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O segundo contraste - e o que me levou à escrever esta publicação - é a questão da igreja. Enquanto para a senhorita Crawford a escolha eclesiástica deve a ser a última opção que um homem deve escolher. Cabe a Edmund mostrar à Mary a importância que existe da igreja na sociedade. Na verdade, este pequeno diálogo é, ao meu ver, um confronto entre realidade versus ideal. A igreja deve ser como o futuro clérigo cita mas a prática dá a razão para Mary Crawford.
Na verdade, o que angustia a senhorita C. não é o fato de Edmund optar pelo oficio eclesiástico, mas o pouco rendimento que a profissão lhe provém.
Mais adiante no enredo, a conversa sobre a importância da ordenação de Edmund volta à cena, desta vez em Mansfield Park, a casa da família Bertram.
Na verdade, o que angustia a senhorita C. não é o fato de Edmund optar pelo oficio eclesiástico, mas o pouco rendimento que a profissão lhe provém.
Mais adiante no enredo, a conversa sobre a importância da ordenação de Edmund volta à cena, desta vez em Mansfield Park, a casa da família Bertram.
(...)
— Que! Ordenar-se sem ter meios! Não, isto é realmente loucura; loucura absoluta.
— Posso então lhe perguntar o que será da igreja, sem nem com meios nem sem meios o
homem deve ordenar-se? Não, pois certamente não saberia o que dizer. Mas do seu próprio argumento posso tirar alguma vantagem para o pastor. Como ele não pode ser influenciado por aqueles sentimentos que na sua opinião são classificados como tentação e recompensa para o soldado ou marinheiro, ao escolherem suas carreiras, pois que o heroísmo, o barulho, a moda, não lhe são permitidos, ele deve estar menos sujeito à suspeita de não ser sincero ou bem intencionado na sua escolha.
— Oh! sem dúvida ele é muito sincero ao preferir uma renda já pronta em vez de ter de
trabalhar para a conseguir; e tem as melhores intenções de não fazer mais nada até o fim da vida senão comer, beber e engordar. É indolência, Mr. Bertram, isto é que é. Indolência e amor ao bem estar; uma falta total de louvável ambição, de gosto pelas boas companhias, ou de vontade de se dar ao trabalho de ser agradável, é o que fazem os homens quererem entrar para o clero. Um pastor não tem nada que fazer senão ser negligente e egoísta; ler os jornais, olhar para o tempo e discutir com a mulher. Sua
paróquia fará todo o trabalho e a preocupação de sua vida é jantar.
— Existem, sem dúvida, pastores assim, mas creio que não são tão comuns que justifiquem o juízo por Miss Crawford do seu caráter em geral. Suspeito que nessa censura ampla e (posso dizer) geral, a senhorita não está julgando por si mesma, mas por pessoas mal informadas, cujas opiniões se habituou a ouvir. É impossível que com as suas próprias observações ficasse conhecendo muito o clero. Do grupo de homens que a senhorita tão decisivamente condena, talvez pessoalmente tenha conhecido muito poucos. Está repetindo o que ouviu dizer em casa de seu tio.
— Estou dizendo o que parecer ser opinião geral; quando a opinião é geral, habitualmente é correta. Embora eu própria não esteja muito a par da vida doméstica dos pastores, há muitíssimas pessoas que o estão para que haja engano na informação.
— Quando se vê uma qualquer corporação de homens educados, de qualquer denominação, condenados sem distinção, deve haver erro de informação ou (sorrindo) de qualquer outra coisa. Seu tio e seus colegas almirantes talvez não conhecessem do clero senão os capelães, os quais bons ou maus eles sempre preferiam ver de longe.(...)
— Eu tenho me guiado tão pouco pelas opiniões de meu tio, disse Miss Crawford, que dificilmente poderia supor... e já que me obriga a falar, posso afirmar que não estou inteiramente alheia ao que são os pastores, visto que atualmente sou hóspede de meu próprio cunhado, dr. Grant. E embora ele seja muito bom e amável comigo, embora seja realmente um cavalheiro, e, ouso dizer, muito erudito e inteligente, muito respeitável, e faça muito bons sermões, vejo no entanto que é um indolente, egoísta, “bon vivant”, cujo gosto tem de ser consultado em todas as coisas; que não mexe um dedo pela conveniência de ninguém; e que, além disso, se a cozinheira comete uma asneira, fica de
mau humor com a sua excelente mulher.
Desta vez, Mary Crawford usa seu cunhado como modelo. Sabendo o marido de sua irmã é um homem de espírito belicoso no que concerne à boa mesa, ela se utiliza deste caráter para justificar a má conduta de todos os clérigos. Edmund e Fanny (que participa da conversa, ora de forma passiva, ora não), justificam que, por não conhecerem o senhor Grant e sua conduta familiar, não podem proferir uma conclusão sobre o caso, mas que, segundo a dupla defensora do ofício eclesiástico, o caráter, seja ele de um clérigo ou de um almirante, não podem justificar a conduta de todos os que comungam a profissão.
Para a senhorita Crawford, pelo que comenta do cunhado, não adiantaria em nada ter todas as qualidades que possui, se erra no ponto de cuidar de sua esposa. Porém, ouso afirmar, que se ele cuidasse bem da irmã de Mary, ela encontraria outro defeito na conduta do dr. Grant, somente pelo prazer de diminuir o valor do ofício clerical e fazer prevalecer sua vontade.
Concluindo, na primeira parte desta publicação, encontramos Mary Crawford achando que a escolha para uma atividade oficial eclesiástica é a última escolha que um rapaz deve ter. Quando tudo o mais falhar, seja clérigo. Não há como discutir sobre isso, pois, até hoje, muitos escolhem uma profissão por ela ser rentável e não prazerosa.
Mas para a senhorita Crawford, além de ser uma profissão que não possuiu um status elevado na sociedade, o pastor recebe uma remuneração pequena. Logo, não lhe sobra nenhuma glória para fazê-lo encher o peito de orgulho e dizer à plenos pulmões: Sou Pastor!
Mesmo com toda a boa intenção de Edmund em provar que um pastor pode ser visto com um agente atuante e motivador dentro da sociedade que pertence, a jovem cunhada do dr. Grant afirma que poucos são os clérigos que possuem um caráter satisfatório para a vida marital: não passam de comilões, beberrões e acomodados que discutem por ninharia com seus familiares.
Então, calado leitor, será que Mary Crawford está plena em razão ou é apenas preconceituosa com a classe?
Omnia Vanitas.
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