4 de abril de 2013

Shirley..Parte I



Eu li "Shirley", de Charlotte Brontë. Esse livro fez parte da "Brontë Sister's Tour" que eu fiz, começando com Emily e seu O Morro dos Ventos Uivantes, depois, Anne e sua A Moradora de Wildfell Hall e, por fim, por enquanto, Shirley, de Charlotte.

Shirley acontece durante a invasão de Napoleão à Inglaterra e, ao mesmo tempo, na segunda Revolução Industrial. O enredo está situado neste contexto histórico, incluindo as divergências religiosas da sociedade e a ousadia de duas moças: Caroline e Shirley. Água e vinho transformam a própria história que era moldada (era?) pela conveniência.

Shirley não aparece até a página 90, por um bom motivo. Como heroína da história, ela precisaria contrastar no ambiente que estaria inserida. E, Shirley, não deixou a desejar. Impetuosa, ousada, destemida, mimada, centrada, rica, linda e com um discurso que deixou alguns senhores calados e outros com o desejo de ser ela um homem para poderem acertar as diferenças no braço.
Em contraste, havia a doce, meiga, calma e apaixonada Caroline. Ambas ligadas pela paixão que nutriam pelos irmãos Moore: Roberto e Luís. O primeiro é industrial, o outro, preceptor.

Bom, vou parar por aqui e deixar o capítulo 26, meu preferido, como post (atrasado) para hoje.
Esta publicação faz parte do marcador carta, onde há algumas missivas que eu encontrei nos livros (não todas, é claro), aquelas que eu mais gostei.

Omnia Vanitas.




CAPÍTULO XXVI

SOLILÓQUIO


Luís Moore estava habituado a uma vida tranquila. Dotado um gênio calmo, suportava-a melhor do que muitos, porque tinha o cérebro e o coração povoados de um mundo todo seu.
Como Fieldhead está tranquilo nessa noite! A jovem Keeldar, toda família Sympson, todos, exceto Luís Moore, foram a Nunnely. Sir Filipe convidou-os para travarem conhecimento com a mãe e as irmãs, que se encontram, nesse momento, no Priorado. O barão tivera a amabilidade de convidar também o preceptor. Mas se Luís Moore desejava alguém junto de si nessa noite, não é o pequeno barão, nem a sua mãe ou as irmãs dele, nem qualquer outra pessoa da família Sympson.
A noite está agitada. As tempestades do equinócio revolveram ainda a atmosfera. As chuvas torrenciais do dia acabaram: as nuvens desfazem-se e afastam-se, mas escorraçadas por uma contínua e fragorosa tempestade.
Moore, sentado na sala de estudo, escutava o barulho que a tempestade fazia. O lado onde se encontrava era abrigado, mas nem lhe importava o silêncio nem o fato de estar agasalhado.
“Toda a casa está vazia, - pensou ele – e esta solidão me faz mal ao coração”.
Saiu daqui e foi onde as janelas, mais largas e mais desafogadas, deixavam ver livremente o azul escuro do céu. Não levou qualquer luz consigo: a claridade da lua cheia, embora as nuvens a ocultassem de quando em quando, refletia-se no soalho e nas paredes.
Dir-se-ia que Moore perseguia uma visão de sala em sala. Deteve-se numa, forrada de carvalho, que não é úmida e fria como o grande salão; a lareira está quente e vermelha; junto do fogão há uma mesinha de trabalho e uma escrivaninha; ao lado há uma cadeira.
A visão que Moore vem perseguindo ocupará essa cadeira? É caso para pensar assim ao vê-lo de pé diante dela. No seu olhar há tanto interesse, tanta expressão no seu rosto como se tivesse encontrado naquela solidão um ser vivo com quem pudesse falar.
Vai fazendo descobertas. Uma bolsa, uma pequena bolsa de cetim está dependurada no espaldar da cadeira. A escrivaninha está aberta, as chaves estão na fechadura; um lindo sinete, uma pena de prata, uma luva pequena, limpa e delicada, estão espalhados sobre uma mesinha, numa desordem que pode passar por fantasia.
“Eis os vestígios da descuidada feiticeira – disse ele. – Chamada às pressas, esqueceu-se de voltar para pôr as coisas em ordem. Por que nasce a fascinação sob os seus passos? Há sempre qualquer coisa a censurar nela, mas, para o amante ou para o marido, a censura acabará naturalmente num beijo. Mas que digo? A que monólogo me deixei arrastar?...”
Calou-se. Ficou alguns instantes pensativo, depois instalou-se comodamente para passar o serão.
Correu o reposteiro da larga janela do salão, alimentou o fogo, que ainda ardia mas se consumia rapidamente; acendeu uma das duas velas que tinha diante de si; colocou uma segunda cadeira em frente da que estava ao lado da mesa, e sentou-se. Tirou, em seguida, da algibeira, um caderninho, depois um lápis e começou a escrever, numa letra compacta e nítida. Aproxime-se, o leitor, e vá lendo à medida que ele escreve:

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