Olá, leitor anônimo..
Décima leitura. As Aventuras de Huckleberry Finn foi um livro desafiador, para mim.
Depois de ler As Aventuras de Tom Sawyer, eu quis ler a sequencia, porém, que estranho foi ler na língua informal - quase desisti:
Quando ele e a velha dama desciam de manhã, toda a família levantava da cadeira e desejava bom dia pra eles, e ninguém se sentava de novo até que eles se sentavam. Então Tom e Bob iam no aparador onde tavam as garrafas e preparavam um copo de bebida e entregavam pro velho, e ele segurava o copo numa das mãos e esperava os de Tom e Bob serem preparados, e depois os irmãos se inclinavam e diziam, “Nossos respeitos ao senhor e à senhora”, e eles se inclinavam um tico de nada nesse mundo e diziam obrigado, e então bebiam todos os três, e Bob e Tom derramavam uma colher de água sobre o açúcar e a dose diminuta de uísque ou aguardente de maçã no fundo de seus copos e passavam pra mim e Buck, e a gente também bebia à saúde dos velhos.
As Aventuras de Huck Finn é contada em primeira pessoa, ao contrário de Tom Sawyer e, com uma linguagem própria da região que os personagem vivem. Pode soar soberbo da minha parte, mas eu aprecio a norma culta na escrita (rs). Demorei mais da metade do livro para me acostumar como os erros gramaticais.
Por mais que os livros apresentem um título tão similar, as aventuras são bem distintas. Em Tom Sawyer a aventura é inventada das leituras do meninos; enquanto Huck Finn vive o real. Porém, as histórias dos meninos se fundem em um momento: quando armam o resgaste de Jim, o escravo negro que fugiu e, por acaso, encontrou Huck Finn.
Jim é a figura polêmica da história. Jim é um escravo negro e Mark Twain utiliza palavras e expressões denotam a situação de cativo levam alguns leitores a menosprezar a narrativa por achar que há incitação ao racismo. Porém, há aqueles que leem a obra de outra maneira; encontram na narrativa de Huck Finn uma ousadia de Mark Twain ao trazer o assunto à tona: Jim não era o escravo de Huck Finn, mas seu amigo, por quem o menino tinha uma gratidão por lhe ajudar em situações de perigo. O menino vive um duelo até chegar a encontrar em Jim um ser humano comum e não um escravo negro que merece ser castigado por fugir da sua senhoria (como a mentalidade da época julgava correta). Atualmente, a escravidão é vista pela lei como um crime, mas o racismo ainda é vivo - em diversas formas de expressão. Certa vez, ouvi uma mulher negra dizer: "Eu não sou descendentes de escravos, sou descendente de uma raça humana que foi escravizada". Achei muito interessante essa distinção feita por ela pois, mostra o quanto ainda temos que mudar em relação ao próximo: ainda há muito racismo contra negros, mesmo que você negue, leitor anônimo. Porém, para nossa infelicidade, essa atividade existiu e muitos livros a retratam.
Sobre os meninos de ambas histórias, eles se encontram para a aventura final na narrativa de Huck Finn - e fiquei tão feliz com esse encontro que tive vontade de abraçar Tom Sawyer quando li sobre sua chegada. Que menino travesso!!
E assim a aventura dos meninos teve início. A tarefa era libertar Jim. Na versão de Huck Finn seria assim:
Esse é Tom Sawyer, um pequeno Dom Quixote de La Mancha com seu fiel escudeiro, Huck Finn, como Sancho Pança.
Eu pensei em vários esteriótipos para essa dupla: Sawyer parecendo a burocracia e Finn sendo a praticidade. Quantas vezes colocamos empecilhos para situações em nosso cotidiano e esquecemos de usar os óculos de Huck Finn para seguir em frente?
A história foi muito agradável, apesar de todos os exageros de Tom Sawyer nos capítulos finais - que, ao meu ver, tornaram a narrativa massante. E Huck Finn continuo sendo Huck Finn - incivilizado.
Omnia Vanitas.
Todo mundo correu pra porta da frente, porque, é claro, um estranho não chega todo ano, e por isso ele interessa mais que a febre amarela quando aparece. Tom já tava sobre a escadinha e caminhando pra casa, a carroça dando a volta na estrada pra retornar pra vila, e a gente tava todo mundo amontoado na porta da frente. Tom tava com suas roupas finas e tinha uma plateia – e isso era sempre uma loucura pra Tom Sawy er. Nessas circunstâncias, temperar a cena com uma dose de estilo não custava nada pra ele. Ele não era um menino de cruzar aquele pátio humilde como uma ovelha; não, ele veio calmo e importante, como um carneiro macho. Quando chegou na nossa frente, levantou o chapéu de um modo gracioso e caprichoso, como se fosse a tampa de uma caixa cheia de borboletas adormecidas e não quisesse perturbar os insetos, e disse:
– Sr. Archibald Nichols, presumo?
– Não, meu filho – diz o velho cavalheiro –, lamento dizer que seu condutor enganou você. A casa do Nichols fica mais além, uma questão de cinco quilômetros. Entra, entra.
E assim a aventura dos meninos teve início. A tarefa era libertar Jim. Na versão de Huck Finn seria assim:
O meu plano é o seguinte – falei. – É fácil descobrir se é Jim que tá lá dentro. Aí a genteMas Huck Finn sabia que, com Tom Sawyer, isso nunca aconteceria pois não tinha emoção. Eis a ideia do amigo:
pega a minha canoa amanhã de noite e traz a minha balsa lá da ilha. Assim que começar a ficar escuro, a gente tira a chave das calças do velho, depois que ele foi pra cama, e desce o rio na balsa com Jim, nos escondendo de dia e navegando de noite, que nem eu e Jim a gente fazia antes.
– É simples como jogo da velha, três-numa-fila, e tão fácil como matar aula. Eu espero achar um caminho um pouco mais complicado que esse, Huck Finn. (...) Raios, toda esta história é fácil e esquisita demais. E por isso fica muito complicado armar um plano difícil. Não tem nenhum vigia pra ser drogado... tinha que ter um vigia. Não tem nem um cachorro pra gente dar um sonífero. E Jim tá acorrentado por uma perna, com uma corrente de três metros, no pé da cama: ora, basta levantar o catre e puxar a corrente. E o tio Silas ele confia em todo mundo, dá a chave pro negro estúpido e não manda ninguém pra vigiar o negro. Jim já podia ter saído por aquele buraco de janela, só que não dava pra viajar com uma corrente de três metros na perna. Ora, raios, Huck, é o arranjo mais estúpido que já vi. A gente tem que inventar todas as dificuldades. Bem, a gente não pode fazer nada, tem que fazer o melhor possível com os materiais que a gente tem. De qualquer maneira, é mais honroso libertar ele no meio de muitas dificuldades e perigos, quando estes não são criados pelas pessoas que tinham o dever de arrumar todos esses obstáculos, e a gente tem que tirar todos eles da nossa cabeça.
Esse é Tom Sawyer, um pequeno Dom Quixote de La Mancha com seu fiel escudeiro, Huck Finn, como Sancho Pança.
Eu pensei em vários esteriótipos para essa dupla: Sawyer parecendo a burocracia e Finn sendo a praticidade. Quantas vezes colocamos empecilhos para situações em nosso cotidiano e esquecemos de usar os óculos de Huck Finn para seguir em frente?
A história foi muito agradável, apesar de todos os exageros de Tom Sawyer nos capítulos finais - que, ao meu ver, tornaram a narrativa massante. E Huck Finn continuo sendo Huck Finn - incivilizado.
Omnia Vanitas.