Estava eu indo para o trabalho, de zarco, lendo, ouvindo meu rock preferido, quando uma citação de Mansfield Park (sim, aguente, leitor, é minha leitura atual) chamou minha atenção.
Henry Crawford estava conversando com Edmund Bertram sobre literatura. A leitura de H.C. havia feito era de Shakespeare, Henrique VIII. E, durante a conversa dos jovens, com o intuito de impressionar a distraída ouvinte, Fanny Price, os meninos divagavam sobre como a literatura está envolvida no meio social. Segue:
(...) — Mas a gente fica conhecendo Shakespeare não se sabe como. É uma parte da constituição inglesa. Seus pensamentos e encantos estão tão espalhados por todo o mundo que o encontramos em toda a parte; fica-se íntimo dele por instinto. Nenhum homem de alguma inteligência é capaz de abrir uma boa parte de uma de suas peças sem lhe cair imediatamente no fluxo dos pensamentos.
— Não há dúvida que Shakespeare nos é familiar até certo ponto, disse Edmund, desde a
primeira infância. As passagens célebres são repetidas por todo o mundo; estão na maior parte dos livros que lemos e nós todos falamos com Shakespeare, usamos suas imagens, descrevemos com as suas descrições; mas isto é inteiramente diverso de lhe dar o sentido que você dá. Conhecê-lo por este ou aquele trecho é muito comum; conhecê-lo mesmo por todas as suas obras, não é, talvez, pouco comum (...).
E, então, eu senti um "pesar" literário de conhecer Shakespeare somente na minha juventude, quando estava perto dos meus dezoito anos, na leitura de um livro que emprestei na Biblioteca Pública da cidade. E, lembrei, também, de um colega que tive que leu O Senhor dos Anéis (J.R.R. Tolkien) na época do Ensino Médio (se é que isso existe lá na Bélgica). E, eu fui ler O Hobbit quando já passava dos vinte e poucos...
E, neste devaneio eu pensei que os escritores brasileiros eu fui conhecer também neste período. E que tempo maravilhoso foi quando os conheci. Aprendi a gostar de Machado de Assis, José de Alencar, Aluízo (de) Azevedo, Rachel de Queiróz, Graciliano Ramos (chorei muito com a morte da cachorra Baleia)...
Eu não deprecio o fato de lermos escritores estrangeiros, mas parece que a cultura atual não valoriza os nossos escritores brasileiros. Torce-se o nariz para os clássicos e os contemporâneos devem, perdoe-me se estou errada, seguir a moda estrangeira para agradar os neo-leitores.
Eu adorei ler Dom Casmurro (Machado de Assis); as três mulheres de José de Alencar: Lucíola, Emília (Diva) e Aurélia (Senhora). Li Rachel de Queiróz com entusiasmo, e descobri que amo Aluízio (de) Azevedo ao ler O Cortiço e, meu deus, eu amei ler O Mulato (que leitura surpreendente).
Temos tantas boas joias literárias no nosso país (exceto por Paulo Coelho - rs) que não devíamos menosprezar esses talentos que compõem a Academia Brasileira de Letras de maneira impecável - exceto por Paulo Coelho.
Ensinem as pessoas a gostarem, a lerem mais literatura brasileira. É maravilhoso!
Omania Vanitas.
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