Minha releitura de Emma começou no primeiro domingo deste mês, em uma tarde de céu de brigadeiro e um calor escaldante que foi atenuado por um copo generoso de chá mate geladíssimo.
Junto com algumas amigas, em novembro do ano passado combinamos de ler uma obra por mês de Jane Austen – iniciando com Emma em Fevereiro. A sequência será com “Mansfield Park”, “A Abadia de Northanger” (que ainda não li), “Orgulho e Preconceito”, “Razão e Sensibilidade” e, por fim, no mês de Julho, “Persuasão”. Concordamos que precisávamos de uma dose de Jane Austen e, com um norte para a leitura, estamos engajadas em seguir este projeto que eu vi no filme “O Clube de Leitura Jane Austen”.
Como já mencionado, dia dois deste mês teve início minha releitura. A primeira leitura foi entre 2012 e 2013. Achei interessante, mas não havia chamado tanto minha atenção.
Ok! Vou deixar de “entretantos” e ir para os “finalmente”.
Emma Woodhouse é uma jovem de 21 anos, órfã de mãe, com um pai hipocondríaco, uma governante dedicada e um vizinho atencioso.
Logo no capítulo 1, Jane Austen “recomenda” Emma:
“Na verdade, os únicos males da situação de Emma eram o seu costume de fazer tudo do prórpio jeito e a tendência a se ter mais alta conta do que deveria”.
Em uma conversa entre o Sr. Knightley e a Sra. Weston (anteriormente, a pobre Srta. Taylor), o cavalheiro afirma:
“Emma foi muito mimada por ser a mais inteligente da família. Com apenas dez anos, ela teve a felicidade de possuir a capacidade de responder a perguntas que sua irmã, então com dezessete, era incapaz de fazer. Sempre foi muito esperta e de raciocínio rápido; Isabella sempre foi lenta e insegura. Quando chegou aos doze anos, Emma havia se tornado dona da casa e de vocês todos”.
E justificada o caráter de Emma da seguinte forma:
“Ao perder a mãe, perdeu a única pessoa capaz de equiparar-se a ela. Herdou as qualidades da mãe, a única pessoa à que se submeteria”.
Jane Austen descreve Emma como uma garota mimada – e eu ouso acrescentar, preconceituosa. Todas as qualidades que encontradas nos outros personagens do núcleo “rico” está em Emma; porém, nesta protagonista a diferença está na imaturidade (não a ganância) que a faz pensar em sempre estar certa. O prefácio de Julia Romeu descreverá Emma como possuindo “Doces Defeitos”. E, realmente, esta patricinha conquista o leitor com suas trapalhadas.
Logo que a pobre senhorita Taylor se casa, Emma percebe que está sozinha. Enfadada, aceita e acolhe a companhia de Harriet Smith – uma pensionista de uma escola para moças. Harriet é um papel em branco. Tem uma personalidade fraca, fácil de ser manipula e ainda mais fácil de se impressionar. Ela é um prato cheio para Emma. Uma das palavras que chamou minha atenção durante a leitura foi “objeto”;
No início do capítulo 5, o Sr. Knightley e a Sra. Weston conversam sobre a amizade entre a pensionista e a moradora de Hartfield, e a tal palavra surge:
“O senhor me surpreende! Emma só pode fazer bem a Harriet e, ao fornecer a Emma um novo objeto de interesse, pode-se dizer que Harriet também faz bem a ela”.
Posso estar exagerando, mas esta palavra me incomodou.
Todos os amigos de Emma sabem que Harriet é um “brinquedo” nas mãos da garota mimada – e sem nada melhor para fazer. Sobre a opinião do Sr. Knightley, esta se provará não verdadeira: a “amizade” com Harriet se mostrará útil à Emma – de uma forma que ninguém imaginou.
Decidida a não perder Harriet, Emma a mantém por perto e a encoraja a permanecer dentro do mesmo círculo social que a patricinha. E, em meio ao seu garantido sucesso, Emma se depara com um grande empecilho ao seu plano – e ele se chama Sr. Martin.
O primeiro encontro acontece enquanto as jovens passeiam por Highbury. O alerta de Emma fica ligado ao perceber como a aproximação do fazendeiro altera o ânimo da amiga.
Em seguida, o Sr. Martin envia uma carta para Harriet pedido-a em casamento. Com uma estratégia muito bem desenvolta, Emma descarta qualquer intenção da pensionista aceitar a proposta do fazendeiro.
Eu não posso negar, Emma foi uma ótima estrategista ao deixar Harriet chegar a conclusão que ela, Emma, queria. Muitos rodeios e floreios, questionamentos que a cabecinha fraca de Harriet não soube ordenar. Desta forma, o plano da jovem deu certo – a nova amiga negou a proposta de casamento do jovem Sr. Martin.
Não vou contra Emma nesta hora – apesar de detestar o resultado desta empresa. O Sr. Martin foi muito tolo, na minha opinião, ao propor casamento POR CARTA. Se ele conhecesse, realmente, seu objeto de cobiça como deveria, chegaria à conclusão que Harriet diria um emocionado “sim” caso ele estivesse olhando nos olhos da moça.
E este foi o primeiro desentendimento entre Emma e o Sr.Knightley. Era imperdoável que ela interferisse no destino da amiga desta forma. O fazendeiro e a pensionista, segundo ele, formariam um belo casal – onde ele, pelo que o vizinho pode constatar, estaria em desvantagem por casar com alguém tão sem opinião como a jovem Harriet.
Emma tenta colocar na cabeça de Harriet que o Sr. Elton é um bom partido para amiga e, sendo ela muito fácil de persuadir, concorda em “cortejar” o pároco.
Porém, Emma não contou com o resultado da sua empreitada.
A vida da protagonista se torna um pouco mais “agitada” com a chegada de dois novos participantes da sociedade: a mística Jane Fairfax e o extrovertido Sr. Frank Churcill. Quando ela socializa com ambos – por obrigação com uma e por afeição mútua por outro – o caráter de Emma, na minha opinião, se mostra mais uma vez: ela é ingênua. Seu limite de sociedade não permite que ela viva com pessoas de sua idade, portanto, fora ser mimada por todos a sua volta, ela não conhece ninguém com quem possa dialogar e crescer. Isso torna Emma limitada. Ela não descobre a trama que se passa com esses dois visitantes; e, associasse a Frank Churchill por que ele a corteja displicentemente e isso a agrada.
A voz da razão de Emma é o Sr. Knightley. Afinal de contas, como ele mesmo diz à ela, ele tem dezesseis anos de experiência sobre Emma, mesmo depois de ela completar vinte e um. Porém, esta razão está manchada pelo ciúme, mas não posso não julgá-lo como sendo ele é o mais sensato – tirando este título até da pobre Sra. Weston.
O final, claro, o mocinho se casa com a mocinha, é o mesmo.
Minha leitura terminou em um domingo chuvoso na companhia de uma xícara de chá quente.
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