Reportagem: Terra.
Há 88 anos, o Brasil perdia uma das maiores contribuidoras musicais e figura marcante no cenário dos direitos humanos: Chiquinha Gonzaga. Francisca Edwiges Neves Gonzaga foi a primeira compositora da música popular brasileira, autora de duas mil composições e abolicionista. Nasceu no dia 17 de outubro de 1847, na cidade do Rio de Janeiro.Aos 16 anos, ela foi forçada pelos pais a se casar com um oficial da Marinha Mercante, Jacinto Ribeiro do Amaral, com quem teve três filhos: João Gualberto, Maria do Patrocínio e Hilário. Abandonou-o por um engenheiro de estradas de ferro, de quem logo se separou, e sobrevivia como professora de Piano.Com o fim do casamento, Chiquinha entrou em contato com o meio boêmio carioca. Mas uma mulher separada no século XIX era uma aberração na sociedade, e Chiquinha pagou um preço alto. Foi expulsa de casa por seu pai que, a partir daquele momento, renegou sua paternidade. Levou consigo apenas o filho mais velho, João. Maria foi criada pela avó materna e Hilário, por uma tia.Em 1877, estreou como compositora com a polca Atraente, que foi publicada pela editora de Joaquim Antonio Calado, amigo que a ajudou a ingressar no universo musical. Com ele formou uma dupla que foi precursora do choro ou chorinho. Como maestrina, a estréia aconteceu com a opereta A Corte na Roça, em 1885.Ao lado da carreira de maestrina, compositora e pianeira, dedicou-se também às campanhas abolicionista e republicana. Chiquinha vendia suas músicas de porta em porta e, com o dinheiro obtido, libertou o escravo Zé da Flauta. Após a abolição da escravatura, compôs um hino em homenagem à princesa Isabel. Na campanha republicana, protestava contra a monarquia em locais públicos, utilizando-se do seu prestígio para propagar a idéia.Chiquinha é a autora da primeira marcha carnavalesca do País, Ô Abre-Alas, composta em 1899. Faleceu em seu apartamento no Rio de Janeiro aos 87 anos de idade, no dia 28 de fevereiro de 1935, antevéspera de Carnaval.MedalhaA Medalha Chiquinha Gonzaga, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, é concedida todo ano às personalidades do sexo feminino que tiveram destaque, seja em áreas artísticas, culturais ou humanitárias.Homenagens, séries e filmesEm 1999, a Rede Globo exibiu a minissérie Chiquinha Gonzaga. Regina Duarte interpretou a compositora e a elogiou, dizendo ser uma mulher "extraordinária e de pulso firme". No filme Brasília 18%, quem deu vida à Chiquinha foi Bete Mendes. Malu Galli a interpretou no filme O Xangô de Baker Street, baseado no livro de Jô Soares.Chiquinha Gonzaga também recebeu homenagens de escolas de samba. No ano de 1985, quem fez um tributo foi a Mangueira, com o enredo Abram Alas Que Eu Quero Passar. Em 1997, foi a vez da Imperatriz Leopoldinense, com o samba Eu Sou Da Lira, Não Posso Negar.CasarãoEm 2010, um fogo destruiu o casarão em que viveu Chiquinha Gonzaga. O imóvel estava abandonado, e já havia sido usado como sede do Arquivo Nacional de Teatro. O imóvel de dois pavimentos servia de abrigo a invadores.