23 de julho de 2017

Décima sétima leitura..{parte 2.1}

Canasvieiras, Florianópolis/SC


Olá, leitor anônimo!

Como você deve saber, estou relendo As Duas Torres, de J.R.R. Tolkien. E, como a enredo se desenvolve em duas partes distintas, vou publicar algumas anotações referente ao terceiro livro desta sequência.

As Duas Torres compreende dois livros distintos.
O terceiro livro (que é o primeiro nesta segunda parte) compreende desde "A partida de Boromir" até o capítulo "A 'palantír'".  
Visto que a comitiva do Anel foi separada no final de A Sociedade do Anel, agora, a narrativa acontece com duas situações particulares que compreende a vida dos sobreviventes da primeira parte e novos personagens - ou personagens recauchutados.

Neste primeiro livro, Aragorn, Legolas e Gimli (sem Frodo e Sam) chegam ao socorro de Boromir quando os orcs os cercam.

Raptados pelos Uruk-hai  e os servidores de Sauron; Merry e Pippin estão fora do alcance dos três amigos que saem à caça dos raptores e à salvação dos Pequenos. 

Durante esta caçada, novos personagens encorpam a trama: os habitantes do reino de Rohan*, e, a outra personagem é sobre a qual pretendo deixar algumas palavras escritas: Fangorn.

Fangorn é a temida floresta sobre quem as histórias recomendam manter distância. É um lugar onde as árvores são hostis e velhas. 

Talvez, a ignorância e a rebeldia sejam de algum proveito - pelo menos assim o foram para esses dois desafortunados hobbits.
Fugitivos das garras de seus raptores, os Pequenos resolvem entrar em Fangorn para procurar algum abrigo longe dos orcs. E, nesta floresta singular, muitas verdades podem ser esclarecidas. 

Um dos habitantes desta floresta é a própria floresta: Fangorn, ou Barbávore.
Huum, agora — respondeu a voz -; bem, eu sou um ent, ou é assim que me chamam. Sim, ent é a palavra. O ent, eu sou, você pode dizer, no seu modo de falar. Fangorn é meu nome segundo alguns, outros me chamam de Barbárvore. Barbárvore está bom.
— Um
ent — disse Merry. — O que é isso? Mas como você próprio se chama? Qual é o seu nome verdadeiro?
— Huuu, agora! — respondeu Barbárvore. — (...) meu nome é como uma história. Os nomes verdadeiros, na minha língua, contam as histórias dos seres a quem pertencem. No velho entês, como vocês diriam. É uma língua adorável, mas leva muito tempo para se dizer qualquer coisa nela, porque não dizemos nada nela a não ser que valha a pena gastar um longo tempo para dizer, e para escutar.
Um "ent" na mitologia tolkieniana é um "pastor de árvores". A expressão deles e andar pelas floresta para cuidar do seu rebanho. Bárbavore é um ent e, na minha opinião, é o outro lado filosófico da trama - a primeira seria Tom Bombadil.
Mais uma vez, os hobbits encontram um ser antigo da floresta - mas não enigmático como Tom.
Em Fangorn pode-se aprender sobre os magos:
Não conheço a história dos Magos. Eles apareceram primeiro, depois que os Grandes Navios vieram através do Mar; mas se vieram com os Navios eu não sei.
E Fangorn é a representação da repulsa que Tolkien tinha das indústrias:
Acho que agora entendo o que ele pretende. Está tramando para se transformar num Poder. Tem um cérebro de metal e rodas, e não se preocupa com os seres que crescem, a não ser enquanto o servem.
(...)
Alguém que entrasse e saísse no outro lado desse túnel ecoante veria um grande círculo, plano, meio escavado como uma enorme vasilha rasa: media uma milha de borda a borda. Já fora verde e cheio de avenidas e bosques de árvores frutíferas, aguadas por riachos que corriam das montanhas e desembocavam num lago. Mas nada verde crescera ali nos últimos tempos de Saruman. As estradas foram pavimentadas com lajes de pedra, escuras e duras; e margeando-as, em vez de árvores, marchavam longas fileiras de pilares, alguns de mármore, outros de cobre e de ferro, ligados por pesadas correntes. Havia ali muitas casas, cômodos, salões e corredores, que cortavam e perfuravam as muralhas do lado interno, de modo que todo o círculo aberto era vigiado por inúmeras janelas e portas escuras. Milhares podiam morar lá, trabalhadores, servidores, escravos e guerreiros com grandes estoques de armas; lobos recebiam alimento e abrigo em profundas tocas mais abaixo. A planície também era escavada e perfurada. Poços fundos tinham sido cavados no chão; suas extremidades superiores eram cobertas por montículos baixos e abóbadas de pedra, de modo que ao luar o Círculo de Isengard parecia um cemitério de mortos inquietos.

Querido leitor, é o ou não uma descrição dos arranha-céus que cruzam este país com trabalhadores inquietos.

E Fangorn tem uma característica peculiar: ela caminha.
No livro de David Colbert¹ a explicação deriva de uma frustração de Tolkien ao descobrir que a floresta, na obra de William Shakespeare - Macabeth, não caminhou, realmente. Foram inimigos que se disfarçaram de galhos e folhas. Para isso, Tokien respondeu: "Anseie por inventar um cenário no qual as árvores pudessem realmente marchar para a guerra". E marcharam. Os Ents e os Huorns. Abaixo eu deixo a explicação de Merry para esta última classe de ents:

"(...) são ents que ficaram quase como árvores, pelo menos na aparência. Ficam aqui e acolá na floresta, ou nas suas bordas, silenciosos, vigiando sem parar as árvores; mas nos vales profundos há centenas e centenas deles, eu imagino.
— Há um grande poder neles, e parece que têm a capacidade de se ocultar nas sombras: é difícil vê-los se movendo. Mas eles se movem. Podem andar muito rápido, se estiverem furiosos. Você fica parado olhando para o tempo, talvez, ou ouvindo o farfalhar
das folhas, e de repente descobre que está no meio de um bosque com grandes árvores tateando à sua volta. Eles ainda têm vozes, e conseguem falar com os ents — é por isso que são chamados de huorns, pelo que diz Barbárvore — mas ficaram esquisitos e selvagens. Perigosos. Eu ficaria apavorado se os encontrasse e não houvesse nenhum ent verdadeiro para cuidar deles".

Voltando ao passinho do romano, os huorns (quase-árvores) foram aqueles que caminharam na Batalha do Abismo de Helm - para auxiliar na vitória de Rohan sobre os servos de Saruman; enquanto os ents permaneceram em Isengard para fazer a limpeza da casa.
— Descemos da última cordilheira entrando em Nan Curunír, depois do cair da noite — continuou Merry. — Foi nesse momento que senti pela primeira vez que a própria Floresta caminhava atrás de nós. Pensei que estava tendo um sonho de ent, mas Pippin também tinha notado. (...) — Mas embora eu não pudesse ver o que estava acontecendo na escuridão, acredito que os huorns começaram a rumar para o sul, logo que os portões se fecharam de novo. Acho que o negócio deles era com os orcs. Já estavam lá embaixo no vale pela manhã; ou pelo menos havia uma sombra que ninguém conseguia atravessar com os olhos".

 Esta é a minha aplicação do terceiro livro de O Senhor dos Anéis em As Duas Torres.

Omnia Vanitas

*Éomer é uma graça
¹ - O Mundo Mágico do Senhor dos Anéis.


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