Eu não sei como começar este post. Eu não sei como definir o livro "Desespero" de Stephen King.
Mas, deixem-me dizer-lhes minha primeira impressão quando conheci David Carver: problema.
Eu o vi assim porque é muito comum encontrar comentários bizarros para as experiências de fé que o personagem David viveu. Mas Stephen King me surpreendeu em larga escala.
David Carver é o filho mais velho de Ralph e Ellen Carver. Seu melhor amigo se chama Brian Ross.
Certo dia, enquanto David estava em casa, acamado, Brian sofre um acidente. Ele é arremessado contra a própria casa por um carro que estava sendo conduzido por um homem embriagado.
Sentindo-se na obrigação de visitar o amigo, mesmo Brian estando em coma, ele pediu permissão para seus pais e para os pais do amigo, para visitar o menino no hospital.
David pegou a mão do amigo. Estava surpreendentemente fria e frouxa na sua, mas ainda viva. Dava para sentir a vida nela,funcionando como um motor. Apertou-a delicadamente e sussurrou:
— Como vai indo, bandidão?
Nenhuma resposta, só o som da máquina que fazia Brian respirar, agora que o cérebro tinha fundido a maioria de seus fusíveis.
Eu chorei muito com esta história de lealdade entre os meninos. Senti por David o estado de Brian.
Depois de deixá-lo, voltou para a casa. Decidiu caminhar até o "Posto de Observação Vietcongue" e teve sua primeira conversa com Deus.
David abriu os olhos e a tarde o bombardeou com o crepúsculo, o brilho vermelho-dourado de novembro. Tinha as pernas dormentes dos joelhos para baixo e se sentia como se acabasse de despertar de um sono profundo. A simples beleza revelada do dia o surpreendeu, e por um momento teve uma grande consciência de si como parte de
alguma coisa inteira — uma célula na pele viva do mundo. Retirou as mãos dos joelhos, virou-as e as estendeu.
— Faça com que ele melhore — disse. — Deus, faça com que ele melhore. Se fizer, eu faço alguma coisa pro senhor. Ouço o que o senhor quer e faço. Prometo.
Depois deste trecho eu pensei: "Vai dar merda, Capitão". Mas eu estava enganada.
Stephen King não é um cara "espiritual". Então, eu não entendo como ele conseguiu escrever um livro tão "cristão".
Bom, depois que seu amigo saiu do coma, diagnosticado como um milagre - pois não ficou nenhuma sequela, David resolveu procurar um reverendo da sua cidade para conversar sobre aquilo que viveu em relação à cura de Brian. Então, depois de David "aprender" a orar - e fazer isso três vezes ao dia - ler a Bíblia (completa, apenas pulando genealogias e coisas do gênero), ele descobriu que "Deus é Cruel". Essa foi a conclusão de David - que continuou orando, agradecendo, ouvindo Deus e lendo a Bíblia.
Fora durante um jogo de beisebol sem som entre os Indians e o A’s que David ficou ruminando sobre a história de Moisés e a água da pedra. Depois de algum tempo, ergueu os olhos da tela da TV e disse:
— Deus não é muito clemente, é?
— Sim, na verdade é — disse o reverendo Martin, parecendo um pouco surpreso. — Ele tem de ser, porque é muito exigente.
— Mas é cruel, também; não é?
Gene Martin não hesitou.
— É — disse. — Deus é cruel.
Foi em uma das vezes que ele estava lendo a Bíblia que um policial (muito estranho) parou o furgão onde ele estava com a família e acabou sequestrando todos.
Toda a história acontece porque alguns mineiros resolveram cavar fundo demais. King parece gostar de "espíritos indígenas" - talvez porque seus descendentes mataram todos os nativos americanos, não sei! - e havia um fresquinho em Desespero. "Tak", como é denominado, possui os corpos de algumas pessoas que considera "saudável". Foi o caso do policial que abordou a família de David na Rodovia 50.
Presos na delegacia da cidade de Desespero, os Carver descobre que não são os únicos que estão e passaram por aquela situação.
E é nesta situação que David ora. Ele ouve o que Deus tem a lhe dizer e pratica o que ouve. De forma milagrosa ele escapa por entre as grades da cela. Acerta a mira contra um lobo que tenta atacá-lo, expulsa os outros lobos que estão cercando o local para onde fugiram depois da fuga da cadeia. Agradeceu e houve multiplicação do alimento enquanto estava refugiados no cinema abandonado. E David sabia e aprendeu que o crédito não era dele. Certa vez, conversando com o reverendo Martin, ele ouviu a história de Moisés quando ele tomou para si o milagre da água na rocha.
Você não sabia por que era errado assumir o crédito pelo restabelecimento de seu amigo, mas não precisava saber. Satanás tentou você, como tentou Moisés, mas neste caso você fez o que Moisés não fez, ou não pôde fazer: primeiro compreendeu, depois resistiu.
Toda a cidade de Desespero estava tomada por um espírito chamado "Tak". Ele havia possuído algumas pessoas, antes de possuir o policial que sequestrou a família de David e os outros personagens envolvidos. E, todos sabiam que David era especial e através de David aprenderam a orar e confiar.
Entendem como esta espiritualidade é estranha em Stephen King. Eu pareço narrar uma história de um livro escrito para pessoas do meio cristão, mas não é (rs).
Por fim, depois de perder sua família (pai, mãe e irmã), David se depara com um milagre (que me levou às lágrimas):
— É um passe de DISPENSADO MAIS CEDO de minha escola, lá em Ohio. No outono passado, eu o enfiei num prego numa árvore e deixei lá.
— Uma árvore lá em Ohio. No outono passado. — Ela olhava-o pensativa, os olhos muito arregalados e parados.
— No outono passado!
— É. Assim, eu não sei onde ele encontrou... e não sei onde guardava. Quando estava no paiol, fiz com que esvaziasse todos os bolsos. Tinha medo de que tivesse pego um dos can tahs. Não estava com ele naquela hora. Ele ficou de cueca, e não estava com ele.
— Oh, David — ela disse.
Ele balançou a cabeça e entregou o passe azul a ela.
— Steve saberá se é a letra dele — disse. — Aposto um milhão de dólares que é.
David,
Não deixe a múmia alcançá-lo.
João I, 4:8. Lembre-se!
Ela leu a mensagem rabiscada, movendo os lábios.
— Eu apostaria um milhão meu, se tivesse um milhão — ela disse.
— Você entende a referência, David?
Ele pegou o passe azul.
— Claro. João I, capítulo quatro, versículo oito. “Deus é amor.”