Olá, anônimo leitor!
Estou na segunda leitura deste livro do Swift, depois de mais de oito de distância da primeira. E é um novo olhar por dois motivos.
Primeiro, faz muito tempo desde a primeira leitura, todas as particularidades foram esquecidas conforme outras leituras foram feitas depois desta.
Segundo motivo foi que desta vez eu decidi incluir as notas explicativas na leitura.
Este exemplar é da Nova Cultural (2003) com tradução e notas de Therezinha Monteiro Deutsch. Ela, também, traduziu pela editora Best Bolso os livro Emma e Razão e Sensilidade de Jane Austen - ambos indicados pela Raquel Sallaberry Brião no seu site Jane Austen em Português como as entre as melhores traduções das obras da escritora inglesa.
Faz pouco tempo que comecei a cuidar das traduções que tenho na minha estante. Algumas edições eu tenho a oportunidade de trocar, mas em sua maioria fico à mercê do que tenho em mãos.
A primeira vez que notei uma tradução diferente foi no livro Persuasão da própria Jane Austen. Vou deixar o link aqui para não me alongar na explicação.
Para outras obras, eu uso as publicações do blog Não Gosto de Plágio da Denise Bottman.
Sendo assim, mais confiante na tradução e nota de Deutsch, eu faço desta segunda leitura de As Viagens de Gulliver uma aventura mais real da história.
As notas sobre o texto enriquecem muito a leitura. As observações permitem que o leitor encontre os motivos que levaram àquele trecho ou algumas possíveis ideias de estudiosos de Swift para que esta ou aquela frase estivesse ali. Estar na cabeça e na história que o escritor viveu ao escrever torna a leitura muito mais rica e completa e permite ao leitor rir da sátira que é As Viagens de Gulliver.
Para não deixar você, leitor anônimo, sem um exemplo, deixarei dois para lhe dar uma luz sobre o que escrevi.
"(...) Diverti-me, entre outras coisas, como dançarinos na corda-bamba¹, que se apresentavam sobre um fino fio branco esticado a cera de um metro e meio do solo. Peço licença, e paciência ao leitor para me alonga um pouco a este respeito.(...)
Esta diversão é praticada apenas pelas pessoas que são candidatas a altos cargos e altos favores na corte. São treinadas nesta arte desde bem pequenas e nem sempre são de nascimento nobre ou têm educação liberal. Quando um alto cargo fica vago, por morte ou queda em desgraça (o que acontece muito), cinco ou seis desses candidatos apresentam petições para divertir Sua Majestade e a corte com a dança na corda-bamba; então, aquele que saltar mais alto sem cair ganha o cargo". (página 62-3)
"Mandei tantas cartas e petições para minha liberdade que por fim Sua Majestade mencionou o assunto no gabinete e, depois, numa reunião do Conselho, ninguém e opôs, a ser Skyresh Bolgolam², que resolveu, sem nenhum motivo, ser meu inimigo mortal". (página 67).
Notas:
(1): dançarinos em corda-bamba: exibição preferida ente os divertimentos populares no período. Para avaliar o significado satírico, confrontar com a observação de Swift num panfleto religioso (1709): "Leve-se em conta que andar na corda-bamba é o único talento requerido por um ato do Parlamento para transformar um homem em bispo; não se duvide de que depois de ter feito esta demonstração de atividade, de estar em forma, esse homem poderia sentar-se na Câmara dos Lordes...mas é preciso ser pouco cristão para acreditar que esse funâmbulo depois disso tornara-se um tiquinho ais bispo do que antes..." prose, ii, 75; E.W. Rosenheim, PQ, xxxi, 1952, 209).
(2): Skyresh Bolgolam: "Estilo 'im Mar'boro'" (Clark, pp 604-5, i.é,; o duque de Marlborough, a quem Swift atacara várias vezes (principalmente no Examiner, 23 de novembro de 1710) como chefe representativo da polícia-de-guerra dos whigs*. Firth (p.242) identifica Bolgolam como o conde de Nottingham, que usou sua iinflência para impedir que Swift conseguisse um bispado. Se bem qu não fosse um almirante, Nottingham fora Primeiro Lode do Almirantado (1680-4), e se bem que totalmente ignorante em conhecimentos marítimos, sempre se vangloria de ser um perito naval. Case (p.72), que relata a carreira de Gulliver em Liliput não em relação à biografia de Swift, mas sim em referência à sorte política de Oxford e Bolingbroke, aceita esta identificação pelo fato de que Nottingham era hostil a Oxford "sem que tivesse havido nenhuma provocação", a ser o fato de Oxford (então Harley) tê-lo sucedido no cargo (1704).
Eu ainda estava procurando algumas informações sobre a tradutora quando achei dois trabalhos que serão um ótimo suporte para esta leitura, segue os links abaixo;
- Autor: Leonardo José César de Mattos Guerra. Título: Viagens de Gulliver: recepção (história) e interpretação (crítica)
- Autor: Evaldo Gondim dos Santos. Título: Tradução e ironia: o cientificismo iluminista em Gulliver’s Travels vs. (As) Viagens de Gulliver
Então é isso, leitor!
Omnia Vanitas. 💀