22 de junho de 2015

O Grande Juiz ..

Renato Russo, música "Perfeição"

Existe dentro de nós um juiz implacável. Esse pequeno juiz aponta o dedo em riste para todos ao redor e em quase todas as situações. Esse miserável juiz cresce todas as vezes que a oportunidade de julgar lhe é dada. E, assim, ele se acha um exímio ser humano perfeito.

Não pense, nobre leitor, que este juiz está vivo em pessoas de baixo caráter. Ele vive em cada ser humano. Todos nós: eu, você, o rico, o pobre, o mendigo, a faxineira, a freira, o pastor, .. todos, sem exceção, possuímos esse pequenino e forte juiz dentro de nós. 
Adoramos apontar o erro alheio pois isso nos torna poderosos. Quando olhamos para o erro alheio, esquecemos o quanto somos falhos e, assim, temos a falha impressão de que somos perfeitos. 
Concordo que, em alguns casos, minhas escolhas são melhores que as escolhas que outros fizeram para si; mas há em mim escolhas piores de outros que escolheram melhor do que eu. Minha falha pode não ser a falha de outro. Onde sou forte, outro pode ser fraco. Eu tenho o costume de dizer que não existe uma "ciência exata" para o ato do ser humano. Ele vive conforme aquilo se apresenta na frente dele: às vezes acertará, em outras, errará. E quem somos nós para erguemos o dedo e lhe apontar o erro, sendo nós ainda falhos? 

Existe um trecho no livro "As Crônicas de Nárnia: O Cavalo e Seu Menino", onde Shasta, o protagonista, ao encontrar o Leão de Nárnia lhe faz algumas perguntas. Quando Aslan lhe dá uma resposta, o menino fica intrigado:
– Fui eu o leão que o forçou a encontrar-se com Aravis. Fui eu o gato que o consolou na casa dos mortos. Fui eu o leão que espantou os chacais para que você dormisse. Fui eu o leão que empurrou para a praia a canoa em que você dormia, uma criança quase morta, para que um homem, acordado à meia-noite, o acolhesse.

– Então foi você que machucou Aravis?

– Fui eu.

– Mas por quê?!

Filho! Estou contando a sua história, não a dela. A cada um só conto a história que lhe pertence.
Se não somos bons o suficientes para amar e aconselhar, calemos a nossa boca ao julgar todos os outros.

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