30 de janeiro de 2017

A loucura de Ahab!...


Insano leitor, por vezes é cansativo ler Moby Dick; muitos detalhes que, na minha parca opinião, são desnecessários, como a descrição de vários tipos de baleia encontradas no oceano e a divagação sobre a cor branca e suas nuances.

Porém, nem tudo tudo cetologia e lápis de cor, devotado leitor. 

Eu estava lendo, hoje, quando precisei voltar minha leitura de ontem, pois os parágrafos finais do capítulo foram lidos com sonolência. E, bendita hora! Que parágrafo maravilhoso! 
Trata-se da loucura de Ahab (Acab, Acabe - escolha o preferido). 
Eu não sou psicóloga e, também, não leio psicologia (exceto Jane Austen). Portanto, não posso descrever com exatidão cátedra sobre o assunto, além daquilo que me tocou.
Eu achei fantástica descrição da loucura do capitão e como a sua alma (espírito), mente e corpo foram tomados pela vingança, ódio e horror! 
Sem mais delongas, deixo para você, leitor, o final do capítulo LXIV:


Muitas vezes, arrancado à noite de sua rede por sonhos exaustivos e insuportavelmente reais, os quais, continuando seus intensos pensamentos através do dia, carregavam esses pensamentos numa conflagração de frenesis, e os faziam rodopiar, voltas e mais voltas, em seu cérebro ardente, até que o próprio pulso de seu cerne vital se tornasse insuportável angústia; e quando, como às vezes era o caso, esses espasmos espirituais erguiam-lhe o ser de sua base, e um precipício parecia se abrir dentro dele, do qual disparavam labaredas e raios bifurcados, e demônios amaldiçoados convidavam-no a pular para junto deles; quando este inferno dentro de si escancarava suas bocas embaixo dele, um grito selvagem se ouviria pelo navio; e com os olhos dardejantes Ahab sairia de sua cabine, como se escapasse de um leito em chamas. Mas estes, talvez, em vez de serem os sintomas irreprimíveis de alguma fraqueza latente, ou do medo de seu próprio desenlace, fossem os mais puros indícios de sua intensidade. Pois, nessas ocasiões, o louco Ahab, o ardiloso, irreconciliável e tenaz caçador da baleia branca; esse Ahab que tinha ido para sua rede, não era o agente daquilo que o fazia fugir dali horrorizado mais uma vez. Esse agente era o eterno princípio vital ou alma dentro dele; e no sono, estando por algum tempo dissociado da mente discriminadora, que noutras ocasiões o usava como veículo ou como agente externo, esse princípio buscava escapar espontaneamente da escorchante contiguidade daquela coisa frenética, a qual, naquele momento, não integrava. Mas, como a mente não existe senão atada à alma, portanto deve ter sido essa, no caso de Ahab, quem dirigia todos os seus pensamentos e suas fantasias para seu propósito supremo; este propósito, por mera tenacidade da vontade, impingiu-se contra deuses e demônios numa espécie de ser independente. Assim, podia viver e queimar implacavelmente, enquanto a vitalidade comum à qual estava ligada fugia horrorizada daquele parto arbitrário e ilegítimo. Portanto, aquele espírito atormentado que observava do lado de fora dos olhos do corpo, aquele que parecia ser Ahab saindo de seu quarto, era naquela hora apenas uma coisa vazia, um ser sonâmbulo sem forma, um raio de luz viva, é certo, mas sem objeto para colorir, e, portanto, a própria vacuidade. Que Deus te ajude, velho: teus pensamentos criaram uma criatura em ti. E aquele cujo pensamento intenso o transformou num Prometeu; um abutre devora-lhe o coração eternamente; e esse abutre é a própria criatura por ele criada.

Omnia Vanitas

24 de janeiro de 2017

Moedinhas..



Aaahhh La Fontaine!! Encontrei este lindo exemplar em capa, contendo 143 fábulas deste clássico francês. E .. a minha motivação são as ilustrações: Gustave Doré!!! 

Antes mesmo de eu "quebrar" meu porquinho (ele é muito estiloso para receber a força imperativa do martelo, então eu só abri a "portinha" da barriga dele), eu tive a sorte de ter um marido maravilhoso que comprou o exemplar para mim - mediante pagamento das moedinhas!

Eu conheci Paul Gustave Doré através de Miguel de Cervantes. As ilustrações do clássico O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote da Mancha foram feitas, também, pelo francês. Além de Cervantes, Doré ilustrou outras autoridades como Dante Aligheire, Balzac, Edgar Allan Poe, Lorde Byron etc e, também, ilustrações da Bíblia Sagrada. Mas, como a maioria dos gênios morrem sem um tostão.

Os traços de Doré, para mim, são perfeitos nos detalhes: cada mínimo traço compõem um grande quadro expressivo que nos levam para o imaginário de suas formas.





20 de janeiro de 2017

"A quem interessar possa..."


Estou assistindo a série Gilmore Girls pela segunda vez. Não é uma série magna, mas é muito gostoso assistir. Eu detesto a voz da Rory e algumas das coisas que a Lorelai faz me dão raiva. Às vezes, quando a Rory quebra a cara ou a Lorelai briga com a filha me deixam satisfeita pois acho a jovem Gilmore muito mimada.  Mas assisto. Gosto muito. Parece um leve bálsamo em meio a agitação do dia - é como ler um romance suave ao invés de um clássico. É bom.

E, uma das partes que eu mais gosto é o episódio da sétima temporada intitulada "A quem interessar possa", quando Lorelai escreve uma carta de referência pessoal para a ação de tutela do Luke, seu ex-noivo, que está tentando ter a guarda da filha dele (para visitas). A carta é linda! Eu sou "apaixanada" pelo personagem de Lucas Dennis; não quero descrever o caráter dele, deixo isso para a carta de recomendação escrita por Lorelai:

"Stars Hollow, 9 de janeiro de 2007.
A quem interessar possa
Nos quase dez anos em que conheço Luke Dennis, ele tem se mostrado um homem honesto e decente, e, também, uma das pessoas mais gentis e carinhosas que já conheci.
Eu sou mãe solteira e criei minha filha sozinha, mas quando Luke Dennis se tornou meu amigo nessa cidade, nunca mais me senti sozinha. Luke e eu tivemos altos e baixos durante uns anos, mas com tudo isso, a relação dele com a minha filha, Rory, nunca mudou.
Ele sempre esteve ao lado dela, independente de tudo. Ele estava lá nos aniversários, estava lá quando ela se formou na escola. Luke tem sido uma espécie de figura paterna na vida da minha filha. Com a própria filha, Luke não teve a chance de estar lá nos primeiros doze anos, mas deve ter essa chance agora. Porque quando Luke Dennis entra na sua vida é para sempre.
Sei por experiência pessoal que é uma dádiva, e não dar acesso a minha filha seria privá-la de tudo o que esse homem tem a oferecer; e ele oferece muita coisa.
Obrigada pela atenção,
Atencisamente,
Lorelai Gilmore".
Omnia Vanitas

15 de janeiro de 2017

Segundo livro ..



Neste domingo Píppi Meialonga foi minha leitura.

Divertida e irreverente são apenas duas qualidades desta intrépida menina. 

Sem adultos para lhe impor regras, Píppi é uma garota independente que vive na casa que seu pai, rei dos canibais, comprou para eles para que, quando ele se aposentasse da atividade de capitão marítimo, pudesse ter um lugar para morar com sua filha. Porém, como ele caiu no mar e nunca mais foi visto, Píppi acredita que ele boiou até uma ilha canibal e lá se tornou rei; Píppi acredita ser a princesa de tal reinado e que seu pai virá buscá-la para morar na ilha com ele.

O livro conta alguns momentos vividos pela protagonista, na maioria das vezes acompanhada de Tom e Aninha, seus vizinhos. Circo, chás, piqueniques são os eventos nos quais os amigos vivem intensas emoções. 
Píppi possui uma força descomunal e isso atrapalha os planos dos policiais que tentam levá-la para um orfanato, dois bandidos tentam roubá-la ou quando ela acha sem graça as demonstrações circenses de alguns artistas. 

Pela falta de presença adulta e responsável na vida da menina, sua liberdade parece absurda para algumas pessoas, o pensamento da menina é livre de malícia e interesse. Em algumas situações, a falta de usar de uma sociedade adequada com outros não agrada Píppi que se sente excluída de determinado grupo.

Como escrito na publicação anterior sobre este livro, a lembrança que Píppi trás da personagem Emília, de Monteiro Lobato porém, depois desta leitura, eu discordo de tal semelhança. A personalidade de boneca de pano é mais levada e mimada, enquanto Píppi é livre de tais qualidades - suas ações não são de um menina leviana, mas de uma pessoa sem malícia e, principalmente, sem presença adulta - contrário à Emília.

11 de janeiro de 2017

Píppi Meialonga..!!!!


Ela chegou até mim!!! Píppi Meialonga!!!!

Conheci essa intrépida personagem assistindo a série Gilmore Girls (5x5). E, hoje, abrindo uma caixa de livros que chegou no Sebo, deparo-me com este exemplar do clássico infanto-juvenil escandinavo PÍPPI MEIALONGA!

Depois de perguntar três vezes o que estava acontecendo comigo, meu marido obteve a resposta: É Píppi Meialonga !!!!
Não que a resposta o tenha animado, apenas permitiu que ele voltasse para seus afazeres enquanto eu me deliciava com meu exemplar de Píppi Meialonga! Sim,.. meuu exemplar! Vai para minha estante, para minhas sobrinhas-netas (primeiramente) e meus filhos (segundamente) lerem ! E será devorado por mim neste final de semana, se o santo da leitura permitir! (rs).

Como meu conhecimento sobre esta obra de Astrid Lindgren se resume à Gilmore Girls, deixo informações que encontrei no próprio livro.

Píppi é uma menina de nove anos incrivelmente forte. Não tem pai nem mãe e mora sozinha, mas feliz da vida. Seus companheiros são um cavalo e um macaquinho. Ela mesma faz suas roupas - bem esquisitas - e sua comida - biscoitos, panquecas e sanduíches. Destemida e sapeca, lembra a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Píppi tem sempre uma resposta na ponta da língua e demonstra grande confiança em si mesma. Dá uma surra em cinco meninos brigões, engana os policiais que querem levá-la para um lar de crianças, põe dois ladrões a correr e enfrenta um touro a unha. Nada convencional, causa espanto e confusão por onde passa, seja na escola, no circo ou na casa de seus vizinhos. É, enfim, uma menina que realiza sonhos de liberdade e aventura.
Sobre a autoridade:

Astrid Lindgren nasceu em 1907, na Suécia. Escreveu Píppi Meialonga em 1945, como um presente para a filha, que fazia dez anos. tem mais de ointenta livros publicados, traduzidos em mais de noventa línguas. Em 1958, Astrid recebeu o prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante da literatura infantil mundial. ela morreu em 2002. 

10 de janeiro de 2017

O naufrágio do Essex..


A história do naufrágio do Essex foi inspirador para Melville, Moby Dick.
Fuçando a web, achei esse artigo na Superinteressante, no ano de 2004. Segue:

A fantástica história da baleia que afundou um barco e inspirou um dos maiores clássicos da literatura.

Paula Ungar

Oceano Pacífico, 20 de novembro de 1820. Mais um dia de trabalho começava para os tripulantes do Essex, que estava há mais de um ano em alto-mar capturando baleias para extrair o óleo usado na iluminação pública e na lubrificação das máquinas industriais. Um dia que entrou para a História. O dia em que, pela primeira e única vez, foi registrado um ataque de uma baleia contra um barco. Um ataque que deixaria os 20 tripulantes à deriva durante três meses, obrigando-os até a comer os próprios companheiros mortos para não passar fome – e que serviria de inspiração para um dos maiores clássicos da literatura mundial, Moby Dick (leia mais no quadro da página 32).Hoje, a caça é largamente condenada, mas no início do século 19 a extração do óleo de baleia era uma importante atividade econômica. A ilha de Nantucket, na costa leste dos Estados Unidos, era um dos maiores centros baleeiros. Mais de 70 embarcações iam e vinham constantemente. O trajeto era bem conhecido dos marinheiros: pelo Atlântico, rumo ao sul. Os barcos, porém, só retornavam ao porto com os porões cheios.

Por isso, era preciso contornar a América do Sul em direção ao Oceano Pacífico. Era exatamente isso que o Essex tinha feito. Naquela manhã de novembro, ele contava com aproximadamente 700 barris de óleo, metade de sua capacidade total. O céu estava claro e havia pouco vento (clima perfeito para caçar) quando os esguichos dos cetáceos foram avistados – e os botes se lançaram ao mar. O primeiro imediato Owen Chase logo teve de dar meia-volta para reparar seu barco, atingido pela cauda de uma baleia, fato bastante corriqueiro. Foi quando a tragédia começou. O camareiro Thomas Nickerson, que ajudava Chase no conserto, viu algo estranho. Era um cachalote macho, com 26 metros de comprimento, cerca de 8 toneladas e a cabeça cheia de cicatrizes. O bichão não era apenas enorme. Estava a menos de 35 metros do Essex e nadava em direção a ele, com a cauda de 6 metros de largura chacoalhando para cima e para baixo.

“Olhamos uns para os outros com total espanto, quase mudos”, escreveu Chase no livro Narratives of The Wreck of the Whale-Ship Essex, em que relata o episódio. Foi tudo muito rápido. De um golpe, o animal atingiu a parte frontal do navio. Em seguida, passou por baixo do casco, arrancou a quilha e emergiu do outro lado. Afastou-se um pouco e voltou ao ataque. Em grande velocidade, atingiu o barco logo abaixo da âncora. O Essex estava condenado a ser enterrado no fundo do mar. A baleia se desvencilhou dos destroços e saiu nadando para nunca mais ser vista.

Terror no mar

Chase, 22 anos, era tripulante do Essex desde 1815. Pela primeira vez, fazia uma viagem na condição de primeiro imediato (o último passo antes de se tornar capitão). Thomas Nickerson estreava no mar e era o mais jovem dos marinheiros. Tinha apenas 14 anos e sonhava desde criança em partir com um baleeiro. Mal sabia ele que o barco, com mais de duas décadas de serviços no mar (e fama de pé-quente), faria sua última viagem. Todos estavam preparados para ficar até três anos a bordo. No momento do ataque, porém, foi só desespero. Owen, Nickerson e outros sete homens tiveram de correr para tirar o máximo de provisões dos destroços do Essex e colocar na baleeira. A poucos metros de distância, os 11 tripulantes que estavam nos dois botes que espreitavam as presas na água quase não acreditavam no que viam. “Nenhuma palavra foi dita por vários minutos”, relatou Chase em seu livro. Com muito esforço, foi possível recuperar 270 quilos de bolachas, um pouco de água doce, algumas tartarugas que haviam sido capturadas nas Ilhas Galápagos e instrumentos de navegação.

Quando o sol raiou, todos se dividiram nos três barcos menores e se prepararam para partir. Tinham duas opções: ir até as ilhas Marquesas, na Polinésia, a 1200 milhas (cerca de 2 mil quilômetros), ou tentar chegar à costa da América do Sul, bem mais distante. Por medo dos canibais que, dizia-se, habitavam a região das Marquesas, escolheram a segunda alternativa. O destino se revelaria de uma trágica ironia (veja no infográfico da página 30 o percurso feito pelos náufragos).

Em meio às águas geladas do Pacífico, os marujos experimentaram novos limites de sobrevivência. Muitos nem conseguiam dormir, só de pensar no desastre. E a natureza não ajudava em nada. Os ventos fortes desviavam as baleeiras do destino sonhado e os jatos de água salgada deixavam todos molhados e com frio. Os cabelos começaram a cair e a pele queimada pelo sol cobria-se de dolorosas feridas. O primeiro grande desafio foi mesmo a fome. A pouca comida resgatada proporcionava apenas 500 calorias diárias para cada um – menos de um terço do necessário para um adulto. Para piorar, logo no terceiro dia parte das bolachas se perdeu depois que o bote de Chase foi atingido por uma onda. Em seguida, as bolachas do bote do capitão George Pollard Jr. se estragaram.

O próximo martírio foi a sede. “A violência da sede delirante não encontra paralelo no catálogo das calamidades públicas”, observou Chase na época. Resultado: gargantas irritadas, saliva grossa e língua inchada. Pouco mais de 20 dias depois, a solução foi beber a própria urina. Ao final do primeiro mês à deriva, uma esperança renasceu. O grupo avistou terra firme. Não foi muito difícil chegar até a ilha, mas ela tinha pouco (em termos de comida e bebida) a oferecer aos náufragos, que ficaram apenas uma semana e voltaram ao mar. Três marinheiros acharam melhor ficar do que se arriscar naquela viagem rumo ao desconhecido. Os outros dividiram-se nos três botes e seguiram em frente, para mais privações e perigos.

De cara com a morte

No caminho, um dos barcos se perdeu – para sempre. E em 20 de janeiro de 1821 morreu Lawson Thomas, um dos tripulantes do bote do arpoador Obed Hendricks. Era a terceira morte desde o afundamento do Essex. Até então, os corpos eram jogados ao mar. Naquele momento, uma necessidade se impôs: por que não usá-lo como alimento? Por mais que o canibalismo fosse visto como um ato incivilizado, a prática era razoavelmente disseminada nos oceanos, uma saída legítima para a sobrevivência. Cruel ironia. Meses antes, todos preferiram evitar as ilhas Marquesas por medo dos canibais. Agora, estavam prestes a comer um de seus companheiros. O jeito foi retirar todos os sinais de humanidade, como cabeça, mãos e pés. Em registros posteriores, o capitão Pollard Jr. contou que, antes de ser comidos, os órgãos e a carne eram assados numa pequena chama acesa sobre uma pedra chata no fundo do bote.

Não demorou muito para o desespero atingir níveis ainda maiores. Apenas duas semanas mais tarde, diante da absoluta falta de comida, decidiu-se fazer uma espécie de votação para definir quem seria o próximo a servir de alimento aos sobreviventes. No dia 6 de fevereiro, Owen Coffin, então com 18 anos, foi o escolhido. Ele era primo do capitão – e estava no mesmo bote. A mãe do garoto, Nancy, nunca perdoou o sobrinho por não ter impedido tamanha crueldade com o filho – e, o que é ainda pior, por ter ele próprio se alimentado daquela carne. “Ela ficou quase louca ao saber daquilo e nunca mais tolerou a presença do capitão”, escreveu Nickerson.

A tragédia estava por terminar. Doze dias depois, em 18 de fevereiro de 1821, quase três meses após o naufrágio, o primeiro barco foi resgatado, navegando sem controle na altura do porto de Valparaíso, no Chile. Com os olhos saltados da cavidade do crânio e o rosto salpicado de sal e sangue, Owen Chase, Thomas Nickerson e o arpoador Benjamin Lawrence tiveram de ser carregados para dentro do navio inglês que os avistou. Cinco dias mais tarde, o bote do capitão Pollard se aproximou da Ilha de Santa Maria, também na costa chilena. Quando os tripulantes do baleeiro Dauphin avistaram a embarcação, só viram ossos. Pollard e Charles Ramsdell estavam encolhidos, cada um em uma extremidade, incapazes de se mexer. Não queriam largar, de jeito nenhum, os ossos que chupavam em desespero, único alimento que restara desde a última morte do grupo. Os três marujos que ficaram na ilha Henderson foram resgatados no dia 9 de abril.

Por mais incrível que possa parecer, os oito homens que sobreviveram à tragédia do Essex acabaram por voltar ao mar. Pollard reassumiu o posto de capitão no inverno seguinte e levou consigo Nickerson, promovido a arpoador. A viagem foi um tremendo fracasso. Pollard decidiu virar vigia noturno em Nantucket. E Nickerson transformou-se em dono de pousadas na ilha. Chase fez mais uma viagem antes de se tornar capitão. Tinha 28 anos – e prosseguiu atravessando os oceanos por vários anos. No entanto, as lembranças daquela manhã de céu azul e pouco vento nunca o deixaram em paz. Morreu em 1869, aos 71 anos, considerado louco. No fim da vida, sentia fortes dores de cabeça que acreditava ser conseqüência do naufrágio. Passou também a esconder comida no sótão de sua casa. Nem mesmo a paixão pelo mar foi capaz de fazê-lo superar as cicatrizes deixadas por aquele cachalote.

Tragédia em quatro momentos
Foram 2 500 milhas no mar até chegar à costa do Chile
1. O começo do sofrimento

O Essex foi atacado em 20 de novembro de 1820 e a tripulação se refugiou em três botes salva-vidas. No terceiro dia, uma onda quebrou sobre um dos barcos, molhando as bolachas. Os marinheiros fizeram o possível para salvar o alimento, sem sucesso

2. Chuva de peixes voadores

Perto do 20º dia no mar, um cardume de peixes voadores cercou os botes. Quatro se chocaram com as velas improvisadas. Um foi devorado no mesmo instante. Foi a primeira e única vez que todos sentiram vontade de rir – em vez de chorar – da situação em que se achavam

3. Esperança frustrada

Após um mês de naufrágio, muitos já haviam desistido de sobreviver. Mas uma ilha foi avistada e a idéia de encontrar comida e água animou o grupo. Os botes logo voltaram ao mar, mas três tripulantes optaram por ficar. Seriam resgatados, com vida, mais de três meses depois

4. O desespero da fome

Com quase três meses no Pacífico, a morte mostrou sua face. Quando o terceiro faleceu, muitos pensaram: por que não comer essa carne? Até o resgate, seis marinheiros, mortos, foram devorados e um foi assassinado para servir de alimento

Baleia famosa
No lançamento, Moby Dick foi um fracasso
O ataque ao baleeiro Essex foi um dos desastres mais comentados do século 19. Tanto que serviu de inspiração para um clássico da literatura, Moby Dick, do norte-americano Herman Melville (1819-1891). A idéia de escrever o livro veio depois que ele leu o relato de Owen Chase sobre a experiência. Na versão ficcional, o ataque da baleia é o clímax da história – enquanto na vida real ele foi apenas o início. “Moby Dick é uma colcha de retalhos. Fala de vários temas, da busca de Deus à questão do herói, o que o torna muito singular”, comenta Viviane Cristine Calor, que escreveu uma tese de mestrado para a Universidade de São Paulo sobre a obra. Lançado em 1851, Moby Dick foi um fracasso comercial e de crítica. Só teve seu valor reconhecido quando Melville já havia morrido. “Ele estava à frente de seu tempo”, destaca Viviane.

Atividade cruel
Homem caça há mil anos
Pelo menos mil anos antes de Cristo os fenícios já caçavam baleias. Mas a caça em grandes embarcações, como na época do Essex, só foi adotada no século 8 da nossa era, pelos bascos. No século 19, o método de abate era o seguinte: ao avistar a presa, seis homens deixavam o navio num barco a remo e golpeavam a baleia com um arpão, para depois matá-la com uma lança. No início do século passado, as lanças foram substituídas por arpões com explosivos e os botes ganharam motor. Hoje, os baleeiros têm toda a aparelhagem necessária para transformar o animal em produtos devidamente embalados. Essas inovações tecnológicas passaram a representar um grande risco à sobrevivência desses bichos. Calcula-se que ao longo do século 20 mais de 2 milhões de baleias tenham sito mortas pelo homem – e hoje, entre as mais de 40 espécies existentes no mundo, cinco estão ameaçadas de extinção: a azul, a cinza, a bowhead, a jubarte e a franca.

A azul, a franca e a jubarte podem ser vistas na costa brasileira. Felizmente, nosso país proíbe a caça, pois é um dos membros da Comissão Baleeira Internacional, criada em 1946 para impedir a matança desordenada. Em 1986, a entidade aprovou uma moratória à caça comercial, mas nem todos os signatários (são mais de 50) a respeitam. Três países lideram o descumprimento da suspensão, alegando fins científicos para a caça: Japão, Noruega e Islândia.

Presa fácil
As principais espécies caçadas
Minke

Seu nome científico é Balaenoptera bonaerensis. Japão, Islândia, Groenlândia e Noruega são caçadores vorazes

Cachalote

Foi uma Physeter macrocephallus que atacou o Essex em 1820. O Japão é seu maior algoz

Sei

A Balaenoptra borealis é uma das mais rápidas. Vive em todos os oceanos e é caçada por barcos do Japão.

Mas o que eu procurava é o mapa de navegação do Pequod.

Omnia Vanitas

8 de janeiro de 2017

Primeiro livro ..



Ontem, quando cheguei em casa, decidi ler Número Zero durante o final de semana.
Este livro foi o último escrito por Umberto Eco e, como costume, há uma conspiração na trama.

O livro narra o envolvimento de um jornalista sexagenário em um jornal de cunho coagente, as reuniões do seleto grupo de jornalista e as pautas que são discutidas para promover o sucesso de um determinado Comendador sobre seus adversários. Tudo deve parecer verídico e simplório - porém, com poder suficiente para ser moeda de troca nas mãos do Comendador.
Entre os profissionais há apenas uma mulher, Maia Fresia - a amante de Collona, o narrador-personagem. 
Conspiração é um dos ingredientes prediletos de Eco, então não é novidade quando a suposta morte de Benito Mussolini é mascarada pelo Vaticano; e vários envolvidos querem a não publicação do fato.
Toda a narrativa ocorre em 1992*.

Eu sei que nunca poderei escrever como Umberto Eco, mas confesso que este livro deixou-me à desejar mais da história. 
A história de Mussolini é semelhante a de Hitler morando na Argentina; a atual vida de seus familiares e a reconstituição da morte do Duce abrem um leque para várias divagações sobre quem foi o homem pendurado de cabeça para baixo ao lado da amante assassinada. A atenção sobre este fato, para mim, foi cansativa. E, como acho que tendo Mussolini morado/morrido na Argentina não torna em absoluto diferente a atualidade, tenho como passatempo tolo remontar tal cenário.

Porém, a manipulação jornalística e a falta de atenção que se tem dos complôs políticos é muito interessante. As discussões sobre fatos mentirosos que precisam ser implantados para tirar o foco de um assunto/pessoa é intrigante. Até que ponto podemos confiar naquilo que lemos e assistimos? Será que estamos em uma bolha de tolices? Quem manipula a verdade para que possa esta ser vista como mentira?
Às vezes, acho que vivemos em uma existência tão tola que precisamos crer que existe, realmente, algo tão superior (em tramas governamentais) para que possamos viver como se nossa passagem seja tomada como banal. Precisamos crer no Area 51, em Hitler na Argentina, em Elvis vivo etc ..precisamos crer que alguém está nos enganando; criar nossos contos de fadas moderno para ter algo sobre o que falar e esquecer o que realmente importa. O que?




*1992 foi o ano escolhido por Umberto Eco pois trata-se do período político singular para a Itália.

5 de janeiro de 2017

Le fils..


Olááá, anônimo leitor!!!´

Feliz ano novo! Ano novo, livro velho! É isso aí, vetusto leitor; ganhei de presente (de Natal) do meu marido este lindo exemplar (datado de 1882) do filho do meu querido Dumas..Alexandre Dumas, fils.
Dois mil e dezessete será um ano de releituras mas, também, de novos horizontes literários.
Sempre fui amante das obras do pai e, para iniciar a leitura das obras do filho precisa ser com classe (rs) ... Le Docteur Servans, nouvelle édition, 1882. Mais um livro centenário que tenho o prazer de  ter em meu humilde acervo. 
Este lindo exemplar (em capa dura, as iniciais do antigo dono, páginas amareladas e cheirinho de velho (rs) - perfeito!!) chegou em minhas mãos esta semana (que está deliciosamente corrida na livraria) - foi um pequeno carinho durante esta semana. Mesmo com pouco tempo para dar atenção que deve ser dedicada ao meu querido regalo, o mesmo está na minha nova estante no meu novo es-cri-tó-ri-o-ôôô! Siiim!! Tenho um escritório lindo que também ganhei de presente (do maridão) nesta semana - cheia de novidades maravilhosas! 

Sobre a obra: é o quarto dos principais romances de Alexandre Dumas filho, publicado pela primeira vez em 1849. 
Do que trata a história: não sei .. mas prometo escrever quando eu terminar a leitura! ;) 

O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...