Eu tinha esquecido como a leitura de Jane Eyre, de Charlotte Brontë, é maravilhosa.
Publicado em 1848 sob o pseudônimo de Currer Bell. O sucesso foi imediato ao lançamento e, nesta edição que tenho da BestBolso (2013, segunda edição) há o prefácio do autor para a segunda e terceira edições onde Brontë assina como Bell.
Jane Eyre é um romance de formação que apresenta da vida da orfã (homônima) desde a sua infância até a fase adulta. O enredo é narrado pela protagonista e, portanto, não há outro ponto de vista exceto a do narrador.
A trama que dá vida à personagem é um empréstimo de alguns dramas vividos pela própria autora como: o orfanato para o qual a menina é enviada é uma representação do orfanato de Lancashire para onde ela e suas irmãs (Maria, Elizabeth e Emily) estudaram - e a precária condição da instituição deixou a saúde das duas irmãs mais velhas tão debilitadas que ambas morreram de tuberculose aos 11 e 10 anos sucessivamente). Para não perder Charlotte e Emily, o pai - Patrick Brontë - busca as filhas e as ensina em casa. A personagem de Jane Eyre, Helen Burns é inspirada em sua irmã, Maria.
E como Helen Burns me cativou nesta segunda leitura! Eu, simplesmente, não conseguia não me apaixonar pela personagem. Vou deixar duas frases - de tantas que gostei - para representar minha paixão por Helen:
(...) Acho que a vida é curta demais para ser gasta com animosidades, só pensando em acontecimentos ruins. (p.74)
Mesmo que o mundo inteiro detestasse você e a achasse má, se sua consciência a absolvesse de qualquer culpa, você não estaria sozinha (p.87)
Ainda sobre as ligações do romance com a vida da autora, o fato da protagonista ser órfã, também, diz muito respeito sobre Charlotte Brontë pois sua mãe faleceu em 1821 quando a autora tinha cinco anos de idade. E, este é um fato corriqueiro em seus romances, visto que a maioria de suas personagens não possuem os pais, ou pelo menos um deles.
Mais um fato marcante na obra de Jane Eyre é o Sr. Rochester que representa a figura de sua paixão por Constatin Héger, seu professor em Bruxelas.
O enredo, como já mencionado, contempla a infância da órfã Jane Eyre. Sua tia, Sarah Reed, precisava atender à apenas um pedido do falecido marido: cuidar da sua sobrinha como se fosse sua própria filha. Porém, isso não aconteceu. Sem o afeto da tia ou dos filhos desta - e tampouco dos empregados - Jane Eyre é enviado para o orfanado de Lowood. Neste lugar duas pessoas conquistam o coração carente da órfã, a supervisora Srta. Temple (que é uma figura materna para a criança) e sua amiga Helen Burns. Esta duas figuras darão a força e o amor necessários para que Jane Eyre aprenda a viver na obscura instituição de ensino.
Após essas duas perdas, contanto com a idade de dezoito anos - e exercendo a função de professora desde os dezesseis - Jane Eyre rompe o laço com a instituição e se torna preceptora de uma menina órfã: Adèle Varens, em Thornfield Hall - residência de Edward Fairfax Rochester.
Uma nota que fiz sobre essa "casa". Ao meu ver, parece que o Sr. Rochester gosta de enviar para esse lugar os seus "problemas". Bertha Mason é a primeira a viver naquela mansão e Adèle chegará depois. Duas personagens que Monsieur Rochester parece querer esquecer em um lugar que lhe trouxe sofrimento.
Apesar de ser um ambiente amigável (Thornfield Hall), Jane Eyre não encontra muita alegria na sua estadia na mansão. Seu espírito ainda anseia por partir e descobrir outros lugares - mas, então, um encontro em um caminho obscuro muda toda a configuração dos sentimentos desta preceptora.
Outra coisa que notei é que os fatos mais importantes da trama - os mais significativos pelo menos, acontecem à noite (ou madrugada). Preciso fazer mais anotações sobre isso em uma próxima leitura. Eu, infelizmente, somente atentei para este fato quando já havia passado da metade da leitura, mas os encontros com Rochester, com St. John e tantas outra decisões e atos aconteceram na madrugada ou, pelo menos, à noite. A Lua - nosso querido satélite natural - faz sua participação como coadjuvante nestas cenas "de la nuit".
Eu achei o capítulo vinte e sete interessante por ser a visão do Sr. Rochester sobre o primeiro encontro e tudo o houve até aquele momento - e foi um capítulo longo (o maior deles?) para o ponto de vista destas duas personagens.
Eu não quero parecer macabra, mas eu sou apaixonada pelas cenas de "sofrimento". Existe uma autenticidade na dor e nos conflitos que Charlotte Brontë descreve que impossível não entender o que Jane Eyre sente e como seu psicológico e moral sofrem quando ela se diante de grandes dilemas.
Antes de terminar, quero deixar registrado que, assim como em Shirley, há uma punição e redenção para uma personagem. Quando o mal é causado, o agente precisa ser punido para que haja a redenção daquele que fez sofrer.
Nesta leitura eu usei tantos "post-it" para marcar o que eu achei interessante, desde frases, o "escuro", e, também, todas as vezes que a protagonista descreveu o físico do Sr. Rochester (eu não sei porque fiz isso, mas foi algo que simplesmente aconteceu). Eu deveria tirar essas marcações, mas talvez eu as aproveite em outra próxima leitura, ou resolva fazer anotações à parte em algum caderno sobre o que senti/entendi sobre.
Termino por aqui, e com a triste constatação que, apesar de ser a segunda leitura desta obra, é a primeira vez que escrevo sobre ela. Talvez eu seja mais eloquente na terceira 😉