Charlotte Lucas, Orgulho e Preconceito 2005 |
Estava eu, em estado confortável, lendo meu livro quando um trecho do mesmo eleva minha atenção.
Veja só, folgado leitor, que me deparo com a ambiguidade de pensamento da heroína de Orgulho e Preconceito.
Quando Charlotte Lucas decidiu casar-se com Mr. Collins, Elizabeth Bennet ficou horrorizada pela escolha da amiga. Casar com Mr. Collins? Por tudo o que há de sagrado; este homem é tolo, soberbo, ridículo, subserviente, mesquinho; e, como todas as características anteriores o conotam, a conversa de tal pessoa é enfadonha e, portanto, insuportável à sociedade que o acolhe.
Pois bem, quando a amiga decidiu casar com tal homem, Lizzy ficou atônita com tal propósito. Como ela pode, segundo o pensamento de Elizabeth, desejar passar a vida ao lado de tal homem? Como ela pode rebaixar a si e conceder a mão em casamento a tal cavalheiro?
Pois bem, a explicação de Charlotte foi de cunho pratico:
"(...) Como deves saber, não sou romântica. Nunca o fui. Apenas desejo um lar confortável; e, considerando o caráter de Mr. Collins, as suas relações e situação na vida, estou convencida de que as perspectivas que se me oferecem de vir a ser feliz com ele são tantas quanto as da maioria das mulheres ao darem esse passo".
E, Elizabeth não poderia ficar tão ultrajada com tal decisão pois conhecia o pensamento da amiga antes de Mr. Collins aparecer:
" (...) se ela se casasse com ele amanhã, eu diria que as probabilidades de ser feliz seriam tantas quantas aquelas que se lhe ofereceriam após ela ter passado doze meses estudando o caráter dele. A felicidade no casamento é uma questão de sorte. Por mais profundo que seja o conhecimento mútuo ou identidade entre as partes interessadas antes do enlace, em nada contribui para a felicidade. Há sempre, depois, uma disparidade de feitios suficiente para lhes assegurar a cada um sua dose de amargura (...)".
Assim é Charlotte Lucas nua e crua. Esta última conversa aconteceu em um determinado encontro social no qual o assunto era Mr. Bingley e Miss Jane Bennet.
Porém, quando Mr. Wickham resolve dar atenção a certa moça (Miss King) por ela haver herdado dez mil libras, Elizabeth acha conveniente que ele venha buscar algum conforto para sua vida; conforme carta que ela escreveu a sua tia:
" (...) um jovem belo necessita tanto de um pecúlio para viver como qualquer outro".
Logo mais, quando encontra a tia (que a interpela sobre a atenção de Wickham com Miss King) Elizabeth censura-a por esta chamar o cavalheiro de interesseiro:
"Por amor de Deus, querida tia, qual a diferença no casamento entre o interesse e o motivo prudente? Onde acaba a prudência e começa a cobiça?"
Quanta mudança em poucas páginas!
Então, ao meu parecer, há duas explicações razoáveis à atitude de Elizabeth com Charlotte e George Wickham:
Então, ao meu parecer, há duas explicações razoáveis à atitude de Elizabeth com Charlotte e George Wickham:
- ou ela eleva a natureza feminina em detrimento a natureza masculina (propondo que uma mulher deve buscar um conforto social baseado no nível intelectual do companheiro e não apenas na sua disposição social)
- ou ela é machista.
Talvez, seja uma miscelânea destas duas coisas que permeiam o pensamento de Miss Eliza Bennet!