11 de outubro de 2020

Vigésima sexta leitura..



Olá, anônimo leitor!

Eu tinha esquecido como a leitura de Jane Eyre, de Charlotte Brontë, é maravilhosa.

Publicado em 1848 sob o pseudônimo de Currer Bell. O sucesso foi imediato ao lançamento e, nesta edição que tenho da BestBolso (2013, segunda edição) há o prefácio do autor para a segunda e terceira edições onde Brontë assina como Bell. 

Jane Eyre é um romance de formação que apresenta da vida da orfã (homônima) desde a sua infância até a fase adulta. O enredo é narrado pela protagonista e, portanto, não há outro ponto de vista exceto a do narrador.

A trama que dá vida à personagem é um empréstimo de alguns dramas vividos pela própria autora como: o orfanato para o qual a menina é enviada é uma representação do orfanato de Lancashire para onde ela e suas irmãs (Maria, Elizabeth e Emily) estudaram - e a precária condição da instituição deixou a saúde das duas irmãs mais velhas tão debilitadas que ambas morreram de tuberculose aos 11 e 10 anos sucessivamente). Para não perder Charlotte e Emily, o  pai - Patrick Brontë - busca as filhas e as ensina em casa. A personagem de Jane Eyre, Helen Burns é inspirada em sua irmã, Maria. 

E como Helen Burns me cativou nesta segunda leitura! Eu, simplesmente, não conseguia não me apaixonar pela personagem. Vou deixar duas frases - de tantas que gostei - para representar minha paixão por Helen:

(...) Acho que a vida é curta demais para ser gasta com animosidades, só pensando em acontecimentos ruins. (p.74)

Mesmo que o mundo inteiro detestasse você e a achasse má, se sua consciência a absolvesse de qualquer culpa, você não estaria sozinha (p.87)

Ainda sobre as ligações do romance com a vida da autora, o fato da protagonista ser órfã, também, diz muito respeito sobre Charlotte Brontë pois sua mãe faleceu em 1821 quando a autora tinha cinco anos de idade. E, este é um fato corriqueiro em seus romances, visto que a maioria de suas personagens não possuem os pais, ou pelo menos um deles.

Mais um fato marcante na obra de Jane Eyre é o Sr. Rochester que representa a figura de sua paixão por Constatin Héger, seu professor em Bruxelas.

O enredo, como já mencionado, contempla a infância da órfã Jane Eyre. Sua tia, Sarah Reed, precisava atender à apenas um pedido do falecido marido: cuidar da sua sobrinha como se fosse sua própria filha. Porém, isso não aconteceu. Sem o afeto da tia ou dos filhos desta - e tampouco dos empregados - Jane Eyre é enviado para o orfanado de Lowood. Neste lugar duas pessoas conquistam o coração carente da órfã, a supervisora Srta. Temple (que é uma figura materna para a criança) e sua amiga Helen Burns. Esta duas figuras darão a força e o amor necessários para que Jane Eyre aprenda a viver na obscura instituição de ensino. 

Após essas duas perdas, contanto com a idade de dezoito anos - e exercendo a função de professora desde os dezesseis - Jane Eyre rompe o laço com a instituição e se torna preceptora de uma menina órfã: Adèle Varens, em Thornfield Hall - residência de Edward Fairfax Rochester.

Uma nota que fiz sobre essa "casa". Ao meu ver, parece que o Sr. Rochester gosta de enviar para esse lugar os seus "problemas". Bertha Mason é a primeira a viver naquela mansão e Adèle chegará depois. Duas personagens que Monsieur Rochester parece querer esquecer em um lugar que lhe trouxe sofrimento.

Apesar de ser um ambiente amigável (Thornfield Hall), Jane Eyre não encontra muita alegria na sua estadia na mansão. Seu espírito ainda anseia por partir e descobrir outros lugares - mas, então, um encontro em um caminho obscuro muda toda a configuração dos sentimentos desta preceptora. 

Outra coisa que notei é que os fatos mais importantes da trama - os mais significativos pelo menos, acontecem à noite (ou madrugada). Preciso fazer mais anotações sobre isso em uma próxima leitura. Eu, infelizmente, somente atentei para este fato quando já havia passado da metade da leitura, mas os encontros com Rochester, com St. John e tantas outra decisões e atos aconteceram na madrugada ou, pelo menos, à noite. A Lua - nosso querido satélite natural - faz sua participação como coadjuvante nestas cenas "de la nuit".

Eu achei o capítulo vinte e sete interessante por ser a visão do Sr. Rochester sobre o primeiro encontro e tudo o houve até aquele momento - e foi um capítulo longo (o maior deles?) para o ponto de vista destas duas personagens.

Eu não quero parecer macabra, mas eu sou apaixonada pelas cenas de "sofrimento". Existe uma autenticidade na dor e nos conflitos que Charlotte Brontë descreve que impossível não entender o que Jane Eyre sente e como seu psicológico e moral sofrem quando ela se diante de grandes dilemas. 

Antes de terminar, quero deixar registrado que, assim como em Shirley, há uma punição e redenção para uma personagem. Quando o mal é causado, o agente precisa ser punido para que haja a redenção daquele que fez sofrer. 

Nesta leitura eu usei tantos "post-it" para marcar o que eu achei interessante, desde frases, o "escuro", e, também, todas as vezes que a protagonista descreveu o físico do Sr. Rochester (eu não sei porque fiz isso, mas foi algo que simplesmente aconteceu). Eu deveria tirar essas marcações, mas talvez eu as aproveite em outra próxima leitura, ou resolva fazer anotações à parte em algum caderno sobre o que senti/entendi sobre. 

Termino por aqui, e com a triste constatação que, apesar de ser a segunda leitura desta obra, é a primeira vez que escrevo sobre ela. Talvez eu seja mais eloquente na terceira 😉


Omnia Vanitas 💀



5 de outubro de 2020

A família Brontë..



Olá, obcecado leitor!

Eu não sei em que ponto da minha vida eu enlouqueci com as irmãs Brontë. Eu sou uma apreciadora das obras delas, mas parece que este ano, para ser mais exata em Setembro, elas me viraram de cabeça para baixo.

A primeira e última leitura que fiz dos livros que eu tenho delas em meu acervo, foi no ano de 2013. Li as três e, em 2015 eu li a Juvenília de Charlotte e Jane Austen. E por falar em Austen, também estou me devendo uma releitura dos seis romances (completos).
Voltando às Brontë; neste ano eu fiz a leitura anual de Norte de Sul da Elizabeth Gaskell. E, por ter uma assinatura no site Anne Brontë eu descobri que este livro da Gaskell foi inspirado em Shirley da Charlotte. Foi o que bastou para eu me decidir a ler os romances das irmãs - pelo menos compõem o acervo (parcial) na minha casa. E então comecei a fuçar mais sobre a família Brontë, assisti "lives" de pessoas que tem cátedra para falar sobre os Brontë, Gaskell e Austen. E cavocando um pouco mais, achei esse livro aí (da foto), que foi publicado no ano passado pela Faro Editorial. Busquei um pouco mais, achei um preço bem camarada no exemplar, convenci meu marido que minha vida dependia desse livro ..e voilà

Maria Brontë é uma figura silenciosa dentro da família Brontë: futura esposa de Patrick Brontë  e mãe de seis filhos - sendo que todos morrem em idade tão jovem (e prematuros) quanto a matriarca; deixando o marido, Patrick, como último a se despedir desta terra finita. 
Dois anos antes do seu casamento com o pastor Brontë (Prunty/Brunty), Maria Branwell tinha em seu poder um exemplar "The Remains of Henry Kirke White". No ano de 1812, ao se mudar para a terra de seu noivo, o navio que levava seu baú sofreu um naufrágio  que levou muitos bens pessoais para as profundezas do mar - porém, alguns foram recuperados pelo fato do acidente ter acontecido perto da margem.
Recuperado o exemplar, ele compôs a biblioteca e o imaginário de toda a família Brontë. Neste exemplar - que não foi apenas lido - foram anotados pensamentos dos leitores desta obra. 
No ano de 1861, após a morte do último membro deste núcleo familiar dos Brontë, muitos bens que ficaram para trás foram vendidos, entre eles, o exemplar de "The Remains of...". Viajando por mãos desconhecidas até chegar na América do Norte sob a tutela de um colecionar particular, em 2015 o exemplar foi comprado pelo The Brontë Society e publicado pela primeira vez em 2018. 
Anotações preciosas que permitem ao leitor descobrir uma nova faceta sobre as inspirações e ideias desta família extraordinária estão disponíveis para quem interessar possa.

O exemplar não possui os poemas de Henry Kirke White, apenas os manuscritos que foram encontrados nele e notas histórias sobre cada momento destas pessoas que encantaram o mundo com histórias e vidas tão sublimes. 

2 de outubro de 2020

Vigésima quinta leitura..

 



Fim de mais uma leitura !!! 


A partir de Shirley, eu decidi reler os livros das irmãs Brontë que estão comigo; e a escolha de desta obra de Charlotte Brontë é especial: foi nele que Elizabeth Gaskell se inspirou para escrever o meu amado Norte e Sul - porém, o livro de Charlotte não alcançou a mesma popularidade que o livro da amiga.

A publicação no livro foi no ano de 1849 - edição em três volumes sob o pseudônimo de Currer Bell. Este romance foi precedido por Jane Eyre (que teve uma ótima recepção pelo público e até hoje conhecido como a magnum opus de Charlotte Brontë) e seguido por Villete

A trama de Shirley acontece entre os anos de 1811 e 1812  - no período que a Inglaterra fecha o seu comércio por conta da guerra com Napoleão. Assim com em Norte e Sul, existe uma revolta ocasionada pela falta de emprego - porém, neste romance de Brontë a revolta se dá pela ocupação que as máquinas terão em detrimento a mão de obra humana. O desemprego é um dos temas de Shirley. A questão religiosa é uma das diferenças entre os romances de Gaskell e Brontë: em Norte e Sul é um assunto tratado de modo mais ameno, porém em Shirley a questão é mais aberta mostrando a rivalidade entre whigs e tories - para saber um pouco tem uma nota nesta publicação aqui

As personagens de Shirley também serviram de inspiração para Norte e Sul. O industrial Roberto Moore lembra muito a personalidade forte e determinada de John Thornton 💓. Ambos são ambiciosos, mas em Thornton há uma conotação de herói da trama que não lhe permite os erros de caráter de Roberto Moore. 

Entre as protagonistas, nenhuma delas tem relação entre si.

O romance, na minha opinião, poderia se chamar Carolina, pois mais de oitenta por cento da trama gira em torno desta personagem. A personagem que dá título ao livro aparecerá somente no capítulo dez (a partir da página 130 no meu exemplar*) e terá algumas participações na trama. Carolina Helstone, por outro lado, tem uma personalidade definida desde o início da trama e sua ausência na história se dá apenas para que o enredo entre a protagonista e Luís Moore 💗 cresça para fechar a trama.

Algumas anotações sobre Shirley - a mulher e não o livro - devem ser escritas: o nome dela era prevalentemente masculino, mas depois da publicação da obra algumas mulheres foram registradas com este nome. Shirley é uma das poucos mulheres ricas (protagonistas) que povoam as obras de Charlotte Brontë. Shirley tem personalidade forte e, por ser rica, muita das suas vontades são satisfeitas e poucas vezes é repreendida por algum ato cometido ou palavra dita. Shirley é quem cuida dos seus negócios, responde as cartas comerciais - geralmente feito pelo homem da casa ou por um contratado para o serviço; e por suas atitudes "masculinas", o tio de Carolina chama a herdeira de "Capitão Keeldar" - que é o sobrenome de Shirley, Keeldar. E ele o faz sem sentido pejorativo. E estas não são as únicas peculiaridades desta protagonista: seu cachorro não é de uma raça recomendada para "damas" - eu acredito que seja um buldogue inglês que, apesar de pequeno não é "educado". Geralmente as moças tinham poodles ou raça semelhante. Uma passagem intrigante para mim foi quando a sua acompanhante, a misteriosa senhora Pryor, repreende Shirley por ela estar assobiando - desde a primeira leitura essa foi uma parte marcante pois me instiga a pensar que não era "apropriado" para uma mulher assobiar - talvez seja pelo fato de homens usarem isso para caça (?); não sei!

Em oposto à Shirley está Carolina Helstone. Como em geral nos romances de Charlotte, ela é órfã - apesar de não saber o paradeiro da mãe, o pai é falecido. Mora com o tio que é pastor e tem sociedade com um casal de primos, os Moore (inicialmente Hortência e Roberto) e posteriormente, Luís. O fato de ela ser órfã e não ter fortuna para si, a faz crer que ser solteira será seu destino. E, o próprio Roberto a rejeita como esposa pela sua pobreza - pois com a guerra e sua possível falência, Roberto precisa de um cônjuge que lhe traga benefícios financeiros para que ele reerga a sua fábrica.  

Carolina é a personificação da heroína. Ela sofre por um amor que não pode ser conquistado, ela ajuda a todos além das suas forças, abdica do bem estar para que outros possam estar bem, jamais afirma que está cansada ou que algo lhe abate a alma - tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta - como está no Evangelho. E todos os benefícios colhidos (mesmo os mais ínfimos) são louvados, todas as injúrias sofridas são perdoadas em nome do amor.

Enquanto em Norte e Sul a morte permeia a trama, em Shirley ela é descartada. Talvez, porque no momento em que escrevia este romance, Charlotte Brontë havia perdido seus três último irmãos: Branwell (setembro 1848), Emily (dezembro 1848) e Anne (Maio 1849). 

Carolina sofre de um terrível mal físico (e psicológico)  que a deixa por várias semanas doente, a beira da morte. Sua recuperação se dá por meio de uma revelação que lhe trás um motivo para lutar contra a morte. Segundo uma amiga íntima de Charlotte, Carolina foi inspirada em sua irmã mais nova Anne e, pouca certeza há, que Shirley foi dedicada à Emily. Ellen Nussey, a amiga íntima, nunca confirmou a inspiração de Shirley em Emily. 

Um adendo para Luís Moore. 

Este irmão de Hortência e Roberto aparece no final da trama. Sua aparência não é tão bela quanto a de Roberto, mas ambos se assemelham fisicamente - e a comparação para por aí. Luís é quieto, mas altivo. Escolhe suas palavras antes de dizê-las, ao entrar em uma conversa ele domina o interlocutor - mesmo sendo Shirley. Ele é professor. E essa profissão é importante para Charlotte Brontë. Em sua estadia em Bruxelas, ela se apaixonou pelo professor, casado, Constantin Héger. Ela lhe enviava cartas para ele -  mesmo não sendo encorajada a fazer isso. A obsessão por este homem está marcado em seus romances: em O Professor (romance póstumo, publicado em 1857) William Crimsworth é a representação de Héger; em Villette ele é Monsieur Paul; em Jane Eyre ele é Mr. Rocherster. 


Então é isso! 

Omnia Vanitas 💀


*BRONTE, Charlottte. Shirley. Ed. Brasileira, 1949. Tradutor: Fábio Valente.


O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...