30 de julho de 2015

A Escada ..


Aqui estou eu, curtindo uma visita à Abadia de Northanger com Catherine Morland quando, por acaso, me lembrei de um fato na minha época de criança que instigava a minha curiosidade (e do meu irmão também).

Meus pais são descendentes de alemães. Meus bisavós vieram da Alemanha e se instalaram por essas terras. Infelizmente, tive pouquíssimo contato com meus avós e, algum contato, até certa idade, com minhas tias e tios.

Dois tios se destacaram na minha infância e adolescência (ambos irmãos do meu pai): Tio Willy e Tia Olga.
O tio morava em um sítio. Uma maravilha de lugar. Plantações de arroz, milho, córregos em todos os cantos, um poço no meio do terreno, pão caseiro feito em forno de barro ... Tirando os gansos, tudo era ótimo naquele sítio: a criação de gado, porcos, galinhas, patos, marrecos ...e gansos. 

A tia mora "na cidade". Um jardim pequeno, uma varanda aconchegante com um balanço, um banco fixo, flores em um pequeno canteiro. Casa estilo enxaimel.
A cozinha, com o seu fogão à lenha, feito de tijolos, fica perto da perto que leva ao quintal, onde há a plantação de hortaliças, verduras, legumes etc..
Uma janela no canto esquerdo, a porta principal (que sai para rua) e uma porta que leva dentro de casa: onde ficam os quartos, a sala de estar, a sala principal e um banheiro. E, até hoje, ela conserva os móveis antigos. É muito linda a casa da minha tia Olga.
Mas, ainda na cozinha, havia algo que nos fascinava (à mim e ao meu irmão): a escada que vai em direção ao sótão.
Até hoje, não sei porque, escadas me fascinam. Mas somente aquelas que levam à um sótão ou à um porão. A minha tia tem uma escada que leva ao sótão.

Chegávamos na casa dela, meu pai, meu irmão e eu. Cumprimentávamos minha tia e meu tio com beijos e abraços tímidos e, então, meu pai sentava na cozinha com eles e se punha a conversar. Para meu irmão e eu, restava somente ouvir a conversa dos adultos. Minha tia não tem filhos da nossa idade, então, nada de brincar com os primos - pois eles já estavam crescidos e morando longe. 
Enquanto meu pai sentava em uma cadeira, "as crianças" sentavam nos primeiros degraus da escada. E só podia sentar nos primeiros degraus. Nada de ficar subindo até o sótão.

E, enquanto os adultos conversavam, nós, de maneira distraída, sentávamos um degrau acima. Mas, sempre ouvíamos a reprimenda de um deles, dizendo: "Voltem aqui para baixo!".

Certa vez, que glória foi esse dia, conseguimos ficar somente por cinco degraus de distância do fim da escadaria. Quase-quase! ... Então, uma voz adulta nos chamou de volta e, claro, voltamos com carinhas de anjo e nos sentamos nos primeiros degraus da escada.

Eu ainda não sei o que há naquele sótão. E, realmente, talvez eu não queira conhecer aquele lugar. Atualmente, visito pouco minha tia Olga (sempre que vou, estou na companhia do meu pai). Certa vez, ela mostrou algo muito mágico para mim: a banheira de imersão que ela tem no piso principal. Linda! Azul clara, como a primeira banheira que me banhei (aos 13 anos). E, sorridente, minha tia comentou - depois de notar meu entusiasmo: "Se sua tia sentar nessa banheira, ela não levanta mais". Minha  tia é uma senhora de 85 anos.

Não sei que mistérios guardam aquele sótão; e não quero perguntar à minha tia pois, meu instinto de sobrinha diz que, são lembranças de histórias tristes.

Fico com a magia do não descoberto, da fantasia e do mistério do sótão da casa da tia Olga.

Omnia Vanitas.

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