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Lucy Briers, Orgulho e Preconceito (1995) |
Eu sei que já terminei minha leitura de Orgulho e Preconceito, porém, uma personagem ainda ronda minhas lembranças desta última leitura: Mary Bennet.
Confesso que eu já gostaria de ter escrito sobre ela na leitura anterior que fiz do livro, mas como não consegui anotar algumas aparições da personagem, o texto ficaria um pouco fora de propósito.
Mas agora vai!
Mary Bennet é a terceira entre as irmãs Bennet: Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia! E, talvez, seja por isso a filha esquecida entre todas.
Em quase noventa por cento das vezes que Mary aparece na obra, alguém não está prestando atenção ao que ela diz, ou, vira os olhos para algo que ela disse, ou é apenas citada quando seu ambição em se tornar significativa a empobrece.
Mary Bennet, que ninguém sabe a idade (pelo menos não achei essa referência durante as leituras que fiz) é a pseudo-intelectual da família. Ela gosta de ler bastante (menospreza os bailes em favor da aplicação à leitura), é aplicada (porém não bem sucedida) ao tocar piano, sabe cantar (muito mal) e foi a única que ficou em casa depois que todas as irmãs casaram (ou foram morar fora de casa).
Eis algumas passagens que citam esta personagem:
Capítulo II
"..Qual a tua opinião, Mary? Tu, que és jovem sensata e profunda, que lê bons livros e deles extrais ensinamento.
Mary quis dizer algo de sensato, mas não sabia como.
- Enquanto Mary põe em ordem as suas ideias - continuou ele -, voltemos para Mr. Bingley".
Capítulo V
"- O orgulho - observou Mary, que se vangloriava da solidez de suas reflexões - é um defeito muito comum, creio eu. Depois de tudo o que li, estou deveras convencida de que é comum, que a natureza humana manifesta uma tendência bastante acentuada para o orgulho, e que são raros aqueles que entre nós não nutrem um sentimento de condescendência própria baseado em uma ou outra qualidade, real ou imaginária. Vaidade e orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam frequentemente usadas como sinônimos. Pode-se sentir orgulho sem ser vaidoso. O orgulho diz respeito mais à opinião que temos de nós próprios, enquanto, a vaidade, ao que pretendemos que os outros pensem de nós".
Aaahh gostei dessa interpretação dela!! Não é ruim!.. Mas ela não pára por aí:
Capítulo VI
"..o lugar ao piano foi avidademente ocupado por sua irmã Mary, que, em consequência de sua falta de atrativos, aplicara-se na árdua aquisição de conhecimentos e dotes, vivendo na ânsia constante de os exibir".
Capítulo XII
"Encontraram Mary, como de costume, mergulhada no estudo do contraponto e da natureza humana, sem perder tempo em enunciar-lhes uma série de citações e observações de uma moralidade convencional".
Como eu já escrevi, Mary é a irmã esquecida. Enquanto Elizabeth tem a Jane, e Kitty tem Lydia, a terceira filha fica sozinha em casa (na maioria das vezes por assim desejar) lendo e formando sua opinião sem que ninguém a molde - pois seu pai é ausente na educação das filhas e a mãe não faz questão de educá-las; as irmãs não lhe devotam paciência e não há nenhuma outra pessoa que possa dialogar com esta personagem.
Esta ausência de companheirismo torna Mary uma garota soberba e, como já mencionado, ávida em mostrar suas qualidades. Quem, em sua solidão, não gostaria de fazer o mesmo que Mary: ser reconhecido pelos valores que adquiriu. Ora, veja só esse exemplo, ter um blog e pretender escrever sobre livros, filmes e música não estão tão longe de ser a pretensão de uma Mary Bennet! Apenas com a diferença que não sou solitária e abandonada (rs).
Assim, portanto, é a vida de Mary Bennet, a filha esquecida de Orgulho e Preconceito.
Omnia Vanitas.