22 de abril de 2020

Leitura catorze..


Olá, isolado leitor!

Fim de mais uma leitura - e do terceiro livro da saga Memórias de um Médico, de Alexandre Dumas. 
Esta primeira parte é composta por quatro volumes e chama-se José Bálsamo. Estes são os links para o primeiro e o segundo livros. 

Neste terceiro livro, o projeto de José Bálsamo segue seu curso, porém, nesta direção também estavam os planos de outros personagens

A condessa Du Barry estava em guerra contra todos que não a aceitavam como a favorita do rei Luís XV. Esta lista era composta por quase toda a França, pela família Choiseul, pela Delfina e seu esposo (Luiz XVI) e, também o marechal Richelieu - que muda mais de partido dentro da trama do que pode ser aceito em via de regra. 
Um adendo sobre esta personagem - não se trata do mesmo Richelieu de Os Três Mosqueteiros - o período entre as história o faria um matusalém; mas ambos existiram e foram ativos junto à monarquia francesa
Além de seus inimigos naturais, a condessa Du Barry ainda precisa enfrentar uma nova rival, a dama de companhia de Maria Antonieta, Andréa de Taverney. 
Mas o rei não é o único apaixonado por Andréa. A menina parece arrebatar corações por onde passa; e o mais apaixonado deste séquito de enamorados é Gilberto. Este aspirante a filósofo faz a sua vida orbitar conforme a trajetória de Andréa. E é isto que Du Barry utilizará para manter esta paixão de Luiz XV fora do alcance do rei. Em contra-partida, o marechal Richelieu pretende aproximar este casal para tirar a Du Barry "do sério" e "da vista".
Todo o mal entendido aconteceu por conta de um cargo no parlamento que foi recusado (pelo rei) ao senhor de Richelieu. Tal recusa foi entendida como uma traição de Du Barry ao marechal. E, sendo rivais, estão colocando empecilhos no caminho de cada um - que, às vezes, traz a vitória para um, outrora a vitória de outro. 
E nesta troca de cargo no parlamento francês, a disputa pela vaga que o ministro De Choiseul deixou, mobilizou uma revolta no parlamento que este decidiu não julgar mais nenhum caso. Mais uma vez a amante do rei entra em ação para fazer sua vontade ser ouvida. 

Entre os filósofos, Rousseau tem três participações interessantes: a primeira delas é a rompimento de relação professor x pupilo com o Gilberto. A segunda é em uma reunião onde ele encontra alguns participantes da maçonaria, entre eles, um médico relevante para a história com um sobrenome peculiar: Guillotin. A terceira participação que chamou minha atenção foi justamente a reunião com aqueles que causaram a sua separação de Gilberto - uma pequena ação contraditória.

Esta terceira parte de José Bálsamo me lembrou muito a saga O Visconde de Bragelonne, onde as intrigas da corte tomam mais conta da narrativa do que a trama central; mas, faço um adendo - desde que a sessão real foi convocada até a conversa que Bálsamo tem com Guillotin - a leitura foi muitíssima interessante (e dentro do enredo para  a queda da monarquia) e me permitiu terminar a leitura antes do prazo estipulado.

Esta saga apresenta o gérmen que surgiu para a  queda da monarquia francesa. José Bálsamo, um líder maçônico e alquimista (entre outros títulos) deseja tirar o rei Luís XV e sua descendência do poder e declarar a monarquia extinta. Para isso, conforme primeiro livro, ele pediu um prazo de vinte anos para a realização do projeto - prazo este que ele considerou justo para arrancar a monarquia pela raiz e não permitir a sua ascensão ao trono novamente.

Por hoje é só, começo a leitura do quarto e último volume desta primeira parte!

Omnia Vanitas

14 de abril de 2020

Fábula de La Fontaine..


O Ancião e os Três Jovens

Um octogenário plantava árvores.
"Construir, nessa idade, entende-se; porém, plantar árvores?, diziam três Jovens da vizinhança. "Sem dúvida, está caduco! Que fruto obterá de seu trabalho? Quantos anos você ainda tem de vida? Por que trabalhar para um futuro que não vai aproveitar? Pense nos erros passados, renuncie às esperanças futuras e aos empreendimentos ambiciosos. Este solo é bom somente para nós".
"Não é assim", respondeu o Ancião. "Tudo o que projetamos tarda em se realizar e dura pouco. As pálidas Parcas jogam da mesma forma com os seus dias e com os meus. Igualmente breves são suas vidas. Quem de nós será o último a ver a luz do dia? Meus bisnetos e tataranetos se lembrarão de mim como um homem honrado que se aplicou no trabalho para o bem alheio. Essa satisfação é um fruto que eu colho e saboreio hoje mesmo, e saborearei amanhã e alguns dias mais, pois é possível que eu veja muitas auroras sobre a sepultura de vocês".
O Ancião tinha razão.
Um dos três Mancebos se afogou no porto, indo para a América. Outro, ansioso por alcançar os primeiros postos nas missões de Marte, servindo à República, sucumbiu a um golpe imprevisto. O terceiro caiu de uma árvore que tentava cortar; e o Ancião, depois de chorar sua morte, escreveu na lápide funerária o que acabei de contar.

Fábulas de La Fontaine, ilustrações de Gustave Doré, editora Lafonte.




LE VIEILLARD
ET LES TROIS JEUNES HOMMES

Un octogénaire plantait. (1)
Passe encor de bâtir ; mais planter à cet âge !
Disaient trois Jouvenceaux, enfants du voisinage ;
Assurément il radotait.
....... ...... Car au nom des Dieux, je vous prie,
Quel fruit de ce labeur pouvez-vous recueillir ?
Autant qu'un patriarche il vous faudrait vieillir.
À quoi bon charger votre vie
Des soins d'un avenir qui n'est pas fait pour vous ?
Ne songez désormais qu'à vos erreurs passées :
Quittez le long espoir et les vastes pensées ;
Tout cela ne convient qu'à nous.
Il ne convient pas à vous-mêmes,
Repartit le Vieillard. Tout établissement (2)
Vient tard et dure peu. La main des Parques blêmes
De vos jours et des miens se joue également.
Nos termes(3) sont pareils par leur courte durée.
Qui de nous des clartés de la voûte azurée
Doit jouir le dernier ? Est-il aucun moment
Qui vous puisse assurer d'un second seulement ?
Mes arrière-neveux me devront cet ombrage :
Hé bien défendez-vous au Sage
De se donner des soins pour le plaisir d'autrui ?
Cela même est un fruit que je goûte aujourd'hui :
J'en puis jouir demain, et quelques jours encore ;
Je puis enfin compter l'aurore
Plus d'une fois sur vos tombeaux.
Le Vieillard eut raison ; l'un des trois Jouvenceaux
Se noya dès le port allant à l'Amérique.
L'autre, afin de monter aux grandes dignités,
Dans les emplois de Mars servant la République, (4)
Par un coup imprévu vit ses jours emportés.
Le troisième tomba d'un arbre
Que lui-même il voulut enter ; (5)
Et pleurés du Vieillard, il grava sur leur marbre
Ce que je viens de raconter.

La forme est celle d'une narration ; en fait, une inscription "gravée dans le marbre" par l'un des personnages de la narration...ce que nous révèlent les deux derniers vers.
La narration trouve ses sources dans Abstémius où le débat se limite à un vieillard et à un seul jeune homme qui se tue en tombant d'un arbre où il était monté pour prendre des greffes.
Ce modèle est enrichi de nombreux souvenirs d'Horace, Sénèque, Cicéron, Virgile.

(1) faisait planter
(2) tout ce que l'homme établit
(3) les limites de notre existence
(4) l'État
(5) greffer

fonte: clique aqui

Omnia Vanitas 💀

13 de abril de 2020

Leitura treze..


Olá, confinado leitor!

Fim de mais uma leitura! E que leitura! Eu concordo com cada letra da frase da professora Maria Lúcia Dias Mendes: "Alexandre Dumas é um bom contador de histórias". Ele sabe como deixar suas histórias com um gosto de "quero mais". 

A condessa Du Barry ainda não tem descanso com o seu França (Luis XV). Por falar neste apelido, eu acho uma graça quando ela o chama por esta alcunha. 
Para Dumas, Luis XV é um rei que reina sem se preocupar com o presente e com o futuro. O futuro não é da responsabilidade daqueles que o viverão, e o presente se resolve sozinho. 

José Balsamo usa da sua alquimia para trazer alguém para o seu lado - comprado. E o mais engraçado é que ele precisa passar recibo (da compra) para seus companheiros da seita. 
Ainda sobre Balsamo, sua esposa o ama quando está em transe de sono mas o renega quando está acordada. Dormindo, ela tenta seduzir seu marido para que a noite de núpcias seja consumada; acordada jura que irá matar-se se ele tocar nela. E Balsamo concorda que deseja tocá-la mas para sua feitiçaria precisa que ela se mantenha virgem. Interessante.

Ainda sobre casamentos não consumados, o Delfin tem o seu casamento mas uma noiva histérica no quarto. Mas ele não se preocupa visto que também não seduz sua noiva para levá-la à alcova. Fica nesse zero à zero, todos dormindo: ele no sofá e ela de frente para o altar. Os únicos acordados são os parisienses e o rei Luiz XV - que espia pela porta e vê o que não lhe agrada. 

E para os corações partidos, Gilberto continua apaixonado pela sua Andréa, apesar do desdém da moça. Vive como um que sofre todo o sofrimento daqueles que ousam amar uma realização impossível. 

A filosofia de Rousseau é o ponto de Arquimedes para Balsamo. Através dela o alquimista pretende derrubar a monarquia francesa.

Estou gostando muito da leitura, ela é envolvente e dinâmica. A história de cada personagem e sua trama tornam a leitura rápida e agradável. A construção da narrativa me lembrou muito o livro O Conde de Monte Cristo pois cada personagem tem a sua construção pessoal dentro dela, mesmo o egoísta barão de Taverney.

Omnia Vanitas 💀

5 de abril de 2020

Fábulas e contos ...


Olá, leitor!

Eu sou apaixonada por contos e fábulas (infantis?). Então, eu decidi compartilhar algumas dessas maravilhas com vocês deste exemplar da foto!

A metologia será da seguinte forma: publicarei a história escolhida do livro e tentarei achar o conto no idioma original. Sobre as ilustrações, que neste livro são de Gustave Doré, será disposta a mesma que se encontra no livro que irei reproduzir.






O Sol e as Rãs

Celebram-se as bodas de um Tirano e o Povo, com festiva algazarra afoga suas preocupações em copos cheios. Esopo era o único que no via com bons olhos tais celebrações.
Contava ele que, em épocas passadas, o Sol pensou em se casar. Em seguida começaram as lamentações das Rãs. "Que será de nós, se ele tiver filhos?", perguntaram as Cidadãs da lagoa. "Com apenas um Sol já sofremos; quando houver meia dúzia deles, os mares e todos os seus habitantes sumirão. Adeus, pântanos e córregos! Nossa raça diminuirá e logo estará reduzida às águas do Estige". Para um pobre Animal, as Rãs, ao meu ver, racionavam muito bem".


Le Soleil et les Grenouilles

Aux noces d'un Tyran (1) tout le Peuple en liesse
Noyait son souci dans les pots (2).
Esope seul trouvait que les gens étaient sots
De témoigner tant d'allégresse.
Le Soleil, disait-il, eut dessein autrefois
De songer à l'hyménée.
Aussitôt on ouït (3) d'une commune voix
Se plaindre de leur destinée
Les Citoyennes des étangs.
Que ferons-nous, s'il lui vient des enfants ?
Dirent-elles au Sort, un seul Soleil à peine
Se peut souffrir (4). Une demi-douzaine
Mettra la mer à sec et tous ses habitants.
Adieu joncs et marais : notre race est détruite.
Bientôt on la verra réduite
A l'eau du Styx (5). Pour un pauvre Animal,
Grenouilles, à mon sens, ne raisonnaient pas mal.

(1) chez les Grecs : souverain absolu d'une cité
(2) les cruches de vin (on dit actuellement prendre un pot pour prendre un verre)
(3) on entendit (on n'emploie plus ce verbe que dans l'expression J'ai ouï dire)
(4) supporter
(5) Le Styx est le fleuve marécageux des Enfers, dans la mythologie. Les grenouilles n'auront plus qu'à s'y réfugier


fonte para texto em francês aqui.

4 de abril de 2020

Leitura doze..


Olá, enclausurado leitor!

Iniciei a leitura da saga Memórias de um Médico, de Alexandre Dumas. São quinze volumes no total, começando com a chegada de Maria Antonieta à França até a sua morte em 1793.
A saga é dividida em cinco partes:

- José Balsamo (4 volumes)
- O Colar da Rainha (2 volumes)
- Angelo Pitou (2 volumes)
- A Condessa de Charny (5 volumes)
- O Cavaleiro da Casa Vermelha (2 volumes)

Esta minha edição foi impressa em 1935, contém ilustrações e foi impressa pela W.M. Jackson Inc.

José Balsamo, volume um, inicia sua narrativa no místico Monte-Trovão (Zugspitze, se eu não estiver errada) com um desconhecido que irá receber sua iniciação na mística e secreta sociedade maçônica.
Desta reunião surge a ideia de exterminar as monarquias do mundo. E a primeira delas será a francesa, e o protagonista desta tarefa será José Balsamo - um alquimista (pelo que entendi até agora).

O segundo cenário será na casa do barão de Taverney. Balsamo para lá se dirige depois de um revés que lhe atinge o caminho. Neste castelo, Balsamo usa suas influências místicas para entreter os moradores e descobrir os planos que trazem a delfina Maria Antonieta à França. Logo a chegada da infanta, Balsamo sai de cena.

A viagem da futura rainha se mostra movimentada e repleta de obstáculos para aqueles querem concluí-la com pressa. 

Antes da chegada de Maria Antonieta, Dumas nos mostra toda a agitação que se passa no palácio do rei Luís XV. Chega a ser cômico o quanto o rei está cercado de pessoas que lhes trazem problemas pessoais em uma sequência de cenas muito rápida. 
A condessa de Du Barry, a favorita do rei, lhe traz toda a indignação de seu irmão ter sido atacado por um soldado do rei; o neto, futuro Luiz XVI, traz ao avô a inquietação de seu soldado ter sido atacado pelo irmão da favorita; o duque Choiseul contrapor a entrada da favorita na corte e o infortúnio que o irmão desta causou ao delfim.
Em seguida, seu filha Luísa - a única virtuosa das quatro que moram com ele no palácio - também lhe pede atenção para dele se despedir antes de ir morar em um convento. E este é um dos melhores diálogos deste primeiro volume, infelizmente ele é  longo e, talvez, eu faça uma postagem exclusiva para ele - eu escrevi, talvez. 
Assim como descreve o neto de Luís XV como um fã da arte da relojoaria, apresenta as outras três filhas (Adelaide, Vitória e Sofia)  como simplórias, ambiciosas e cheias de vícios maliciosos.

O restante da narrativa descreve as artimanhas de Du Barry para tentar sua entrada à sociedade real, além do passe livre que tem para a cama do rei. 

A narrativa é muito dumasiana: diálogos curtos e rápidos com descrição longa de personagens em capítulo introdutórios. 
A história é simples e rápida e, também, envolvente.
E, para lembrar, Alexandre Dumas usa as personagens históricas para compor seus romances sem ter como obrigação ser coerente com os fatos históricos. 

Adorei a primeira parte de José Balsamo - que terminou com um café passado pelo próprio rei. 


Omnia Vanitas. 💀

O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...