5 de setembro de 2021

Leitura 20..


 Olá, abandonado leitor ! 

Fim da última leitura de Agosto.

Mesmo não sendo mais tão assídua nesta página, mesmo este não sendo a maior leitura que fiz este ano; eu não quero deixar passar o registro de "A Laguna Azul" (1908) aka, A Lagoa Azul de Henry de Vere Stacpoole.

Depois de ser explorado de modo exaustivo nas telas da televisão dos anos 80 e 90, eu decidi comprar o exemplar (talvez dois anos atrás, não lembro) e ler este clássico oitentista. 

Sim, eu adorei ler este livro! Adorei o frenesi do final e quase chorei com o senhor Lestrange quando ele encontrou Dick e Emelina (e também Ana - o filho do casal de náufragos).


A narrativa não é prolixa. A vida na ilha não é detalhe em seus pormenores como, por exemplo: como um fluído de isqueiro pôde durar oito anos? Ou, como eles suportavam o frio da estação de inverno sendo que não tinham as roupas para a estação - e mesmo se tivessem, não serviriam depois de alguns anos na ilha.

Esses e outros questionamentos para uma vida prática não são respondidos, ou, talvez, o fato de que o homem se adapta à uma nova vida quando a necessidade o obriga seja a resposta. Esses detalhes perdidos ou não necessários, me fizeram lembrar da explicação do Abade Faria para Edmond Dantès em "O Conde de Monte-Cristo" sobre como ele criou, dentro de uma masmorra, papel, pena, vela etc  dentro do cárcere*.

Dick e Emelina chegaram à uma ilha do Pacífico ainda crianças e sem muitas experiências sobre como cuidarem de si. Tiveram como tutor neste pequeno paraíso, um velho bêbado e cheio de crendices  infantis tanto quanto eles. As crianças não sabiam explicar o que sentiam pois não conheciam palavras para esses sentimentos: sejam bons ou ruins. Quando um ciclone atacou a ilha, não souberam dizer que fenômeno natural era aquele: conheciam a chuva e os dias de sol - tudo o mais era inexplicável. Dick falava pouco - era lacônico muitas vezes; uma explicação seja o vocabulário limitado da infância. Até mesmo a gravidez de Emelina não foi explicada: em momento algum o narrador diz que ela estava com uma grande barriga ou mesmo comunicou se houve algum "susto" quando sua primeira menstruação aconteceu. Simplesmente, aceitamos o fato que eles sabiam que os animais tinham crias e, para Emelina, quando ela acordou do desmaiou que teve na floresta, perto de si havia uma criança e quando Dick perguntou sobre o bebê, ela respondeu "Eu o encontrei no mato. (...) Eu me senti muito doente, então fui descansar no mato e não me lembro de mais nada; quando acordei, ele estava lá". O menino, pois era um menino, recebeu o nome de "Ana" pois era "a lembrança de um outro bebê, cujo nome ela ouvira uma vez".

Tudo isso fascina no livro - muitas vezes é preciso adivinhar o que aconteceu justamente por essa falta de ter um nome para a ação ou coisa - o que eu achei muito atraente na leitura - o fato do narrador nos levar a pensar somente explicando o que aconteceu e permitindo que o leitor experimente a limitação dos protagonistas.

"A Laguna Azul" tem duas continuações - não publicadas no Brasil:

- The Garden of God (1923)

- The Gates of Morning (1925)

Talvez eu me arrisque a lê-los em inglês, mas não me comprometerei tão firmemente sobre isso.


Omnia Vanitas 💀


*"(...) Il faut le malheur pour creuser certaines mines mystérieures cachées dans l'intelligence humaine; il faut la pression pour faire éclater la poudre. La captivité a réuni sur un seul point toutes mes facultés flottantes çà et là; elles se sont heurtées dans un espace étroit (...)" - Tome Premier: XVII - La chambre de l'Abbé, page 226. Pocket Classiques nº 6216.

O caso do cachorro ..

 Olá, esquecido leitor !   Apesar de passar muito tempo longe deste blog, tentei voltar algumas vezes mas o tempo nem sempre está do meu lad...