22 de fevereiro de 2017

Quarta leitura..



Fim de mais uma leitura. Deixo um alerta: conto o fim da história.

Eu estava lendo Bartleby e, de repente, durante uma dor de cabeça, veio uma vontade louca de ler este clássico de Ernest Hemingway: O Velho e o Mar.

Durante oitenta e quatro dias, Santiago - o  velho - não pescava um único peixe. Seu ajudante, Manolin, foi obrigado a trocar de parceiro de pescaria. E o velho sentia a falta do garoto.

Foi no octogésimo quinto dia que o velho foi para o largo mar. Foi mais longe do que os outros pescadores foram pois era preciso buscar pela pesca que lhe devolvesse o orgulho de pescador. Mas ele foi longe demais.

A narrativa não tem capítulos. Sente-se, leitor, que uma história lhe será contada em uma sentada só. Essa é a impressão que eu tive da história. É uma narrativa contínua que muito bem pode ser contada uma roda de amigos.

O narrador eu - na minha ignorância - separo em três: aquele que inicia a narrativa:

Ele era uma velho que pescava sozinho em seu barco...

O segundo narrador é a voz do velho:

Dourados - disse o velho em voz alta. - Dourados dos grandes.

Esse segundo narrador é o velho falando consigo em mar alto. Sozinho, conversa com o peixe e narra suas ações e decisões.

O terceiro narrador é a consciência de Santiago:

É um grande cardume de dourados, pensou o velho. Estão muito espalhados por esta zona e os peixes-voadores não podem escapar deles. A andorinha não conseguirá nada. Os peixes-voadores são grandes demais e muito rápidos para ela.
Esta é a minha definição de narradores. E já está anotado na página final que, na próxima leitura, farei uma distinção entre o pensamento e a voz do velho - não sei que haverá alguma observação interessante, ... mas tive essa curiosidade de distinguir o pensamento e a voz do protagonista.

Santiago enfrenta o mar alto e pesca um peixe de cinco metros e meios. A luta que enfrenta é contra si - seu físico e mental, e a luta é contra o peixe - a quem vence.

Mesmo que a pesca amarrada ao seu barco, a volta lhe traz outra luta: os tubarões. Aprendi com a leitura de Moby Dick que toda caça atrai tubarões. 
Pobre Santiago. A luta quase o mata mas o horizonte lhe mostra a direção.

A chegada ao lar é a concretização da sua derrota. O peixe foi vencido, abatido e devorado. Do velho sobrou somente uma carcaça cansada. E o peixe virou lixo no dia seguinte. A vida é efêmera.

Esta é uma leitura muito interessante, visto que o mar dá ao velho o que o seu coração deseja, mas o mesmo lhe mostra que não possível ter aquilo que não se pode cuidar.
Além da pescaria, a meditação sobre o limite humano perante a natureza.


P.S.: Esqueci de escrever, ontem, algo que eu lembrei durante a minha leitura de O Velho e o Mar. O peixe é fisgado por Santiago e, durante a captura, o peixe leva o barco para alto mar. E, quando o peixe fazia esse movimento e, lendo o manuseio do velho para manter o peixe fisgado, eu lembrei de uma cena do filme O Auto da Compadecida, baseado no livro homônimo de Ariano Suassuna (que ainda não li); a cena é a seguinte - segue o trecho do livro:

JOÃO GRILO, suspirando: Tudo o que é vivo morre. Está aí uma coisa que eu não sabia! Bonito, Chicó, onde foi que você ouviu isso? De sua cabeça é que não saiu, que eu sei.CHICÓ: Saiu mesmo não, João. Isso eu ouvi um padre dizer uma vez. Foi no dia em que meu pirarucu morreu.JOÃO GRILO: Seu pirarucu?CHICÓ: Meu, é um modo de dizer, porque, para falar a verdade, acho que eu é que era dele. Nunca lhe contei isso não?JOÃO GRILO: Não, já ouvi falar de homem que tem peixe, mas de peixe que tem homem, é a primeira vez.CHICÓ: Foi quando eu estive no Amazonas. Eu tinha amarrado a corda do arpão em redor do corpo, de modo que estava com os braços sem movimento. Quando ferrei o bicho, ele deu um puxavante maior e eu caí no rio.JOÃO GRILO: O bicho pescou você!...CHICÓ: Exatamente, João, o bicho me pescou. Para encurtar a história, o pirarucu me arrastou rio acima três dias e três noites.JOÃO GRILO: Três dias e três noites? E você não sentia fome não, Chicó?CHICÓ: Fome não, mas era uma vontade de fumar danada. E o engraçado foi que ele deixou para morrer bem na entrada de uma vila, de modo que eu pudesse escapar. O enterro foi no outro dia e nunca mais esqueci o que o padre disse, na beira da cova.JOÃO GRILO: E como o avistaram da vila?CHICÓ: Ah, eu levantei um braço e acenei, acenei, até que uma lavadeira me avistou e vieram me soltar.JOÃO GRILO: E você não estava com os braços amarrados, Chicó?CHICÓ: João, na hora do aperto, dá-se um jeito a tudo.

Eu amo essa cena e, foi no automático, quando li que o velho tinha  pescado o peixe porém, o peixe o levou.
Agora sim, terminei esta publicação.

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