Estou lendo "Os Três Mosqueteiros" de Alexandre Dumas, e estou apaixonada por Athos! Outra hora escrevo mais sobre ele, mas por hora, fica o que o autor disse:
“A expressão nobre e distinta de Athos; seus lampejos de grandeza, que, de tempos em tempos, irradiavam da sombra na qual ele se recolhia voluntariamente; o temperamento inalterável, que fazia dele o mais fácil companheiro da terra; a alegria forçada e mordaz; a valentia que teríamos considerado cega se não fosse resultado do mais raro sangue-frio; tantas qualidades atraíam mais que a estima de D’Artagnan, mais que sua amizade, atraíam sua admiração.
Com efeito, mesmo em comparação ao Sr. de Tréville, o elegante e nobre cortesão, Athos, em seus dias mais inspirados, levava uma certa vantagem. Era de estatura mediana, mas essa estatura era tão admiravelmente compacta e bem-proporcionada que, mais de vez, em suas lutas com Porthos, ele dobrara o gigante cuja força física era proverbial entre os mosqueteiros. Sua cabeça, com olhos penetrantes, nariz aquilino, queixo desenhado como o de Brutus, tinha um caráter indefinível de grandeza e graça. Suas mãos, às quais dispensava quaisquer cuidados, levavam ao paroxismo a inveja de Aramis, que cultivava as suas recorrendo a preparados de amêndoas e óleo aromatizado. O som da sua voz era penetrante e melodioso ao mesmo tempo, e depois, o que havia de indefinível em Athos, que preferia sempre a obscuridade e o retraimento, era aquele conhecimento delicado do requinte e dos costumes das mais refinada sociedade, aquela desenvoltura de família tradicional que transparecia, quase sem querer, em seus menores gestos.
Caso se tratasse de fazer um banquete, Athos organizava-o melhor do que qualquer outro homem da sociedade, distribuindo cada comensal no lugar e na classe legados por seus antepassados ou conquistados por eles mesmos. Se fosse o caso de ciência heráldica, Athos conhecia todas as famílias nobres do reino, sua genealogia, suas alianças, seus brasões e a origem de tais brasões. A etiqueta não tinha minúcias que lhe fossem estranhas, sabia quais eram os direitos dos grandes proprietários, conhecia a fundo a caça e falcoaria, e numa dada oportunidade, conversando sobre essa grande arte, impressionara o próprio rei Luis XIII, que era mestre no assunto.
Como todos os grãos-senhores dessa época, era exímio no cavalo e no manejo das armas. E não só isso: sua educação fora tão pouco desdenhada, mesmo sob o aspecto dos estudos escolásticos, tão raros nessa época entre fidalgos, que ele sorria com os cacos de latim expelidos por Aramis, e com a compreensão fingida de Porthos. Em duas ou três ocasiões, quando Aramis deixava escapar algum erro de concordância, acontecera de ele colocar o verbo em seu tempo e o substantivo em seu caso, para grande admiração dos amigos. Além disso, sua probidade era inatacável, nesse século em que os homens de guerra transigiam tão frouxamente com a religião e a consciência, os amantes, com a delicadeza rigorosa de nossos dias, e os pobres com o sétimo mandamento de Deus. Tratava-se, portanto, de um homem extraordinário esse Athos”.
(DUMAS, Alexandre. OS TRÊS MOSQUETEIROS. Ed. Zahar,2011, p. 350-351).
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