Olá, leitor anônimo!
Depois de ler Os Manuscritos Perdidos de Charlotte Brontë, eu senti falta da irmã mais nova, Anne; portanto, decidi ler, pela primeira vez, Agnes Grey.
Anne Brontë possui dois romances publicados além de poemas que publicou juntamente com as irmãs Charlotte e Emily. O primeiro romance da escritora caçula das Brontë é Agnes Grey e, o segundo, A Inquilina de Wildfell Hall.
Neste romance de estreia, Anne Brontë tira toda idealização da função de preceptora que sua irmã, Charlotte, apresentou em Jane Eyre. A experiência de Anne como preceptora permeia este romance - e isso o torna realista.
Agnes Grey é uma jovem que vê sua família perder a maior parte da sua fortuna em um negócio mau sucedido do pai e, para ajudar a família a reconstruir essa perda, ela decide se tornar preceptora em uma casa de família - mesmo não tendo nenhuma experiência em lidar com crianças. A protagonista trabalhará para duas famílias antes de retornar, em definitivo ao seu próprio lar.
A primeira família será os Bloomfield, em uma residência relativamente próxima a sua casa paterna. Esta primeira vivência de Agnes é a representação da experiência que Anne teve em sua vida. Segue um trecho de como eram as duas crianças que a senhorita Grey precisara ensinar - ou tentar:
Mas eles não conheciam a vergonha, zombavam da autoridade que não fosse baseada no terror; e quanto à bondade ou afeto, ou eles não tinham coração ou que tinham estava tão bem guardado e escondido que eu, apesar de todos os meus esforços, não havia descoberto um modo de chegar até ele.
Realmente, essas crianças me assustaram muito com seus comportamentos cruéis - e vi em Tom um assassino em série.
A segunda família foram os Murray. Foi um período longo que Agnes passou com a família e, as duas jovens: Rosalie e Matilda eram quase da sua idade. Apesar de não serem tão cruéis, a primeira era vaidosa ao extremo (fazendo os rapazes se apaixonarem por ela apenas para lhes recusar o pedido de casamento - este era seu passatempo preferido), Matilda era mais livre porém não menos indiferente aos ensinamentos e a presença de Agnes.
Ao término do livro, meus pensamentos ficaram presos em Rosalie e no casamento desta personagem - eu fiquei triste pelo fim dela, mesmo sabendo que ela o escolheu de olhos bem abertos.
Assim como Agnes Grey, Anne Brontë foi preceptora em duas famílias, sendo a última com que ficou mais tempo, porém, ao contrário de sua protagonista, Anne ficou amiga das suas alunas e passava férias com a família em uma casa na praia - lugar que Anne amava, e onde foi enterrada, sendo a única daquele grupo familiar a não estar no mesmo lugar que os demais. E, para infelicidade da escritora, ela precisou cortar os laços com as amigas (talvez únicas) pois seu irmão, Patrick, foi amante da mãe das meninas.
Agnes Grey é um romance mais realista, não apresenta a fúria de Wuthering Heights ou o sofrimento de Jane Eyre, mas tem sua expressão em apresentar uma sociedade muito próxima da realidade de uma preceptora a exercer seu cargo, tirando dele toda a fantasia e apresentando a marginalização de um cargo.
Omnia Vanitas 💀