não lhes opunha objeções.
Mas dos quinze aos dezessete anos preparava-se para ser uma heroína. Lia todas as obras que as heroínas devem ler para enriquecer os seus conhecimentos com aqueles assuntos que tanto auxílio e alívio prestam nas vicissitudes das suas vidas tão cheias de acontecimentos.

De Pope aprendeu a censurar aqueles que:
...vão por toda parte zombando do infortúnio;

De Gray, que
Muitas flores nasceram para desabrochar despercebidas,
E espalhar seu perfume no ar deserto.

De Thompson, que
...É uma tarefa deliciosa
Ensinar à ideia jovem como despontar.

E em Shakespeare adquiriu um grande manancial de conhecimentos, entre os quais que
...Ninharias leves como o vento
são para os ciumentos confirmações absolutas
como as provas da Sagrada Escritura.
que
O pobre escaravelho que pisamos
sofre uma dor corpórea tão grande
como quando um gigante morre.
e que uma donzela apaixonada se parece sempre
...à Resignação sobre um pedestal
Sorrindo à Dor.
.

Até então a sua cultura era suficiente, e desempenhava extremamente bem muitos trabalhos. Embora não soubesse escrever sonetos, começou a lê-los; ainda que não conseguisse entusiasmar os ouvintes com um prelúdio de piano da sua autoria, era capaz de ouvir sem grande enfado as outras pessoas tocarem. A sua maior deficiência estava no desenho: não tinha dele a menor noção, nem sequer para fazer o esboço do perfil do namorado, de forma que tivesse algumas semelhanças. Neste capítulo sentia-se absolutamente incompetente mas, não lhe fazia diferença porque ainda não tinha namorado para desenhar.
Chegara aos dezessete anos sem ter visto nenhum rapaz simpático, sem inspirar uma verdadeira paixão, nem mesmo ter provocado qualquer admiração, por muito moderada ou passageira que fosse. Isto era sem dúvida estranho! Mas as coisas estranhas podem geralmente explicar-se, se a sua causa for bem averiguada. Não havia nenhum lorde ou barão na vizinhança. Entre as famílias conhecidas nenhuma tinha adotado e educado qualquer e exposto a nenhum rapaz de origem desconhecida.
O pai não tinha nenhum pupilo e o fidalgo da freguesia não tinha filhos. Mas quando a rapariga quer ser heroína, nem a maldade de quarenta famílias a pode impedir. Algo fará e alguma coisa há de acontecer que lhe depare um herói.
O senhor Allen, que possuía a maior parte das propriedades de Fullerton, a aldeia de Wiltshire onde viviam os Morland; foi aconselhado a ir para Bath a fim da tratar da gota. A esposa, uma senhora alegre e amiga de Catarina Morland, sabendo que quando a uma rapariga, na sua terra, não acontecem aventuras as tem de procurar fora, convidou-a a ir com eles. O casal Morland concordou de boa vontade e Catarina sentiu-se felicíssima.


Uma Aventura Quixotesca..

Catherine Morland (A Abadia de Northanger, 2007)

Quando eu era uma iniciante na literatura Austeniana, eu achava que A Abadia de Northanger poderia ser um história muito diferente do que ela é. Eu pensava que poderia haver ambientes obscuros, uma louca no sótão (vide Jane Eyre, de Charlotte Brontë) ou algo do gênero. Porém, quando li pela primeira vez este livro da senhorita Austen (primeiro a ser publicado pós morte da autora), eu descobri que Catherine Morland é uma versão feminina do heróico Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes.

Apaixonada pela literatura gótica, Catherine acha que todo castelo antigo pode esconder um grande mistério, um segredo negro de determinada família, e tantas outras coisas que sua mente tola pode imaginar. 

Hoje, eu iniciei a releitura desta obra, e o primeiro capítulo já promete uma diversão no melhor "estilo Austen" de ironia e sarcasmo! Impossível não gostar de Jane Austen!

Boa leitura para mim.

Omnia Vanitas.

21 de julho de 2015

Um Alívio para a Alma..



Se você sofre de algum mal emocional, Fanny Price tem uma ótima dica para você, leitor: livro!

Fanny Price está na casa dos pais dela (e eu  gostaria de escrever que ela está feliz, mas estaria escrevendo uma mentira). Enquanto os moradores de Mansfield Park a esqueceram lá, ela tenta se distrair com sua família, e encontrou em Susan, sua irmã, uma companheira tolerável e possível emergente social.

Bom, Fanny está inconsolável esperando notícias do (quem sabe) noivado de seu amado Edmund Bertram. E, para distraí-la deste desgosto, ela decidiu emprestar livros de uma biblioteca, já que seus pais são ignorantes o suficiente para não se darem a esse "luxo".

Eis o que aconteceu:


Pouco a pouco as duas moças passaram a ficar a maior parte da manhã no andar superior, a princípio apenas trabalhando e conversando, mas depois de alguns dias, a lembrança de seus livros se tornou tão poderosa e estimulante, que Fanny viu não lhe ser possível passar sem leitura. Em casa do pai não havia livro algum; mas a riqueza traz o luxo e a audácia e uma parte da sua “fortuna” foi desviada para um salão de leitura. Fez a inscrição; espantada de ser alguma coisa por sua própria iniciativa, espantada por agir por si mesma em todos os sentidos, de poder escolher seus livros! E ter em vista o aperfeiçoamento de alguém! Mas esse era o caso. Susan nunca tinha lido nada e Fanny encontrou grande alegria em fazê-la compartilhar de seu próprio prazer e lhe inspirar o gosto pelas biografias e poesias que tanto a deliciavam.
Nesta ocupação ela esperava, além do mais, encerrar certas recordações de Mansfield, as quais eram demasiadamente aptas a apoderar-se de seu espírito se somente seus dedos estivessem ocupados; e nesta ocasião, especialmente, esperava que os livros lhe fossem úteis para desviar seus pensamentos sobre Edmund em Londres, para onde, conforme a última carta da tia, sabia ter ele ido. Não tinha dúvida sobre o que ia acontecer. A prometida notícia estava suspensa sobre sua cabeça. A batida do carteiro na vizinhança estava começando a lhe trazer terrores diários e se a leitura lhe podia afastar essa idéia nem que fosse por meia hora, já era alguma vantagem.

Então, leitor, passe naquela biblioteca da sua cidade, escolha o gênero que lhe agrada, dê-se ao prazer de elevar sua mente do sentimento que o oprime. Talvez , como a protagonista de Mansfield Park você tenha meia hora de alívio!

Omnia Vanitas.

9 de julho de 2015

Literatura Brasileira..



Estava eu indo para o trabalho, de zarco, lendo, ouvindo meu rock preferido, quando uma citação de Mansfield Park (sim, aguente, leitor, é minha leitura atual) chamou minha atenção.

Henry Crawford estava conversando com Edmund Bertram sobre literatura. A leitura de H.C. havia feito era de Shakespeare, Henrique VIII. E, durante a conversa dos jovens, com o intuito de impressionar a distraída ouvinte, Fanny Price, os meninos divagavam sobre como a literatura está envolvida no meio social. Segue:

(...) Mas a gente fica conhecendo Shakespeare não se sabe como. É uma parte da constituição inglesa. Seus pensamentos e encantos estão tão espalhados por todo o mundo que o encontramos em toda a parte; fica-se íntimo dele por instinto. Nenhum homem de alguma inteligência é capaz de abrir uma boa parte de uma de suas peças sem lhe cair imediatamente no fluxo dos pensamentos.
— Não há dúvida que Shakespeare nos é familiar até certo ponto, disse Edmund, desde a
primeira infância. As passagens célebres são repetidas por todo o mundo; estão na maior parte dos livros que lemos e nós todos falamos com Shakespeare, usamos suas imagens, descrevemos com as suas descrições; mas isto é inteiramente diverso de lhe dar o sentido que você dá. Conhecê-lo por este ou aquele trecho é muito comum; conhecê-lo mesmo por todas as suas obras, não é, talvez, pouco comum (...).

E, então, eu senti um "pesar" literário de conhecer Shakespeare somente na minha juventude, quando estava perto dos meus dezoito anos, na leitura de um livro que emprestei na Biblioteca Pública da cidade. E, lembrei, também, de um colega que  tive que leu O Senhor dos Anéis (J.R.R. Tolkien) na época do Ensino Médio (se é que isso existe lá na Bélgica). E, eu fui ler O Hobbit quando já passava dos vinte e poucos...

 E, neste devaneio eu pensei que os escritores brasileiros eu fui conhecer também neste período. E que tempo maravilhoso foi quando os conheci. Aprendi a gostar de Machado de Assis, José de Alencar, Aluízo (de) Azevedo, Rachel de Queiróz, Graciliano Ramos (chorei muito com a morte da cachorra Baleia)...

Eu não deprecio o fato de lermos escritores estrangeiros, mas parece que a cultura atual não valoriza os nossos escritores brasileiros. Torce-se o nariz para os clássicos e os contemporâneos devem, perdoe-me se estou errada, seguir a moda estrangeira para agradar os neo-leitores. 
Eu adorei ler Dom Casmurro (Machado de Assis); as três mulheres de José de Alencar: Lucíola, Emília (Diva) e Aurélia (Senhora). Li Rachel de Queiróz com entusiasmo, e descobri que amo Aluízio (de) Azevedo ao ler O Cortiço e, meu deus, eu amei ler O Mulato (que leitura surpreendente).

Temos tantas boas joias literárias no nosso país (exceto por Paulo Coelho -  rs) que não devíamos menosprezar esses talentos que compõem a Academia Brasileira de Letras de maneira impecável - exceto por Paulo Coelho.

Ensinem as pessoas a gostarem, a lerem mais literatura brasileira. É maravilhoso!

Omania Vanitas.

8 de julho de 2015

Anotações..



Eu tenho um hábito que, sempre que eu posso, não deixo de praticar. Eu adoro anotar meus pensamentos sobre trechos que leio nos meus livros. Sempre faço isso a lápis, óbvio - quem me conhece sabe que sou adepta ao uso do lápis (somente em ocasiões estritamente necessárias eu utilizo uma caneta).
E minhas anotações, às vezes, não passam de um simples "hahaha" para me lembrar que a citação provocou risos durante a leitura. Mania de leitora.

E aqui estou eu, relendo meu livro Mansfield Park encontrei algumas anotações que achei interessante. E, até onde anotei, fazem parte da segunda leitura desta obra, 2014.

Deixo aqui algumas.

No trecho em que o tio de Fanny, Sir Thomas Bertram, a procura para dizer que Henry Crawford a pediu em casamento, eu anotei o seguinte:

"Quando um homem precisa de mais de duas pessoas para obter o consentimento de um pedido de casamento, ele deveria, por bom senso, considerar negado seu pedido à dama".

 Ainda na mesma cena, no momento que Sir Thomas descobre que a lareira do quarto da sobrinha não é acessa, mesmo nos dias mais frios, há a seguinte anotação:

"Toda a preocupação sobre o bem estar de Fanny não foram estendidos com a mesma importância sobre a sua opinião sobre Mr. Crawford. Sir Thomas, apesar da sua preocupação sobre a lareira e a saúde de Fanny, permanece ignorando no que diz respeito à sua pessoa. O que ela pensa (opinião) é ignorado. Ele é tão rude e descortês quanto qualquer um na casa, incluindo Edmund, que, provavelmente, sabia da lareira e permitia a situação. Um objeto".

Quando Sir Thomas voltou de viagem, encontrou sua filha, Maria, noiva do senhor Rushworth. Logo após conhecer melhor o futuro genro, o proprietário de Mansfiel Park questiona a filha sobre sua vontade de casar com o noivo. A afirmação de Maria o convence e ele nada mais tem a dizer.
Eis a anotação que fiz sobre o que aconteceu quando Mr. Crawford veio pedir a sobrinha de Sir Thomas em casamento:

"A diferença entre a conversa entre Maria e Sir Thomas. Com Maria houve "preocupação". Com Fanny, somente uma comunicação sobre os sentimentos de Mr. Crawford - "suspeitando" que a sobrinha havia recebido bem o cavalheiro".

E, quem leu a cena que segue, sabe que Sir Thomas tratou a sobrinha como alguém que nem merecia a atenção de um cavalheiro tão bem intencionado como o "querido" Henry Crawford. Quem não conhece a peça, compra.

Então, é isso! Algumas anotações eu considero imaturas (por não terem um discernimento claro da situação). Outras eu considero toleráveis, como as que citei.

Omnia Vanitas.


7 de julho de 2015

A Sutil Maldade da Srta. Crawford..


Voltando a ler Mansfield Park depois de um longo tempo! E, sem querer que esta publicação se torne uma perseguição, vou escrever sobre esta "querida" personagem: Mary Crawford. Se você não lembra, leitor, ou não sabe sobre o porque da minha justificativa, clique aqui e saberás! ;)

Voilà Aqui estou eu falando dessa figura interessante que é a senhorita Crawford. 

Mansfield Park está em festa. A sobrinha rejeita, Fanny Price, recebe uma festa em sua homenagem! Todos estão contentes, exceto a tia Norris, claro! Fanny dança com seu amado Edmund, mas o baile é aberto ao lado de Henry Crawford. Edmund estava ocupado com a doce M.C.

E lá está a jovem Crawford circulando entre os demais quando decide socializar com os donos e familiares de Mansfield Park.
Eu achei muito interessante essa "passagem" de conversa dela, por isso estou animada em publicar. 
Eu não consigo, no momento, encontrar uma palavra para descrever essa jovem. Ela não é um enigma, mas também está longe de ser cognoscível. Ela parece, pelo menos assim interpreto, alguém que não quer se deixar conhecer. Mesmo com seu irmão, Henry, ela parece camuflar suas intenções: quando Henry se diz apaixonado por Fanny, ela o incentiva através das qualidades que ela observa na pretendente do irmão, mas, eu sinto, que no final da frase ela gostaria de dizer: - Acorde, Henry! Ela nunca se apaixonará por você!

E lá está ela, e sutil víbora, caminhando na festa em homenagem a Fanny, conversando com aqueles que lhe interessam e, com cada um deles, ela sabe quem ela deve ser. Segue:


Começou o baile. Foi mais honra do que prazer para Fanny, pelo menos na primeira dança: seu parceiro estava de excelente bom humor e procurou comunicá-lo à moça; ela, porém, estava demasiadamente assustada para poder sentir qualquer alegria, até que se pôde convencer de que não era mais observada. Jovem, bonita e gentil, porém, não havia acanhamento que lhe pudesse prejudicar a graça e houve poucas pessoas presentes que não se sentiram dispostas a elogiá-la. Era atraente, era modesta, era a sobrinha de Sir Thomas, e não demorou muito que dissessem ser ela admirada por Mr.Crawford. Bastava isso para que todos a olhassem com benevolência. O próprio Sir Thomas observava, complacente, seu progresso na dança; estava orgulhoso da sobrinha; e sem atribuir a beleza pessoal dela, como parecia fazer Mrs. Norris, à sua mudança para Mansfield, estava contente consigo mesmo por lhe ter dado tudo o mais: educação e modos.
Miss Crawford leu os pensamentos de Sir Thomas e como, apesar de todas as injustiças dele, tinha um desejo dominante de lhe agradar, aproveitou a oportunidade num intervalo da dança, para fazer um elogio a Fanny. Suas palavras foram ardentes e ele as recebeu como ela teria desejado, fazendo coro ao elogio com tanta intensidade quanto a discrição, a polidez e a sua fala descansada o permitiam.
E certamente foi mais eloquente do que a mulher, quando logo depois Mary, percebendo-a num sofá próximo, virou-se antes de começar a dançar, dando-lhe os parabéns pela beleza de Miss Price.
— Sim, ela está muito bem, respondeu Lady Bertram placidamente. Chapman ajudou-a a vestir-se.
Não que ela não estivesse contente por ver Fanny admirada; mas sentia-se tão pela sua própria bondade mandando Chapman auxiliá-la, que não podia tirar isto da cabeça.
Miss Crawford conhecia bem Mrs. Norris para pensar que ela ficaria lisonjeada pelos elogios que fizessem a Fanny; e lhe dirigiu a palavra na primeira oportunidade: 
— Ah! minha senhora, que grande falta as queridas Mrs. Rushworth e Julia fazem esta noite! — e Mrs. Norris recompensou-a com tantos sorrisos e cortesias quanto lhe permitia o tempo, no meio de tantas ocupações em que se encontrava, organizando as mesas de jogo, dando conselhos a Sir Thomas e procurando conduzir todas as “chaperons” para um lado melhor do salão.
Com a própria Fanny, Miss Crawford foi muito estouvada nas suas maneiras de agradar. Sua intenção foi dar àquele pequeno coração uma grande emoção e enchê-la de agradáveis sensações de importância; e interpretando mal o rubor das faces de Fanny, ainda pensava que tivesse conseguido o seu intento, quando, depois das duas primeiras danças, dirigiu-se a ela e disse com um olhar significativo:
— Você talvez possa me dizer por que meu irmão vai amanhã para a cidade? Diz que tem negócios lá, mas não me quer explicar o que é. É a primeira vez que não é franco comigo! Mas é a isto que todos nós chegamos. Mais cedo ou mais tarde, todos somos substituídos. Agora, tenho que me dirigir a você quando quiser uma informação. Por favor, que é que Henry vai fazer lá?
Fanny afirmou sua ignorância com tanta firmeza quanto permitia o seu embaraço.
— Bem, então, respondeu Miss Crawford rindo, devo supor que é puramente pelo prazer de conduzir seu irmão e falar de você durante o caminho.
Então, querido leitor, você consegue denotar o caráter de M.C.? Talvez ela seja a hipócrita dos nossos dias atuais, ou a sínica, ou a socialmente aceita sem ser questionada.
Na verdade, pessoas como M.C. eu evito ter qualquer aproximação. Primeiro, não acredito na bajulação. Segundo, quem exige uma amizade instantânea, como M.C. à Fanny, não tem o meu olhar de "aprovação".

É isso, leitor! Despeço-me.

Omnia Vanitas.

3 de julho de 2015

C'est un Romance Français! ..



Final de semestre no curso de francês é a hora que mais da metade da sala se descabela para fazer a prova da leitura do livro. Adivinha quem é a empolgada da turma?
Na verdade das verdades, eu não limito apenas na literatura que indicam, eu sigo adiante. E, nesta escolha, eu me deparei com um autor francês que eu conhecia somente de ouvir, como diria Jó (personagem bíblico).
Jules Verne é o nome dele. Sempre ouvi sobre os livros famosos dele: Viagem ao Centro da Terra, Volta ao Mundo em 80 Dias (leitura do primeiro semestre 2016) etc. Essa semana eu terminei de ler "Cinco Semanas em um Balão". Divertidíssimo! Infelizmente, eu leio apenas adaptações para o nível de aprendizado que estou, mas estou me aventurando a ser um pouco mais ousada nesta área e ler um nível adiante.

Na verdade, eu não vejo a hora de começar a ler textos integrais e, Jules Verne não terá nenhuma obra traduzida para PT BR na minha prateleira: somente na língua original da obra, francês.


Em breve, um resumo de "Cinq Semaines en Ballon" será publicado aqui!

Au revoir!

Falsa Liberdade..


Perdoe-me, nobre leitor, por não estar escrevendo loucuras com a mesma frequência de antes. Final de semestre no curso de francês e eu estou perdendo a linha do tempo. Para ser sincera, eu deveria estar fazendo o meu trabalho da aula, mas preciso escrever algo sobre algo diferente de francês (mesmo amando francês).

Bom, lá vai!

Eu estou ouvindo o show acústico do grupo Engenheiros do Hawaii, e, quando ouvi a música "Terceira do Plural", a pulga da inquietação mordeu meu debilitado cérebro. Aqui estou eu escrevendo quando deveria estudar.

A música fala sobre "eles" (terceira do plural, sacou?). "Quem são eles? Quem eles pensam que são?", diz a música do gaúcho Humberto Gessinger. Quem são eles, pergunto eu, esquecido leitor. Eles são aqueles de quem nós compramos uma ideia, uma missão, uma marca... Sempre há alguém por trás de nós - não somos nós que escolhemos, mas eles que nos escolhem. Isso se chama, na minha debilitada opinião, falta de liberdade.

Não somos livres, encare esse fato, leitor! Você não escolhe ser livre, mas alguém lhe disse que você estava preso e, então, você decidiu se libertar daquilo que lhe "oprimia". É isso, leitor, a liberdade é uma falseta que inventaram para vender uma boa ideia. A igreja, o Cosmos, o Invisível, o Filósofo, o padeiro da esquina, o pedreiro, o empresário - alguém está comprando um pedaço de você.

Você acha que é livre? Porque? O que você criou para lhe fazer que é livre? Plantou uma árvore? Isso não é liberdade, é cultivo de uma natureza já formada. Você criou um ser humano? Não, você apenas reproduz uma versão sua ou adota. Você não criou nada, apenas reproduz o espelho de algo já pronto.

E depois, vão dizer que tudo o que era certo agora é errado. E, agora, o que fazer com o velho? O velho é opressivo e o novo a liberdade. Mentira. Tudo é prisão.

Omnia Vanitas

O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...