"Oh, Deus! Gostaria de jamais tê-la conhecido!" (Emma, BBC Londres) |
Quando o assunto é "Harriet Smith" as opiniões divergem.
Harriet é filha ilegítima de alguém que não quer ser encontrado e, para isso, paga os estudos da moça em Highbury. E a própria filha não tem interesse em saber do seu parentesco, parece não se interessar por ela mesma. Harriet é totalmente ignorante e sem caráter firme. Conforme o vento sopra, ela toma as decisões que outros a orientaram a tomar. Mas, desocupado leitor, ela não é uma má pessoa, apenas é desligada de si - o que talvez seja pior.
Quando a "pobre senhorita Taylor" casou-se com o senhor Weston, Emma sentiu, pela primeira vez, o peso que a ausência da senhora Weston causou na sua vida. E, sem nada melhor para fazer, a protagonista decidiu que Harriet, a interna da escola da senhora Goddard, seria a substituta da sua amiga.
O nível intelectual da ex-governanta de Hartfield e a nova amiga é muito distinto (pelos motivos que apresentei acima). E isso não parece incomodar Emma pois há, para a protagonista, o benefício de usar sua inteligência e persuasão para que Harriet faça aquilo que a patricinha decidir. Emma até tenta ser justa e deixar Harriet tomar suas próprias decisões, mas ela falha miseravelmente nesta tentativa. Um exemplo muito prático dessa situação é quando a pensionista recebe a proposta de casamento do senhor Martin. Emma tenta se manter imparcial, mas é possível perceber que seus olhares e intenções à Harriet a levam a recusar o fazendeiro apaixonado.
Considerações sobre o pedido de casamento, clique aqui.
E a trama se desenvolve com Harriet sendo a distração de Emma. Ela jura que o estúpido pároco da região, o senhor Elton, está apaixonado por sua amiga. Com esta travessura, a patricinha colhe sua primeira fruta da má ação.
Mas o ponto principal fica sendo quando ela eleva tanto o brio de Harriet, que esta não se contenta em ter um mero fazendeiro como marido, ela escolheu o melhor cavalheiro que Surry poderia ter: Mr. Knightley.
E então, Emma exclama o seguinte: "Gostaria de jamais tê-la conhecido!".
E não somente pelo motivo de Harriet estar apaixonada por Mr. Knightley que Emma lamenta essa amizade. A patricinha recorda de todos os acontecimentos que passaram juntas e descobre como foi imprudente em manter uma amizade tão sem propósito e, também, mal administrada com Harriet. A pobre pensionista, em sua cabecinha oca, tornou-se "a Criatura" e Emma, o doutor Frankenstein. Agora, havia a necessidade de livrar-se da amizade, de manter o convívio de Hartfield para Harriet isolado.
A consciência de Emma entende o quanto imprudente e egoísta ela foi ao se aproximar da senhorita Smith.
Por todo o enredo que envolve essa amizade, Harriet é a chave para Emma descobrir o quanto sua personalidade estava longe de ser perfeita como ela imaginava. As considerações do senhor Knightley começaram a ser relevantes a ela.
Se não fosse por Harriet, Emma ainda seria uma riquinha tola e nem desconfiaria que ao seu lado vivia o homem por quem ela se apaixonaria. Isso, nem mesmo o conselho de "George" poderia prever.
Omnia Vanitas.
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