30 de dezembro de 2020

Trigésima primeira leitura..


 Olá, leitor ! 

Penúltima leitura deste ano (um tanto louco)!

Villette é uma releitura que fiz da autora Charlotte Brontë. 

Logo no prólogo da editora, algumas personagens são descritas conforme sua inpiração: o professor Héger, a grande paixão de Charlotte é ipsis litteris de Monsieur Paul Emmanuel. E que personagem grosseiro ele é! Não existe um momento que me faça detestar menos essa persona. Eu não sei o que Charlotte e Emily possuem como estereótipo de homem perfeito pois Monsieur Paul e Heathcliff são homens péssimos! 

Villete é a cidade fictícia de Bruxelas onde as duas irmãs estudaram. A protagonista de Villette é Lucy Snowe - órfã (é claro). A sua trajetória passa por três estágios: solidão, encontro e esperança.

O primeiro capítulo é diferente de todos os demais, pelo menos na minha opinião. Todo o livro e narrado em primeira pessoa, e relata a vida de Lucy. Porém, o primeiro capítulo que ela descreve as pessoas que estão ao seu redor e pouco do realmente acontece com ela. 

Lucy Snowe sabe quem ela é! Uma das reclamações da personagem é a falta de percepção dos outros em saber quem ela é ... apenas a supõem. Cada um entende Lucy como deseja sem a conhecê-la de fato. 

Existe uma solidão latente em Villette. Existe uma persistente solidão que ataca a personagem, como se os sucessos que consegue não devessem lhe pertencer - como se as amizades que conquista devam ser breves. Há uma citação que eu ser um desabafo da autora e não uma fala da personagem:

Eu gemia sob sua amarga severidade. Nunca - nunca! Oh, odiosa palavra! Esta bruxa, esta razão, nunca me deixou olhar para cima, ou sorrir, ou ter esperança: ela não podia descansar, a menos que eu estivesse completamente esmagada, acovardada, quebrada e aniquilada. Segunda ela, eu nascera só para trabalhar por um pedaço de pão, para esperar as dores da morte e perder constantemente a esperança através de uma vida de desânimo. Talvez a razão falasse a verdade, entretanto, não é de admirar que nós gostemos, por vezes, de estarmos contentes, de desafiá-la, de fugir de debaixo da sua vara e de dar uma hora de liberdade à imaginação - sua doce e brilhante inimiga, nosso bom auxílio, nossa divina esperança. Devemos romper os limites de tempos em tempos, apesar da terrível vingança que aguarda nosso retorno. A razão é vingativa como o diabo. Para mim foi sempre venenosa como uma madrasta. Se eu lhe obedeci foi, principalmente, com a obediência do medo, não a do amor. Há muito tempo eu deveria ter morrido por seus maus tratos: a sua mesa mesquinha, a sua cama gelada, o frio, seus selvagens e incessantes golpes. ah, se não fosse essa força mais suave que detém a minha secreta e jurada fidelidade! Muitas vezes a razão me expulsou para fora, em plena noite de inverno, no frio da neve, lançando-me para sustento os ossos roídos que os cães haviam abandonado. Declarava, severamente, que a sua dispensa nada tinha para mim. Negou-me duramente o direito de pedir coisas melhores... Então, olhando para cima, vi no céu uma cabeça rodeada de estrelas das mais brilhantes que emanava um raio de simpatia e atenção. Um espírito mais suave e melhor do que a razão humana desceu em voo tranquilo ao deserto, trazendo à sua volta um ar emprestado de eterno verão, o perfume das flores que não podem murchar; fragrância de árvores, cujos frutos são a vida; trazendo brisas de um mundo, cujo dia não precisa ser sol para iluminá-lo. Este bom anjo saciou minha fome um doce e estranho alimento, conseguido entre os anjos que guardam a sua colheita branca de orvalho na primeira hora de um dia celestial. Mitigou, ternamente, as minhas lágrimas insuportáveis que choravam a própria vida; acalmou os meus temores e, gentilmente, cedeu descanso ao meu cansaço mortal, deu esperança ao meu desespero. (página 288/89)

Eu achei simplesmente sensacional. Como mencionei para uma cliente que estava no Sebo do Portuga: Villette é um livro sobre solidão e sobrevivência - é um livro lento e amargo para ler, mas cada página vale de sua leitura. 

Como já mencionei, a figura de M. Paul é uma réplica fiel do caráter de seu amado professor C. Héger. A esposa deste homem está na figura de Madame Beck. A confissão de Charlotte à um padre - que não corresponde a fé que ela professava também está registrada no livro, no final da primeira parte. 

Eu preciso confessar que os momentos de solidão e tristeza são os que mais chamam a minha atenção: o mesmo aconteceu na leitura de Jane Eyre. As passagens são intensas e reais! E, talvez, por isso, O Morro dos Ventos Uivantes não saiu da minha estante...mas isso é outra publicação de outra irmã.


Omnia Vanitas. 💀

29 de dezembro de 2020

Trigésima leitura ..


 Olá, esquecido leitor! 

Faz algum tempo que preciso colocar este blog em dia! Eis o dia ! 

No ínicio de novembro, eu comecei a ler, pela segunda vez, este livro e Charlotte Brontë: O Professor. Neste link está a primeira impressão desta leitura.

Este livro foi a primeira tentativa de Charlotte em publicar um livro; e foi negado por todos que o tiveram em mãos. 

A primeira publicação foi depois de dois anos da morte da autora, em ano de 1857; seu marido Arthur Bell levou o manuscrito à um editor que publicou a obra - haja vista o renome de Charlotte desde a descoberta do seu pseudônimo Currer Bell.

Porém, na minha singela opinião, o livro não tem um poder tão grande de arrebatar o leitor como em Jane Eyre, Villette e até mesmo, Shirley. A narrativa é rápida naquilo que pretende e, para mim, algumas atitudes do professor Crimsworth me deixam inquieta. 

Também, neste conto, o professor é uma caricatura da paixão arrebatadora que Charlotte teve por Constantin Héger, e, também, do desejo da escritora de ter sua própria instituição de ensino - o que fez porém, sem o sucesso que sua personagem obteve. A esposa de Héger também é descrita em O Professor como a dona da instituição de ensino onde William Crimsworth lecionará - porém, ela é sempre retratada como uma mulher mesquinha e torpe. 

Esta edição que tenho é da Clube do Livro, publicada em 1958. Uma nota da edição avisa que alguns trechos foram omitidos no momento da tradução por achar que eram longos demais para descrever. Que triste! 

Omnia Vanitas. 💀

Vigésima nona leitura..


Olá, determinado leitor! 

Essa semana que passou, eu terminei a segunda leitura do segundo romance da caçulinha das Brontë, A Senhora de Wildfell Hall. Eu adorei! Incrível!

Este foi o segundo e último romance publicado por Anne Brontë. Sua primeira publicação ocorreu no ano de 1848 e, após a morte da autora, Charlotte Brontë não permitiu que fosse novamente por achar a obra violenta, e, claro, o abuso do álcool era baseada na vida promíscua do irmão e isso não agradou Charlotte. Apenas após a morte de Charlotte este livro voltou a ser publicado - e, também, em algumas edições alguns trechos foram emitidos pelos mesmo motivos que chocaram Charlotte - uma pena. 

Quando eu li Agnes Grey, a figura de Rosalie Murray ficou gravada na minha memória. Em A Senhora de Wildfell Hall essa personagem voltou à minha lembrança. 

Helen é uma jovem rica, órfã de mãe e criada pelos tios. Em sua estadia com os parentes fora da região rural, Helen é pressionada a escolher como futuro marido alguns pretendentes que sua tia acha conveniente para um futuro casamento. Helen descarta as orientações da tia, e, ao encontrar Arthur Huntingdon se apaixona de imediato. Contrariando os conselhos da tia, Helen decide casar com Arthur mesmo sabendo das falhas morais do rapaz - pois ela julgava ser capaz de mudar com seu amor de dedicação ao amado tornado o lar um lugar capaz de demolir os possíveis vícios do marido. Ledo engano. A moralidade de Arthur é decadente em vários aspectos e a protagonista se vê presa em um relacionamento abusivo com poucas chances de sair dele. 

Neste livro Anne Brontë trata com a maior realidade possível o que abuso do álcool pode causar ao usuário e àqueles que lhe são próximos (e íntimos).  Mas, principalmente, Anne nos mostra como os "erros" masculinos eram perdoáveis (e incentivados) em relação à conduta que uma mulher deveria ter. 

A chegada de Helen causa curiosidade na vizinhança: quem é aquela mulher de caráter sisudo, apegada ao filho de modo excessivo, e como pôde alugar uma casa tão velha como aquela e, como seu filho pode ser tão parecido com seu senhorio? 
Helen percebe sua vida se tornar insuportável quando fofocas sobre ela começam a rodar pela região e o seu relacionamento com o senhorio é visto com malícia por Gilbert Markham... então o leitor e apresentado ao seu diário através dos olhos do jovem e apaixonado fazendeiro Markham.

Uma outra situação que chamou a minha atenção foram as mães. A senhora Markham cobre Gilbert de cuidados e atenções - sua alimentação precisa ser preparada assim que ele chega pois mesmo atrasado ele não pode ter uma refeição fria. E ele a trata com pouca educação, às vezes exige que ela saia de perto de si, outras bate a porta ou responde com uma grosseria. 
Desde o início eu não gostei de Gilbert, e o tratamento de menino mimado me deixava com mais desgosto ainda. O mesmo ele fez com Helen: a cena de ele segurando o livro de Lawrence nas mãos e mostrando para a inquilina de Wildfell Hall me deixou irritada! Eu teria tirado o livro da mão dele e dito: "a porta para o senhor sair da minha casa é esta"! Muito mimado! 

Deixo uma nota especial para a gravidez de Helen. Nenhuma menção. A Era Vitoriana não gostava de mostrar uma mulher grávida pois seria uma vergonha saber que as mulheres casadas faziam sexo com seus maridos - porém, em contradição, era preciso que uma mulher tivesse uma prole de número alto para mostrar que era uma mulher capaz de gerar uma família numerosa.
A gravidez de Helen é só dita uma vez quando Huntingdon quer que sua esposa fique longe dele, a desculpa é esta: 

(...) Você anseia pelas brisas frescas de sua casa no campo e vai senti-las em dois dias. E lembre-se de seu estado, querida Helen. De sua saúde depende a saúde, se não a vida, de nossa esperança futura". (p. 225)

Este livro é maravilhoso; eu  o deixarei sempre perto de mim para uma pronta releitura! 


O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...