“...e não há perfume mais grato às minhas narinas que os eflúvios leves e sutis que se desprendem de um livro antigo" (Sir Arthur Conan Doyle)
No domingo que passou, decidi que faria uma “Leitura de Domingo”. Escolhi o livro “O Gato do Brasil e outras histórias de terror e suspense” de Arthur Conan Doyle. E, para minha surpresa, encontrei uma história conhecida, logo no primeiro conto.
“O Funil de Couro” conta a história mística de um inglês chamado Lionel Drace, experimentado em ocultismo e demais artes negras. Segundo o narrador, Drace não permitia que seus amigos ingleses soubessem desta sua inclinação e, aos amigos franceses permitia que conhecessem “seus piores excessos”.
Aconteceu de o narrador-personagem pernoitar na casa deste misterioso amigo. Sem muitos cômodos disponíveis, ou, para melhor relatar, nenhum quarto disponível além do próprio, Drace acomodou o amigo em sofá na sua sala de livros. Esta sala era, de maneira incrível, composta de objetos e livros antigos – cada qual com sua história particular. Porém, um dos objetos não possuía uma história sua para “contar”. Então, o dono da casa propôs algo ao visitante para impressioná-lo: ele acredita que ao dormir com um objeto ao lado é possível que, para aqueles que possuem a sensibilidade, sonhar com algo real que aconteceu com tal peça.
Sem querer demonstrar um interesse real sobre a proposta, o narrador-personagem decidiu passar por esta experiência.
Logo que o seu anfitrião o deixou, depois de fumar seu cigarro, o hóspede deitou em seu sofá e dormiu. E sonhou o sonho místico que o remeteu à desconhecida peça.
E o sonho do narrador-personagem foi que chamou minha atenção. Na verdade, foi a revelação feita por Drace que me fez lembrar outra história que li, no final do ano passado, da autoria de Alexandre Dumas.
Primeiro, a revelação feita pelo místico personagem:
“A prisioneira foi levada perante as Grand Chambres e Tournelles do Parlamento, reunidos com corte de justiça, acusada de ter assassinado M. Dreux d’Aubray, seu pai, e seus dois irmãs MM. d’Aubray, um deles, lugar-tenente civil, o outro, conselheiro do Parlamento. Vendo-a em pessoa, era difícil acreditar que ela tivesse realmente cometido esses atos perversos, pois era de aparência frágil e estatura pequena, tinha a pele clara e os olhos azuis. Ainda assim o tribunal, julgando-a culpada, condenou-a à inquirição ordinária e à extraordinária para forçá-la a apontar os seu cúmplices, após o que ela seria conduzida em carreta à Place de Grève para lá ser decapitada, devendo em seguida o corpo ser queimado e as suas cinzas espalhadas ao vento.A data deste assentamento é 16 de julho de 1676” (p. 15).
Logo que o nome da acusada foi revelado eu percebi que a conhecia. Tratava-se de “A Marquesa Envenenadora”, minha leitura de dezembro de dois mil e treze.
Na página seguinte, quase na conclusão do conto, minha certeza:
“O que acabo de ler-lhe – disse Drace – é o registro oficial do julgamento de Marie Madeleine d’Aubray, Marquesa de Brinvilliers, uma das mais célebres envenenadoras e assassinas de todos os tempos”.
Eu fico maravilhada quando encontro uma história escrita por dois escritores tão renomados quanto Alexandre Dumas e Arthur Conan Doyle – tendo um autor complementando a história do outro.
“Lembrei-me também de que a bravura do seu fim fizera algo por redimir o horror da sua vida, e de que Paris em peso se apiedara dela em seus últimos momentos e a bendissera como uma mártir dias depois de tê-la amaldiçoado como assassina”. (Arthur Conan Doyle, p.16).“Amanhã – disse a senhora Sevigné – hão de procurar as cinzas da senhora de Brinvilliers, porque o povo a julgará uma santa” (Alexandre Dumas, p.135).
Alexandre Dumas chama sua história de “relato histórico” e, Arthur Conan Doyle descreverá como “terror e suspense”.
“Ah! Que abençoada alívio sentir-me de volta ao século dezenove – sair do subterrâneo medieval para um mundo em que os homens tinha no peito corações humanos” (Arthur Conan Doyle, p. 13).
Omnia Vanitas