Estou lendo O Mulato, de Aluísio (de) Azevedo. Que magnífica literatura!
Estou aprendendo a ler os clássicos da literatura brasileira, e, estou surpresa de gostar mais e mais de tal leitura. José de Alencar, Aluísio (de) Azevedo, Machado de Assis, Rachel de Queirós... quanta fascinação encontrei nos volumes que li! E, nesta obra atual, declaro minha admiração por Azevedo! Que livro! Que história! Todo tempo tenho vontade de postar isto ou aquilo; tenho vontade de escrever coisas sobre o que leio; porém, não me arrisco pois sei tão pouco sobre o assunto.
Entre tantas trechos fascinantes que encontrei, deixo a carta que Raimundo entregou à Ana Rosa. Cartas de amor - que não sejam as do primo Basílio (Eça de Queirós) - são deliciosas de ler. Quando li a carta de Raimundo, lembrei de outra, escrita pelo maravilhoso Capitão Wentworth à Anne Elliot, em Persuasão, Jane Austen.
Sem mais delongas, deixo a transcrição da carta de Raimundo:
“Minha amiga,Por mais estranho que te pareça, juro que te amo ainda, loucamente mais do que nunca, mais do que eu próprio imaginava se pudesse amar; falo-te assim agora, com tamanha franqueza, porque esta declaração já em nada poderá prejudicar-te, visto que estarei bem longe de ti quando a leres. Para que não te arrependas de me haver escolhido por esposo e não me crimines a mim por me ter portado silencioso e covarde, defronte da recusa de teu pai, sabe minha querida amiga, que o pior momento da minha pobre vida foi aquele em que vi fugir te para sempre. Mas que fazer? - eu nasci escravo e sou filho de uma negra. Empenhei a teu pai minha palavra em como nunca procuraria casar contigo; bem pouco porém me importava o compromisso. Que não teria eu sacrificado pelo teu amor? Ah! mas é que essa mesma dedicação seria a tua desgraça e transformaria o meu ídolo em minha vítima; a sociedade apontar-te-ia como a mulher de um mulato e nossos descendentes teriam casta e seriam tão desgraçados quanto eu! Entendi, pois que, fugindo, te daria a maior prova do meu amor. E vou, e parto, sem te levar comigo, minha esposa adorada, entremecida companheira dos meus sonhos de ventura! Se pudesse avaliar quanto sofro neste momento e quanto me custa a ser forte e respeitar o meu dever; se soubesses quando me pesa a ideia de deixar-te, sem esperança de tornar a teu lado, tu me abençoarias, meu amor!E adeus. Que o destino me arraste para onde se quiser, serás sempre o imaculado arcanjo a quem votarei meus dias; serás minha inspiração, a luz da minha estrada; eu serei bom porque existes.Adeus, Ana Rosa.
Teu escravo
RAIMUNDO. “
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