26 de fevereiro de 2017

Quinta leitura..


Fim de mais uma releitura.

Vidas Secas, de Graciliano Ramos foi lido pela primeira vez no inverno de 2012. Apesar de não haver nenhuma anotação sobre o período de leitura, eu tenho uma publicação feita sobre um dos personagens aqui. Foi em uma noite que eu voltava de Curitiba depois de uma prova de teologia. Apesar de não chorar por este personagem nesta leitura, outra figura chamou minha atenção.

A narrativa é sobre a seca no sertão. Um ano é a linha do tempo para a vida dos personagens envolvidos na trama: Fabiano, Sinhá Vitória, Baleia e os dois meninos.

A existência dessa família é cíclica - uma seca segue a outra. O pai é um vaqueiro ignorante que acredita que todos o que querem enganar: o mercador, o patrão, o caixeiro, o dono do botequim. Sua falta de conhecimento o deixa irritado e desconfiado com todos. A vida de Fabiano era a sina que lhe foi ensinada:
Tinha obrigação de trabalhar para os outros, naturalmente, conhecia o seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação, espantar-se-ia. Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de inverno a verão. Era sina. O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia família. Cortar mandacaru, ensebar látegos - aquilo estava no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro,só recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias.
Casou-se com Sinhá Vitória, que parecia melhor "ensinada" do que ele. Não gostava dos seus filhos perguntando sobre coisas que ele não sabia responder. Mal falava. Quieto, taciturno, ignorante. Detestava ser ignorante, mas essa era seu destino e o destino de seus filhos. A falta de conhecimento o tornava quieto pois não conhecia palavras suficientes para se expressar, então grunhia como bicho. 

A vida cíclica da seca é dolorosa. Deixar o emprego na fazenda, seguir para outro lugar sob um sol esfuziante, trabalhar para outros e permanecer pobre até a chegada da próxima estação de verão. Seca. 
Apesar da narrativa ser durante um ano na vida da família, ela não é, exatamente, linear. Passado e futuro se misturam na lembrança da família - e algumas dores são apagadas quando algo aconchegante acontece; não parece que foi verdadeiro.

A vida em Vidas Secas é muito fria. Quando o menino mais velho senta-se no chão, cansado de caminhar no sol ardente, Fabiano pensa em deixá-lo lá para as aves virem buscá-lo. Era certo?
Essa é a pergunta do pai para tudo o que o faz: era certo matar Baleia? Era certo enfrentar o soldado amarelo? Era certo? Ele não sabia porque não foi ensinado a raciocinar.
A marca deste romance, também, é a linguagem. Palavras como "mandacaru", "aió", "copiar", "esturrar" etc, são próprias da vida nordestina - assim creio. Por vezes, é quase incompreensível saber sobre o que se sendo narrado.

Gostei muito da releitura e, na próxima vez, vou prestar mais atenção em Fabiano - ou na sua esposa. Vidas interessantes.


Nenhum comentário:

O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...