"A população de cachalotes demonstrou uma notável capacidade de recuperação, em face do que Melville chamou de “uma devastação impiedosa”. Estima-se que os naturais de Nantucket e seus irmãos ianques matadores de baleia ceifaram mais de 225 mil cachalotes entre 1804 e 1876. Em 1837, o melhor ano do século para se matar baleias, 6767 baleias foram mortas por baleeiros americanos. (Para se ter um termo de comparação um tanto perturbador, em 1964, o pico da moderna atividade baleeira, 29 255 baleias foram mortas.) Alguns pesquisadores crêem que na década de 1860 os baleeiros talvez houvessem reduzido a população de cachalotes em até 75 por cento; outros estimam que ela haja diminuído apenas entre oito e dezoito por cento. Qualquer que seja a cifra mais próxima da verdade, os cachalotes saíram-se melhor do que outros grandes cetáceos caçados pelo homem. Hoje, existe algo entre 1,5 milhão e 2 milhões de cachalotes, o que os torna a espécie mais abundante entre as grandes baleias do mundo".
Olá, leitor!
Se você acha que um filme pode contemplar o que um livro proporciona; ou, sente-se satisfeito com aquilo que lhe é apresentado em vídeo, pense novamente.
Eu já tinha assistido ao filme No Coração do Mar, sendo o "Thor" quem interpretou o primeiro imediato Owen Chase.
Mas o livro... sem explicações.
A narrativa histórica do baleeiro Essex acompanha outros fatos históricos que, semelhante ao baleeiro guiado pelo capitão George Pollard Jr.; seja em fome, frio, sede, sofrimento em grupo ou direção náutica, Nathaniel Philbrick cobre todas posições desde o físico, psicológico e histórico.
Um dos fatos que eu achei interessante, foi a abstinência em nicotina:
Naquela primeira noite da sua viagem, Chase, Pollard e Joy distribuíram as rações de água e pão para a tripulação de seus botes. Já haviam passado dois dias do naufrágio e o interesse dos homens por comida havia, afinal, voltado: o pão foi comido rapidamente. Havia algo mais que eles cobiçavam: tabaco. Um baleeiro quase sempre trazia um punhado de tabaco na boca,consumindo mais de trinta quilos em uma única viagem. Além de todas as suas outras aflições, a tripulação do Essex tinha também de enfrentar os sintomas nervosos da abstinência associados à dependência de nicotina.O autor encontrou base em documentos históricos deixados pelos sobreviventes e também usufruiu de tudo o que Nantucket pode ter sobre o acidente.
Um dos assuntos marcantes da história deste baleeiro foi o canibalismo. Mesmo querendo deixar esse fato longe da memória, os sobreviventes tiveram que levar essa marca além do túmulo.
Como eu já mencionei, Philbrick apresenta outros fatos que, semelhante ao Essex, sofreram um revés no mar. Sobre o canibalismo, eu acredito que para um homem de cultura não canibal sofre os efeitos psicológicos que atribuem ao consumo da carne humana.
Lembro de uma história que meu professor de Linguística contou em sala; é a seguinte: um determinado professor de medicina deixou em sua casa, na geladeira, um cérebro humano (não me recordo do motivo de ele ter levado essa massa até a sua residência, mas o fato é que levou). Estando na geladeira, também, o cérebro de um animal (não recordo se era bovino ou suíno). A empregada, sem a informação de que havia um cérebro humano na geladeira, pegou-o e cozinhou como refeição para a família da casa. Diz meu professor que a doméstica ficou muitíssimo perturbada por haver consumido parte de um corpo humano.
Acredito que consumir carne humana não cause problemas físicos ou nos afete com alguma doença psicológica; mas o fato de haver uma edução que não abarca alimentar-se do corpo de um igual de espécie provoque uma alteração psíquica naquele que alimentou-se do próximo. Atribui-se àqueles que tomam essa prática, em uma civilização que abominada tal atitude, uma punição não apenas moral mas judiciária; exemplo: Hannibal Lecter.
Apesar de ser uma medida tomada em um momento de desespero (pelo menos na maioria dos casos), Philbrick apresenta uma situação de náufragos que passaram 191 dias à deriva e não tomaram o canibalismo como ação de sobrivivência:
Em face de circunstâncias igualmente terríveis, outros marinheiros tomaram decisões diferentes. Em 1811, o brigue de 139 toneladas chamado Polly, em sua viagem de Boston para o Caribe, perdeu os mastros em uma tempestade e a tripulação vagou à deriva, a bordo do casco inundado, durante 191 dias. Embora alguns homens morressem em virtude da fome e da exposição às intempéries, seus corpos em momento algum serviram de alimento; em vez disso, foram usados como isca. Prendendo ao anzol de uma linha de corrico pedaços dos cadáveres de seus companheiros de bordo, os sobreviventes conseguiram capturar tubarões suficientes para se sustentarem até seu salvamento. Caso a tripulação do Essex houvesse adotado essa estratégia por ocasião da morte de Matthew Joy, talvez jamais tivessem chegado ao extremo com que agora se defrontavam.Durante a leitura, eu pensei comigo: como alguém à deriva pode passar fome, se estão no mar? A fauna marítima pode muito bem suprir a necessidade de comida da tripulação.
Fora o momento que alguns peixes voadores pularam em cima dos náufragos, a região do oceano Pacífico em que se encontravam era deserta. Com esta afirmação, não quero concluir que não havia peixes, mas eles estavam a muitos metros fora da linha de pesca dos tripulantes.
Há dois motivos que fizeram os tripulantes dos baleeiros ficarem longe das terras habitadas são as seguintes: as ilhas próximas tinham como civilização alguns canibais e, a limitação geográfica que havia na época. Preciso adicionar mais uma pontuação sobre o motivo da falta de aproximação à outras possíveis ilhas: a falta de leitura. Um periódico havia sido lançado com atualizações sobre mapas e culturas espalhadas pelas ilhas que compunham o Pacífico. Para o Essex, essa informação seria preciosa para sua situação de desespero. Poderiam ter tido socorro antes, não fosse a perda que esta leitura trouxe ao grupo.
Uma das coisas que me chamou a atenção, e a leitura de Moby Dick tal fato também se apresenta, é a correspondência. Havia em algumas ilhas cartas deixadas pelos tripulantes de barcos (baleeiros em sua maioria) para seus familiares. Os barcos que saiam de um porto deixavam as missivas que familiares enviavam por outros marinheiros e os próprios marinheiros escreviam para seus entes queridos durante sua estadia no mar.
Owen Chase recebeu uma carta amarga, algumas viagens após o acidente com o Essex, de que sua esposa havia dado a luz a um menino - depois de ele estar no mar por quase dezessete meses (ops!).
A tragédia do Essex não é algo singular, muitos baleeiros foram abaloados por cachalotes posteriormente. O fato da caça às baleias ter crescidos exageradamente, um animal de constituição dócil (mesmo que seu tamanho seja acima de 23 metros) como o cachalote tornou-se agressivo para poder manter-se vivo.
Como parte de uma história, a tragédia do Essex influenciou muitos escritores, e Herman Melville é o mais forte deste grupo - mesmo que seu Moby Dick não tenha aplacado nas bancas. Esse acontecimento histórico foi tão importante quanto o naufrágio do navio Titanic foi para o século XX.
Querido leitor, há muita coisa para escrever sobre esta obra de Nathaniel Philbrick que enriquece qualquer leitura póstuma do gênero. E, como recomendação indireta, vou ler As Aventuras de Arthur Gordon Pin, de Edgar Allan Poe. ;)
Àqueles interessados na história deste mal fadado baleeiro, é só clicar aqui.
Bom, por hoje é só pessoal!
Omnia Vanitas.
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