30 de março de 2016

Duas medidas..

Charlotte Lucas, Orgulho e Preconceito 2005

Estava eu, em estado confortável, lendo meu livro quando um trecho do mesmo eleva minha atenção.
Veja só, folgado leitor, que me deparo com a ambiguidade de pensamento da heroína de Orgulho e Preconceito.

Quando Charlotte Lucas decidiu casar-se com Mr. Collins, Elizabeth Bennet ficou horrorizada pela escolha da amiga. Casar com Mr. Collins? Por tudo o que há de sagrado; este homem é tolo, soberbo, ridículo, subserviente, mesquinho; e, como todas as características anteriores o conotam, a conversa de tal pessoa é enfadonha e, portanto, insuportável à sociedade que o acolhe.
Pois bem, quando a amiga decidiu casar com tal homem, Lizzy ficou atônita com tal propósito. Como ela pode, segundo o pensamento de Elizabeth, desejar passar a vida ao lado de tal homem? Como ela pode rebaixar a si e conceder a mão em casamento a tal cavalheiro?
Pois bem, a explicação de Charlotte foi de cunho pratico:

"(...) Como deves saber, não sou romântica. Nunca o fui. Apenas desejo um lar confortável; e, considerando o caráter de Mr. Collins, as suas relações e situação na vida, estou convencida de que as perspectivas que se me oferecem de vir a ser feliz com ele são tantas quanto as da maioria das mulheres ao darem esse passo".

E, Elizabeth não poderia ficar tão ultrajada com tal decisão pois conhecia o pensamento da amiga antes de Mr. Collins aparecer:

" (...) se ela se casasse com ele amanhã, eu diria que as probabilidades de ser feliz seriam tantas quantas aquelas que se lhe ofereceriam após ela ter passado doze meses estudando o caráter dele. A felicidade no casamento é uma questão de sorte. Por mais profundo que seja o conhecimento mútuo ou identidade entre as partes interessadas antes do enlace, em nada contribui para a felicidade. Há sempre, depois, uma disparidade de feitios suficiente para lhes assegurar a cada um sua dose de amargura (...)".

Assim é Charlotte Lucas nua e crua. Esta última conversa aconteceu em um determinado encontro social no qual o assunto era Mr. Bingley e Miss Jane Bennet. 

Porém, quando Mr. Wickham resolve dar atenção a certa moça (Miss King) por ela haver herdado dez mil libras, Elizabeth acha conveniente que ele venha buscar algum conforto para sua vida; conforme carta que ela escreveu a sua tia:

" (...) um jovem belo necessita tanto de um pecúlio para viver como qualquer outro".
Logo mais, quando encontra a tia (que a interpela sobre a atenção de Wickham com Miss King) Elizabeth censura-a por esta chamar o cavalheiro de interesseiro:

"Por amor de Deus, querida tia, qual a diferença no casamento entre o interesse e o motivo prudente? Onde acaba a prudência e começa a cobiça?"

Quanta mudança em poucas páginas!
Então, ao meu parecer, há duas explicações razoáveis à atitude de Elizabeth com Charlotte e George Wickham:

- ou ela eleva a natureza feminina em detrimento a natureza masculina (propondo que uma mulher deve buscar um conforto social baseado no nível intelectual do companheiro e não apenas na sua disposição social)

- ou ela é machista.

Talvez, seja uma miscelânea destas duas coisas que permeiam o pensamento de Miss Eliza Bennet!  

26 de março de 2016

Sherlock Holmes e a Cocaína..



Ontem à noite eu iniciei minha leitura inédita de O Signo dos Quatro, de sir Arthur Conan Doyle. E, logo na primeira página eu li algo, no mínimo, intrigante. O detetive invetava cocaína para espantar o tédio.
Segue trecho:
– O que é hoje – perguntei –, morfina ou cocaína?
Ele ergueu os olhos languidamente do velho volume com letras góticas que havia aberto.
– É cocaína – disse ele –, uma solução a sete por cento. Você gostaria de provar?
– Não, muito obrigado – respondi bruscamente.
– Minha saúde ainda não se recuperou da campanha do Afeganistão. Não posso me dar ao luxo de forçá-la mais.
Ele sorriu ante a minha veemência.
– Talvez você esteja certo, Watson – disse ele. – Eu suponho que a influência da droga seja fisicamente ruim. Considero, no entanto, que ela é tão extraordinariamente estimulante e esclarecedora para a mente, que o seu efeito secundário é uma questão de pouca importância.
– Mas reflita! – eu disse com veemência. – Avalie o custo disso! O seu cérebro pode, como você diz, estar estimulado e excitado, mas trata-se de um processo patológico e mórbido, que envolve uma alteração dos tecidos cada vez maior e pode deixar no mínimo uma debilidade permanente. Você conhece também a depressão que se segue. Certamente o jogo não vale a pena. Por que você arriscaria, por um mero prazer passageiro,a perda das grandes capacidades com as quais você foi dotado? Lembre que eu não falo somente de um camarada para outro, mas como um médico até certo ponto responsável por sua saúde.

E no final do caso (da conclusão do livro), a conversa sobre cocaína volta:

– (...) Você fez todo o trabalho neste caso. Arranjei uma esposa com ele e Jones abocanhou o mérito; diga-me, o que sobre para você?
– Para mim, disse Sherolock Holmes, ainda resta o frasco de cocaína.

Fiquei curiosa para saber qual a ideologia da droga naquela época; e li que era comum o uso de cocaína, morfina e ópio na Era Vitoriana. Porém, conforme vemos, Watson repreende Sherlock do mesmo modo; pois o uso era medicinal (exceto quando a corte vitoriana recebia várias encomendas de ópio para as reuniões particulares da corte).
Procurei alguns links para fazer download desta obra, e, em uma delas, eu encontrei o trecho acima deletado. 
Não faço apologia às drogas, mas fiquei bem intrigada ao ler uma passagem como esta. Imagino que não colocaram esse atitude de Holmes na série atual - pois tiraram o clássico cachimbo da boca do personagem pois não é politicamente correto.


Omnia Vanitas.

24 de março de 2016

Bridget Jones voltou ..


Ela voltou!!! Doida e desastrada como sempre e como nunca, Bridget Jones, ex-senhora Darcy, estará nas telas do cinema em Setembro (é isso mesmo?). Divorciada de Mark, ela está curtindo a vida magra, linda, com um cabelo maravilhoso.. e ela jura que sua carreira teve um "up". 
E nesta nova rotina ela conhece o personagem de Patrick Dempsey que, supostamente, pode ser o pai do seu filho. Ou será Mark Darcy?

Esta é Bridget  Jones, alguém sem nenhuma noção do que acontece ao redor e sem controle da própria existência.

Quando eu vi o trailer pela primeira vez, pensei: ué! de onde saiu esse filme?

Segundo o roteiro literário, o último livro sobre esta heroína às avessas foi "Louca pelo Garoto"; que segue da seguinte forma: Mark Darcy morreu  :'(  e Bridget se apaixona por um garotão de 30 anos - e toda a aventura acontece em volta disso.
Na época do lançamento do livro, todas as fãs loucas por Mark Darcy quiseram apedrejar a autora (Helen Fielding) por matar o "homem mais perfeito do mundo".  E, agora, com o lançamento do filme, todos os fãs estão questionando "como ela pode pedir divórcio de Mark Darcy". Cresçam: antes divorciado do que morto!

Estou louca para assistir ao filme! E tenho certeza que Mark Darcy é o pai ..porque essa garota nasceu com o bumbum virado para a Lua (rs).

Omnia Vanitas

16 de março de 2016

Machadão ..


Ocupado leitor, estou eu lendo um livro de Stephen King chamado A Hora do Vampiro*, quando uma citação sobre uma mãe leitora de Jane Austen chama minha atenção. Achei divertido e iria postar o trecho sinalizador do gosto literário em comum com a personagem, porém, em alguns parágrafos depois, eu me deparei com uma frase que chamou minha atenção. Continuo...

Se você, leitor tupiniquim, gosta de Machado de Assis, deve estar familiarizado com trechos virais como: Olhos de cigana oblíqua e dissimulada.. ou Ao vencedor, as batatas!
Então, estou eu lendo Stephen King no conforto do meu lar quando uma frase muito Machadiana pulula na minha frente! Ei-la:

"A criança é o pai do homem". 

Isso é muitíssimo Machado de Assis. É uma citação clássica (e viral) de Memórias Póstumas de Brás Cubas - recomendo.
Então, eu, aqui comigo, pensei: será que Stephen King leu Machado de Assis? Pode ser, porque não? 
Fucei um pouco a net para saber se a frase é de autoria extra-machadiana. Nada encontrei. Prefiro achar que Memórias Póstumas de Brás Cubas já passou nas mãos do senhor King.

Para não perder a ida à net, eu achei esse trecho interessante que dispõe um pouco desta máxima filosófica de Machado de Assis. 

Segue..
O menino é pai do homem. Esta afirmação que está em um livro de Machado de Assis, é repleta de verdades.  Sim, o menino é pai do homem que será, o homem é filho dos sonhos pretéritos e perspectivas do menino. 
Quem quando criança, já não tinha decidido para todo o sempre, (sempre que poderia durar uma hora) qual seria sua profissão, se iria casar, quantos filhos teria, onde moraria? Queríamos ser bombeiros, astronautas, atores ou iguais ao pai ou a mãe ou outra pessoa, porque encontramos neles modelos de perfeição... E estes desejos sempre são voltados para o bem.
Certo é, que muitas dessas decisões que são levadas tão à sério acabam sendo mudadas, senão pelas circunstâncias ao longo da vida, que às vezes podam nossos sonhos ou porque optamos por caminhos diferentes, porém o menino permanece. 
Permanece, porque é nele que vamos encontrar lembranças, forças para realizar um antigo desejo, para contar estórias e histórias aos filhos, que sempre começam com "quando eu era criança...".
Se quando crianças nos espelhamos principalmente em nossos pais, aí está um bom motivo para ressaltar a importância dessa pessoa que pode ajudar a ditar o rumo da vida de alguém: o pai.
Deus, também como Pai, deu aos homens o que representa toda sua divindade, o firmamento de sua criação: gerar filhos.
Ter filhos, não é só ter descendentes que perpetuarão pelo mundo suas características genéticas, seu nome, sua tradição. Ter filhos é divino, um presente de Pai para pai, é uma missão de continuidade. Os filhos são presentes de Deus. E um presente deve ser preservado com muito cuidado, o presenteado deve ter aquele olhar de menino, de saber que ele conduzirá o percurso daquele ser que lhe foi confiado.
Aos pais cabem honrar a extensão da criação divina, para que seus filhos possam lhes dar a certeza de que foram dignos da missão. Aos filhos, cabem retribuir aos pais, tudo de bom que lhes foi dedicado e estender aos descendentes, os atos bons de seus pais e corrigir as falhas.
Citei Machado de Assis acima, e agora cito novamente, com uma frase de sua autoria que ficou muito conhecida: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria". Que não seja assim, pois ter filhos, é transmitir o legado da essência de Deus.
Omnia Vanitas.

*Salem's Lot

7 de março de 2016

Elinor Dashwood ..




Elinor Dashwood faz parte das "Dez Mais" das heroínas/heróis da literatura, no meu conceito. 
À pouco, enquanto meu marido ouvia a transmissão do jogo da Lusa, eu lia Razão e Sensibilidade. E..ela chama minha atenção a cada ato.

Criada por uma mulher mais excepcional que ela, Elinor é suprema em toda esta obra. 
Segue o trecho deste último momento:

"...por mais fascinante  que seja a ideia de um único e constante amor e apesar  de tudo o que se possa dizer sobre a felicidade de alguém depender totalmente de uma pessoa determinada, as coisas não devem ser assim, nem é adequado ou possível que o sejam".

Talvez, leitor anônimo, você não consiga enxergar o que esta mulher provinciana e "antiguinha" era para seu tempo; pois, então, eu lhe digo: revolucionária.
Totalmente contrária aos sentimentos que unem em laços desprovidos de autenticidade; Jane Austen pede para que o nó seja desfeito, que a vida continue e uma mudança seja feita! Eu quero ir além, quero dizer que a dependência em alguém não é saudável, pois cansa aos dois lados. Sejam unidos mas não ao ponto de interferir na vida do outro.


Omnia Vanitas.

Outras postagens sobre Elinor Dashwood clique aqui e aqui e aqui.

O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...