Da última vez, a postagem foi uma carta de Raimundo à ingrata Ana Rosa! Se a sua pergunta é se terminei de ler "O Mulato"; sim, terminei! No momento, estou lendo "O Quarto Vermelho" de Alexandre Dumas, um mulato. Ainda pretendo escrever mais coisas sobre o livro de Aluísio de Azevedo mas, agora, quero deixar mais uma carta. Fiquei empolgada com essa "coisa" de publicar cartas. Pretendo, desde dia em diante, publicar todas as cartas interessantes que permearem meus livros.
Em "O Quarto Vermelho", um delicioso suspense à la Dumas, a sofrida Albina d'Eppstein, esposa do tirano Maximiliano, escreve a carta que transcreverei abaixo, à sua amiga Guilhermina Gaspar. Esta carta sugere um testamento, visto a crueldade que sofre a jovem condessa.
Lê-se:
"Não me é somente proibido ver-te, minha boa Wilhelmina, mas, também, escrever-te.Por isso, esta carta só te será entregue, se eu morrer. Penso que a morte me desobrigará de tal obediência.Não te admires destas triste apreensões, Wilhelmina: é preciso prever tudo, no estado em que me encontro. No entanto, não quereria deixar a vida, sem te-te feito, a ti, que sempre me foste tão dedicada, as dádiva do meu coração. São coisas a que se prendem todos os agonizantes, que amaram.Meu Deus! Não sei por que as palavra saem tão tristes da minha pena, uma vez que me sinto tão alegre e tranquila. Neste momento, sorrio ao lembrar-me dos projetos que fazíamos, há dois meses. Lembras-te? Em todo caso, vou repeti-los, pois, de parte a parte, esses projetos eram quase compromissos.Wilhelmina, prometeste-me amamentar meu filho, se eu lhe faltasse. Não te esqueças dessa promessa, pois confio nela, compreendes? Viverei, sim, espero viver para lembrar-te eu mesma. Mas ficarei mais sossegada, recordando-o aqui, no momento em que tomo uma resolução solene.Não é tudo, Wilhelmina. Escuta: se Deus me chamasse, estou certa de que o conde Maximiliano educaria o meu filho nobremente e com todo o cuidado, mas a educação da alma, compreendes, a que se recebe nos joelhos da mãe, só uma mulher a pode dar. Os homens ensinam bem a vida, mas só as mulheres sabem ensinar o Céu... Tu, que me conheces, falar-lhe-ás de mim, muito melhor do que o pai poderia fazê-lo, que nunca me compreendeu. Fala-lhe de mim, Wilhelmina, com frequência, sempre; faz que ele me conheça com se me tivesse visto. E, depois, minha boa Wilhelmina, não lhe recuses as carícias que são tão necessárias às criancinhas, quanto o leite que as alimenta.Pobre órfão! Que ele cresã na tua ternura e no teu amor! Sê para ele não só uma ama, mas também a mãe.Será bem tudo isto o que quereria dizer-te? Sim, mas se por acaso esquecer alguma coisa, o teu coração adivinhará o resto dos meus pensamentos.Mas, sem dúvida, tu deves achar-me bastante egoísta. Ainda não escrevi uma palavra a teu respeito! Aliás, ao recomendar-te o meu filho, vais ver que não me esqueci do teu. Neste envelope, encontrarás duas cartas, uma dirigida à superiora do convento de Tília Sagrada, outra ao major Kniebis, em Viena.Se te nascer uma filha, enviá-la-ás, quando tiver cinco ou seis anos, com a primeira destas cartas, à minha boa tia, a abadessa Dorotéia, que foi para mim uma segunda mãe. A meu pedido, Wilhelmina, ela receberá imediatamente a tua filha no convento, onde fui educada juntamente com as primeiras herdeiras da Alemanha. Tempos felizes em que eu cantava tão alegremente os cânticos do Senhor. Aí, tua filha receberá uma boa e santa educação.Se tiveres um filho, envia-o ao major, que o fará entrar para um colégio ou o colocará numa escola militar. Esse caro major era íntimo amigo de meu pai e não passava um dia sem vir a Winkel. Quem diria, ao ver-me hoje, querida Wilhelmina, que fui a mais estouvada das meninas? O major, certamente, não terá esquecido a sua queria Albina e acolherá o teu filho como se fosse o meu.Faze pelo meu o que farei pelo teu, se viver.Adeus, Wilhelmina. Seja como for, tenho uma convicção: as almas não morrem e a minha não deixará aquela, que não há de abandonar meu filho.Nesta carta, que só chegará às tuas mãos, se eu abandonar este mundo, coloco, para o meu filhinho, uma pequena mecha de meus cabelos.Adeus, ainda mais uma vez, adeus! Não te esqueças de nada! Não te esqueças!(a) Albina d'Eppstein, nascida Schwalbachh.P.S. Ia-me esquecendo, Ainda uma infantilidade: se eu tiver um filho, desejo que se chama Everado, como o meu pai; se tiver uma filha, desejo que se chame Ida, como a minha mãe".
DUMAS, Alexandre. O quarto vermelho. Círculo do Livro, 1960, p.58-60.
Abaixo, deixo outras cartas publicadas:
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