23 de junho de 2015

A Carta..

"Escrevo-te estas mal traçadas linhas meu amor
Porque veio a saudade visitar meu coração" (Renato Russo, A Carta)


Existem coisas que são singulares. Por mais que se receba algo em quantidade ou frequência, uma delas se torna singular.

Eu tenho o hábito de escrever e receber cartas desde os meus catorze anos. Primeiramente, por não haver o benefício do correio eletrônico, as cartas físicas foram, e ainda são, a forma mais concreta de receber notícias de alguém.

Certa vez, visitando minha irmã que morava em Curitiba/PR, percebi que a caixa de correio dela continha apenas contas e propaganda. Achei isso muito sem graça. Decidi, então, começar a escrever para ela cartas e contar as notícias que aconteciam na família e, de modo singular, comigo. Ela adorou. A caixa de correio dela agora tinha outra "cor". 

Depois, veio o interesse de trocar cartas com um grupo de leitura. Adorei! Achei o máximo. Por pura coincidência, a maioria dessas cartas chegavam na Sexta-feira. Nada programado, apenas acaso.

Mas, entre todas as cartas que costumo receber ainda, em uma Sexta-feira, uma correspondência em especial estava na mesa do meu escritório. Nesta carta não havia menções de um cotidiano ou recomendações de leituras ou de velhas aventuras que amigas costumam recordar.
Esta carta veio com um sentimento forte de amor, sonhos, desejos e vontade de realizações. Nesta carta há a vontade de crescer junto, de sonhar junto, de conhecer junto. Meu namorado, LCF, dedicou seu tempo para escrever uma carta para mim. Mesmo podendo entregá-la em mãos à mim, ela veio pelo "modo antigo": selada e endereçada ao destinatário: eu.

Eu nem sei onde devo guardá-la. Ainda está vagando pelo meu quarto. Parece que nenhum lugar é digno dela. 

Obrigada, LCF, pelo carinho, amor, atenção e tempo dispensado, não somente ao escrever esta carta, mas por todo o tempo, até o fim! Te amo!

"E para terminar, amor assinarei
Do sempre, sempre teu..."
(Renato Russo, A Carta)

Omnia Vanitas

22 de junho de 2015

O Grande Juiz ..

Renato Russo, música "Perfeição"

Existe dentro de nós um juiz implacável. Esse pequeno juiz aponta o dedo em riste para todos ao redor e em quase todas as situações. Esse miserável juiz cresce todas as vezes que a oportunidade de julgar lhe é dada. E, assim, ele se acha um exímio ser humano perfeito.

Não pense, nobre leitor, que este juiz está vivo em pessoas de baixo caráter. Ele vive em cada ser humano. Todos nós: eu, você, o rico, o pobre, o mendigo, a faxineira, a freira, o pastor, .. todos, sem exceção, possuímos esse pequenino e forte juiz dentro de nós. 
Adoramos apontar o erro alheio pois isso nos torna poderosos. Quando olhamos para o erro alheio, esquecemos o quanto somos falhos e, assim, temos a falha impressão de que somos perfeitos. 
Concordo que, em alguns casos, minhas escolhas são melhores que as escolhas que outros fizeram para si; mas há em mim escolhas piores de outros que escolheram melhor do que eu. Minha falha pode não ser a falha de outro. Onde sou forte, outro pode ser fraco. Eu tenho o costume de dizer que não existe uma "ciência exata" para o ato do ser humano. Ele vive conforme aquilo se apresenta na frente dele: às vezes acertará, em outras, errará. E quem somos nós para erguemos o dedo e lhe apontar o erro, sendo nós ainda falhos? 

Existe um trecho no livro "As Crônicas de Nárnia: O Cavalo e Seu Menino", onde Shasta, o protagonista, ao encontrar o Leão de Nárnia lhe faz algumas perguntas. Quando Aslan lhe dá uma resposta, o menino fica intrigado:
– Fui eu o leão que o forçou a encontrar-se com Aravis. Fui eu o gato que o consolou na casa dos mortos. Fui eu o leão que espantou os chacais para que você dormisse. Fui eu o leão que empurrou para a praia a canoa em que você dormia, uma criança quase morta, para que um homem, acordado à meia-noite, o acolhesse.

– Então foi você que machucou Aravis?

– Fui eu.

– Mas por quê?!

Filho! Estou contando a sua história, não a dela. A cada um só conto a história que lhe pertence.
Se não somos bons o suficientes para amar e aconselhar, calemos a nossa boca ao julgar todos os outros.

18 de junho de 2015

Fanny Price..

Fanny Price, do filme Palácio das Ilusões, 1999 (um péssimo filme)



Desculpe-me, querido leitor de Jane Austen, se Fanny Price lhe agrada. À mim, falta-lhe sal! 

Apaixonada por Edmund Bertram, seu primo, Fanny fica sempre à parte da situação. Não que seja ignorante ou estúpida, ela é inteligente e tem uma ótima conversa. Mas, se apieda de si ao extremo. Um momento da trama me dá orgulho dela - quando ela se nega a participar do teatro "Juras de Amor" que todos em Mansfield Partk estão ensaiando. É uma peça de gosto duvidoso e seus "atores" estão cheios de malícia e má intenção. Concordo com Fanny: fique fora, garota! 

Por ser pouco participativa no meio social de sua própria família, ela adquiriu a habilidade de observar as pessoas e lhes descrever o caráter. Essa sua "habilidade" salvou-a das garras do sedutor Henry Crawford.
Mas, quieto leitor, o que adianta ser esperta contra as investidas de um cafajeste mas ser conformada com o sentimento fraco que o primo lhe concede? 
No passeio à Sothern (futuro lar da prima Maria Bertram), ela se deixou ficar sentada em um banco, esperando Edmund se lembrar dela para buscá-la. Ficou lá , sozinha, lamuriando a sua má sorte de ser abandonada pelo primo amado, enquanto este ia passear todo alegre com a vaca-vizinha Senhorita Crawford. Essa cena, longa por sinal, me irritou. O conformismo de ficar lá sentada e sofrendo por ser esquecida. Deus! Que tédio! 
Levanta-te, mulher! Vá caminhar até o teu amado e botar a vaca para pastar em outro quintal! 

Fanny Price me irrita! Viva Elizabeth Bennet!!

Omnia Vanitas.

10 de junho de 2015

Mary Crawford ..parte II



Para ler a primeira parte, clique aqui.

O segundo contraste - e o que me levou à escrever esta publicação - é a questão da igreja. Enquanto para a senhorita Crawford a escolha eclesiástica deve a ser a última opção que um homem deve escolher. Cabe a Edmund mostrar à Mary a importância que existe da igreja na sociedade. Na verdade, este pequeno diálogo é, ao meu ver, um confronto entre realidade versus ideal. A igreja deve ser como o futuro clérigo cita mas a prática dá a razão para Mary Crawford.
Na verdade, o que angustia a senhorita C. não é o fato de Edmund optar pelo oficio eclesiástico, mas o pouco rendimento que a profissão lhe provém.

Mais adiante no enredo, a conversa sobre a importância da ordenação de Edmund volta à cena, desta vez em Mansfield Park, a casa da família Bertram.

(...)
— Que! Ordenar-se sem ter meios! Não, isto é realmente loucura; loucura absoluta.
— Posso então lhe perguntar o que será da igreja, sem nem com meios nem sem meios o
homem deve ordenar-se? Não, pois certamente não saberia o que dizer. Mas do seu próprio argumento posso tirar alguma vantagem para o pastor. Como ele não pode ser influenciado por aqueles sentimentos que na sua opinião são classificados como tentação e recompensa para o soldado ou marinheiro, ao escolherem suas carreiras, pois que o heroísmo, o barulho, a moda, não lhe são permitidos, ele deve estar menos sujeito à suspeita de não ser sincero ou bem intencionado na sua escolha.
— Oh! sem dúvida ele é muito sincero ao preferir uma renda já pronta em vez de ter de
trabalhar para a conseguir; e tem as melhores intenções de não fazer mais nada até o fim da vida senão comer, beber e engordar. É indolência, Mr. Bertram, isto é que é. Indolência e amor ao bem estar; uma falta total de louvável ambição, de gosto pelas boas companhias, ou de vontade de se dar ao trabalho de ser agradável, é o que fazem os homens quererem entrar para o clero. Um pastor não tem nada que fazer senão ser negligente e egoísta; ler os jornais, olhar para o tempo e discutir com a mulher. Sua
paróquia fará todo o trabalho e a preocupação de sua vida é jantar.
— Existem, sem dúvida, pastores assim, mas creio que não são tão comuns que justifiquem o juízo por Miss Crawford do seu caráter em geral. Suspeito que nessa censura ampla e (posso dizer) geral, a senhorita não está julgando por si mesma, mas por pessoas mal informadas, cujas opiniões se habituou a ouvir. É impossível que com as suas próprias observações ficasse conhecendo muito o clero. Do grupo de homens que a senhorita tão decisivamente condena, talvez pessoalmente tenha conhecido muito poucos. Está repetindo o que ouviu dizer em casa de seu tio.
— Estou dizendo o que parecer ser opinião geral; quando a opinião é geral, habitualmente é correta. Embora eu própria não esteja muito a par da vida doméstica dos pastores, há muitíssimas pessoas que o estão para que haja engano na informação.
— Quando se vê uma qualquer corporação de homens educados, de qualquer denominação, condenados sem distinção, deve haver erro de informação ou (sorrindo) de qualquer outra coisa. Seu tio e seus colegas almirantes talvez não conhecessem do clero senão os capelães, os quais bons ou maus eles sempre preferiam ver de longe.(...)
— Eu tenho me guiado tão pouco pelas opiniões de meu tio, disse Miss Crawford, que dificilmente poderia supor... e já que me obriga a falar, posso afirmar que não estou inteiramente alheia ao que são os pastores, visto que atualmente sou hóspede de meu próprio cunhado, dr. Grant. E embora ele seja muito bom e amável comigo, embora seja realmente um cavalheiro, e, ouso dizer, muito erudito e inteligente, muito respeitável, e faça muito bons sermões, vejo no entanto que é um indolente, egoísta, “bon vivant”, cujo gosto tem de ser consultado em todas as coisas; que não mexe um dedo pela conveniência de ninguém; e que, além disso, se a cozinheira comete uma asneira, fica de
mau humor com a sua excelente mulher.
(...)

Desta vez, Mary Crawford usa seu cunhado como modelo. Sabendo o marido de sua irmã é um homem de espírito belicoso no que concerne à boa mesa, ela se utiliza deste caráter para justificar a má conduta de todos os clérigos. Edmund e Fanny (que participa da conversa, ora de forma passiva, ora não), justificam que, por não conhecerem o senhor Grant e sua conduta familiar, não podem proferir uma conclusão sobre o caso, mas que, segundo a dupla defensora do ofício eclesiástico, o caráter, seja ele de um clérigo ou de um almirante, não podem justificar a conduta de todos os que comungam a profissão.
Para a senhorita Crawford, pelo que comenta do cunhado, não adiantaria em nada ter todas as qualidades que possui, se erra no ponto de cuidar de sua esposa. Porém, ouso afirmar, que se ele cuidasse bem da irmã de Mary, ela encontraria outro defeito na conduta do dr. Grant, somente pelo prazer de diminuir o valor do ofício clerical e fazer prevalecer sua vontade.

Concluindo, na primeira parte desta publicação, encontramos Mary Crawford achando que a escolha para uma atividade oficial eclesiástica é a última escolha que um rapaz deve ter. Quando tudo o mais falhar, seja clérigo. Não há como discutir sobre isso, pois, até hoje, muitos escolhem uma profissão por ela ser rentável e não prazerosa. 
Mas para a senhorita Crawford, além de ser uma profissão que não possuiu um status elevado na sociedade, o pastor recebe uma remuneração pequena. Logo, não lhe sobra nenhuma glória para fazê-lo encher o peito de orgulho e dizer à plenos pulmões: Sou Pastor!
Mesmo com toda a boa intenção de Edmund em provar que um pastor pode ser visto com um agente atuante e motivador dentro da sociedade que pertence, a jovem cunhada do dr. Grant afirma que poucos são os clérigos que possuem um caráter satisfatório para a vida marital: não passam de comilões, beberrões e acomodados que discutem por ninharia com seus familiares.

Então, calado leitor, será que Mary Crawford está plena em razão ou é apenas preconceituosa com a classe?

Omnia Vanitas.

Mary Crawford .. parte I

"Um clérigo não tem mais nada a fazer do que ser desleixado e egoísta; ler jornal, ver as condições do tempo e discutir com a sua esposa" (Mary Crawford, Mansfield Park (Jane Austen)


Para os leitores de Jane Austen, não é novidade o quanto seus clérigos são conotados como pessoas estúpidas e sem nenhuma expressão na sociedade que participam. São seres inferiores e cômicos que não agregam valores importantes para a sua gestão eclesiástica. Comem, bebem e se casam com mulheres que são superiores à eles ou tão estúpidas quanto.
Exemplo: em Orgulho e Preconceito, Charlotte Lucas "dá o golpe" em Mr. Collins. Não o golpe do baú, mas, sendo ela uma solteirona de vinte e sete anos e sem pretendentes à vista, Mr. Collins e sua estupidez são o prato cheio para tirá-la da roda de "fardo" da sociedade.
Mr. Elton, em Emma, também é outro bajulador com o clérigo de O&P. A esposa do "Senhor E." é uma pedante de marca maior. Adora cuidar da vida dos outros e importuná-los - pobre senhorita Fairfax que teve a "alegria" de ser escolhida como amiga íntima de um criatura tão pegajosa quanto a senhora Elton.

Na minha leitura atual, Mansfield Park, eu não consigo enxergar Edmund Bertram como um clérigo diferente dos demais. Farei apenas uma adendo, ele é um ótimo administrador, culto e tudo mais, mas, como todos os outros, sua paixão lhe atira aos pés dos grandes tolos que o antecederam e subsequentes a ele.

Mas, há uma parte desta leitura que chamou minha atenção desde a primeira leitura que fiz em 2011. Esta parte trata da discussão entre Mary Crawford e Edmund. Ela mostra como a sociedade vê o clérigo e, Edmund lhe apresenta o ideal eclesiástico da função.  Essa discussão aparece em duas partes do livro (pelo menos essa que chamou minha atenção). A primeira vez é quando o grupo visita a propriedade do sr. Rushworth (noivo de Maria Bertram, irmã de Edmund). A segunda é quando o grupo está, novamente, reunido em Mansfield Park (residência dos Bertram).

(...)
— Então Mr. Bertram, vai mesmo ser pastor? É uma grande surpresa para mim.
— Por que está surpreendida? Deve lembrar-se que eu tenho de ter uma profissão e já há de ter percebido que não sou nem advogado, nem soldado, nem marinheiro. (...) 
— Mas porque há de ser pastor? Sempre pensei que esta sorte coubesse ao filho mais moço,quando houvesse muitos irmãos para escolher.

— Acha então que a igreja nunca é escolhida por si mesma?
— Nunca é uma palavra forte. Mas o “nunca” da nossa conversa, que significa “não muito frequentemente”, acredito que não. Pois o que se pode esperar da igreja? Os homens gostam de se distinguir e em outra qualquer carreira essa distinção pode ser alcançada, mas não na igreja. Um pastor não é nada.
— Este “nada” da conversa também tem suas gradações, espero; pelo menos tanto quanto o “nunca”. Um pastor não pode sobressair em pompas e modas. Não deve dirigir povos nem ditar modas de vestuário. Mas não vejo nessa situação nada que se relacione com aquilo que é de primeira importância para a humanidade, individual ou coletivamente considerado, temporária ou eternamente: a proteção da religião ou da moral e consequentemente das maneiras que resultam da sua influência. Nenhum de nós aqui pode achar que o “ofício” é nada. Se o homem que o pratica é considerado inútil,o é por negligência aos seus deveres, por não lhe dar uma justa importância e afastar-se do seu lugar para aparecer onde não deve.
- O senhor dá mais importância ao pastor do que geralmente se costuma dar ou do que eu posso compreender. Na sociedade não se sente muito essa influência e essa importância, mas como poderiam ser sentidas num meio onde os próprios pastores raramente são vistos? Como podem dois sermões por semana, mesmo supondo que sejam dignos de serem ouvidos, e embora o pregador tenha o bom senso de preferir os de Blair aos seus próprios, fazer tudo isso que fala — governar a conduta e dirigir as maneiras de uma grande congregação para o resto da semana? Dificilmente se vê um pastor fora do púlpito.
— A senhorita está falando de Londres enquanto eu me refiro à nação inteira.
— A metrópole é um bom exemplo do que deve ser o resto.
— Não o espero, no que se refere à proporção da virtude para o vício em toda a extensão do reino. Não procuramos nossa moralidade nas grandes cidades. Não é lá que a gente respeitável de qualquer denominação pode fazer o maior bem; e certamente não é lá que a influência do clero pode ser melhor sentida. Um bom pregador é sentido e admirado; mas não é somente pelos belos sermões que um bom pastor pode ser útil na sua paróquia e na sua vizinhança, onde, pela extensão das mesmas,é possível se conhecer a sua vida íntima e observar a sua conduta em geral, o que em Londres dificilmente aconteceria. Lá o clero se perde no meio da multidão. São conhecidos apenas como pregadores pela maior parte. E quanto à influência deles em questões de ordem pública, peço que não me interprete mal, Miss Crawford, ou suponha que eu pretenda chamá-los de árbitros da boa educação, de reguladores da polidez e da cortesia, de mestres de cerimônias da vida. As “maneiras” a que me refiro, poderiam antes ser chamadas “condutas”, ou talvez, o resultado de bons princípios; o efeito, em resumo, daquelas doutrinas que eles têm por dever ensinar e recomendar; e admito que haja aqueles que são o que não deviam ser, como aliás se encontram em toda a parte.
(...)

 Austen apresenta dois contrastes. O primeiro é a rivalidade campo versus cidade. Como anuncia o prefácio, há uma forte disposição da senhorita Austen em "promover" o campo, trazendo da cidade dois personagens (Mary e Henry Crawford) para mostrar a malícia e indiscrição da sociedade "mundana". Porém, eu não colocaria a carga de "irresponsáveis" sobre os irmãos Crawford, sendo que Tom, Maria, Júlia, tia Norris e quase todos de Mansfield Park possuem um espírito detrativo no que concerne a moral e bons costumes. As duas irmãs (Maria e Júlia, sendo a primeira noiva de Mr. Rushworth) entram no jogo de sedução de Henry Crawford.

O segundo contraste - e o que me levou à escrever esta publicação - é a questão da igreja. Enquanto para a senhorita Crawford a escolha eclesiástica deve a ser a última opção que um homem deve escolher. Cabe a Edmund mostrar à Mary a importância que existe da igreja na sociedade. Na verdade, este pequeno diálogo é, ao meu ver, um confronto entre realidade versus ideal. A igreja deve ser como o futuro clérigo cita mas a prática dá a razão para Mary Crawford.
Na verdade, o que angustia a senhorita C. não é o fato de Edmund optar pelo oficio eclesiástico, mas o pouco rendimento que a profissão lhe provém.

Mais adiante no enredo, a conversa sobre a importância da ordenação de Edmund volta à cena, desta vez em Mansfield Park, a casa da família Bertram.

Continua em outra publicação: parte II.

Omnia Vanitas.



9 de junho de 2015

Duas Vontades..


Eu adoro nadar! Mesmo quando meu professor insiste que eu devo aprender a nadar "borbo", eu gosto de nadar. 

E, durante as minhas aulas de natação, eu vejo, sentado na arquibancada, um rapaz que faz aula depois do meu horário. Ele está lá, sentado com seu livro, apreciando a leitura. 
Mesmo adorando nadar, eu sinto uma vontade enorme de sentar naquela arquibancada e ler. Estranho, não é?

Dias atrás, minha irmã ficou com gripe e eu fui sozinha para a natação. Como não precisei esperá-la chegar para caminharmos até ao complexo de esportes, cheguei mais cedo do que de costume para a aula. Então, "matei" minha vontade de sentar naquela arquibancada e ler. Quinze minutos, minha leitura era "Emma". Sentamos: eu, meu livro e meu chocolate.

Ontem, eu fui sozinha novamente. Não tive o mesmo  tempo livre que da primeira vez, então, vesti meu maiô, meu roupão e fui para a beira da piscina esperar minha hora da aula começar. Eu e meu livro, agora é "Mansfield Park", também de Jane Austen. Depois de poucos minutos, ouço meu professor gritar:

- Sai da teoria e vem para a prática!

Minha aula começaria. Guardei o livro no bolso do roupão e fui fazer uma atividade que adoro: nadar.

Omnia Vanitas.

8 de junho de 2015

Uma Carta de Cassandra Austen..


Estava lendo o blog da Raquel Sallaberry Brião sobre a compra da carta de Cassandra Austen (irmã de Jane Austen) para a sobrinha Fanny Knight.
Para finalizar a publicação, Raquel S.B. traduz a carta, que segue abaixo! Eu achei linda esta missiva e quase fui às lágrimas. Espero que logo seja publicado um livro com as cartas que Jane Austen trocava com Cassandra, será uma realização de leitora que anseio à muito tempo!
Segue a carta traduzida por Raquel Sallaberry Brião:






29 de julho de 1817
Chawton, terça-feira


Minha queridíssima Fanny,

acabei de ler sua carta pela terceira vez e agradeço sinceramente por cada gentileza para comigo, e ainda mais calorosamente por seus louvores a ela que acredito era mais conhecida por você do que qualquer outro ser humano além de mim. Nada desse tipo poderia ter sido mais gratificante para mim do que a maneira pela qual você escreve sobre ela, e se o querido Anjo pode saber o que se passa aqui, e não estiver acima dos sentimentos deste mundo, ela talvez possa receber com prazer o fato de ser tão pranteada. Tivesse sido ela a sobrevivente posso imaginá-la falando sobre você quase nos mesmos termos. Há certamente muitos pontos fortes de semelhança em suas personalidades; na intimidade entre vocês, e na forte e mútua afeição vocês eram idênticas.

Quinta-feira não foi um dia tão terrível como você imaginou. Havia tantas coisas necessárias a fazer que não houve tempo para infelicidade adicional. Tudo foi conduzido com a maior tranquilidade, e exceto que eu estava determinada que veria até o final, portanto estava na escuta, eu não deveria ter sabido quando eles saíram de casa. Assisti o pequeno cortejo, do comprimento da rua, passar; e quando desapareceu de minha vista eu a tinha perdido para sempre, mesmo nesse momento eu não fiquei subjugada, nem muito agitada como estou agora em escrever isto. Nunca houve um ser humano mais sinceramente pranteado, por aqueles que atenderam seu velório, do que foi esta querida criatura. Possa a tristeza com que ela partiu com da terra ser um prognóstico da alegria com a qual ela será saudada no céu!

Eu continuo toleravelmente bem, muito melhor do que se poderia supor possível, porque certamente tenho tido um cansaço considerável no corpo como também uma angustia mental faz meses; mas estou realmente bem e espero estar devidamente agradecida ao Todo-Poderoso por ter sido apoiada. Sua avó, também, está muito melhor do que quando cheguei em casa.

Não acho que seu querido papai pareça indisposto e creio que ele me parece muito mais confortável depois de seu retorno de Winchester do que antes. Não preciso dizer para você que ele foi um grande conforto para mim; de fato, eu nunca poderei dizer o suficiente da bondade que recebi dele e de todos outros amigos.

Eu tenho saído e me ocupado. É claro que essas ocupações se adequam melhor quando me deixam livre para pensar nela, a quem perdi, e realmente penso nela na mais variadas circunstâncias. Em nossas horas felizes de conversas confidenciais, nas animadas festas familiares que ela tanto adornava, em seu quarto de doente, em seu leito de morte, e (espero) como habitante dos céus. Ah, se eu puder um dia me reunir a ela lá! Sei que virá o tempo em que minha mente não ficará tão absorvida dela, mas eu não gosto de pensar sobre isso. Se penso nela menos na terra, que Deus garanta que eu nunca cesse de refletir sobre ela como uma habitante do céu, e nunca cesse meus humildes esforços (quando isto for do agrado de Deus) de juntar me a ela.

Olhando uns poucos e preciosos papeis os quais são agora minha propriedade, achei alguns memorandos, entre os quais ela quer que uma de suas correntes de ouro seja dada a sua afilhada Louisa, e uma mecha de seus cabelo seja destinada a você. Você não necessita de nenhuma garantia, minha querida Fanny, de que cada pedido de sua amada tia será sagrado para mim. Assim sendo me diga se você prefere um broche ou anel. Deus abençoe você, minha querida Fanny.

Acredite-me, mais carinhosamente sua,
Cass. Elizth. Austen

Omnia Vanitas.

Nota de esclarecimento em 08 de junho de 2016: Jane Austen faleceu em 18 de julho de 1817 e foi sepultada dia 24 de julho do mesmo ano, na cidade de Winchester, Reino Unido.

3 de junho de 2015

Harriet, A Chave para Emma..

"Oh, Deus! Gostaria de jamais tê-la conhecido!" (Emma, BBC Londres)

Quando o assunto é "Harriet Smith" as opiniões divergem.

Harriet é filha ilegítima de alguém que não quer ser encontrado e, para isso, paga os estudos da moça em Highbury. E a própria filha não tem interesse em saber do seu parentesco, parece não se interessar por ela mesma. Harriet é totalmente ignorante e sem caráter firme. Conforme o vento sopra, ela toma as decisões que outros a orientaram a  tomar. Mas, desocupado leitor, ela não é uma má pessoa, apenas é desligada de si - o que talvez seja pior.

Quando a "pobre senhorita Taylor" casou-se com o senhor Weston, Emma sentiu, pela primeira vez, o peso que a ausência da senhora Weston causou na sua vida. E, sem nada melhor para fazer, a protagonista decidiu que Harriet, a interna da escola da senhora Goddard, seria a substituta da sua amiga. 

O nível intelectual da ex-governanta de Hartfield e a nova amiga é muito distinto (pelos motivos que apresentei acima). E isso não parece incomodar Emma pois há, para a protagonista, o benefício de usar sua inteligência e persuasão para que Harriet faça aquilo que a patricinha decidir. Emma até tenta ser justa e deixar Harriet tomar suas próprias decisões, mas ela falha miseravelmente nesta tentativa. Um exemplo muito prático dessa situação é quando a pensionista recebe a proposta de casamento do senhor Martin. Emma tenta se manter imparcial, mas é possível perceber que seus olhares e intenções à Harriet  a levam a recusar o fazendeiro apaixonado. 
Considerações sobre o pedido de casamento, clique aqui.

E a trama se desenvolve com Harriet sendo a distração de Emma. Ela jura que o estúpido pároco da região, o senhor Elton, está apaixonado por sua amiga. Com esta travessura, a patricinha colhe sua primeira fruta da má ação.

Mas o ponto principal fica sendo quando ela eleva tanto o brio de Harriet, que esta não se contenta em ter um mero fazendeiro como marido, ela escolheu o melhor cavalheiro que Surry poderia ter: Mr. Knightley.

E então, Emma exclama o seguinte: "Gostaria de jamais tê-la conhecido!".

E não somente pelo motivo de Harriet estar apaixonada por Mr. Knightley que Emma lamenta essa amizade. A patricinha recorda de todos os acontecimentos que passaram juntas e descobre como foi imprudente em manter uma amizade tão sem propósito e, também, mal administrada com Harriet. A pobre pensionista, em sua cabecinha oca, tornou-se "a Criatura" e Emma, o doutor Frankenstein. Agora, havia a necessidade de livrar-se da amizade, de manter o convívio de Hartfield para Harriet isolado. 
A consciência de Emma entende o quanto imprudente e egoísta ela foi ao se aproximar da senhorita Smith.

Por todo o enredo que envolve essa amizade, Harriet é a chave para Emma descobrir o quanto sua personalidade estava longe de ser perfeita como ela imaginava. As considerações do senhor Knightley começaram a ser relevantes a ela. 

Se não fosse por Harriet, Emma ainda seria uma riquinha tola e nem desconfiaria que ao seu lado vivia o homem por quem ela se apaixonaria. Isso, nem mesmo o conselho de "George" poderia prever.

Omnia Vanitas.


O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...