29 de agosto de 2012

Excomungado..


Errei na escolha do livro Drácula, o Morto-Vivo, de Dacre Stoker e Ian Holz.
Achei que seria uma trama envolvente e surpreendente! Grande erro!

A carta que abre o livro é muito bem escrita. Fez-me ter vontade de abrir o livro original e lê-lo novamente! Porém, depois de uma frase e outra de impacto, nada mais restou para envolver o livro.

Eu senti, durante a leitura, a falta de algum elemento que causasse a vontade de continuar a leitura. A construção das frases soa vazia , parece quererem colocar um suspense mas deixam a frase suspensa e sem aquele significado que leve o leitor até a próxima página. Faltou, também, um aprofundamento na índole dos personagens. O caráter não foi bem construído.
Talvez, minha decepção tenha sido ocasionada pela expectativa da primeira obra. Eu deveria saber, sequências de uma obra lançadas por outras mãos não têm as mesmas características da obra original. Eu já postei sobre isso antes - incrível não ter seguido meu próprio conselho.

Li somente até o capítulo XXIII. Confesso, os capítulos XVIII até XXI me deixaram encantada:

Capítulo XVIII

"Policiais sopraram seus apitos, correndo em direção da multidão que se formara na base da árvore. Mulheres desmaiaram. Homens ficaram paralisados. Automóveis pararam cantando pneus. Carroças de frutas e leite se chocaram uma com as outras. Pandemônio.
No centro de Piccadilly Circus havia sido colocado um poste de madeira de doze metros de altura que se erguia acima do Anjo da Caridade Cristã. No alto do mastro um homem nu havia sido empalado. A mandíbula dele estava quebrada, com a ponta da estaca se projetando de sua boca. Intestinos e outros órgãos internos, arrastados pela vara que atravessara seu corpo, saíam de seus lábios. Pingava sangue de seus olhos, ouvidos e nariz. O corpo se contorceu, soltando um gemido de gelar o sangue. O pobre homem ainda estava vivo.
De fato, era obra de um diabo".

Capítulo XIX

"As mãos de Quincey tremiam, dificultando a leitura do texto. Ele colocou o jornal na mesa para firmá-lo enquanto relia a matéria. Traduzira corretamente. A respiração de Quincey estava acelerada. Ao chegar à última linha, achou que iria desmaiar. Obrigou-se a ler de novo: "A vítima empalada foi identificada como sendo o sr. Jonathan Harker, destacado advogado de Exeter, cidade a oeste de Londres".

Capítulo XXI

"Os pensamentos rodopiavam em sua cabeça. Suas emoções estavam abaladas antes mesmo de colocar os pés no necrotério. A culpa de sua última conversa com Jonathan, uma discussão acalorada e dolorosa, pesava em seu coração. Nunca haveria uma reconciliação. Nunca teria a oportunidade de dizer tudo o que sentira. Ela jurou nunca cometer o mesmo erro com Quincey".

Nesta versão, houve uma necessidade de incluir a história real de Drácula (que já postei  aqui. Porém, eles não conseguiram tornar isso algo interessante. Quando li O Cemitério de Praga, de Umberto Eco, percebi que ele fez a mesma coisa que esses autores tentaram. Eco utilizou-se da história e soube construir uma obra encantadora!
Um trecho de Drácula, o Morto-Vivo:

"- Então, Drácula é considerado o pai de sua nação? Pelo que li, ele assassinou milhares e era conhecido por beber seu sangue.
- Um antigo ritual pagão. Dizia-se que aqueles que bebiam o sangue de seus inimigos ingeriam seu poder.
- E há a tradução de seu nome - disse Quincey. Ele folheou as páginas para encontrar o trecho e o mostrou a Basarab: - "Filho do Diabo".
- A verdadeira tradução do nome de Drácula é "Filho do Dragão". Seu pai era um cavaleiro da Ordem Católica do Dragão, que jurara proteger a cristandade dos muçulmanos. O símbolo do diabo na cultura cristã ortodoxa é um dragão. Daí a confusão".

Totalmente sem sal. Isso não parece um diálogo, mas um jogral estilo Rebeldes. Um fala, o outro responde; um pergunta e o outro retruca!

Finalizo com um trecho da obra do verdadeiro Stoker, Bram Stoker:

"- Professor, deixe-me ser seu estimado aluno mais uma vez. Explique-me a tese para que eu possa aplicar seu conhecimento, à medida que prossegue. Atualmente, meu pensamento focaliza os pontos, pulando de um a outro como o louco segue uma ideia e não como homem são. Sinto-me como um aprendiz que atravessasse um pântano envolto em névoa e que pulasse de u'a moita para a outra, cegamente, sem saber para onde ir.
- É uma boa imagem - afirmou ele. - Bem, dir-lhe-ei. Minha tese é esta: quero que acredite.
- Em quê?
- Naquilo em que não pode acreditar. Deixe-me dar um exemplo. Ouvi certa vez um americano estabelecer a seguinte definição para a palavra "crença": "É a faculdade que nos permite acreditar em coisas que sabemos serem inverídicas". Acredito nele. Quis dizer que devemos ser liberais, não permitindo que uma pequena crença abafe uma grande verdade, assim, como uma pequena pedra pode atrapalhar o movimento de veículos. Primeiro, aprendemos a pequena verdade. Conservamo-la e a valorizamos, mas não devemos julgar que seja toda a verdade do universo.
- Então deseja que minhas convicções prévias não impeçam minha mente de acreditar em algum fato estranho. Compreendi bem?
- Ah, ainda é meu aluno favorito. Vale a pena ensiná-lo. Agora que demonstra vontade de compreender, já deu o primeiro passo para a compreensão".

Omnia vanitas.

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